Fórmula 1 sem Spa-Francorchamps e Monza?
A Fórmula 1 planeia arrancar no início de julho, na Áustria, sem público, e também sem certezas. Só a evolução da Covid-19 permitirá tomar decisões, e para já é demasiado cedo. O plano está traçado, vamos ver se é cumprido.
Circula um esboço do que pode ser o calendário para a temporada de 2020, com corridas como Monza e Spa-Francorchamps de fora.
Apesar do Grande Prémio da Bélgica não estar incluído neste esboço, o presidente do GP, Melchior Wathelet, confirmou à RTBF que: “Ainda é possível a realização do Grande Prémio da Bélgica, apesar da data ainda não estar marcada”.
Também Monza não está incluída neste esboço, mas o Presidente do Clube Automóvel italiano, Angelo Sticchi Damiani, disse à formulapassion.it que: “Pessoalmente, ficaria satisfeito se pudéssemos considerar os circuitos de Imola e Mugello, para uma possível corrida de Fórmula 1”.
Primeiro esboço
A Fórmula 1 confirmou na passada semana os primeiros pormenores do que poderá vir a ser o seu calendário para 2020. Pode vir a ser, porque neste momento é impossível ter certezas quando ao estado da pandemia daqui a pouco mais de dois meses e por isso qualquer decisão atual não é definitiva.
Tal como se esperava, a competição tem previsto arrancar com o Grande Prémio da Áustria, em julho e sem público.
De acordo com o comunicado lançado pela F1, assinado por Chase Carey, CEO da Fórmula 1: “estamos cada vez mais confiantes com os progressos dos nossos planos para iniciar a nossa época de F1 neste verão. Estamos a preparar um começo na Europa entre julho, Agosto e início de Setembro, com a primeira corrida a ter lugar na Áustria no fim-de-semana de 3 a 5 de julho.
Nos meses de setembro, outubro e novembro, contamos que nos vejam correr na Eurásia, Ásia e Américas, terminando depois a época no Golfo em dezembro com os Grandes Prémios do Bahrein antes da tradicional final em Abu Dhabi. Desta forma teremos completado entre 15 e 18 corridas. O nosso calendário será finalizado o mais rapidamente possível” lê-se no comunicado emanado pela F1, que confirma também a ausência de público nas primeiras corridas: “Esperamos que as primeiras corridas se realizem sem adeptos, mas contamos que os fãs possam fazer parte dos nossos eventos à medida que avançamos no calendário. Ainda temos de resolver muitas questões, tais como os procedimentos para as equipas e todos os nossos outros parceiros, no que entrar e operar em cada país diz respeito. A saúde e segurança de todos os envolvidos continuará a ser uma prioridade e só avançaremos se estivermos confiantes de que dispomos de procedimentos fiáveis para abordar tanto os riscos como as possíveis questões.
A FIA, as equipas, os promotores e outros parceiros-chave têm trabalhado connosco ao longo dos últimos tempos e queremos agradecer-lhes todo o seu apoio e esforços durante este tempo incrivelmente difícil. Queremos também reconhecer o facto de as equipas nos terem apoiado ao mesmo tempo que têm vindo a concentrar enormes e heróicos esforços na construção de ventiladores para ajudar os infetados pela COVID-19. Enquanto avançamos com os nossos planos para 2020, também temos trabalhado arduamente com a FIA e as equipas para reforçar o futuro a longo prazo da Fórmula 1 através de uma série de novos regulamentos técnicos, desportivos e financeiros que irão melhorar a competição e a ação na pista e torná-la mais saudável.
Para todos os envolvidos, em especial à medida que abordamos as questões criadas pela pandemia da COVID-19. Todos os nossos planos estão obviamente sujeitos a alterações, uma vez que ainda temos muitas questões a resolver e todos nós estamos sujeitos às incógnitas do vírus. Queremos que as coisas regressem tal como estavam, mas reconhecemos que isso deve ser feito da forma mais correta e segura.
