Recordar o Rali de Portugal
Arranca hoje aquela que seria a semana do Rali de Portugal de 2020, prova que, como se sabe foi cancelada. Mas o AutoSport não vai deixar cair no esquecimento a prova mais importante do ‘mundo motorizado’ luso, que pela primeira vez em 53 anos não se realizará.
Durante esta semana, recorde a riqueza da prova portuguesa do Mundial de Ralis, através de um conjunto de artigos que retratam pedaços de história do Rali de Portugal. Para já, o… Prefácio.
O Rali de Portugal cumpriu em 2019 a sua 53ª Edição, um fantástico número, duma prova fortemente marcante entre os portugueses e que há muito ganhou reconhecimento internacional.
Foi pela mão de César Torres que nasceu o Rali de Portugal, um evento que depressa se tornou numa das provas mais importantes do Mundial de Ralis.
A sua história está cheia de momentos perfeitamente inesquecíveis, e também fases menos boas, fruto de acontecimentos marcantes, não só para a história do Rali de Portugal, mas também para a do Campeonato. Há no entanto, algo que nunca mudou, a paixão que os adeptos portugueses de ralis sentem pela modalidade em geral e em particular pelo Rali de Portugal, e para o provar basta ver as verdadeiras moles humanas que sempre coloriram as serras de Portugal ao longo da rica história da prova.
Recuando até ao início dos anos sessenta, nos seus primórdios, o Rallye TAP começou por ser uma prova destinada apenas aos colaboradores da empresa lusa, sendo posteriormente aberta a outros concorrentes pela fama que foi granjeando.
Não demorou muito até que os responsáveis da TAP se apercebessem da aceitação que a prova tinha e por isso não demorou muito que a administração da transportadora, com o Engº Vaz Pinto à cabeça, tenha anunciado durante a entrega de prémios da edição de 1966 o que era a sua ambição logo para o ano seguinte, 1967. Evoluir e converter o que era apenas uma manifestação sócio-cultural num grande evento internacional, que pudesse atrair os melhores pilotos da Europa, numa competição desportiva que deveria não só promover o país, mas que também pudesse redundar em retorno para o negócio da Transportadora Aérea Portuguesa. Foi esse o tiro de partida para a primeira edição internacional do Rallye TAP. E desde o seu primeiro dia, foi Alfredo César Torres o escolhido para ficar à frente do evento, ele que já tinha colaborado anteriormente na organização do evento.
Foi desta forma que, em outubro de 1967, nasceu o Rallye Internacional TAP, prova que depressa ganhou grande destaque no panorama automobilístico do nosso país, tornando-se num acontecimento nacional com um verdadeiro impacto na sociedade portuguesa.
Não demorou muito até que a prova passasse a contar com a presença dos melhores pilotos nacionais e desde muito cedo a característica de ser uma prova muito dura e difícil esteve presente. Mas a juntar a isso, o evento sempre foi exemplarmente bem organizado, numa estrutura que compreendia provas especiais em piso de asfalto e terra, numa componente mista que era muito do agrado dos concorrentes.
Também por isso, a participação das equipas de fábrica passou de esporádica a permanente, e ainda mais quando a prova passou a integrar o Europeu de Ralis, em 1970. Nesta altura, as provas de estrada a nível internacional sofriam um momento de viragem, com a introdução cada vez maior número de troços cronometrados. Por exemplo, em 1972, um ano antes do arranque do Mundial de Ralis, o Rally Internacional TAP sofreu alterações profundas com a introdução de 31 especiais cronometradas, num aumento superior a 50 por cento. O Autódromo do Estoril, recém construído, foi pela primeira vez utilizado nesta edição em duas provas especiais, sendo a última delas o mítico ‘slalom’ que durante muitos anos encerrou a prova, tal o sucesso que granjeou.
O ESPLENDOR DO MUNDIAL
Em 1973, o Rali de Portugal integrou pela primeira vez o Mundial da especialidade, competição que nasceu no mesmo ano, sendo a prova portuguesa uma das treze que compuseram o primeiro calendário. Em apenas seis meses, Alfredo César Torres colocou de pé a prova, que um ano depois, 1974, esteve muito perto de não se realizar devido à célebre crise do petróleo. Valeu então a providencial ajuda da Venezuela que se disponibilizou para oferecer gasolina à FIA, salvando dessa forma a prova portuguesa.
Em 1975, o rali viu a sua nomenclatura alterada com a entrada do Instituto do Vinho do Porto como principal patrocinador, apenas retomando a sua designação inicial em 1994, com o regresso da transportadora aérea nacional. Pelo meio, a mais triste edição de todas, em 1986, com o trágico acidente de Joaquim Santos no troço da Lagoa Azul e que viria a resultar na morte de três espectadores. Este acidente levaria à anulação da ronda de Sintra e ao abandono em bloco das equipas de fábrica, marcando também o primeiro de uma série negra de acontecimentos nesse ano, que culminaria com o fim dos Grupo B.
