GP Eifel de Fórmula 1: Hamilton iguala Schumacher

Por a 12 Outubro 2020 19:40

Lewis Hamilton conquistou no Grande Prémio de Eifel a sua 91ª vitória na Fórmula 1, igualando Michael Schumacher, mas o abandono de Valtteri Bottas roubou-nos uma corrida que poderia ter um final empolgante.

A prova de Nurburgring apresentou diversos desafios às equipas e pilotos devido à suas baixas temperaturas e à possibilidade premente de a chuva poder ter um papel relevante no desfecho do décimo primeiro evento da temporada deste ano.

Quando o nevoeiro durante sexta-feira não permitiram que as duas primeiras sessões de treinos-livres fossem realizadas, devido à impossibilidade do helicóptero médico poder realizar a viagem até ao hospital mais próximo, todas as equipas e pilotos ficaram com profundas incertezas quanto ao funcionamento dos pneus Pirelli no asfalto frio do circuito germânico.

Com apenas uma sessão de treinos-livres de uma hora para preparar qualificação e corrida, Valtteri Bottas colocou em prática a sua facilidade em se impor numa “pista verde” – normalmente é o mais rápido nas sessões de sexta-feira – e conquistou a sua terceira pole-position da época, batendo Lewis Hamilton por mais de dois décimos de segundo, enquanto que Max Verstappen se mostrava mais ameaçado do que é normal em qualificação e terminou em terceiro a três décimos de segundo. A proximidade do piloto da Red Bull foi tal que, se tivesse replicado na Q3 o seu tempo da Q2, teria batido Hamilton.

Para domingo esperava-se uma corrida a três em que a reacção estratégica ao comportamento dos pneus seria determinante para a classificação do Grande Prémio de Eifel.

O frio que se fazia sentir no princípio de tarde de domingo prometia ser um desafio para os pilotos e a primeira travagem assim o provou.

O Campeão do Mundo arrancou melhor que o seu colega de equipa, o que o colocou em posição de discutir liderança na primeira travagem. Com os travões e pneus frios os dois pilotos alongaram muito a travagem mantendo-se lado a lado e separados por um punhado de centímetros para susto de Toto Wolff, mas apesar de por fora, Bottas não cedeu, procurando repelir o intenso ataque de Hamilton e na Curva 2, por dentro, garantiu, definitivamente, o comando da corrida. Verstappen vinha no encalço dos dois pilotos da Mercedes.

O finlandês conseguiu abrir uma vantagem que lhe permitia estar ao abrigo de qualquer ataque de DRS do seu perseguidor, mas nunca conseguiu afastar-se significativamente de Hamilton, ao passo que este tinha também por muito perto o Red Bull Honda do holandês.

A questão era agora a Mercedes e a Red Bull perceberam se podiam assumir uma táctica de uma paragem apenas, ou se teriam de recorrer a duas, mantendo-se as distâncias entre os três primeiros estáveis, ao passo que o restante pelotão perdia muito tempo e dificilmente seriam um factor estratégico quando as trocas de pneus fossem realizadas.

No entanto, na décima terceira volta, um ligeiro chuvisco abateu-se sobre a Curva 1 de Nurburgring, incapaz de obrigar à montagem de pneus de chuva, mas o suficiente para alterar tenuemente a aderência da travagem.

Bottas foi o primeiro a chegar e, surpreendido pela modificação das condições, queimou a travagem, danificando profundamente o seu pneu dianteiro/direito. Hamilton aproveitou a falha do seu colega de equipa para assumir o comando e este não tinha outra opção senão rumar às boxes para trocar de borrachas.

Subitamente, despoletado por um erro, Bottas assumia uma estratégia de duas paragens, ao passo que Hamilton e Verstappen continuavam a tentar realizar toda a corrida com uma passagem pelas boxes.

Com o desconhecimento que existia relativamente ao funcionamento dos pneus nas condições oferecidas no domingo por Nurburgring, o finlandês tinha de realizar uma prova de ataque, pressionando os seus rivais de modo a que estes usassem os pneus e ficassem expostos no final da corrida com borrachas já fora da sua “data de validade” ou, então, obrigá-los a optar por uma estratégia de duas paragens e assumir o comando através do “undercut”.

