Rali da Turquia: Elfyn Evans, entre os ‘pingos da chuva’…
Elfyn Evans saiu vencedor de um Rali Turquia absolutamente louco, em que chega à liderança depois dos três primeiros furarem… no mesmo troço. Com este triunfo recuperou a liderança do Mundial e é agora o principal candidato ao título. Ott Tänak e Sébastien Ogier desistiram enquanto Thierry Neuville minimizou estragos com o segundo lugar… depois de furar.
Furos, furos e mais furos. É esta a história resumida do Rali da Turquia, nada que os pilotos e as equipas não estivessem avisados, mas tal como já se sabe, um piloto de ralis tem uma dificuldade incrível em perceber o que é demais ou não, e por isso não é de admirar muito que numa fase que já se sabia ser intensa do rali os furos surgissem…em catadupa. E decidiram o rali, pois Elfyn Evans e Scott Martin (Toyota Yaris WRC) acabaram por ser os mais cautelosos, inteligente ou eventualmente os mais sortudos, é difícil distinguir. Seja como for, o galês realizou sempre uma prova mais do que suficiente para o quarto lugar, mas talvez tenha sido ele quem ouviu melhor as palavras do seu experiente colega de equipa, Ogier, quando na Estónia disse que a Turquia era para quem fosse mais inteligente, e quando os três da frente ‘furam’ e o quarto passa para a frente do rali não há muito volta a dar. Inteligência.
Esta é a segunda vitória do ano e com a Toyota, terceira da carreira, facto que aliado ao abandono de Sébastien Ogier/Julien Ingrassia (Toyota Yaris WRC), permite a Evans posicionar-se muito bem na luta pelo campeonato, pois fica com uma vantagem de 18 pontos sobre Ogier, com Tänak e Kalle Rovanperä empatados nos 70 pontos, a 27 de Evans. Neuville está ainda mais cinco pontos atrás. E já só faltam apenas dois ralis para o fim do campeonato. Há 60 pontos em jogo, na próxima prova, na Sardenha, Evans vai ter dificuldades devido à ordem de partida, mas dezoito são muitos pontos e podem bem terminar o hiato de títulos britânicos, algo que já não sucede desde que Richard Burns venceu o Mundial de 2001. “Foi um fim-de-semana duro, não é a vitória mais doce, pois fui muito conservador, mas é esta a natureza do jogo. É um grande resultado por isso estou feliz”.
Neuville merecia mais
Thierry Neuville e Nicolas Gilsoul (Hyundai i20 Coupe WRC) não mereciam o azar que tiveram com o furo, pois andaram o suficiente para sair vencedores do Rali da Turquia. Mas há muito se sabe que os ralis não são assim, nem sempre ganha quem mais merece. O segundo lugar final e a vitória na PowerStage é pouca consolação, já que precisava mesmo de vencer. Agora está longe demais para ainda ‘acreditar’ no título. Recuperaram 23 pontos a Ogier, mas os 32 pontos de atraso para Evans são pouco menos que irrecuperáveis. Depois de um primeiro dia difícil, por causa do pó, estava a fazer bem o seu trabalho, liderava a prova, mas na nona especial um furo estragou-lhe um possível triunfo. Só aí perdeu 1m45s. Foi claramente o piloto mais rápido do fim de semana, venceu sete das 12 especiais e liderou duas vezes. Mas não quando mais interessava: “Sinto realmente que merecíamos melhor. Esperava melhor, mas é assim que as coisas são.”
É uma pena que Sébastien Loeb e Daniel Elena (Hyundai i20 Coupe WRC) possam estar cada vez mais perto de terminar a sua aventura no WRC, porque duplas desta categoria fazem muita falta. Terminaram no pódio e esta pode ter sido a sua derradeira prova no WRC. Estiveram na luta pelo segundo lugar, entraram para o último dia de prova empatados com Ogier, mas tal como sucedeu a várias equipas, a PE9 foi demolidora e aí perderam 1m20s, devido a um furo, caindo para o quarto posto da geral, Mas mantiveram-se na luta pelo pódio que acabaram por conseguir. Se for este o seu último rali, saem totalmente em alta. “No final estamos no pódio, foi difícil, por isso estou feliz”, disse Loeb.
Kalle Rovanperä e Jonne Halttunen (Toyota Yaris WRC) foram quartos classificados e tiveram dos seus ralis mais descansados de sempre. Sabendo que esta é uma prova de ‘resistência’, o jovem fez tudo para não meter uma roda fora do sítio, mas terminaram em quarto, depois de terem rodado quase toda a prova na quinta posição. Subiram com o abandono de Ogier. Um rali regular, numa prova que como se percebeu, foi de sobrevivência para todos. “Precisávamos de trazer o carro ‘para casa’, devido aos pontos da equipa, e foi o que fizemos”.
