F1, Renault & Alonso: a dinâmica de um 2º casamento

Por a 7 Julho 2020 18:58

O bicampeão mundial de Fórmula 1 Fernando Alonso está prestes a ser confirmado na Renault para 2021, naquele que é um regresso sensacional à equipa francesa, e à F1. O acordo é por dois anos, e provavelmente será anunciado oficialmente já amanhã, quarta-feira. Depois duma intensa movimentação no mercado de pilotos, a poeira assentou por uns tempos, mas está definido quem vai ocupar o lugar que ainda é de Daniel Ricciardo na Renault.

A ‘silly season’ foi intensa nos últimos tempos, e em menos de uma semana, soube-se que o tetracampeão mundial, Sebastian Vettel não vai continuar na Ferrari, Carlos Sainz deixa a McLaren em 2021 para rumar a Maranello e o australiano da formação de Enstone irá ocupar o lugar que o espanhol deixará vago em Woking.

A rapidez com que tudo aconteceu demonstra que todas as decisões tinham vindo a ser negociadas há semanas, no mínimo, dado que dificilmente a McLaren chegaria a acordo com Daniel Ricciardo quarenta e oito horas após a Ferrari anunciar que não continuaria com Vettel, situação que deu início à movimentação, e seguramente que a Scuderia não firmou contrato com Carlos Sainz em dois dias.

É facilmente compreensível que a Renault já sabia há algum tempo que o seu piloto-estrela a iria abandonar no final de 2020, mas os homens da equipa escolheram não continuar o movimento do mercado, sabendo o AutoSport que Cyril Abiteboul não queria revelar quem fará equipa com Esteban Ocon em 2021, depressa, assumindo uma postura cautelosa para avaliar todas as suas possibilidades.

Olhando para as suas opções, construtor francês poderia voltar-se para o seu programa de jovens pilotos, integrado presentemente por Max Fewtrell, Caio Collet, Oscar Piastri, Hadrien David, Christian Lundgaard e Guanyu Zhou, estando estes dois últimos a disputar a Fórmula 2. Contudo, apesar de algum potencial evidenciado, nem o sueco nem o chinês são ainda o produto acabado para ascender à Fórmula 1 numa equipa que quer chegar ao topo nos próximos anos.

Para além disso, Abiteboul iria sempre preferir um piloto com um perfil, no mínimo, semelhante ao de Ricciardo, de modo a poder redimir-se da perda do australiano e de dar moral às ‘tropas’ de Enstone e de Viry-Châtillon, que nos últimos anos não têm tido motivos para grande entusiasmo. Partindo daqui, um eventual regresso de Nico Hulkenberg, que no final do ano passado deixou a equipa de Enstone para abrir espaço para Ocon, era possível mas altamente improvável.

O alemão é um piloto competente, e barato, mas não tem a projeção de Ricciardo, para além de se ter mostrado incapaz de ter conseguido um pódio ao longo de nove temporadas na Fórmula 1. O facto de Abiteboul o ter substituído pelo jovem francês evidencia que não acreditava em Hulkenberg, tendo o despiste deste em Hockenheim em 2020 sido determinante para este sentimento, e readmiti-lo passaria a mensagem de que não tinha conseguido aliciar nenhuma das opções mais vistosas, o que colocaria fortes dúvidas quanto ao projeto que lidera e, sobretudo, à sua própria capacidade de liderança.

A opção mais óbvia seria assegurar o concurso de Vettel, que depois de não renovar com a Ferrari está ainda sem volante para 2021.

O alemão, aquando do anúncio do fim do seu período em Maranello, afirmou que não foram questões financeiras a obstar a extensão do seu reinado transalpino, o que permitiria a Abiteboul garantir um tetracampeão mundial a um preço reduzido, fazendo assim esquecer Ricciardo rapidamente.

A grande questão era o interesse do germânico em ingressar numa equipa que não tem perspetivas de vencer em 2021, havendo até dúvidas quanto à sua capacidade para enfrentar o novo regulamento, sendo a saída de Ricciardo para a McLaren um reflexo disso.

Acresce ainda que Vettel teria de enfrentar um jovem lobo – Esteban Ocon. O gaulês de 23 anos está ávido de provar o seu valor e, para tal, para se afirmar de forma inequívoca, com o alemão ao seu lado, teria de, pelo menos, tentar fazer exatamente o que Charles Leclerc fez o ano passado, e já se percebeu que o gaulês não tem meias medidas com os colegas de equipa, como Sérgio Pérez o poderá confirmar, ainda dos tempos da Force India.

