Fórmula 1: Quem perdeu e quem ganhou nos primeiros 9 GP?
Estão disputados nove Grandes Prémios da temporada deste ano do Campeonato do Mundo de Fórmula 1, momento para analisar o desempenho de cada uma das equipas, exercício facilitado dado em 2020 termos tido três grupos de três provas consecutivas, o que nos permite chegar a algumas conclusões interessantes.
Para avaliarmos a evolução da performance de cada uma das equipas, convertemos numa percentagem a melhor volta realizada por cada uma das formações durante um fim-de-semana de Grande Prémio, não tendo levado em consideração o Grande Prémio da Estíria, uma vez que, ao ter chovido na qualificação, os tempos das sessões de treinos-livres não são fiáveis, dado que cada um dos pilotos poderá ter usado modos de potência e níveis de combustível diferentes.
Tendo a Mercedes conquistado todas as pole-positions da temporada, consideramos enquadrar esta como a bitola (cada uma das suas melhores volta representa o valor de 100%) a partir da qual todas as outras são avaliadas.
Verificamos a média de cada uma das equipas em cada um dos três grupos de três prova (Trio de Grandes Prémios – TGP) e, posteriormente, comparámos as médias para verificar a evolução de cada uma delas, contrapondo aos pontos que somaram.
As conclusões são interessantes e demonstram quem está a realizar um melhor trabalho de desenvolvimento e quem está a conseguir concretizar essa evolução em resultados palpáveis em pista.
Mercedes 325 pontos
1º Trio de GP: 121 pontos
2º Trio de GP: 100 pontos – Variação de Performance: -0,427 ppc;
3º Trio de GP: 104 pontos – Variação de Performance: -0,310 ppc
Variação de Performance 1º/3ºTGP: -737%
A formação de Brackley tem vindo a dominar completamente a temporada, conquistando sete triunfos em nove e monopolizando todas as pole-positions que estiveram em liça.
Porém, desde o início da época que se tem vindo a notar uma aproximação das restantes equipas à Mercedes, algo normal – quanto mais próximo da perfeição, mas difícil é progredir.
A convergência de performance não se trata de uma falha da equipa de Brackley, mas antes a aproximação habitual que se verifica ao longo de uma temporada.
Porém, curiosamente, a maior aproximação não se verificou no 3ª Trio de Grandes Prémios (TGP), durante o qual se tornou proibido o uso de “party-modes”, que deveria impactar a Mercedes, mas antes no segundo, o que poderá significar que a formação do construtor germânico começou a época com um maior conhecimento da sua máquina que as suas rivais.
O maior de número de pontos conquistados coincide com a sua maior vantagem para as suas adversárias, mas este dado aponta mais para erros de execução da Mercedes que uma quebra de performance mensurável em resultados.
Sem o erro da equipa e de Lewis Hamilton no Grande Prémio de Itália, a Mercedes teria fechado 3º TGP com 122 pontos, mais que em qualquer um dos outros dois.
O 2º TGP foi onde menos pontos somou, reflectindo os problemas de pneus que sentiu nas duas corridas de Silverstone, em que Max Verstappen bateu os dois pilotos dos “Flechas Negras” no Grande Prémio do 70º Aniversário.
Red Bull 173 pontos
1º Trio de GP: 55 pontos
2º Trio de GP: 88 pontos – Variação de Performance: 0,265 ppc
3º Trio de GP: 38 pontos – Variação de Performance: 0,415 ppc
Variação de Performance 1º/3ºTGP: 0,680 ppc
A Red Bull tem vindo a aproximar-se da Mercedes em termos de performance pura, mas a fiabilidade, ou falta dela, e a dificuldade de Alex Albon em concretizar o potencial do seu monolugar tem vindo a penalizar a equipa.
