CPR une-se para pensar no futuro: Olhar em frente
José Luís Abreu
FOTOS ZOOM Motorsport/António Silva; AIFA/Jorge Cunha; Go Agency/Ricardo Oliveira
Numa altura em que o desporto motorizado nacional está completamente parado e à espera de decisões do Governo e das autoridades de Saúde, no CPR, os seus protagonistas sugerem o que fazer em 2020, mas também importante, olham para o futuro.
O ‘mundo motorizado’ global continua parado devido à pandemia de coronavírus, e Portugal não é exceção, embora, como já se percebeu, o confinamento está a dar resultados, e a pouco e pouco a ‘famosa’ linha parece dar sinais de não ‘querer’ tornar-se exponencial, como sucedeu, por exemplo, aqui ao lado na vizinha Espanha. Cientes que ainda é cedo para se poder pensar em datas, e sabendo que qualquer atividade desportiva só poderá dar-se quando for totalmente seguro – e o desporto não está, como se calcula, no topo das prioridades do país – resta projetar a médio e longo prazo e nesse contexto os principais ‘players’ do Campeonato de Portugal de Ralis deixam as suas sugestões, alertam para os perigos e, numa tónica muito forte, olham para o futuro.
Certo é que nos vamos todos deparar com uma nova realidade, e se há algo certo é que pouca coisa ficará igual.
Sabe-se que a FPAK não terá uma tarefa fácil pela frente, mas esse é o desafio por que passam todos os decisores em Portugal, a começar pelo Governo, as autoridades de saúde, que têm o desafio mais difícil: quando e como começar a ‘abrir’ de modo a que o País não pare de vez. Parece algo inimaginável, provavelmente só com paralelo nos anos 39-45 do Século passado, mas a verdade é que esta é uma guerra que tem um inimigo invisível.
Salvar 2020
Regra geral, há muitos pontos semelhantes entre as sugestões que foram avançadas por alguns pilotos e equipas, e a primeira situação que é comum e não deixa dúvidas a ninguém é que vão ser fortes as consequências económicas desta crise. Neste contexto, há que colocar em cima da mesa diversos cenários, uma espécie de Plano A, B, C ou D, e depois, dependendo das decisões governamentais e das autoridades de Saúde, avançar com uma solução o mais abrangente possível. Seja como for, algo comum é o facto de todos – ou quase – considerarem que dez provas é um exagero, e a maioria entende que o sistema de pontuações não colhe. Em segundo lugar, outro ponto importante, muito referido é a necessidade de não hipotecar a temporada de 2021. ou seja, CPR em janeiro de 2021, não. Já se sabe que as provas internacionais previstas para Portugal terão prioridade. Dependendo do momento do recomeço, há que equacionar reduzir o campeonato.
Pensar o futuro
Um dos aspetos que nos parece mais positivos que retiramos de toda esta questão é que os ‘players’ do CPR. Qualquer bom empreendedor sabe que as únicas constantes na vida são os problemas, mas também sabe que a história está cheia de exemplos de pessoas que na adversidade, viram oportunidade para mudar e crescer, e o CPR parece estar a aprender a aceitar os desafios.
Nesse contexto, surgiu uma corrente que entende que este é o momento perfeito para olhar o futuro, e já que o contexto obriga a mudar já, agora que tudo está parado, há formas de se parar para pensar e ponderar o que fazer no novo contexto que irá existir.
Neste âmbito, surgiram também muitas sugestões e a primeira delas é tornar o CPR um produto mais vendável, atuando em algumas áreas mais sensíveis, levando a cabo uma maior normalização das provas e algo importante, nivelar a competição por cima. Neste âmbito, sim, nivelar por cima, mas com uma grande atenção na relação custo/retorno. ‘Comprar’ só porque é barato, faz cada vez menos sentido, especialmente quando se tem um ‘produto’ com o potencial deste CPR.
