Nuno Loureiro: “No CAMI há vários profissionais de saúde em contacto permanente com esta pandemia…”

Por a 18 Abril 2020 12:10

O AutoSport tem vindo a conversar com os principais protagonistas do Campeonato de Portugal de Ralis, na tentativa de ficar a conhecer os seus receios e anseios, mas outro lado muito importante desta equação que são os clubes.

Nesse contexto, falámos com o presidente do CAMI, Clube Aventura Do Minho, Nuno Loureiro, agremiação que tem previsto fazer disputar pela primeira vez o Rali Alto Tâmega depois de muitos anos a prova ter esttado afastada da alta roda.

Nuno Loureiro falou-nos da forma como esta paragem tem alterado o quotidiano do clube, do impacto no desporto motorizado esta paragem das competições, das posições dos parceiros, do impacto financeiro que podem vir a ter com o cancelamento de algumas dessas provas e as medidas de apoio das entidades públicas ao vosso clube face a esta interrupção.

Como esta paragem tem alterado o quotidiano do vosso Clube?

Atravessamos tempos de incertezas e de uma adversidade que não há memória. Esta paragem forçada, mas essencial para combater a pandemia, alterou não só o quotidiano do CAMI mas também o de todo o planeta. O grupo do CAMI continua coeso, com uma enorme vontade de regressar ao ativo, mantendo-se em permanente contacto através de um grupo fechado nas redes sociais. Felizmente, até ao momento, ninguém foi vítima do Covid-19. Temos aproveitado este momento para reorganizar e planear uma série de assuntos. A inexistência de contacto humano altera completamente a nossa forma de estar, de agir e impossibilita qualquer atividade. No caso concreto do desporto motorizado, pela especificidade que lhe é característica, isso ainda é mais notório. O ser humano, por definição, é um ser social e quando não interage estagna!

Quais os maiores riscos que se correm?

Identifico três e caso não surjam solução para os mesmos, o automobilismo terá, a partir de agora, grandes dificuldades para manter o nível dos últimos anos: enquanto não existir uma vacina, a nossa forma de estar em sociedade e as intransigências que, provavelmente, serão impostas originarão uma negação a tudo o que envolva grandes aglomerados de pessoas, afetando o mundo do desporto e dos grandes eventos, seja de que natureza forem; a possibilidade de desintegração da União Europeia; e o impacto económico que ninguém consegue antever. No caso específico do automobilismo, corremos o sério risco de 2020 terminar antes de, praticamente, não começar… Repito a ideia inicial: não se trata de um problema do automobilismo ou do CAMI, mas sim das consequências de uma pandemia a nível mundial, a partir da qual, obviamente, as atividades consideradas não essenciais sofrerão um impacto muito maior.

No seu entender qual será o impacto no desporto motorizado com a paragem das competições?

O maior impacto é financeiro. Com a paragem das competições há toda uma cadeia económica que gira à volta do automobilismo que não obtém receita (FPAK, clubes, preparadores, comunicação social, fornecedores, Turismo, equipas, promotores, etc..). Estamos a falar de milhões de euros… As perdas a nível de promoção também não podem ser esquecidas, pois o automobilismo contribui, e muito, para a promoção turística de Portugal. É um grande promotor e dinamizador da economia local das regiões que apoiam este desporto. No entanto, não nos podemos esquecer que algumas modalidades automobilísticas têm características diferentes. Há competições em que se torna mais fácil contornar a situação que outras. As provas de velocidade em recintos fechados e com as devidas precauções (briefing por escrito, restrição à entrada de público, paddocks organizados, apenas 2 comissários por posto com a devida distância, etc.) parecem-me, neste momento, ter mais viabilidade que as provas em estrada, nas quais não se torna bastante complicado impedir a aglomeração de público. No entanto, repito, a situação de hoje pode mudar amanhã.

Estariam dispostos a colaborar numa reorganização do campeonato que obrigasse à alteração da data prevista para o vosso rali?

O CAMI sempre esteve e sempre estará disponível para colaborar para o bem do automobilismo.

Ponderam poder adiar a entrada no CPR por um ano?

Se houver essa necessidade e se for vantajoso, tanto para o CPR como para a Região do Alto Tâmega, claro que sim. Não nos podemos esquecer que neste momento estamos todos a “navegar à deriva”. Provavelmente, à data de publicação desta entrevista muita coisa mudou! Foi agora renovado o Estado de Emergência, fala-se na reabertura gradual de certas atividades em maio, dependendo da evolução da situação em Abril… Quem decide o levantamento das restrições é o Governo. Será que haverá condições para regressarmos à atividade desportiva em 2020? Uma coisa é certa, estou de acordo com uma frase que ouvi: “o importante é não condicionarmos 2021”. No CAMI há vários profissionais de saúde que estão em contacto permanente com esta pandemia, desde o nosso diretor de prova e vice-presidente, que é enfermeiro no Hospital de Santo António, até ao nosso médico-chefe, vice-presidente da Assembleia Geral do clube e membro da Comissão Médica da FPAK. A informação que ambos me transmitem é que a situação é grave e que suspeitam que com a abertura das restrições impostas poderemos ter uma segunda vaga do surto. Haja esperança…

Quais são de momento as posições dos vossos parceiros, na sua grande maioria Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, quanto à realização da prova ainda em 2020?

Não tivemos, até ao momento, qualquer negação por parte das autarquias, mas confesso que por motivos óbvios também nunca toquei nesse assunto específico, embora mantenha contacto com algumas. Neste momento, e julgo pelo menos enquanto se mantiver o Estado de Emergência, o foco das autarquias centra-se no apoio às populações e no combate ao Coronavírus.

Quais as medidas de apoio das entidades públicas ao vosso clube face a esta interrupção?

Zero! Não temos qualquer apoio de entidades públicas. Julgo que deveriam existir medidas de apoio do Estado. Caso venham a surgir, devem ser atribuídos à FPAK.

Qual o impacto financeiro que podem vir a ter com o cancelamento de algumas dessas provas?

As provas custam umas largas dezenas de milhares de euros a organizar. Logo, o impacto financeiro, caso se cancelem provas, é dessa ordem de grandeza!

Toda esta situação trará repercussões económicas para o vosso clube. Qual a dimensão e importância destas para o CAMI?

Nenhum órgão social do CAMI aufere qualquer remuneração, e isso neste momento é uma vantagem. No entanto, e atendendo à ordem de grandeza das provas e campeonatos onde estamos inseridos, tivemos de profissionalizar e assumir compromissos para responder com eficácia e estar à altura dos enormes desafios que temos pela frente. Muitos são financeiros e de médio prazo. Quando definimos internamente organizar o ‘Melhor Rali de Asfalto do CPR’, um objetivo destes não se alcança apenas com boas intenções e boa-vontade. É preciso profissionalismo, muito planeamento e muito trabalho. Logo, é preciso dinheiro…

Tendo em vista esse objetivo e cientes da responsabilidade, aumentámos os custos fixos do clube para cerca do triplo. As nossas fontes de receita são provenientes das provas que organizamos e sem provas não há receitas… Uma coisa é certa, prefiro um grande 2021 a um 2020 incompleto. Organizar provas com o risco de não terem o impacto desejado, única e exclusivamente para obter receita, não está no nosso ADN.

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