A situação mais evidente é o Grande Prémio da Toscânia em que a equipa, graças a Max Verstappen, esteve a apenas 0,435 pontos percentuais da performance da Mercedes, a mais pequena diferença entre as duas, mas problemas na unidade de potência do holandês, que espoletou o incidente que levou ao seu abandono, impediu que pudesse contrariar o ascendente de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas.
Se em corrida a execução e a fiabilidade não têm sido a melhor, a procura das melhores afinações para o RB16 Honda não tem sido uma tarefa fácil para os homens da estrutura de Milton Keynes, verificando-se em todos os TGP’s grandes oscilações de performance que, inclusivamente coloca-a no meio do segundo pelotão, como se verificou em Monza.
Ainda assim, essas oscilações têm vindo a ser menores – em Hungaroring teve uma quebra de 1,054 ppc; em Monza uma de 0,674 ppc – o que poderá significar que Red Bull está a ganhar um maior conhecimento do seu monolugar.
No entanto, já deverá ser tarde para que Verstappen seja uma factor na luta pelo ceptro deste ano.
McLaren 106 pontos
1º Trio de GP: 41 pontos
2º Trio de GP: 21 pontos – Variação de Performance: 0,470 ppc
3º Trio de GP: 44 pontos – Variação de Performance: 0,447 ppc
Variação de Performance 1º/3ºTGP: 0,917 ppc
A McLaren tem vindo a progredir ao longo da temporada, foi a terceira que mais evoluiu, mas continua com o quinto monolugar mais competitivo em pista.
No entanto, a sua execução das corridas, a qualidade dos seus pilotos e o aproveitamento das oportunidades permite-lhe estar no terceiro lugar do Campeonato de Construtores.
O ponto mais baixo da temporada foram as corridas de Silverstone, em que Carlos Sainz perdeu um quarto lugar na penúltima volta devido a um furo no Grande Prémio da Grã-Bretanha, ao passo que na prova do 70º Aniversário esteve claramente no fundo do segundo pelotão.
No último TGP a equipa deu um salto competitivo considerável – foi a segunda que mais evoluiu face à Mercedes – ultrapassando a Ferrari e aproximando-se da Racing Point, mas viu-se suplantada em termos de performance pela Renault.
Ainda assim, a formação e Woking concretiza de forma eficaz as corridas e isso tem vindo a ser determinante para continuar na terceira posição do Campeonato de Construtores.
Racing Point 92 pontos
1º Trio de GP: 40 pontos
2º Trio de GP: 38 pontos – Variação de Performance: -0,002 ppc
3º Trio de GP: 29 pontos – Variação de Performance: 0,107 ppc
Variação de Performance 1º/3ºTGP: 0,105 ppc
A formação de Silverstone começou a temporada de uma forma muito forte, tendo claramente o terceiro carro mais competitivo em pista, chegando mesmo a ameaçar a Red Bull. No entanto, em corrida nunca conseguiu concretizar esse desafio à equipa de Milton Keynes, sobretudo devido a questões estratégicas, assumindo opções de equipa do segundo pelotão e não de uma estrutura que luta pelo pódio, onde só chegou por uma vez, através de Lance Stroll, e mesmo nessa ocasião devido a circunstâncias muito especiais.
Mais preocupante para a Racing Point é a falta de evolução competitiva ao longo da época – 0,105 pontos percentuais, pior só a Ferrari – o que poderá indicar que não compreende totalmente o conceito que terá copiado do Mercedes de 2019.
Esta falta de evolução destronou-a como terceira força competitiva, por troca com a Renault, com a McLaren por muito perto.
A Racing Point estaria, em condições normais no terceiro lugar do Campeonato de Construtores, mas os quinze pontos que perdeu, devido ao protesto da Renault, atirou-a para o quarto lugar no encalço da formação de Woking.
Renault 83 pontos
1º Trio de GP: 12 pontos
2º Trio de GP: 24 pontos – Variação de Performance: 0,535 ppc
3º Trio de GP: 47 pontos – Variação de Performance: 0,667 ppc
Variação de Performance 1º/3ºTGP: 1,202 ppc
A Renault começou a temporada de forma tímida e com alguns problemas de arrefecimento que ditaram alguns abandonos, voltando a colocar dúvidas quanto à fiabilidade dos monolugares de Enstone.
