Avanços e recuos na Fórmula 1

Por a 25 Maio 2020 09:26

Na passada semana houve alguns avanços significativos na F1, já que foi confirmado o teto orçamental para 2021, mas o calendário continua com mais recuos do que avanços.

Continua o impasse a vários níveis na Fórmula 1, mas há um dado importante que já ficou resolvido. O novo teto orçamental já foi aprovado, e está confirmado o limite de 145 milhões de dólares para 2021. Há no entanto alguns ‘senão’, mas deles falaremos mais à frente.

Noutro âmbito, começa a crescer a preocupação com a Renault, marca que está em sérias sérias dificuldades financeiras, facto que coloca em risco o programa da Renault na Fórmula 1. Mas não só pois para lá da Renault, também a McLaren e Aston Martin estão em dificuldades.

Na Silly Season, que arrancou a a confirmação da saída de Sébastian Vettel da Ferrari no final deste ano, equipa que já assegurou Carlos Sainz, enquanto Daniel Ricciardo está confirmado na McLaren em 2021. Neste contexto, os reumores quanto a novas mexidas crescem, e desde a Mercedes estar eventualmente interessada em Vettel, fala-se agora também da possível passagem de Valtteri Bottas para Enstone.

Quanto ao calendário, muita indefinição, já que apesar de tudo parecer seguro para o arranque na Áustria a 5 de julho, depois disso está tudo muito incerto, porque o governo britânico, quando tudo já estava praticamente certo para Silverstone receber a segunda ‘dose’ de eventos, eis que Boris Johnson obriga a uma quarentena de duas semanas para quem chegue à Grã-Bretanha. Isso é impossível para a caravana da F1, que, recordemos, tem sete das 10 equipas de F1 ali sediadas. Do lado dos austríacos está quase tudo pronto para o anúncio oficial, falta apenas a chancela oficial do governo local, e para as dúvidas que pairam agora sobre o GP da Grã-Bretanha, Hockenheim e a Hungria perfilam-se para substituir a pista inglesa, o que obriga a a diversas mexidas na calendarização.

De resto, ficou a saber-se que o GP Singapura de F1 não se vai realizar este ano, já que o Promotor diz não ser viável correr ‘à porta fechada’, sem adeptos, portanto, e mais recentemente surgiram dúvidas sobre o GP dos EUA, em Austin.

Novo teto orçamental aprovado

As equipas de Fórmula 1 confirmaram a aceitação do novo teto orçamental para 2021, que diminuiu dos inicialmente previstos 175 milhões de dólares para 145 milhões. Contudo, as equipas acordaram também novo conjunto de regras, que vão ajudar ainda mais que os custos se mantenham contidos. Duas dessas regras serão um sistema de ‘handicap’ de desenvolvimento aerodinâmico e também o uso de peças ‘open source’. A F1 vai agora ter um teto orçamental de 145 milhões em 2021, 140 milhões de dólares em 2022 e 135 milhões de dólares nos anos seguintes, o que reduz significativamente os valores que foram gastos até aqui, acreditando-se que a Mercedes e a Ferrari gastam à voltam de 500 milhões, enquanto a Red Bull, porque não constrói motores, despende 300 milhões.

Para além do limite orçamental, outras regras que fazem ainda parte do pacote. Por exemplo, um sistema um pouco radical de ‘handicap’ de desenvolvimento aerodinâmico que se resume em poucas palavras: as equipas com pior desempenho vão dispor de mais tempo de desenvolvimento no túnel de vento e de CFD (Computer Fluid Dynamics) em comparação com as equipas que estiverem a ser mais bem sucedidas, que terão em termos percentuais, menos tempo de desenvolvimento, o que em teoria, equilibra o plantel. A isto junta-se também a possibilidade de utilização de peças de ‘fonte aberta’ (open source). Depois das equipas terem aprovado a alteração das regras, estas vão ser submetidas ao Conselho Mundial do Desporto Automóvel da FIA para ratificação final, como sempre sucede. Isto deverá suceder por e-vote, antes mesmo do próximo Conselho mundial que está previsto para meados de junho.

