Sebastian Vettel: Ficar ou sair?
Irá escrever-se o último capítulo da história de Sebastian Vettel na Ferrari. Será o ponto final de uma aventura que teve tudo para correr bem mas que (ainda) não deu os frutos desejados.
O título era o grande objetivo de Vettel na Ferrari. Seguir os passos do seu ídolo Michael Schumacher e ficar ligado à história da mítica Ferrari, a equipa que está presente desde o início da F1. Mas a tarefa não era fácil.
A Ferrari vinha de um 2014 muito mau, com um carro feio e fraco, que levou Fernando Alonso a procurar outras paragens. O F14T estava longe de ser um candidato a pódios, quanto mais candidato ao título. Mas Vettel, sentindo que o seu caminho na Red Bull tinha chegado ao fim, assumiu o desafio. Encontrou uma Ferrari algo desorientada, a meio de uma mudança profunda na liderança da equipa, com a saída de Stefano Domenicali que deu o lugar a Marco Mattiacci, que poucos meses depois cedeu o cargo de líder a Maurizio Arrivabene. O cenário não era particularmente animador, mas a chegada do tetra campeão animou a equipa, que em 2015 produziu um carro muito melhor, capaz de vencer (o SF15-T), que permitiu ao alemão conquistar três vitórias e 10 pódios, logo na sua primeira época na Scuderia. Um começo prometedor.
2016 não trouxe evolução e a Ferrari apresentou-se abaixo do que tinha mostrado em 2015. O carro menos performante afastou a Ferrari do top3 e Vettel não conseguiu vencer qualquer corrida. Mas o ânimo do piloto não esmoreceu, afirmando que o passo atrás era necessário para o desenvolvimento da equipa.
A promessa foi cumprida e em 2017 o SF70H relançou a equipa na luta pelo título. Vettel foi vice-campeão, com cinco vitórias e oito pódios. Alguns erros e limitações impediram uma candidatura mais forte, mas o primeiro aviso estava lançado. 2018 foi um ano semelhante a 2017, com um carro capaz de assustar a Mercedes e uma candidatura ao título que foi por água abaixo na segunda metade da época. Foi a partir desta altura que Vettel começou a ser contestado de forma mais séria.
Uma sucessão de erros que culminaram com o abandono em Hockenheim, que significou a perda da liderança do campeonato naquela altura, trouxeram desconfiança e o alemão sentiu o golpe. O SF71H era uma máquina capaz e o título pareceu tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Em 2019 o SF90 trouxe uma mudança na filosofia da equipa, que apostou numa configuração de menor arrasto, cujos resultados não foram os pretendidos, com a Ferrari a ficar mais longe da Mercedes.
O carro deste ano, o SF1000, não parece, à primeira vista, reunir as condições para ser um forte candidato ao título, analisando o desempenho nos testes. Assim, em cinco épocas (cinco carros) Vettel teve apenas dois que lhe deram alguma hipótese de lutar pelo título, número que pelas aparências se deverá manter em 2020. Não se pode dizer que a Ferrari tenha facilitado a tarefa ao alemão.
Além da Ferrari não ter ajudado com os carros, também não ajudou na parte desportiva. As constantes mudanças de liderança não beneficiaram a estabilidade da equipa. Mesmo a forma como a liderança era imposta não era a melhor. Se comparáramos a Ferrari à Mercedes, estruturas de dimensões e orçamentos semelhantes a Mercedes sempre mostrou uma flexibilidade muito maior, uma criatividade superior e uma capacidade de superar desafios a toda a prova. A Ferrari nos primeiros anos de Vettel pareceu presa de movimentos, sem capacidade para encontrar soluções eficazes. Em 2017 e 2018 (graças a Mattia Binotto que se tornou responsável técnico da equipa) o cenário mudou. A Ferrari cresceu a nível técnico.
Mas faltou a parte desportiva e foram cometidos erros. A gestão desportiva deixou a desejar com erros estratégicos que comprometeram a possibilidade de obtenção de bons resultados. E em 2019 essa gestão mostrou outra fragilidade… a gestão de pilotos. A entrada de Charles Leclerc trouxe um desafio completamente novo. Pela primeira vez desde que entrou na Ferrari, Vettel tinha alguém capaz de questionar o Status Quo e a posição do alemão. De tal forma que o jovem obrigou a equipa a repensar o futuro. Se no início do ano Vettel era o nº1, a meio da época tal não era claro. Algumas decisões em pista pioraram a situação, decisões que podiam ter sido evitadas a bem da harmonia da equipa. Foi a primeira vez que Vettel sentiu que a sua posição estava fragilizada, tendo com Kimi Raikkonen uma convivência pacifica dentro e fora de pista.
Tudo isto serve para mostrar que quem quiser apontar o dedo a Vettel nesta sua estadia na Ferrari terá de pesar de forma cuidada os prós e os contras. É verdade que Vettel errou muitas vezes nos últimos anos e que se colocou numa posição fragilizada. Mas também é verdade que a Ferrari demorou a dar-lhe as ferramentas e o ambiente certo para ter sucesso. Vettel teve sorte (e mérito) de poder representar a Ferrari e a Scuderia teve sorte de poder ter um piloto deste calibre, que navegou os altos e baixos da equipa, sempre colocando os interesses coletivos em primeiro lugar. Foi graças ao seu trabalho, profissionalismo e paciência que a Ferrari se reergueu depois do desastre de 2014.
Por tudo isto, Vettel está longe de ser um piloto acabado. Tem ainda muito para dar à F1 e em especial a uma equipa que queira crescer e evoluir. Vettel sabe bem como fazer esse trabalho, pois fê-lo durante estes anos todos na Ferrari. Só precisa de um ambiente onde se sinta acarinhado e onde saiba que será o foco da equipa. Por tudo isto, se Vettel decidir sair já da F1 será uma perda tremenda. Por tudo isto Vettel deve ficar.
A escolha de projeto dependerá sempre dos argumentos apresentados pelos interessados, mas ficar é a melhor opção para um piloto que há pouco admitiu que continua a ter paixão pelas corridas. Sim, a crise da Covid-19 fará pensar muito um pai de família tão ligado aos seus como Vettel é, mas não se deixa uma carreira como esta assim. Ainda há pelo menos outro capítulo a ser escrito. Por isso Vettel deve ficar e provar uma última vez a sua qualidade.
Vá lá um rasgo á Alonso: vou conquistar a Triple Crown, ganhar o Dakar, o Rally de Monte Carlo, bater o Autobahn Speed Record e para matar saudades de tutti tiffosi participar no Giro d’Italia (em bici). Depois volto á F1 em resposta aos telefonemas da Ferrari (estás perdoado), da Red Bull (és o nosso heroi), e da Mercedes (és um dos nossos). Como complicam muito com os contratos e americanices não aceito nenhuma das propostas. Entretanto, nos tempos livres vou fazer um trainning em Team Bulding, Relacionamento Inter-Pessoal e Técnicas de Resolução de Conflitos . O assunto do psicólogo… Ler mais »