No entanto, os homens da equipa do construtor francês têm vindo a evoluir consistentemente o R.S.20 ao ponto de hoje ser a terceira força em pista. Desde o início da época até ao Grande Prémio da Toscânia a Renault recuperou uns massivos 1,202 ppc de performance face à Mercedes, a segunda melhor evolução do plantel.
O ponto mais baixo da época foi o Grande Prémio de Espanha, em que não somou qualquer ponto, mas desde então, Daniel Ricciardo tem sido uma presença assídua na luta pelas melhores posições do segundo pelotão, tendo a equipa sido a segunda que mais pontos somou no 3º TGP, apesar de Esteban Ocon ter desistido em Mugello, devido ao sobreaquecimento dos travões durante a primeira situação de bandeiras vermelhas.
O francês não tem estado ao nível que se esperava, tendo marcado apenas 36,14% dos pontos da equipa, o que se reflecte no quinto lugar no Campeonato de Construtores, apesar de, presentemente, ter o terceiro monolugar mais performante em pista.
Ferrari 66 pontos
1º Trio de GP: 27 pontos
2º Trio de GP: 34 pontos – Variação de Performance: 0,044 ppc
3º Trio de GP: 5 pontos – Variação de Performance: -0,018 ppc
Variação de Performance 1º/3ºTGP: 0,026 ppc
A Ferrari está num buraco, segundo as palavras de alguns dos seus responsáveis, mas parece estar a demorar demasiado tempo a começar o processo para sair de lá…
Com uma estrutura como a da “Scuderia”, esperava-se que o ritmo de desenvolvimento fosse elevado, mas passados nove Grandes Prémios a evolução da formação da equipa de Maranello foi de apenas 0,026 ppc, apesar de um novo pacote técnico estreado em Silverstone.
Na verdade, a Ferrari regrediu no 3º TGP, perdendo 0,018 ppc em performance para a Mercedes, o que coincide com o seu menor número de pontos conquistado, apenas cinco, todos somados no Grande Prémio da Toscânia.
Para colocar o afundamento da “Scuderia” em perspectiva, começou a temporada com o quarto carro mais competitivo em pista e, ao longo dos nove Grandes Prémios disputados, tem apenas o sexto mais performante, vendo-se batida pela McLaren e Renault e acossada pela AlphaTauri.
Alguma desta quebra de performance poderá estar relacionada com as pistas visitadas, sobretudo Spa-Francorchamps e Monza, dois traçados que exigem potência, coisa que a Ferrari não tem, mas uma equipa como a italiana tem de fazer mais e melhor e não pode a afundar-se, sendo, inclusivamente, batida por uma das suas equipas-cliente, a Alfa Romeo em Spa e em Mugello.
AlphaTauri 53 pontos
1º Trio de GP: 7 pontos
2º Trio de GP: 9 pontos – Variação de Performance: 0,609 ppc
3º Trio de GP: 37 pontos – Variação de Performance: 0,202 ppc
Variação de Performance 1º/3ºTGP: 0,811 ppc
A AlphaTauri tem sido uma presença assídua nos pontos, tendo apenas por uma vez não terminado entre os dez primeiros com um dos seus carros – no Grande Prémio da Hungria.
O momento alto da temporada é, evidentemente, a vitória de Pierre Gasly no Grande Prémio de Itália, um feito para a formação de Faenza, que aproveitou oportunisticamente a conjuntura com que se deparou.
Apesar da evolução que tem vindo a protagonizar ao longo da época, a AlphaTauri mantém-se com o sétimo carro mais competitivo, mas apenas a Ferrari parece estar ao seu alcance de momento, uma vez que Racing Point, McLaren e Renault estão longe e estas duas últimas têm progredido mais que a formação liderada por Franz Tost.
