O meu primeiro TAP, e único, porque logo no ano seguinte a prova mudou de nome, foi em 1974, com um Mazda 818. Nunca, até essa altura, havia participado numa prova de tão grande envergadura, embora já tivesse uma experiência mais ou menos sólida nos ralis, do Campeonato Nacional e duas épocas consecutivas na Promoção.
Optara por esta última fórmula por questões de ordem económica, já que os ralis eram mais pequenos e depois, esse troféu de promoção englobava, igualmente, provas de velocidade e de rampas. De uma forma que eu apelidarei de simpática, poderia “tocar os instrumentos” todos e adquirir uma maior rodagem.
Na Promoção guiei um NSU TT, e só depois me decidi pela aquisição de uma máquina’, mais potente. Curiosamente, esse Mazda 818 – adquirido ao agente da marca em Braga, Santos da Cunha – foi estreado no TAP, onde ainda consegui dar nas vistas até ao momento da minha desistência, com problemas no semi-eixo traseiro. E no fim do rali decidi vendê-lo, para comprar um novo Mazda, agora o RX2.
Recordo que nesse rali, e antes de falar nos pormenores que levaram ao meu abandono, travei amizade com Carlos Torres, que se estreava ao volante de um Fiat 124 Spyder, dando os primeiros passos numa modalidade onde, uns anos depois, se destacou ao mais alto nível.
Aliás, dessa amizade nasceria, uns anos mais tarde, o Team Torrauto, que além de nós os dois incluía o Jorge Ortigão.
O rali principiou cerca das 21 horas, nas traseiras do Casino Estoril e eu estava, nessa altura, longe de imaginar que iria dormir na estrada, entre as 5 e as 9 horas da manhã, na sequência do meu abandono, até a assistência ir-me buscar.
Eu e o meu navegador, Abel Santos Fizemos os troços da zona de Sintra, os clássicos Lagoa Azul, Peninha e Sintra, que na altura tinham um piso misto com terra mas, após a passagem dos primeiros, aquilo ficava intragável, porque o carro ia a bater por tudo quanto era sítio.
Talvez devido a uma pancada mais forte nessa zona, a transmissão do Mazda deve ter ficado com uma fuga de óleo e acabou por se degradar. indiferente a isso, continuei a andar o melhor que podia e sabia, até desistir por volta das 3 horas da madrugada, ficando ali no troço de Talhadas, à espera que ficasse dia. Naquela altura, não havia muito material a nível da preparação do carro e faltavam diversas proteções que já existem nos dias de hoje em quase todos os carros de ralis. A prova foi dominada pela equipa da Fiat, com os 124 Spyder e entre os portugueses, mais uma vez, Francisco Romãozinho sagrou-se vencedor, depois de uma iuta interessante de que foram protagonistas Mário Figueiredo (Datsun 260 Z) e ainda os dois pilotos da Opel, Gomes Pereira e António Martorell.
Eu tinha 24 anos e estava no início da minha carreira, mas na época havia um lote alargado de pilotos a discutir a vitória em qualquer rali.
À minha frente havia um grupo de 10/15 pilotos a andar muitíssimo bem e a rivalidade era saudável, note-se, entre as marcas envolvidas no campeonato. Aliás, as equipas eram muito fortes e o público acorria em grande número às classificativas, embora não se colocassem os atuais problemas ao nível da segurança, motivados, algumas vezes, pela indisciplina dos espectadores.
De noite, as médias a cumprir eram elevadas e o tempo para assistência escasso, ao contrário do que hoje acontece. Eu diria mesmo que agora haverá tempo a mais e, na generalidade, eleva-se ao máximo a pilotagem, não sendo necessário ter a noção do ‘sofrimento’ do carro que se guia. Nesse TAP de 1974, havia muito menos descanso para os pilotos do que agora se verifica, pois tínhamos que guiar durante uma série de horas consecutivas, sendo exigida uma maior capacidade física.