O que dizem os protagonistas
Armindo Araújo é de opinião que “todos vamos ter de nos adaptar a uma nova realidade e todos teremos de fazer cedências, mas penso que o melhor será a FPAK reunir com os principais intervenientes do CPR para podermos ouvir as dificuldades de cada um. Só a partir desse ponto poderá ser possível encontrar uma solução que seja o mais equilibrada possível”.
Um bom princípio corroborado por Augusto Ramiro, líder da ARC Sport: “A FPAK não tem uma tarefa nada fácil para minimizar os efeitos desta pandemia, primeiro porque as coisas estão a mudar muito rápido e o que ao início parecia algo para resolver em um ou dois meses já se percebeu que não é bem assim, mas espero que para o segundo semestre esteja tudo controlado. Depois não podemos esquecer que temos muitas provas internacionais e isso nesta conjuntura também pode ser um problema, assim penso que as medidas tomadas devem ter sempre em consideração o CPR 2021 para que não seja de alguma forma hipotecado. Qualquer decisão vai sempre depender da DGS – que se tem demonstrado muito pouco assertiva e credível – mas a FPAK na minha opinião só poderá tomar decisões depois de perceber as orientações da DGS e OMS. De referir que a ARC Sport estará sempre disponível para em conjunto com a FPAK, equipas e pilotos possa arranjar solução para retomar a competição o mais rápido possível”, disse.
Já Manuel Castro (Racing4You), entende que “pelo facto de estarmos perante uma situação nova, o mais sensato será equacionar reduzir o campeonato para o número de provas que sejam possíveis após o levantamento das limitações impostas pelo governo e pela DGS, e tentar manter o equilíbrio da tipologia de piso. O presidente da FPAK já revelou que as prioridades serão as provas internacionais. Não será fácil sem dúvida encontrar um equilíbrio, mas deviam fazer por isso. Uma prova de terra já está realizada, portanto quando for possível realizar eventos desportivos, e se os clubes que têm provas no calendário conseguirem ainda manter os apoios das autarquias e outros parceiros, a FPAK deve consultar também os pilotos e equipas inscritas no campeonato.
Seja como for, na minha opinião, tentar realizar mais três ou cinco provas por forma a manter o equilíbrio. Obviamente que um campeonato com quatro ou seis provas é bastante diferente do que apresentámos aos nossos parceiros, mas tendo em conta a situação atual acho que todos devem entender que se for possível viabilizar um campeonato com quatro ou seis provas num panorama adverso como este, já será bastante positivo.
Logicamente que será mais fácil as provas internacionais fazerem parte desse leque pois serão a forma mais fácil de se manter o equilíbrio entre o número de provas em piso de terra e asfalto, mas como referi, sendo provas mais dispendiosas, também temos mais retorno e visibilidade, e compensaria de alguma forma o facto de termos menos provas este ano no calendário. O formato do campeonato e a sua pontuação também deve ser revista por forma a ser mais justa, e pensar no futuro pois acho que o campeonato tem provas a mais. Olhando para o futuro seria importante já trabalhar com essa perspetiva, um campeonato que seja ajustado à realidade dos tempos que se avizinham, difíceis, para a modalidade”.
Sem se alongar muito, Pedro Meireles é lacónico: “O nosso campeonato já tem provas a mais, com esta situação não vejo outra solução que não seja reduzir esse número” disse Meireles que também entende que a época de 2021 de modo nenhum pode ser afetada pelas decisões tomadas para 2020.
