GT3 são um sucesso, mas o futuro é incerto
Por Sérgio Fonseca
Qual é a categoria de carros de GT com maior sucesso na actualidade? Hoje a resposta é simples, é a GT3. Contudo, a introdução de uma nova regulamentação técnica em 2022, que significa a chegada de novos carros, pode igualmente significar uma mudança radical de paradigma numa das categorias do automobilismo com maior sucesso a nível mundial.
Para que se perceba toda a história, é preciso ter em mente que, ao contrário da GT4 ou da nova GT2, a categoria GT3, que actualmente reúne treze construtores, não pertence ao espólio de Stéphane Ratel e do seu SRO Motorsports Group. Os direitos da classe pertencem à FIA e é Paris quem dita as regras, isto apesar de terem sido Ratel e seus pares que tornaram esta categoria no sucesso que é hoje.
Ratel sempre defendeu que “categoria que está bem, não deve mexer”, mas os construtores, cada um com a sua visão própria, acabaram por acatar algumas, não todas, sugestões da FIA.
Isto, após quase doze meses de negociações até todas as partes aceitarem os termos do acordo celebrado no Conselho Mundial do passado mês de Dezembro.
Os carros de GT3 são homologados segundo o mesmo conjunto de regulamentos, o que é um desafio constante para equilibrar as performances coupés desportivos de alta cilindrada, como o Bentley Continental GT3 ou o BMW M6 GT3, e superdesportivos de dois lugares, como o Ferrari 488 GT3 ou o McLaren 720S GT3. O órgão regulador pretendia inicialmente separar a classe GT3 em duas, consoante o volume do cockpit dos carros. O Bentley e o Ferrari não caberiam na mesma categoria e teriam que ser equilibrados de forma diferente, com os carros superdesportivos a caírem numa rígida regulamentação técnica muito próxima da actual GTE, o que foi rejeitado. Depois de meses de negociações, os construtores concordaram com a proposta da FIA, mas esta deixa espaço a que as marcas se esqueçam que esta é uma competição para clientes. Contudo, esta também permite carros que estão no extremo de serem classificados como um GT, como o novo BMW M4 a ser apresentado em 2022, possam ser aceites à partida, o que não aconteceria à luz dos regulamentos de hoje.
Há muito que o órgão máximo que regula o automobilismo queria tornar esta categoria mais consistente e fácil de gerir e esta foi a oportunidade. A partir de 2022, o objetivo da FIA é “congelar o desempenho dos carros ao nível atual e fornecer aos construtores um cronograma claro para o procedimento de homologação”. Com estas novas regras, a vida fica facilitada para as equipas de desenvolvimento das marcas que não terão de estar constantemente a questionar o delegado da FIA e a pedir “waivers”. Por outro lado, haverá áreas que ficarão “livres” à criatividade dos construtores, como a forma das portas e o tejadilho. O espírito é o mesmo, mas a burocracia foi simplificada e todo o processo foi elogiado pela transparência. O resultado final é uma incógnita. Apesar das restrições colocadas à aerodinâmica dos carros, a porta para excessos ficou entreaberta.
Por exemplo, os pistões poderão não ser iguais aqueles de série e poderão ser em liga. Se a Audi ou a Lamborghini não precisam de utilizar toda a potência dos seus motores de série, outras marcas podem agora desenvolver os seus motores para chegarem a esse patamar. Também segundo esta nova regulamentação, um “waiver” que foi dada à Aston Martin, também poderá ser aplicada à Porsche ou a qualquer outra marca. No final, será o Balanço de Performance (BoP) e o próprio mercado a limitarem as fronteiras, pois ninguém quererá investir mais que aquilo do que é necessário.
Ratel sempre foi contra a imposição de um valor limite ao vasto parque automóvel disponível, com o mercado a decidir se, por exemplo, o Mercedes-AMG GT3 vale os 399,000 euros que custa. Contudo, o verdadeiro perigo vem de uma enfraquecida classe GTE, com os construtores que lá estão, e outros que espreitam, a verem com bons olhos uma troca de protagonistas de quatro rodas. Ratel bloqueou as conversações para uma convergência entre as classes GTE e GT3, com medo de que estas resultassem num brutal aumento de custos que tornassem os seus campeonatos inatingíveis para os clientes privados.
Foi para precaver o futuro, aprendendo com as lições do passado, que Ratel lançou há dois anos a categoria GT2, com carros mais potentes, com menor aerodinâmica e tecnologicamente menos evoluídos. A Audi e a Porsche alinharam logo de início, construindo carros à medida, mas a McLaren falhou na promessa de apresentar o seu carro para a renovada categoria em Outubro. Contudo, a KTM já este ano respondeu positivamente ao desafio, o que dá força ao “plano B”, ou “plano de salvação”, da SRO.
Num actual clima de incerteza causado pela pandemia da COVID-19 é mal-avisado fazer qualquer tipo de futurologia. Ninguém precisa per se de construir carros novos para os novos regulamentos de 2022. Claro que as marcas garantem que vão manter as promessas de contenção e o contrário não seria de esperar. Todavia, quem viu nos últimos anos o desenvolvimento da aerodinâmica e o aumento das velocidades de