GP do Bahrein de F1: A estratégia da Red Bull quase batia Hamilton
Não houve ultrapassagens, nem lutas em pista, mas o duelo entre Lewis Hamilton e Max Verstappen mostrou dois pilotos a operarem num nível altíssimo e só alcance dos eleitos durante o GP do Bahrein. A Red Bull colocou a Mercedes sob pressão, mas esta conseguiu reagir e, com alguma fortuna, ajudou o seu piloto a alcançar mais uma vitória.
Desde a segunda sessão de treinos-livres que Max Verstappen parecia poder ser uma pedra no sapato dos homens de Brackley, ficando essa ideia fortalecida na terceira, quando Verstappen foi o mais rápido, deixando Lewis Hamilton a mais de dois décimos de segundo.
No entanto, como tem acontecido consistentemente ao longo da temporada, no momento da verdade, a Mercedes exibe uma subida de performance, toldando as esperanças dos homens da Red Bull. Em Sakhir este padrão voltou a verificar-se, com Hamilton a conquistar a sua nonagésima oitava pole-position, ficando Valtteri Bottas no segundo posto, o que relegou Verstappen para o terceiro posto da grelha de partida a quatro décimos de segundo do ‘poleman’.
A melhor posição segunda linha do holandês não era, porém, um mau local para arrancar para a corrida de domingo, dado que o colocava no lado limpo da pista, ao contrário de Bottas, que tinha a zona de menor aderência, o que poderia ser determinante para os primeiros momentos da prova.
As preocupações do finlandês e as melhores expetativas de Verstappen confirmavam-se e este subia ao segundo posto, ao passo que o piloto da Mercedes caía na classificação até que a prova era interrompida com bandeiras vermelhas devido ao violento acidente de Romain Grosjean.
Depois duma longa paragem para reparar as barreiras de proteção onde o Haas do francês embateu, a prova era recomeçada com um procedimento partida normal, mas com Verstappen no segundo posto, ao lado de Hamilton e Bottas em quarto, depois da direção de prova ter decido manter a classificação com que a corrida foi interrompida.
Agora do lado sujo da pista, Verstappen era acossado por Sérgio Pérez, que arrancava de terceiro, mas mostrava autoridade na primeira curva, mantendo o segundo lugar e ao abrigo de qualquer ataque do mexicano, quando a prova seria novamente marcada por um acidente, ainda que bastante menos dramático.
Lance Stroll e Daniil Kvyat desentendiam-se e o canadiano acabava capotado, por despoletar a entrada em pista do Safety-Car, onde se manteve até à oitava volta. Entretanto, Bottas saía da equação com um furo provocado por detritos que o atirou para o décimo sexto lugar, não indo além de sétimo no final da corrida.
Red Bull esteve perto
A Red Bull encontrava-se então na rara posição, desde que Daniel Ricciardo saiu da equipa, de não estar em desvantagem tática por ter apenas um carro contra dois da Mercedes, o que já lhe custou alguns resultados ao longo destes quase dois anos.
Com pneus médios usados ao dispor de ambos, o inglês mostrou-se ligeiramente mais rápido que o seu perseguidor, mas sem a vantagem decisiva que se verificou por diversas vezes esta época.
Numa pista que tinha tendência a destruir os pneus traseiros, o ‘undercut’ poderia ser uma ferramenta poderosa à disposição da Red Bull na luta pela vitória, mas acabou por ser a Mercedes a dar início à primeira ronda de troca de pneus entre os homens da frente.
Na décima nona volta, com 4,6s de vantagem para Verstappen, entrava nas boxes para montar outro jogo de pneus médios usados, negando ao rival a possibilidade de realizar o ‘undercut’. A Red Bull parava uma volta depois e, ao contrário do inglês, montava um ‘set’ de pneus duros novos.
O plano da equipa de Milton Keynes para Verstappen passava por realizar um segundo ‘stint’ mais consistente que o de Hamilton e desferir um ataque ao inglês, com um ‘undercut’ durante a segunda ronda de troca pneus.
O holandês saiu das boxes a 5,5s de Hamilton e conseguiu aproximar-se do líder, sendo a distância mais curta entre os dois sido registada na vigésima sexta volta, 4,2s, mas a partir de então o piloto da Mercedes conseguiu repor o fosso entre os dois, cifrando-se em 5,7s na trigésima terceira passagem pela linha de meta.