Estamos ansiosos por fazer a nossa parte, permitindo que os nossos adeptos voltem a partilhar em segurança o entusiasmo da Fórmula 1 com a família, os amigos e a comunidade em geral”, lê-se no comunicado.
Há vida para lá da SARS-CoV-2: Só falta saber como
Com todas as movimentações que já se perceberam existir no seio do ‘motorsport’ europeu, a época motorizada deve recomeçar numa qualquer data já no verão, cada disciplina com as suas ‘nuances’.
Na F1, Ross Brawn não esconde que a disciplina quer arrancar o mais depressa possível, mas há aqui uma grande incógnita que não se reduz somente à Fórmula 1, porque o simples facto de viajar, para as equipas, e para todos os diretamente envolvidos neste grande fenómeno que são as corridas pode e é muito provável que vá ser um dos grandes problemas, podendo mesmo em última análise, impedir todo e qualquer desporto internacional na Europa.
Sendo verdade que a F1 ou uma outra qualquer competição se pode tornar muito autónoma sempre que chega a um local, um circuito, por exemplo, tudo o que fica para lá disso, pode ser problemático.
A Fórmula 1, arrancando na Europa pode realizar corridas, mas como? São fretados aviões para 2.000 pessoas, previamente testadas, são levadas do aeroporto, diretamente para os hotéis onde estão confinadas, daí para o circuito – hotel – circuito, durante quatro dias, fazem a corrida, ficam uma semana fechados nos hotéis, ou vão todos os dias para o circuito preparar a corrida da semana seguinte, onde repetem tudo e no fim, regressam a casa, nos mesmo aviões fretados. Em teoria, isto pode resultar. Mas e os ralis?
A caravana é menor, mas na melhor das hipóteses, têm que estar no local da prova na 3ª feira à noite, os reconhecimentos em estradas públicas são quarta e quinta feira, levam umas ‘sandochas’ ou um furgão de catering atrás para cada equipa? E durante o rali, o público vai para locais previamente escolhidos pela organização com distanciamento social ou liberta-se ao longo dos troços, confiando que vão seguir as regras de distanciamento social? Isto se estivermos a falar desde o início de agosto, onde se prevê que estado de coisas já melhorou muito.
Será assim? Por exemplo, a Finlândia decretou a proibição da concentrações de mais de 500 pessoas até ao final de julho. E se prolongar essa medida? Em teoria, será suficiente para que se realize a prova, que e disputa de 6 a 9 de agosto, mas isso só se saberá mais lá para a frente, até porque esta questão nunca terá somente a ver com o que acontecerá na Finlândia, mas em muitos outros países europeus, sendo que muitos deles estão ainda a ser muito afetados pela pandemia.
Tudo isto para dizer que está em cima da mesa pura e simplesmente anular o campeonato. Os responsáveis do WRC querem disputar o maior número de provas, parece ser perfeitamente possível que isso suceda, mas que não exista a mais pequena dúvida que está em cima da mesa a possibilidade de simplesmente não haver mais WRC este ano. Que fique também claro, que isto, só mesmo em último caso, aliás como em todas as outras competições ‘internacionais’, que requerem viagens extra-fronteiras. Se tivéssemos que apostar, vai haver algumas provas do WRC europeias, e logo se verá o que acontece às intercontinentais, neste caso por causa dos custos.
Competições nacionais mais fáceis
Se na questão das competições internacionais há para já um problema, que neste momento não se sabe como poderá ser resolvido sem que haja mais informação, já no caso do desporto nacional a questão e diferente. Para já, porque não há fronteiras. E por falar em fronteiras, das nossas três provas internacionais, o Rali de Portugal já foi cancelado, o Azores Rally foi adiado para setembro, mas também neste caso há que deixar passar tempo para perceber se o coronavírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19 vai ‘permitir’ que a ilha de São Miguel possa receber gente de vários países europeus. Neste caso, parece-nos que tudo o que é internacional e requeira transposição de fronteiras, pode ser complicado.
