GP Eifel F1: Os ‘golpes’ que levaram ao pódio da Renault

Por a 12 Outubro 2020 19:45

Daniel Ricciardo conquistou o seu primeiro pódio desde o Grande Prémio do Mónaco de 2018 e o da Renault desde o Grande Prémio da Malásia, tendo de dar o máximo para conter o ataque de Sérgio Pérez num fim-de-semana muito sui generis, mas ainda mais anormal para a Racing Point.

Tal como o previsto aquando do seu anúncio, o Grande Prémio de Eifel foi profundamente condicionado pelo clima de Nurburgring e afectou todas as equipas e pilotos, que ficaram sem as duas primeiras sessões de treinos-livres devido ao nevoeiro que impedia que o helicóptero médico de levantasse voo e chegasse ao hospital mais próximo em caso de necessidade.

Todos iriam para a qualificação apenas com uma hora de pista num circuito que já não albergava uma prova de Fórmula 1 desde 2013, sendo muitas as incógnitas quanto ao comportamento dos pneus que, ainda por cima, teriam de lidar com temperaturas extremamente baixas – na qualificação a pista não passou dos 18ºC e na corrida 17ºC – adensando ainda mais as incertezas que reinavam no paddock.

A Racing Point tinha ainda outro problema com qual lidar, uma vez que Lance Stroll passava por dificuldades físicas e não estava em condições de tomar parte na terceira sessão de treinos-livres. A formação de Silverstone, uma vez mais, recorreu a Nico Hulkenberg, que estava em Colónia, mas na terceira sessão de treinos-livres tinha apenas um carro em pista, ficando em desvantagem face às restantes equipas, que com dois monolugares a reunir dados, tentavam recuperar o tempo perdido no dia anterior.

A qualificação foi disputada com temperaturas muito baixas, mas com Sol, e apesar de todas as contrariedades que tinha de enfrentar, a Racing Point via Sérgio Pérez assegurar o nono posto da grelha de partida, ao passo que Nico Hulkenberg, sem ter tocado no RP20 nos treinos-livres, conseguiu realizar um tempo dentro dos 107% necessários, mas sem fugir ao último lugar da tabela de tempos.

Na luta pela “pole-position do Segundo Pelotão” Charles Leclerc carregou o seu Ferrari, munido com novos componentes aerodinâmicos, até ao quarto posto da grelha de partida, superiorizando-se a Alex Albon e aos dois pilotos da Renault, que ficaram nas posições imediatas com Daniel Ricciardo a manter o seu ascendente face a Esteban Ocon.

A McLaren, outra das protagonistas na luta pelas melhores posições atrás do costumeiro trio de líderes, enquadravam Pérez, com Lando Norris no oitavo lugar e Carlos Sainz, que usava contrariado o novo pacote aerodinâmico da equipa, fechava os dez primeiros a menos de sete décimos de segundo de Leclerc.

As pedras estavam lançadas para mais uma corrida feroz no segundo pelotão.

No dia da corrida o frio continuava a fazer-se sentir, com 8ºC no ar e 17ºC na pista, e pairava a ameaça de chuva, que, no entanto, nunca se confirmou para lá de uns ligeiros pingos a meio da prova e que nunca foram um problema.

Mas as baixas temperaturas tinham um impacto forte no comportamento dos pneus e dos travões e, na primeira travagem, foram poucos os que não alongaram a trajectória, recorrendo a todo o asfalto disponível na área para poderem passar, surpreendentemente, sem incidentes.

No final da primeira volta, Leclerc liderava o segundo pelotão seguindo por Ricciardo, que passara Albon, ao passo que este vira-se bastante acossado por Norris e Pérez, contendo-os a custo.

Estrategicamente, a Pirelli considerava que a táctica mais eficaz seria realizar duas paragens nas boxes, mas como é normal, todas as equipas perseguiam o “Santo Graal” de uma troca de pneus, apesar do profundo desconhecimento que existia acerca do comportamento das borrachas com temperaturas tão baixas, depois da não realização das duas primeiras sessões de treinos-livres.

Albon foi a primeira vítima da delicadeza das borrachas macias – os C4 – e na sétima volta entrava nas boxes para montar médios devido a uma travagem queimada logo nos momentos iniciais da prova.