Renault em risco?

O programa da Renault na F1 deve sofrer cortes, na melhor das hipóteses, com o fabricante francês em sérias dificuldades financeiras, tendo já negociado um empréstimo do estado francês, que detém 15% do fabricante. Com os gastos na F 1 a rondarem os 200 milhões de euros, pode haver aqui dificuldades, que podem levar à saída da equipa da F1, mantendo-se, ou não apenas como fornecedora de motores. Com a McLaren, o único cliente, a trocar a Renault pela Mercedes em 2021, essa situação pode também ‘cair’. Um plano deverá ser anunciado a 29 de maio, e aí poderemos ter mais indicações sobre o que vai acontecer à equipa de F1.

Também a McLaren e Aston Martin estão com dificuldades. Da McLaren, diz-se que a marca precisa de cerca de 280 milhões de euros para sair da crise, agravada pela pandemia de coronavírus. O problema maior aqui é a venda de carros de estrada, que tem baixado muito. O governo britânico recusou um empréstimo à marca e agora fala-se de possível hipoteca da sua fábrica e coleção de carros históricos.

Já a Aston Martin, há grande esperança no seu primeiro SUV, e a entrada de Lawrence Stroll no capital da marca, ajuda, mas dificilmente resolve tudo.

Silly Season prossegue

Sebastian Vettel sai da Ferrari, e não se sabe se permanece na F1 em 2021. Carlos Sainz ruma à Ferrari e Daniel Ricciardo à McLaren. Agora surgiu o rumor que a Renault está interessada em Valtteri Bottas para 2021. Bottas termina contrato brevemente e George Russell é um valor seguro no seio da Mercedes.

Mas há um rumor ainda mais interessante, já que de acordo com diversas fontes, há contactos entre Fernando Alonso e a Renault para o seu regresso à F1. Como se percebe, podendo ser os dois rumores verdadeiros, Bottas e Alonso, pelo menos um deles não se concretiza. Muito provavelmente, nenhum dos dois…

Não acreditamos na hipótese Sebastian Vettel para a Renault, mas a confirmar-se o regresso de Alonso à F1, seria uma enorme surpresa, pelo timing e pela equipa escolhida. O espanhol está fora da F1 desde o final de 2018, ano em que se fartou de andar no meio da tabela com uma McLaren pouco competitiva. Alonso sonha com o tri-campeonato e o seu talento merece-o, no entanto as suas escolhas têm impedido que tal aconteça. Alonso tem 38 anos e agora é o tudo ou nada para tentar o tri. Mas dificilmente o faria na Renault. Convencer Alonso a arriscar um regresso, depois de uma época 2019 abaixo do desejado, seria uma jogada de mestre por parte de Cyril Abiteboul e Alain Prost.

Os próximos dias darão certamente mais novidades e não há fumo sem fogo, sendo que as fontes que avançaram com esta notícia costumam ser credíveis. Mas os problemas que a Renault agora atravessa, poderão ser inultrapassáveis.

A possível saída de Sebastian Vettel da Fórmula 1 após o ano de 2020 pode deixar o desporto ‘orfão’ de pilotos alemães, algo que não acontece desde 1981.

Avanços e recuos no calendário

Quanto ao calendário da F1, a recente medida de Boris Johnson, estragou os planos à Liberty e à FIA. A F1 e o Red Bull Ring já apresentaram o plano para o GP da Áustria, que pretende ser a primeira prova desta temporada. Assim, falta apenas a aprovação governamental, que segundo Helmut Marko, deve vir no final de maio, mas da Grã-Bretanha chegaram nuvens negras e agora está tudo nas mãos do governo britânico, em forma de uma exceção. O acordo entre a F1 e Silverstone foi alcançado, mas o governo britânico está relutante em excluir da regra dos 14 dias de quarentena a pessoas que venham de fora do país. Se essa quarentena for imposta, não há GP da Grã-Bretanha de F1.

Há membros do Governo sensíveis à questão, mas “uma decisão final não foi tomada, mas queremos que o regime seja robusto”. A decisão final, vai determinar o calendário.

