Rombo na Fórmula 1: Mais de 600 milhões
A pandemia da COVID-19 colocou o mundo de joelhos e a Fórmula 1 não é exceção… A FOM pretende realizar este ano, no mínimo, quinze Grandes Prémios, mas isso terá um custo financeiro assinalável. O AutoSport fez as contas e comprovou que o rombo será grande.
A categoria máxima do desporto automóvel foi apanhada num furacão quando se aprestava para realizar a sua primeira prova da temporada, tendo o Grande Prémio da Austrália sido cancelado, enquanto os fãs formavam fila às portas do circuito de Albert Park para assistir à primeira sessão de treinos-livres da época.
A partir de então, e com a incerteza a reinar nos cinco continentes, mais duas provas foram canceladas – os Grandes Prémio do Mónaco e de França – e sete foram adiados – Bahrein, Vietname, China, Holanda, Espanha, Azerbaijão e Canadá – deixando virado do avesso o calendário gizado para 2020.
Contudo, a FOM rapidamente começou a trabalhar num novo escalonamento de provas, apontando como número mínimo quinze Grandes Prémios e um máximo de dezoito.
Este balizamento não é fruto do acaso, sendo de um lado, o superior, o reflexo dos cancelamentos mais ou menos previstos, do outro são os imperativos contratuais a ditar leis.
Em 2019 a maior fonte de receitas foram os pagamentos das televisões para terem o direito de transmitirem os Grandes Prémios, quase 763 milhões de dólares, o que representa 38,1% de todo o bolo.
Os contratos assinados entre a FOM e as cadeias televisivas preveem um mínimo de quinze corridas, descendo deste número, as últimas têm de ser ressarcidas pelo grupo que gere os aspectos comerciais da Fórmula 1, sendo compreensível o desejo de Chase Carey em ter, pelo menos, quinze provas.
Para isso, a FOM está determinada em realizar corridas à porta fechada, o que terá um custo oneroso para o grupo.
Em 2019 a organização detida pela Liberty Media recebeu 602 milhões de dólares, 30,1% das receitas, da parte dos organizadores de Grandes Prémios pelo direito de poderem levar a cabo uma corrida de Fórmula 1, acrescendo ainda receitas do Paddock Club, 107 milhões de dólares, valores que descerão substancialmente sem adeptos nas bancadas.
O modelo de negócio dos organizadores de Grande Prémio assenta nas receitas de bilheteiras, a única fonte de rendimento que possuem, ficando a FOM com todo o resto – patrocinadores, publicidade estática, Paddock Club, etc.
Ora se, pelo menos, algumas corridas serão disputadas à porta fechada, os organizadores não têm fonte de rendimentos, sendo-lhes impossível edificar uma prova sem perder dinheiro. É evidente que a FOM não lhes poderá cobrar o “fee”, como é previsto nos contratos, sob pena de não ter pistas onde realizar provas sem adeptos.
Para além disso, com portas fechadas, não há convidados, nem VIPs, nem Paddock Club, o que representa mais uma quebra de receitas para o grupo controlado pela Liberty Media.
Posto isto, quando custará à FOM uma temporada de quinze ou dezoitos Grandes Prémios?
Sabemos que, de acordo com os planos dos homens de Chase Carey, as provas europeias, no mínimo, serão disputadas à porta fechada, isto representa dez Grandes Prémios – seis no Red Bull Ring, Silverstone e Hungaroring (duas em cada pista), estando ainda perfilados Monza, Spa-Francorchamps, Circuit de Catalunya e um circuito que estava fora do calendário original de 2020.
Só em “race fees” que a FOM não poderá cobrar a estes traçados serão cerca de 338 milhões de dólares (em 2019, em média, cada organizador de Grande Prémio pagou 29 milhões de dólares), ao que se acresce 51 milhões que desaparecem pela ausência do Paddock Club.
Estes valores são fixos, sejam realizadas quinze ou dezoito corridas…
Depois da Europa, a Fórmula 1 espera poder continuar a sua temporada na Eurasia, Ásia, Américas e Médio Oriente entre meados de Setembro e meados de Dezembro, estando alinhadas, para já, doze provas – Azerbaijão, Rússia, Vietname, China, Singapura, Japão, Canadá, Estados Unidos da América, México, Brasil, Bahrain e Abu Dhabi – o que, juntamente, com as provas europeias totalizaria vinte e duas corridas, o que significa que destas, a FOM espera cancelar no mínimo quatro e no máximo sete.
Seguro parece ser o final da temporada com o evento de Yas Marina, que será antecedido pelo de Sakhir, ao passo que Xangai parece ter o seu garantido. As restantes estão ainda envoltas em grandes dúvidas.
Ora, o cancelamento de quatro Grandes Prémios representa menos 135,2 milhões de euros para os cofres da FOM (114,8 milhões em “race fees” e 20,4 milhões em receitas de hospitalidade), ao passo que se forem sete as corridas perdidos o buraco será de 236,6 milhões (200,9 milhões em “race fees” e 35,7 milhões em receitas de hospitalidade).
Juntando estes números às perdas geradas pelas provas europeias à porta fechada, a FOM tem perdas potenciais entre 524,2 milhões de dólares, para dezoito Grandes Prémios, e 625,6 milhões, para quinze, isto, se todas as corridas realizadas fora da Europa tiverem público, caso contrário, os números da derrocada poderão subir…
Os homens de Chase Carey terão ainda de contabilizar o aumento de custos operacionais, uma vez que nos eventos europeus as equipas serão deslocadas para cada um dos circuitos através de charters disponibilizados pela FOM, o que acrescerá substancialmente às despesas do grupo.
Para além disso, os contratos de patrocínio e publicidade estática foram assinados tem em conta o público presente nos circuitos, podendo os valores serem reduzidos, o que ajudará à perda de receitas do grupo da Fórmula 1.
Ainda assim, se compararmos com as receitas do ano passado, dois mil milhões de dólares, a FOM poderá fechar o ano no verde, mas a quebra de, pelo menos, cerca de 25% do dinheiro disponível poderá ter um impacto nos orçamentos de 2021 das equipas, que recebem em prémios cerca de 50% do valor gerado pela organização que administra os aspectos comerciais da categoria máxima… Se isto terá um impacto na sobrevivência de algumas estruturas só o futuro o dirá…