Na frente do segundo pelotão, Leclerc passava por dificuldades evidentes com os pneus. O seu Ferrari não estava a conseguir aquecer os macios de forma conveniente e a borracha granulava, chegando a perder três segundos por volta para o trio da frente.

Ricciardo apercebeu-se das dificuldades do monegasco e começou a pressioná-lo, ultrapassando-o na nona volta para ascender a quarto e à liderança do Segundo Pelotão, ao passo que o piloto da “Scuderia” rumava às boxes na volta seguinte, o que na prática o colocava numa estratégia de duas paragens, deixando de ser um factor na luta pela liderança atrás do trio da frente.

Sérgio Pérez, por seu lado, subira a sexto com as paragens de Albon e Leclerc, mas continuava no encalço de Lando Norris, encontrando-se a quase cinco segundos de Ricciardo, quando estavam completadas décima quinta volta.

Mas seria na seguinte passagem pela linha de meta que a primeira grande decisão estratégica teria de ser tomada, com o Safety-Car Virtual espoletado pelo abandono de George Russell, que sofrera um toque de Kimi Raikkonen.

As equipas teriam de escolher entre aproveitar para realizar uma troca de pneus com menor custo e arriscar uma segunda paragem no último terço da prova, ou continuar em pista, manter o intuito de uma passagem apenas pelas boxes e ficar exposto a uma situação de Safety-Car no final da corrida.

Daniel Ricciardo optou por parar, ao passo que Norris e Pérez mantiveram-se em pista, o que deixava no ar a possibilidade de a luta pela supremacia no Segundo Pelotão ser determinada por questões tácticas, dando-nos a possibilidade um final de corrida emocionante.

O mexicano da Racing Point, sempre no encalço do inglês pararia na vigésima oitava volta, mas então, já a vitória no Segundo Pelotão tinha o aliciante de valer um pódio graça ao abandono de Valtteri Bottas na décima oitava volta.

O inglês da McLaren pararia para realizar a sua troca de pneus na vigésima nona, mas passava por dificuldades com a unidade e potência do seu monolugar e via-se ultrapassado por Pérez durante as paragens nas boxes.

Com a primeira ronda de troca de pneus concluída, Ricciardo, que corria o risco de poder ter de voltar a montar pneus, liderava atrás de Hamilton e Verstappen, seguido de Leclerc, que teria de parar seguramente, e de Pérez, que pretendia terminar a corrida com apenas dois jogos de pneus e estava a dezasseis segundos do australiano.

Com borrachas mais frescas, o piloto da Racing Point foi-se aproximando do seu adversário da Renault e na quadragésima terceira volta estava já a dez segundos do terceiro lugar, quando faltavam ainda dezassete para a bandeira de xadrez.

Ricciardo e a equipa de Enstone, com um pódio em jogo, passavam pela incerteza de ter de parar segunda vez e tentar apanhar o mexicano na ponta final da prova, ou manter-se em pista e esperar que a quebra de performance dos pneus não colocasse em risco o terceiro posto.

Contudo, as dúvidas passariam a ser académicas na quadragésima quarta volta, com a entrada em pista devido à paragem em pista de Norris com problemas técnicos na unidade de potência do seu McLaren.

Ricciardo aproveitou rapidamente a bênção entrando nas boxes, ao passo que Pérez pararia na volta seguinte, ficando os dois com pneus macios usados e em circunstâncias de igualdade.

Quando a corrida foi retomada, na quinquagésima volta, o mexicano tudo tentou para se colocar em posição de desfeitear o australiano, mas este nunca se deixou incomodar, rumando para o seu primeiro pódio desde o Grande Prémio do Mónaco de 2018, e o primeiro da Renault desde o Grande Prémio da Malásia de 2011.

Pierre Gasly terminou em quinto numa corrida em que assinou mais uma performance impressionante, ultrapassando Charles Leclerc na ponta final da corrida ao beneficiar da estratégia do monegasco, que não passou por uma paragem nas boxes aquando da situação de Safety-Car.

O piloto da Ferrari foi ainda pressionado por Nico Hulkenberg que protagonizou um bom regresso ao recuperar de último na grelha de partida para oitavo na linha de meta.

Nas derradeiras posições pontuáveis ficaram Romain Grosjean e António Giovinazzi, que assinaram boas prestações, superiorizando-se a Sebastian Vettel que voltou a estar a lutar com os pilotos das equipas que usam unidades de potência Ferrari.

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