Hockenheim tem sido dada como pista ‘suplente’ caso Silverstone não possa receber a F1, a Hungria pode antecipar a sua corrida, passando a ter… duas e o Autódromo Internacional do Algarve é também possibilidade, para este, e outros problemas que surjam durante o ano, ainda que a primazia seja dada a quem tem habitualmente contratos com a Formula One Management.

Por outro lado, um porta voz do promotor do GP de Singapura de F1 revelou que: “Não é viável realizar uma corrida ‘à porta fechada’.

Também Austin se tornou numa incerteza e a ida aos EUA depende de vários fatores, como dependem todos os outros circuitos.

A situação continua a evoluir a cada dia e as regras impostas hoje podem não ser as mesmas que serão usadas nos próximos tempos.

As autoridades sanitárias de Austin já avisaram que os grandes eventos serão os últimos a receber luz verde e não é certo até quando essa situação poderá perdurar.

Como se percebe, a F1 continua a trabalhar no novo calendário para 2020 e também nas medidas de segurança para as provas. Neste âmbito, o Presidente do Instituto da FIA, Gerard Saillant acredita que os eventos podem suportar até dez casos positivos de Covid-19. A F1 está a preparar-se para evitar uma propagação do vírus no paddock, criando uma espécie de bolha para todas as pessoas que estarão nas pistas com testes e medidas de distanciamento social. Saillant acredita que a F1 está preparada: “A situação é bem diferente agora do que era em Melbourne. O conhecimento do vírus é bem diferente. É possível prevenir e antecipar muitas coisas. Se tivermos um caso positivo, ou talvez até 10, é possível gerir essa situação com um caminho especial para o caso positivo. Falando em termos médicos, não é um problema e, seja um comissário ou Hamilton, é o mesmo, falando em termos médicos. Mas em termos de consequências desportivas ou dos media, é diferente”, admite. “Temos que tentar antecipar isso, saber onde está a linha vermelha, além da qual é impossível continuar. Mas acho que não é um problema para nós agora”.

Liberty admite menos lucro

É quase uma verdade de La Palisse, mas a Liberty Media admite que as corridas de F1 podem ser menos lucrativas devido à pandemia coronavírus.

As taxas pagas pelos circuitos são uma parte importante das receitas da F1, mas, com a pandemia, e com as bancadas sem adeptos, a Liberty Media viu-se obrigada a renegociar com os promotores e o CEO da Liberty Media, Greg Maffei, revelou que o impacto ainda é desconhecido: “Estamos a ter uma abordagem cuidadosa e acreditamos que as coisas vão mudar e ajustar-se. Esperamos poder continuar a construir este negócio num mundo pós-Covid-19”, disse Maffei.

Pirelli não quer escolhas de pneus

A crise da Covid-19 mudará muito o paradigma da competição e a Pirelli acrescenta mais um dado, pois pretende acabar com a escolha de pneus.

As equipas escolhem 13 conjuntos de pneus do fornecedor italiano, tendo de optar por borrachas macias, médias e duras. Cada equipa escolhe a combinação que mais lhe agrada, com uma antecedência de oito semanas para provas europeias e 14 semanas para as provas “fora de portas” para permitir a fabricação dos mesmos. Mas com a crise e o calendário apertado, tal pode ser impossível de fazer para a Pirelli:

“Se tivermos a primeira parte da temporada na Europa e depois nos mudarmos para a Ásia e a América, num período muito curto, isso significa que, para a produção, será um período bastante movimentado. Provavelmente temos que produzir algo na região de 35.000 pneus em alguns meses, e não num ano. Podem imaginar o impacto na produção, que é bastante grande. Estamos a discutir com as equipas. E devo dizer que elas estão bastante flexíveis para encontrar soluções sensatas, como, por exemplo, uma alocação padrão ou alguma flexibilidade a esse respeito, para estarmos prontos para fornecer num período muito curto de tempo.“ Ao limitar as escolhas, Isola está convencido de que tal não afetará as equipas, pois geralmente adotam estratégias semelhantes.

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