Relação custo/retorno
Na Sports&You, José Pedro Fontes só vem reforçar o que diz há muito. Depois do AutoSport ter feito nas últimas duas semanas um trabalho sobre o passado, presente e futuro do CPR, surgiu com mais ênfase esta questão do calendário, e depois de nova conversa com o Zé Pedro Fontes, para não se repetir, sugeriu-nos: “Ouve o que disse ao Amândio, é exatamente o que te iria dizer agora a ti”. Por isso, e sem perder tempo e com a devida vénia e autorização do Amândio Santos, da Golo FM, aqui fica: “Penso que as consequências económicas desta crise serão maiores que 2008 mas também vai haver uma mais rápida recuperação” começou por dizer Fontes, que é de opinião ser necessário que se coloquem em cima da mesma “vários cenários, para os por em prática conforme situação com que nos depararmos na altura certa! Acho que o desporto automóvel vai ser muito afetado e por isso vamos ter de nos reinventar. Será necessária uma grande partilha de ideias de modo a que se possam criar cenários que vão encontro às necessidades e objetivos de todos. É tempo para pensarmos em mudanças de fundo que temos de fazer, não só para fazer face a esta situação, mas outras, que já deveriam ter começado antes. Há um grande trabalho pela frente que temos de fazer”, começou por explicar, dando depois a sua visão da forma como entende que as coisas deveriam ser feitas: “Há que reduzir custos, sim, mas é importante fazer uma ponderação entre o custo e o retorno. Porque um ‘produto’ pode ser barato, mas se não prestar, ninguém vai ver ou ‘comprar’.
Temos de uma vez por todas de entender que o desporto motorizado é entretenimento, e como qualquer espetáculo, tem que ser um bom espetáculo. Tem que ser um espetáculo feito para quem quer comprar esse espetáculo, tem que ser feito nos dias certos, nas horas certas, nos formatos certos, junto ao público certo, nas localidades certas, tudo isso. Quando estamos em tempos de ‘vacas gordas’, podemos dar-nos ao luxo de não ser tão eficientes, mas agora, no futuro próximo, vamos ter que ser muito eficientes e há muito que penso que temos de rever a estrutura do nosso campeonato, que tem 10 provas, para depois escolhermos oito, e pontuar em sete.
Acima de tudo, o que nós temos que procurar é ser eficientes, porque nós estamos em concorrência direta com desportos e atividades lúdicas que estão muito bem organizadas, que são postas de pé com um foco no cliente muito grande. E quem são os nossos clientes? Patrocinadores, pilotos e público. Portanto temos que pensar como vamos fazer um espetáculo equilibrado a nível de custos para a realidade que portuguesa, mas muito eficiente do ponto de vista promocional de modo a que o balanço entre o custo e o retorno seja apetecível, para que nós possamos vender a todos os patrocinadores, para os clubes poderem vender aos seus patrocinadores, as câmaras municipais que os vão apoiar.
Claro que temos de ter a noção da realidade económica que vamos ter, mas não vai ser pela simples redução de custos que podemos manter o nível de espetáculo, vai ser pelo vamos oferecer a quem quiser ‘comprar’”, explicou Zé Pedro Fontes.
Para o piloto e líder da Sports&You, é necessário começar quase de “uma folha em branco! Não faz sentido um CPR com o nível de investimento que tem, e com as marcas que estão envolvidas, não ter nenhum rali na zona de Lisboa ou na zona do Porto.
É logo por aí que vamos ter que começar a pensar. Quando alguém pensa em criar um espetáculo, fá-lo numa zona onde potencialmente terá mais público porque sabe que com isso vai ter mais patrocinadores, mais dinheiro, isso leva a mais equipas, mais pilotos e aí podemos pedir aos media nacionais que nos deem o retorno que nos é devido, até pela paixão que temos, e pela quantidade de público que trazemos.
Quantas provas, onde as devemos fazer, se queremos fazer junto dos grandes eventos ou fazer nós sozinhos, e se temos WRC, ERC e ERT, o CPR tem que estar, como está, com essas provas.
Como é que vamos fazer a hierarquia económica das classes que temos, pois estamos bem em termos de R5 mas falta a base do nosso desporto. Tem que haver humildade da parte dos pilotos e das equipas, mas também tem que haver o mesmo da parte dos clubes e da FPAK de aquilo que necessitamos para vender os nossos projetos.