A Red Bull sentia que, um possível ‘undercut’ estava a escapar-lhe por entre os dedos, e na trigésima quarta volta chamava o seu piloto às boxes para montar um novo jogo de pneus duros com o intuito de colocar os homens dos ‘Flechas Negras’ sob pressão.
Para que tivesse a veleidade de assustar os estrategas da formação de Brackey, uma paragem inferior a dois segundos – como tem feito a reiteradamente – era bem-vinda. No momento em que tudo tinha de correr bem, os mecânicos de Milton Keynes protagonizaram uma das suas raras falhas, tendo a troca de pneus de Verstappen custado quase mais três segundos do que o normal, o que deitava por terra qualquer sonho de poder suplantar Lewis Hamilton estrategicamente.
O inglês parava nas boxes na volta seguinte, voltando à pista com 3,7s de vantagem face ao seu perseguidor, mostrando que, sem o erro da Red Bull, o líder poderia ter ficado sob pressão.
Confortável no comando, Hamilton geriu o andamento do seu perseguidor, contando caminhar para uma vitória sem sobressaltos.
No entanto, sem Bottas por perto para funcionar como escudo estratégico para a Mercedes e com uma vantagem suficiente para realizar uma paragem extra sem perder o segundo lugar, os estrategas de Milton Keynes chamaram o seu piloto às boxes por uma terceira vez – não perdiam nada, ficavam em boa posição para assegurar a volta mais rápida e, se um Safety-Car entrasse em pista, a Mercedes ficaria sob pressão, uma vez que Verstappen teria pneus mais frescos que Hamilton.
Contudo, para este plano poder ter alguma validade, o holandês teria de se colocar a uma distância inferior ao tempo despendido numa paragem nas boxes, cerca de 23 segundos. Verstappen atacou desde início e na quinquagésima volta estava já na região em que poderia colocar problemas a Hamilton, caso este parasse novamente, o que o deixava exposto a uma situação de Safety-Car.
O holandês continuou a ganhar tempo e, quando se vislumbrou uma neutralização (fruto dos problemas de motor de Sérgio Pérez), a cinco voltas do fim, estava já a apenas dezanove segundos, para na volta seguinte reduzir a sua desvantagem para dezassete.
O Safety-Car entrou mesmo em pista, mas apenas com quatro voltas para a bandeira de xadrez, a prova não foi retomada, tendo a Mercedes assegurado a vitória do seu piloto no limite, depois de não ter podido reagir de imediato à terceira paragem de Verstappen, por Hamilton ter um jogo de pneus duros novo a menos relativamente ao seu rival.
A Red Bull arriscou e por pouco não faturava num dia em que pôde jogar estrategicamente de igual para igual com a Mercedes e em que Hamilton, que somou o seu nonagésimo quinto triunfo, e Verstappen mostraram o porquê de serem dois dos grandes pilotos do mundo.
FIGURA: Romain Grosjean
Quando alguém suplanta um acidente como o do francês, tem de ser, obrigatoriamente, o homem do dia. A violência do embate está bem documentada e, sem Halo, o desfecho do incidente poderia ser muito pior, mas igualmente determinante para o final a que assistimos foi o sangue frio de Grosjean, que num mar de chamas e envolto em ferros retorcidos, conseguiu abandonar os destroços do seu Haas e colocar-se a salvo com queimaduras ligeiras. A FIA, a FOM, as equipas e os pilotos estão de parabéns pelos avanços no campo da segurança realizados pela Fórmula 1.
MOMENTO: Acidente de Grosjean
Há longuíssimos anos que não se viu um monolugar de Fórmula 1 a partir ao meio, ainda que pelo sítio certo, os apoios de motor, ao passo que um carro envolto em chamas, talvez a última vez tenha sido o acidente de Gerhard Berger no Grande Prémio de San Marino de 1989, se esquecermos o incêndio de que Jos Verstappen foi vítima durante um reabastecimento no Grande Prémio da Alemanha 1994. É, portanto, uma imagem que marcou quem a presenciou. No entanto, os sistemas de proteção do piloto funcionaram corretamente e foram centrais para que uma vida fosse salva. A FIA fará agora uma investigação para analisar todo evento e, de preferência, encontrar formas de os evitar.