As prestações de Daniil Kvyat não tem ajudado a causa da formação transalpina, tendo somado apenas 18,9% dos pontos da equipa e mesmo tirando os pontos da vitória episódica de Gasly a situação não é brilhante para o russo.
Alfa Romeo 4 pontos
1º Trio de GP: 2 pontos
2º Trio de GP: 0 pontos – Variação de Performance: 1,001 ppc
3º Trio de GP: 2 pontos – Variação de Performance: 0,418 ppc
Variação de Performance 1º/3º TGP: 1,419 ppc
Tendo no seu chassis a unidade de potência da Ferrari, a Alfa Romeo foi uma das equipas que mais competitividade perdeu do ano passado para este ano, tendo iniciado a época com o carro menos performante da temporada.
No entanto, logo na primeira prova, conseguiu aproveitar os abandonos para assegurar os seus primeiros pontos de 2020.
A partir de então, a formação sediada em Hinwil tem vindo a progredir massivamente, sendo a equipa que mais performance ganhou à Mercedes – 1,419 pontos percentuais – tendo dado um salto significativo do 1º TGP para o 2º TGP, de 1,001 ppc.
Esta evolução permitiu-lhe assumir-se como a oitava força em pista, liderando o terceiro pelotão.
Nas últimas corridas tem vindo a conseguir, até, bater-se com a Ferrari, o que diz tanto da progressão da Alfa Romeo como do afundamento da “Scuderia”.
Contudo, será difícil que alcance o segundo pelotão este ano, sendo conquistar alguns pontos em situações anormais o máximo a que pode aspirar até ao final de 2020.
Haas 1 ponto
1º Trio de GP: 1 ponto
2º Trio de GP: 0 pontos – Variação de Performance: 0,257 ppc
3º Trio de GP: 0 pontos – Variação de Performance: 0,433 ppc
Variação de Performance 1º/3º TGP: 0,691 ppc
A Haas esperava ter resolvido as suas dificuldades em entender os pneus Pirelli para este ano, mas quando deu por si, a falta de potência do V6 turbohíbrido da Ferrari era o maior dos seus problemas.
Para além disso, a formação americana tem vindo a sentir mais contrariedades técnicas na unidade de potência italiana que as restantes que as usam, o que poderá significar apenas um conjunto de circunstâncias pouco felizes, mas, mais preocupante, pode também poder demonstrar alguns problemas de instalação no chassis da Dallara.
A Haas tem vindo a evoluir o seu carro, mas depois de ter iniciado a temporada como oitava força em pista, é agora a nona, vendo-se ultrapassada pela Alfa Romeo.
Tal como a formação do construtor de Arese, só em dias de muitos abandonos poderá ambicionar alcançar os pontos.
Williams 0 pontos
1º Trio de GP: 0 pontos
2º Trio de GP: 0 pontos – Variação de Performance: 0,662 ppc
3º Trio de GP: 0 pontos – Variação de Performance: 0,121 ppc
Variação de Performance 1º/3º TGP: 0,783 ppc
A Williams esperava este ano colar-se ao segundo pelotão, mas apesar da evolução, continua longe e é a quebra competitiva da Alfa Romeo e da Haas que lhe permite não rodar sozinha no fundo do pelotão, estando este trio longe das restantes escuderias.
A formação de Grove começou como a nona força em pista, atrás da Haas, mas ainda não conseguiu marcar qualquer ponto, notando-se dificuldades por parte da estrutura em executar de uma forma efectiva as corridas.
No 3º TGP notou-se uma estagnação da Williams, não conseguindo sequer capitalizar na corrida de grande atrito de Mugello, sendo a única equipa que ainda não somou qualquer ponto.
Esse objectivo pode ter ficado mais distante, uma vez que se viu ultrapassada pela Alfa Romeo e pela Haas no que diz respeito a performance, sendo agora a décima força em pista.