ADEUS A CÉSAR TORRES
Devido à rotatividade das provas, a edição de 1996 não contou para o Mundial (o mesmo sucedeu com o mítico Rali de Monte Carlo), nem com nenhuma equipa de fábrica à partida, pelo que Rui Madeira se tornou no quarto português a vencer à geral, depois de José Carpinteiro Albino (1967), Francisco Romãozinho (1969) e Joaquim Moutinho (1986). Em 1997, regressou novamente ao Mundial, e teve pela última vez César Torres nas rédeas da prova. O ‘pai’ do Rali de Portugal sucumbiu à doença que o afligia há algum tempo, mas foi igual a ele próprio, deixando pensada e definida a edição do ano seguinte, 1998. Durante 18 anos, o Rali de Portugal marcou um novo estilo, colocando-se entre as mais prestigiadas provas de todo o calendário, por seis vezes conquistando o título de “Melhor Rali do Mundo” e, em 2000, voltou a receber um prémio, do “Rali que mais evoluiu do Ano”, quando tudo fazia ainda prever uma nova e próspera vida para a nossa maior prova de estrada. Contudo, o verdadeiro dilúvio que se abateu sobre o país na edição de 2001 precipitou o fim do sonho, depois da FIA decidir, no final desse ano, pela sua exclusão do Mundial. A federação há muito que precisava de um qualquer argumento para colocar o Rali da Alemanha no calendário, e a ‘fava’ saiu à organização portuguesa, que claramente não estava preparada para a tempestade que assolou Portugal em
março desse ano.
A TERCEIRA ERA
Apenas com estatuto nacional, o Rali de Portugal não podia ser o mesmo e, entrando inevitavelmente numa curva descendente a partir de 2002, ao mesmo tempo que se mudou de ‘armas e bagagens’ para a zona de Macedo de Cavaleiros, que serviu de refúgio para a prova. O ACP aproveitou uma efeméride do clube para organizar um Rali Centenário, conseguindo dessa forma trazer alguns WRC a Portugal, mas nada mais seria como dantes. Na edição de 2001, apesar dos problemas, assistiu-se a uma fabulosa luta pelo triunfo entre Tommi Makinen, que venceu e Carlos Sainz, mas esses duelos teriam que ficar em banho-maria alguns anos. Nesse anos de 2002, Didier Auriol teve uma das suas raras conquistas em solo nacional. Em 2003 e 2004 a prova mantém-se por Trás-os-Montes, e pouco depois dá-se uma mudança de liderança no ACP, com Carlos Barbosa a fazer com que uma das suas bandeiras fosse o regresso do Rali de Portugal ao convívio dos grandes, leia-se, o WRC. O Rali de Portugal muda-se para a zona de Tavira e Loulé, no Algarve, e após dois anos como candidato, o esforço de toda a equipa organizativa foi recompensado, com o regresso ao Mundial em 2007. Tudo o que se viu no Algarve nesse ano foi do agrado da FIA, mas depois de vários anos de fora e com tantas provas querendo entrar, em 2008 a prova contaria apenas para o IRC, ou Intercontinental Rally Challenge, que é hoje em dia o Europeu de Ralis, mas essa edição serviu para o ACP afinar a sua prova algarvia, e daí para a frente, e até 2014, o evento voltou a afirmar-se categoricamente no seio do WRC, fruto duma organização que nunca se poupou a esforços para recordar ao mundo o porquê do Rali de Portugal ter sido considerado seis vezes o ‘Melhor rali do Mundo’. Tudo na prova algarvia cumpria os requisitos da FIA, os pilotos adoravam os desafios que as estradas da Serra do Caldeirão lhes colocava, em termos organizativos o Rali de Portugal nunca ficou a dever aos países que connosco batalhavam pela manutenção entre a fina flor dos ralis mundiais. Mas faltava ainda algo à prova portuguesa do Mundial de Ralis que se realizava a Sul. Público! Não é que fosse pouco, longe disso, mas desde que o ACP e a Câmara Municipal de Fafe se lembraram de colocar de pé o Fafe Rali Sprint que o mundo dos ralis ficou a perceber que o Rali de Portugal tinha que regressar ao Norte. Não que estivesse mal no Sul, mas não era a mesma coisa.
Apesar de ter uma prova totalmente consolidada no Algarve, o ACP, ciente que a concorrência é forte, não podia facilitar, e em 2015 levou o Rali de Portugal novamente para o Norte, recuperando troços e locais que muitas vezes fizeram parte da rica história do Rali de Portugal no passado, e esse foi meio caminho para o sucesso. A outra metade, a excelência da organização do ACP, que mesmo mudando-se de armas e bagagens para o Norte, tendo a FIA em Portugal em peso para confirmar que a segurança dos pilotos e público era perfeitamente acautelada, colocou uma prova irrepreensível, repetindo o feito nestes últimos anos. Apesar deste interregno de um ano, o futuro continua a ser risonho.
50 Anos de Rali de Portugal – As placas da prova
Os primeiros anos do Rali de Portugal
História do Rali de Portugal – RTP
Rali de Portugal – O melhor Rali do Mundo Parte II
Rali de Portugal 1967
Rali de Portugal 1968
Rali de Portugal 1969
Rali de Portugal 1970
Rali de Portugal 1971
Rali de Portugal 1972
Rali de Portugal 1973
Rali de Portugal 1974
Rali de Portugal 1975
Rali de Portugal 1976
Rali de Portugal 1977
Rali de Portugal 1978
Rali de Portugal 1979
Rali de Portugal – Década de 80
Rali de Portugal 1980
Rali de Portugal 1981
Rali de Portugal 1982
Rali de Portugal 1983/1984
Rali de Portugal 1985
Rali de Portugal 1986
Rali de Portugal 1987
Rali de Portugal 1988
Rali de Portugal 1989
Rali de Portugal – Década de 90
Rali de Portugal 1990
Rali de Portugal 1991
Rali de Portugal 1992
Rali de Portugal 1993
Rali de Portugal 1994
Rali de Portugal 1995
Rali de Portugal 1996
Rali de Portugal 1997
Rali de Portugal 1998
Rali de Portugal 1999
Rali de Portugal 2000
Rali de Portugal 2001
Rali de Portugal 2002
Rali de Portugal 2003
Rali de Portugal 2004
Rali de Portugal 2005
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