Clássicos e Legends iluminaram o Autódromo Internacional do Algarve num belo dia de verão
A ansiedade era grande, o desejo maior e a impaciência parecia uma panela de pressão: a pandemia de Covid-19 manteve máquinas e pilotos confinados durante semanas a fio. Imaginem a alegria quando foi dada a boa nova: acabara o confinamento e iam voltar as corridas!
Não houve fogo de artificio, não houve festa – até porque é proibido! – mas um sinal claro que a alegria tinha regressado á velocidade nacional: quase 50 pilotos inscreveram-se no Campeonato de Portugal de Velocidade Clássicos 1300, Clássicos e Legends. Um número fantástico que superou todas as outras disciplinas, deixando claro que os Clássicos e os Legends são uma verdadeira família.
Cumprindo o “novo normal” da desinfeção das mãos, da distância social e da utilização das máscaras, a caravana da ANPAC (Associação Nacional de Pilotos de Automóveis Clássicos) mostrou respeito e obediência pelas normas da Direcção Geral de Saúde (DGS) para que tudo corresse da melhor forma. E a verdade é que correu, fora e, sobretudo, dentro da pista.
Clássicos e Clássicos 1300
Calor! Muito calor! Pista escorregadia devido ao asfalto quente, pilotos suados e á beira do colapso, carros a ferver! Foi este o pano de fundo para as sessões de treinos livres, qualificação e corridas no Autódromo Internacional do Algarve (AIA), palco magnífico pela sua modernidade, qualidade e traçado exigente para os pilotos.
As formas sensuais dos diversos Ford Escort MKI e dos Porsche 911 RSR, eram beijadas pelo sol quando se fizeram á pista. O aspeto rimava com o ritmo e foi um regalo ver a luta titânica entre Carlos Vieira (Ford Escort RS 1600) e Joaquim Jorge (Ford Escort RS 1600) com o Porsche 911 RSR de João Macedo Silva, magoado no coração, a ficar fora da festa, parecendo aqueles meninos que no colégio não podem participar das brincadeiras porque estão com febre ou constipados.
Porém, as corridas de automóveis são totalmente imprevisíveis e os Clássicos são carros, diriam uns, caprichosos, com carácter, dizemos nós, e a primeira corrida realizada no AIA entregou a vitória, exatamente, ao Porsche 911 RSR que sofreu muito nos treinos e acabou a competição a tossir bastante. Os Ford Escort puxaram do seu carácter e Carlos Vieira ficou apeado de sobrolho franzido, a olhar para a manga de eixo partida e outro Escort RS decidiu atirar borda fora todo o óleo em plena zona de travagem, fazendo outro Escort RS escorregar para fora da corrida e permitindo que o “Safety Car” tivesse feito voltas suficientes para ganhar a corrida, caso estivesse inscrito. Não estava e João Macedo Silva e o seu Porsche 911 RSR ganhou, de forma fácil. Demasiado fácil como o próprio piloto confessou, sabendo que o seu clássico teria de receber um coração novo para a segunda manga da competição.
Com os caprichos, perdão, o carácter apaziguado e as reparações feitas conforme as necessidades, a segunda corrida dos Clássicos foi um testemunho monumental sobre a beleza das competições com carros que nos fizeram sonhar na juventude. A luta entre Carlos Vieira e Joaquim Jorge foi digna de um filme de ação, onde José Macedo Silva não conseguiu participar, pois o motor do Porsche 911 RSR foi mudado, mas não mudou o problema e inferiorizado, cerrou os dentes, ainda explicou que a força germânica é poderosa, mas não conseguiu mais que empurrar-se até final, tristonho por não conseguir estar na luta com os Ford Escort.
O regalo que foi ver os dois carros britânicos expostos ao sol algarvio e ondulando pelo traçado de Portimão, trocando de posição a cada travagem, foi um verdadeiro espetáculo! Claro que houve um vencedor – só pode haver um! – mas é de somenos importância saber que o troféu acabou nas mãos de Carlos Vieira na frente de Joaquim Jorge.
Os que têm memória lembra os Datsun 1200 a polvilharem os poucos circuitos nacionais da época e as estradas onde passavam os ralis nacionais. Carros pequenos, leves e fiáveis que desafiavam os mais poderosos. Passados anos sobre essa realidade, os Datsun 1200 continuam vivos e estiveram presentes no AIA, tendo dominado a classe 1300 com José Fafiães a não dar conversa a ninguém.