Porquê o CPR está bem? Se formos a ver a estrutura é igual há 15 anos, ou pelo menos parecida .Temos que entender o contexto, as necessidades, e como vamos fazer algo que seja fácil vendermos, porque numa altura de dificuldade, isso ainda mais importante vai ser.
É imperativo fazer o calendário baseado nas pretensões das nossas equipas e nossos pilotos. É preciso abertura da FPAK para pensar em conjunto o que devemos fazer, e dar-lhe toda a força para que se tiver que tiver tomar medidas, fazer mudanças mais profundas no CPR, que o faça, desde que isso seja para o interesse de todos, e também para o interesse dos clubes. Mas tem que haver consciência clara que tudo vai ser diferente. Temos que ser mais eficientes, muito determinada e muito profissionalmente”, concluiu.
Como se percebe por estas palavras separadas por quatro anos, existe coerência no pensamento, e pelos vistos, como se tem ouvido, há outros players também muito importantes, que pensam da mesma forma.
“Porto e Lisboa fora do CPR é uma coisa que me faz muita confusão”
Sérgio Ribeiro, CEO da Hyundai Portugal, marca que em 2018 chegou ao Campeonato de Portugal de Ralis com o Team Hyundai Portugal, e que desde aí se tem confirmado como uma das grandes players desta competição, há muito que luta para aproveitar o bom momento da competição para a elevar a outro nível, destacando os pontos em que entende serem primordiais mudar.
Quando com ele falámos no final do campeonato do ano passado e numa altura em que ainda não era certo darem sequência ao seu projeto nos ralis, Sérgio Ribeiro revelou-nos algumas das áreas em que entendia dever ser feito alguma coisa: “Depende muito do que a FPAK quer para os ralis. Acho que existem vários ângulos nesta equação, o ângulo dos clubes, que é muito importante manter-se esse desenvolvimento, esse trabalho em conjunto, mas também temos de ter em conta o âmbito das marcas. É preciso atrair as marcas para os ralis. É preciso atrair patrocinadores. E é preciso dar-se condições para o público poder assistir aos ralis de forma mais organizada, com mais conforto para que eles usufruam deste espetáculo. Nós defendemos, há algum tempo, algumas alterações. Não são alterações profundas, mas pequenas coisas que poderiam tornar o campeonato mais competitivo, melhor, atraindo mais marcas, patrocinadores. É essencial atrair marcas, porque se não conseguimos retorno para as marcas, se não fazemos com que os patrocinadores se interessem por este desporto, não dá. Precisamos que invistam neste desporto para atrairmos ainda mais público. Se não for assim, não estamos a cultivar a excelência deste desporto, dos ralis. No meio disto tudo, o importante é pensarmos bem.
O primeiro aspeto, para além do trabalho com os clubes é ter um campeonato organizado, onde os melhores ralis sejam os verdadeiramente eleitos, pois tem de se conseguir, volto a repetir, atrair marcas, patrocinadores, para ter mais público.
Para tal, e já ando a dizer isto há algum tempo, precisamos de um promotor para o Campeonato de Portugal de Ralis, que faça a diferença, que consiga extrair deste desporto um verdadeiro espetáculo. Este é o primeiro ponto. O segundo ponto é conseguir que o próprio formato do campeonato o torne mais competitivo, ainda mais equilibrado. Existem pequenas coisas que para nós fazem sentido, já sugerimos, por exemplo, um campeonato de marcas. Quando se quer atrair as marcas e não há um campeonato onde elas possam competir, aí está uma lacuna.
Na vertente do público, acho que houve uma evolução muito grande na segurança. Foi uma área muito bem trabalhada, em conjunto com os clubes. Nota-se o esforço.
Por outro lado, precisamos de ter parques de assistência melhor localizados, com verdadeiras condições para que as pessoas possam usufruir do ambiente. As próprias zonas de espetáculo, que, por vezes, nem sanitários têm. A maior parte das pessoas vê duas passagens no mesmo sítio, passando duas a quatro horas nos locais e não têm condições para se alimentar ou até sanitários. São coisas simples. Não é ciência nuclear.