Posto isto, uma ida do alemão para a Renault não acrescentaria muito à sua carreira para correr um risco elevado de voltar a ser batido por um jovem colega de equipa – como aconteceu em 2014 com Daniel Ricciardo e o ano passado com Leclerc – o que o fará contemplar pendurar o capacete no final da temporada deste ano, uma possibilidade que ganha força, a não ser que o impensável aconteça – fazer equipa com Lewis Hamilton na Mercedes, algo que também é cada vez menos provável, pois pelo que ainda agora se viu, Valtteri Bottas pode estar ainda melhor este ano.

Restava a Abiteboul apreciar Fernando Alonso, se quisesse dar a volta por cima à perda de Ricciardo, dado que, por muito aliciante que Vettel pudesse ser, se este não quisesse continuar na Fórmula 1, deixaria sempre de ser uma possibilidade.

O regresso do espanhol à Renault, com quem conquistou os seus dois títulos mundiais, faria esquecer imediatamente o seu antecessor australiano. Por seu lado, o veterano de trinta e oito anos não se cansou de deixar bem claro que o seu tempo na Fórmula 1 não acabou, apesar do período sabático a que se obrigou no final de 2018, depois de ter ficado cansado de lutar por quintos e sextos lugares, na melhor das hipóteses.

Porém, Alonso parecia ter fechada a possibilidade de entrar numa das três grandes – apenas a Mercedes tem vagas para 2021, mas seria difícil que Hamilton não prossiga e o seu colega de equipa não seja alguém da esfera do construtor germânico – sendo a Renault a melhor hipótese para o seu regresso à categoria máxima do automobilismo, que afinal é uma escuderia de um grande construtor.

Ao contrário de Vettel, a Alonso pouco importa quem será o seu colega de equipa, tal é a intensa confiança que tem nas suas capacidade e os números dão substância ao sentimento – na Fórmula 1 bateu todos os seus colega de equipas de forma inequívoca, exceto Lewis Hamilton, mas então o piloto de Oviedo estava seguro de que o inglês estava a ser favorecido pela McLaren e por Ron Dennis.

O óbice ao regresso do espanhol a Enstone são as garantias de competitividade da Renault quando entrar em vigor o novo regulamento, em 2022, que lhe permitam, no mínimo, sonhar em regressar ao pódio – que já não conhece na Fórmula 1 desde 2014.

Do seu lado, Alonso tem o facto de conhecer ainda alguns responsáveis da estrutura de Enstone, sendo um dos casos mais evidentes Alan Permane, o director desportivo, sendo-lhe fácil recolher dados fiáveis de pessoas em quem confia. Conhece também bem Pat Fry, o diretor técnico, dos tempos da Ferrari, muito embora nem sempre a relação entre os dois tenha sido perfeita.

Mesmo levando em consideração que em 2022 a Renault poderia bater-se com a ‘Três Grandes’, em 2021 dificilmente Alonso poderia aspirar a mais que bater-se pelos melhores lugares atrás dos Mercedes, Ferrari e Red Bull, contudo, teria a possibilidade de influenciar o projeto do ano seguinte, o que não aconteceria se continuasse do lado de fora.

Seja como for, esta deverá ser a derradeira hipótese de o bicampeão mundial regressar à Fórmula 1, uma vez que, em 2021, ano em que completará quarenta primaveras, e após três temporadas fora dos Grandes Prémios, dificilmente uma equipa com aspirações lhe oferecerá um volante para 2022. O desejo há muito existia de ambas as partes e o enlace está para breve. E ainda bem porque Fernando Alonso faz falta à Fórmula 1.

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Cágado1
4 anos atrás

Alonso faz falta à F1?… Não sinto falta nenhuma dele. Pelo menos não mais do que sinto do Jackie Stewart ou do Mika Hakkinen (só para falar em 2 multi-campeões vivos e saudáveis). A F1 seguramente faz falta a Alonso, que não conseguiu o palmarés ao seu alcance – pelo menos 2 títulos devem estar-lhe atravessados na garganta. De qq forma, acredito que possa ser um ajuda no aumento de competitividade da Renault. Preferia a rodagem do Zhou em 2021, para estar ‘au point’ para 2022 (a não ser que o Ocon fique aquém do esperado – no 1º GP… Ler mais »

4RcNg
4RcNg
4 anos atrás

Il faut amener aussi son copain des trucs et du piratage : Mr. Briatore! Avec cette paire, en effet il y aura des grand triomphes (à toute force) pour les jaunes, mais pas pour le sport auto.
On a pas besoin de quelque un!

barbosaarturhotmail-com
barbosaarturhotmail-com
4 anos atrás

É o grande retorno de um verdadeiro campeão, onde a F1 precisa de pilotos deste calibre……..adelante Fernando.

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