No caso do Rali da Madeira, como se sabe, na sequência de uma normativa emanada pela IASaúde, que determina que grandes certames e consequentes aglomerados, na Madeira, são proibidos até ao fim do mês de agosto, dificilmente a prova se realizará em 2020. Para já viajar para a ilha significa ter que cumprir quarentena, e lá mais para a frente, é bem provável que muitas cautelas continuem a ser tomadas.
Quanto às restantes provas do Campeonato de Portugal de Ralis, não deverá haver grandes condicionantes para a realização das provas, sendo certo que vai haver estritas determinações das autoridades de saúde, específicas para cada caso, leia-se, desporto. No caso dos ralis, parques de assistência mais espaçados, eventualmente fechados aos espectadores e público espalhado o mais possível pelos troços.
Aqui convém fazer uma ressalva que está a confundir algumas pessoas, especialmente nas redes sociais, onde como é habitual, as opiniões são extremadas. Quando se fala em permitir que as pessoas, os espectadores se espalhem pelo troços, e se impeça aglomerados, logicamente que se vai ter que contar com o bom senso dessas mesmas pessoas. Não será preciso polícia a cada metro dos troços para verificar se há distanciamento social, mas vai ter que haver polícia, como já existiria de qualquer modo, nos locais onde seja previsível mais fácil acesso aos troços e aí sim, impedi-las de ficarem juntas.
Não se pode esperar que em zonas como o Confurco e o Salto de Fafe – que este ano logicamente já não serão problema porque o Rali Serras de Fafe e Felgueiras já foi e o Rali de Portugal não vai haver – seja permitido que as pessoas se juntem. Para haver ralis seguros terá que estar muito bem intrínseco nos adeptos que não vão poder juntar-se. Eu e qualquer outra pessoa podemos ir ver um rali e não ficar perto de ninguém (eventualmente só a família com quem estamos fechados em casa), ter exatamente os mesmos cuidados que se tem quando se vai a um supermercado, às compras, afastarmos-nos das pessoas.
Abrir a possibilidade de ir um ver um rali ao vivo não é um convite para apanhar o vírus, é tentar viver uma vida o mais normal possível, tendo sempre em mente os cuidados que vamos ter daqui para a frente. Que não haja a menor dúvida que nos próximos meses vamos ser bombardeados com estes cuidados que teremos de ter e por isso não vale a pena as pessoas preocuparem-se com o perigo de ir ver um rali, quando daqui a provavelmente uma ou duas semanas, a grande maioria tem que voltar aos exíguos transportes públicos para ir trabalhar, por exemplo.
Aí sim, será perigoso, se não tivermos os cuidados de nos protegermos o mais possível. Ir ver um rali para o Pinhal de Leiria, ou alto da Fóia? Qual é o problema? Ninguém é obrigado ir para o pé de ninguém, até porque todos podem conversar afastados. Portanto não tenha a mais pequena dúvida. Se há modalidades possíveis de se disputarem sem grande problemas, caso haja os competentes cuidados por parte de todos os intervenientes, são os ralis, o todo-o-terreno, e claro as corridas em pista.
Se calhar não vai haver super especiais citadinas, lógico que não. Não vai haver zonas espetáculo a convidar o público a juntar-se ali. Claro que não. Li em algum lado que “espalhar as pessoas nos troços é um convite à desgraça”. Errado. Se é importante as pessoas saberem-se defender do vírus, é ainda mais importante que as pessoas se saibam proteger e assistir ao rali ou ao TT em segurança, sendo que nunca podem deixar de ser alertadas para esse facto e esse cuidado que têm que ter…
Resta esperar mais algum tempo, pois é aí que está o segredo disto tudo. Quanto mais tempo passar, mais facilmente vamos saber com o que podemos contar. Ninguém tem certezas de nada este momento. Mas o cenário é bem melhor que há duas ou três semanas, ainda que não nos EUA, que está agora a passar pelo que a Europa já está a começar a deitar para trás das costas.