Gus Greensmith/Elliott Edmondson (Ford Fiesta WRC) teve vários contratempos durante o rali, andou mal, mas foi bem melhor o resultado do que a exibição, ao terminar na quinta posição. O ano passado, nesta prova, capotou e ganhou (no WRC2), este ano, assegurou o seu melhor resultado no WRC.
Manteve-se longe dos problemas, mas a um ritmo muito baixo: “Tivemos um fim-de-semana decente. Esperava um pouco melhor, mas é um bom resultado”, disse.
Esapekka Lappi e Janne Ferm (Ford Fiesta WRC) foram sextos, sem nunca terem estado no ritmo necessário para um melhor resultado. Tendo em conta o nível atual do WRC, o facto da M-Sport estar ‘aflita’, não testa, e isso tem consequências, o trabalho de bastidores que não é feito reflete-se muito nas provas e a distância hoje me dia da M-Sport para a Hyundai e Toyota é demasiado grande. Não esqueçam que Lappi é piloto para vencer ralis. O sexto lugar não é mau, mas chega por exclusão de partes
Ott Tänak e Martin Järveoja (Hyundai I20 Coupé WRC) perderam toda e qualquer hipótese de lutar pelo triunfo com o abandono no segundo dia, com um problema na direção do i20 WRC. Ainda assim foi ‘buscar’ quatro pontos na PowerStage, mas a possível revalidação do título está a 27 pontos de distância, o que parece demais tendo em conta os pilotos que tem à sua frente. Curiosamente, tem os mesmo 70 pontos que Kalle Rovanpera: “Não foi nada bom. A sensação não estava lá. Foi um fim-de-semana de merda.”
Depois de terem andado na luta pela liderança do rali, com Neuville, até ao furo na PE6 que os relegou para terceiro, Sébastien Ogier/Julien Ingrassia (Toyota Yaris WRC) entraram para o derradeiro dia de prova na luta pelo segundo lugar, já que o triunfo estava em teoria entregue a Neuville, mas acabariam surpreendidos com um problema de motor, vendo-se obrigados a desistir quando eram terceiros, a duas especiais do fim. Perderam o comando do Mundial, mas a par de Evans, são os dois mais cotados pilotos para chegar ao título.
Teemu Suninen/Jarmo Lehtinen (Ford Fiesta WRC) tiveram um desempenho sólido durante o fim-de-semana, mas foram também vítimas da PE9, Çetibeli, já que partiram um amortecedor de esquerda traseira do Ford, o que os levou ao abandono. Pierre-Louis Loubet/Vincent Landais (Hyundai I20 Coupé WRC) desistiram com problemas de motor, quando eram nonos da geral. Este não era o rali ideal para aprender.
A Toyota alargou a sua vantagem sobre a Hyundai no campeonato dos fabricantes, colocando-a em nove pontos, marcando mais quatro pontos do que a Hyundai na Turquia. Agora, o WRC ruma à Sardenha onde Evans não vai ter vida fácil, pois sai na frente num dos piores ralis do ano para o fazer. Mas com a vantagem que tem, pode fazer um rali de contenção e esperar para ver como param as modas. Só não pode deixar atrasar demais. Tendo em conta os ralis que há pela frente, nada indica que o campeonato esteja fechado, aliás, o mais provável é resolver-se… em Spa Francorchamps.
MOMENTO
Na primeira passagem pelos 38.15 km Çetibeli, Elfyn Evans passou de quarto para primeiros num troço em que Neuville, Ogier e Loeb furaram, Pierre-Louis Loubet e Teemu Suninen abandonaram com Evans e Gus Greensmith a serem os únicos pilotos do top 8 a escapar a danos nos carros ou a furos. Com isto, o galês converteu um atraso de um minuto num avanço de 46.9s para o segundo, isto a três troços do fim. Decisivo!
FIGURA
É verdade que esta prova requer duplas muito experientes, mas Sébastien Loeb e Daniel Elena mostraram que se ainda tivessem motivação, provavelmente estariam a lutar pelo título. Já levam tudo na desportiva, mas é notável chegar à Turquia, 238 dias após a sua última aparição na WRC, e fazer uma prova sem sem erros. Só o furo não permitiu melhor. De resto fez bem quando lhe perguntaram se esta era a sua última participação no WRC: “desculpe, não percebi a pergunta…” E foi-se! Provavelmente ainda os vamos ver mais vezes. E Ainda bem.