Contas feitas, na primeira corrida, António Soares (Ford Escort RS) ganhou o grupo 5, no H4 ficou Rui Azevedo (Ford Escort RS 1600) na frente, enquanto que João Vieira (Porsche 914-6 GT) e Carlos Barbot (Lotus Elan 26R) levaram de vencida, respetivamente, a H71 e H71-1600. Nos H75, a vitória sorriu a João Macedo Silva (Porsche 911 RSR). Na segunda corrida, Carlos Vieira (Ford Escort RS) ganhou o grupo 5, enquanto que João Vieira (Porsche 914-6 GT) e Carlos Barbot (Lotus Elan 26R) levaram de vencida, respetivamente, a H71 e H71-1600. Nos H75, a vitória foi para Joaquim Jorge (Ford Escort RS) e no H81 foi Jorge Cruz (BMW 323i) quem levou a melhor.
Legends
Ainda não podem se juntar aos mais adultos Clássicos, mas enchem as pistas com as suas cores vibrantes e modelos que nos deixam boquiabertos. Quem não gosta de ver uma carrinha Volvo 850 que se celebrizou no BTCC? Ou os sempre fiáveis e espetaculares BMW M3? Quem não fica estarrecido ao ver um belíssimo Toyota Corolla Twin Cam 16V? Os velozes Honda Integra Type R também fazem parte do plantel dos Legends e a promessa era clara: corridas com discussão acessa pela vitória.
Porém, um piloto que é filho de uma lenda da velocidade portuguesa, decidiu tirar o pó ao seu BMW 320d, prepará-lo com carinho e precisão e levá-lo para o AIA. Manuel Pedro Fernandes, filho do vilarealense Manuel Fernandes, herdou do pai o talento e com o seu carro a gasóleo foi dominar a primeira corrida desta categoria, depois de ter sido forçado a arrancar das boxes.
Ou seja, o piloto do BMW 320d adicionou emoção á competição ao atrasar-se na saída para a pista, sendo forçado a uma recuperação acelerada até á primeira posição.
A segunda corrida encaminhava-se para ser uma fotocópia da primeira manga e só não foi porque houve uma luta intensa entre dois BMW M3 (António Barros e Joaquim Soares) e o Volvo 850 T5 Estate (Nuno Figueiredo) pelo segundo lugar, pelo “safety car” que foi forçado a entrar em pista devido a um despiste, porque Manuel Fernandes não ganhou a corrida – até porque era Hugo Mestre quem estava ao volante – e a prova terminou com o “safety car” à liderar entregando a vitória ao BMW M3 de Joaquim Soares.
Na primeira corrida, nas diferentes categorias, João Sousa (Fiat Punto 85) venceu entre os FEUP2, nos L-85/2000 a vitória sorriu a Hugo Pereira (Toyota Corolla GT), nos L-90/1300 foi o Peugeot 205 de Nélson Silva a levar a melhor e nos L-90/2000 o troféu de vencedor ficou nas mãos de Hugo Branquinho. Nos L99, Joaquim Soares ganhou com o BMW M3, nos L-99/2000 a vitória foi para Tiago Ribeiro (Honda Integra Type R), Nuno Barroso levou o seu Peugeot 306 GTI à vitória entre os Especiais e Pedro Fernandes (BMW 320d) ganhou na Livre. João Sousa (Fiat Punto 85) nos FEUP2, Hugo Pereira (Toyota Corolla GT) L-85/2000, o Peugeot 205 de Nélson Silva nos L-90/1300 e Hugo Branquinho nos L-90/2000, foram os vencedores da segunda manga. Nos L99, Joaquim Soares ganhou com o BMW M3, José Almeida (Honda Integra Type R) e Sérgio Pinto (Honda Civic) ganharam na categoria Livre.
Corrido o pano sobre o Super Racing Weekend de Portimão, primeira jornada da velocidade nacional, o balanço é totalmente positivo. Muitos carros, muitas lutas em pista e, sobretudo, a satisfação do dever cumprido de respeitar as normas de segurança e oferecer aos pilotos uma primeira jornada de 2020 plena de emoção. Encontro marcado para o circuito de Braga no mês de setembro.