‘Estórias’ do Rali de Portugal 1976, Sandro Munari: Do Audi capotado em Arganil à vitória
Sandro Munari, atualmente com 81 anos, revela algumas dúvidas acerca do ano em que pela primeira vez correu o Rali de Portugal. Recorda ter conduzido um Lancia Fulvia oficial, que lhe permitiu ter ficado “muito perto da vitória”. Estávamos em 1970 e o resultado foi o 2º lugar.
As memórias de 1976 são menos difusas, desde logo porque deixaram marcas corporais ainda hoje visíveis. A 10 de Março de 1976, dia de verificações técnicas para a edição desse ano do Rali de Portugal, as primeiras páginas dos jornais noticiavam mais um rebentamento de um engenho explosivo, desta vez nas instalações do semanário ‘O Sol’.
Greves em quase todos os sectores, militares fora dos quartéis, acesso fácil a armas, assaltos quase diários a bancos, catorze partidos políticos a digladiarem-se na colagem dos seus cartazes e na pichagem dos da concorrência, estes eram alguns dos ingredientes da turbulência que serviu de moldura ao Rali de Portugal-Vinho do Porto de 1976.
À margem de um país a fervilhar, Munari levou o seu Lancia Stratos a uma vitória adjetivada pela imprensa da época como – imperial, contundente, indiscutível! No entanto, quem diria que aquele que comandou a prova desde a primeira classificativa, esteve na eminência de não se deslocar a Portugal. Quatro dias antes do rali ir para a estrada, em Itália, Cesare Fiorio telefonava a Sandro Munari para lhe perguntar se estava em condições de participar na prova. Cerca de dez dias antes do inicio do rali, Munari andava por Arganil em reconhecimentos.
O dia aproximava-se do fim e os travões do Audi alugado também – “Estávamos a descer para Arganil, quando dei conta que ficámos sem travões, com precipício do lado direito e sem qualquer árvore à vista. Lancei o carro contra o morro do meu lado, mas não me apercebi de uma rocha saliente que fez o carro capotar. Ficámos de pernas para o ar a um metro da ribanceira”.
Os sete pontos que levou na cabeça foram “costurados” na Unidade de Saúde de Arganil. Contudo persistiam outros sintomas, associados ao traumatismo craniano ocorrido, que exigiam uma avaliação mais aprofundada.
Sandro Munari, acompanhado de Silvio Maiga, optou por regressar a Itália, para realizar um check up, cujos resultados ditaram a necessidade de repouso absoluto… que haveria de terminar a tempo de levar o belo Lancia Stratos “vestido” com as cores da Alitalia ao lugar mais alto do pódio.