A mais de vinte e seis segundos de Hamilton – uma paragem custava cerca de vinte e cinco segundos – Bottas tinha ainda de suplantar Ricciardo, algo que concretizou rapidamente, mas na décima sexta volta o finlandês sofria um primeiro golpe…

George Russell parava o seu carro em pista com danos provocados por um toque de Kimi Raikkonen, obrigando Michael Masi a accionar uma situação de Safety-Car Virtual, o que na prática permitia a Hamilton e a Verstappen realizar uma paragem nas boxes por apenas catorze segundos, contra os vinte e cinco que Bottas tinha pago…

Este não era um cenário que favorecesse o finlandês, mas ainda assim, nada estava perdido, dado que a estratégia passava a ser uma questão dominante.

Os dois primeiros estavam ainda no limiar de tentar uma estratégia de apenas uma paragem, o que poderia deixá-los expostos a Bottas nas últimas voltas, muito embora este tivesse agora onze segundos para recuperar face ao seu colega de equipa.

Para além disso, Max Verstappen poderia ser um aliado importante para o finlandês, se optasse por jogar estrategicamente ao apostar numa segunda paragem, deixaria Hamilton com o dilema de poder parar uma segunda vez e correr o risco de perder posição em pista ou manter-se apenas com uma paragem e ficar exposto no final da prova.

Hamilton seria sempre o mais limitado estrategicamente, dado que se parasse uma segunda vez para evitar um “undercut” de Verstappen, este seguramente não pararia, tentando manter vivos os seus pneus e vencer uma corrida que dificilmente conquistaria de outra forma.

Porém, todos estes cenários desmoronar-se-iam na décima oitava volta. Bottas sentia falta de potência no V6 turbo-híbrido do seu Mercedes, rumando às boxes para abandonar com problemas no MGU-H.

Inesperadamente, uma corrida que tinha uma estratégia a três dimensões passava para apenas duas, e Hamilton tinha apenas de se preocupar com Verstappen.

Bottas sofria um penoso abandono que, na prática, esmagou as diminutas possibilidades que tinha de lutar ainda pelo título deste ano.

No comando, o inglês passou a cavar uma vantagem para o holandês, que ultrapassou os onze segundos quando estavam cumpridas quarenta e quatro voltas.

A Red Bull pouco mais poderia ambicionar que manter o seu piloto no segundo posto, dado que, mesmo que tentasse uma táctica arrojada de duas paragens, a Mercedes defenderia a liderança de Hamilton com uma decisão semelhante.

Porém, na quadragésima quinta volta, o Safety-Car entrava em pista, provocada pela paragem de Lando Norris que tinha problemas na unidade de potência do seu McLaren, e os dois primeiros, conscientes das dificuldades que representava ir até ao fim com os pneus médios montados na décima sexta volta, passaram pelas boxes, terminando a corrida com borrachas macias usadas.

Em condições normais, Verstappen não conseguia acompanhar Hamilton, fazendo jogo igual com o inglês nos primeiros dois sectores, mas perdendo cerca de dois a três décimos por volta no terceiro, onde a potência era mais exigida, o que permitia ao inglês caminhar decididamente para a sua nonagésima primeira vitória.

Na última volta, o holandês conseguiria a melhor volta da corrida, por seis milésimos de segundo, mas o dia era de Hamilton que, com o triunfo no Grande Prémio de Eifel, igualava a marca de Michael Schumacher, recebendo das mãos de Mick Schumacher um capacete do pai deste para celebrar o feito.

Para além disso, o inglês deu mais um passo decisivo para mais um título, o sétimo, estando cada vez mais próximo de igualar o génio alemão também a este respeito.

Nico Hulkenberg

O alemão estava longe de imaginar que voltaria a competir este ano, muito embora tenha estado a um passo de assumir o lugar de Alex Albon, que teve em Nurburgring um teste de COVID-19 inconclusivo, dúvida que foi desfeita posteriormente. Mas voltou a sentar-se num Racing Point e, apesar de ter entrado directamente para qualificação, mostrou uma vez mais ter lugar na Fórmula 1, ao recuperar de último para oitavo na corrida de domingo.

Abandono de Bottas

Apesar do erro que cometeu, Bottas era ainda um factor na luta pela vitória, deixando Hamilton e Verstappen num limbo estratégico que poderia alterar substancialmente o resultado do Grande Prémio de Eifel. O abandono do finlandês acabou por libertar tacticamente o inglês que assim pôde caminhar com alguma tranquilidade até ao seu nonagésimo triunfo na Fórmula 1.

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