GP da Rússia de Fórmula 1: Onde perdeu Hamilton a corrida?
O Grande Prémio da Rússia ficou marcado pela penalização de dez segundos de que Lewis Hamilton foi vítima, mas será que isso foi determinante para o seu resultado, ou terá sido a sua qualificação a deixá-lo numa situação de inferioridade?
A Mercedes parecia num planeta diferente nos treinos-livres de sexta-feira, ao passo que Max Verstappen deixava no ar a ideia de que teria dificuldades em se ver livre dos melhores do segundo pelotão.
Os “Flechas Negras” mantiveram-se muito fortes ao longo do fim-de-semana, mas, paulatinamente, a Red Bull, através do seu piloto de ponta, foi-se aproximando, sendo ainda assim uma ameaça distante.
Contudo, um conjunto de circunstâncias desfavoráveis e uma volta aquém do potencial do Mercedes W11 por parte de Valtteri Bottas deixou a equipa de Brackley exposta a Verstappen.
Os pilotos foram avisados que, quem recorresse à escapatória da Curva 2, teria o tempo da sua volta apagado, ao passo que na corrida, se não passassem por um caminho delimitado por blocos, sofreriam penalizações, como foi o caso de Daniel Ricciardo, que viu cinco segundos adicionados ao seu tempo de prova.
Ora, na sua primeira volta lançada da Q2, Hamilton passou pela escapatória mencionada, o que o deixou sem tempo. Quando tentava realizar uma segunda tentativa, ainda com pneus médios, que eram mais efectivos para a corrida, Sebastian Vettel bateu com violência, interrompendo a sessão com pouco mais de dois minutos por disputar.
O inglês encontrava-se entre a espada e parede, sem tempo e, sem poder arriscar realizar uma volta que lhe permitisse ascender à Q3 com pneus médios, teve de assumir a montagem dos macios, sacrificando a sua estratégia de corrida.
Uma vez no derradeiro segmento da qualificação, o Campeão do Mundo realizou uma das suas melhores voltas de qualificação do ano, conquistando uma pole-position impressionante que deixou o seu colega de equipa a mais de seis décimos de segundo.
Verstappen não se ficava atrás e, com uma performance notável, guindou-se ao segundo posto da tabela de tempos, separando os dois Mercedes numa pista em que esperava profundas dificuldades.
De grande dominadora, a equipa de Brackley passava por uma situação menos favorável, em que tinha um carro na pole-position, mas com a estratégia comprometida, uma vez que tanto Bottas como Verstappen arrancavam com os desejados médios, e outro em terceiro, atrás do holandês… O arranque seria de capital importância.
Esta fase da corrida é preparada minuciosamente por todos os pilotos antes de rumarem à grelha de partida, existindo, habitualmente, um local na saída das boxes para que possam simular arranques e, assim, prepararem-se para início da prova.
Hamilton, porém, parou fora do local definido pelo director de prova para o efeito e, quando questionou a equipa sobre se poderia realizar a simulação, esta respondeu que sim.
É claro que não se espera que os pilotos leiam as notas do evento, o extenso documento onde também é definido o local para as simulações arranque. São pagos para pilotar os carros mais performantes do mundo o mais rapidamente que as leis da física permitem e não para perderem tempo com regras, mas a equipa tinha de saber informar o seu piloto, o que não aconteceu neste caso com a Mercedes.
Para agravar a situação, Hamilton não infringira o regulamento da prova uma vez, mas sim duas, o que lhe garantiu uma penalização de dez segundos durante corrida – cinco segundos por cada infracção.
O inglês, para além de ter os pneus errados, tinha agora também que carregar um erro da sua equipa, ficando a vitória definitivamente mais distante.
No arranque, com uma longa aceleração até à primeira travagem, para a Curva 2, e com Verstappen a partir da zona suja da pista, Bottas ganhou uma posição, chegando a ameaçar a liderança do seu colega de equipa, que o finlandês abortou devido a uma “abelha massiva” que lhe bateu no capacete.
Os três primeiros estavam nas posições habituais, quando a corrida foi alvo da intervenção de Safety-Car devido aos acidentes de Carlos Sainz e de Lance Stroll, o que ajudava Hamilton, que assim via a vida dos seus frágeis pneus macios ser alongada.
A corrida foi recomeçada na sexta volta e esperava-se que o inglês aproveitasse os pneus mais macios para atacar por forma a ganhar a maior vantagem possível para o seu colega de equipa e, dessa forma, poder colocar-se em posição de ter ainda uma palavra a dizer na luta pela vitória.
Contudo, até à sua paragem, na décima sexta volta, o líder do campeonato ganhou apenas 2,7 segundos a Bottas e 5,7 a Verstappen, uma diferença inexpressiva para quem tinha uma penalização de dez segundos.
Para agravar a situação a Hamilton, o “undercut” revelou-se pouco eficaz em Sochi até às paragens dos seus rivais – vigésima quinta volta para o holandês e vigésima sexta para o finlandês – perdendo mais 2,2s segundos para o seu colega de equipa e 0,2s para o piloto da Red Bull, tendo 0,6s voado enquanto seguia atrás de Sebastian Vettel.
Com as paragens concluídas, o inglês estava a quinze segundos de Bottas e a 5,7 de Verstappen, o que deixa claro que, mesmo sem as penalizações, dificilmente poderia contrariar o seu colega de equipa.
Na verdade, mesmo manter Verstappen no seu encalço não seria uma certeza, dado que, com pneus duros nove voltas mais velhos que os do holandês, no final da corrida poderia ficar exposto aos ataques do jovem da Red Bull.
Hamilton não perdeu o Grande Prémio da Rússia devido às penalizações de que foi alvo, mas antes graças aos problemas que sentiu na qualificação.
Sem a oposição do seu colega de equipa, Bottas venceu a corrida de Sochi com algum conforto, dado que Verstappen, com uma unidade de potência que esgotava a energia eléctrica antes do final da longa aceleração até à Curva 2, não tinha como contrariar o ascendente do finlandês, que conquistou a sua segunda vitória da temporada.
O holandês da Red Bull, capitalizava os problemas de Hamilton para conquistar um segundo lugar, depois de dois abandonos, contrastando a sua performance com a de Alex Albon, que terminou num desapontante décimo posto.