Investimos muito neste projeto. Dinheiro, tempo, trabalho, horas. Em todas as provas do campeonato tivemos clientes, convidados, concessionários, patrocinadores. Via-se nos ralis que a Hyundai estava sempre presente. Era muito importante que a Federação visse esta chama, para atrair mais marcas. Nós gostávamos de competir com mais marcas organizadas, mais equipas, desta forma, porque se fizermos todos isso, era bom para todos. Acho que falta isso. Da nossa parte, o trabalho está feito. Mas, sozinhos não conseguimos fazer tudo.
A nossa aposta há dois anos era numa perspetiva de trazer mais emoção para a imagem da marca, dá-la a conhecer a outros públicos, a um segmento mais desportivo do mercado, e isso, de facto, nós sentimos. Nesses segmentos nós crescemos muito nas vendas. Certamente que os ralis contribuíram para isso. Foram importantes para nós estes dois anos de projeto, mas era muito mais se o espetáculo fosse encarado de forma diferente”, disse na altura.
Voltámos a conversar em Fafe, no arranque do CPR 2020 e um dos pontos porque se sempre se bateu tem a ver com o sistema de pontuações, que entende dispersar os concorrentes: “Tive antes uma conversa com o Ni Amorim, presidente da FPAK, para nós é importante perceber o que vai ser o futuro, e houve coisas que evoluíram outras, não foi possível pois já estavam comprometidas para 2020, entre elas o facto de haver 10 provas, das quais se escolhem oito, donde se tira um resultado. Do meu ponto de vista isso é negativo. Esperemos que não seja para continuar, pois só promove a dispersão dos concorrentes. O ideal era termos oito provas em que todos corressem, evitando-se assim escolhas táticas que vão ter influência no campeonato. E não deveria ser assim”, disse-nos.
Prioridade ao CPR
Agora, e na sequência do momento em que vivemos, Sérgio Ribeiro deu uma entrevista à Golo FM, superiormente conduzida pelo Amândio Santos, que com a devida vénia e autorização, reproduzimos aqui algumas palavras, que surgem na sequência do que Sérgio Ribeiro tem dito ao AutoSport: “Neste momento é tudo ainda muito incerto, ainda estamos à espera do que possa vir a acontecer, ninguém sabe muito bem como vai evoluir tudo isto, mas como é evidente vai ter os seus impactos. Não há que esconder, estamos a viver uma situação que terá efeitos económicos profundíssimos na industria automóvel” começou por dizer Sérgio Ribeiro, CEO da Hyundai Portugal, que estende a questão ao ‘motorsport’: “Não vai ser igual. Desde a F1, e em todas as outras categorias, mas falando dos ralis, que é o que nos interessa, há investimentos fortíssimos, nas últimas semanas temos vindo a ver que as marcas a nível internacional têm-se vindo a posicionar sobre isso, a alertar que os investimentos são enormes e tem que haver alguma adaptação aquilo que é a nova realidade, pois os próprios construtores vão ter limitações fortíssimas a nível dos próximos investimentos. O dinheiro não é elástico, vão ter que fazer opções e se não querem forçar as marcas a fazer essas opções e deixar o motorsport, como infelizmente muitas outras marcas já o fizeram no passado, o melhor é adaptar às realidades para que as marcas continuem a investir no motorsport. A nossa realidade a um nível mais micro, é um bocadinho a mesma.
Sendo verdade que estamos mais preparados do que estávamos há uns anos, acredito que os players do setor também reagirão com outra capacidade. Mas todos nós temos que cortar custos, mas iremos tentar fazê-lo da forma mais sustentável possível.
Neste momento, estamos a tentar adiar o máximo possível a tomada de decisões mais radicais, porque estamos comprometidos com este projeto e com os ralis, pois queremos ajudar a manter viva esta modalidade, em que investimos tanto. Portanto estamos a adiar decisões, para ver se há alguma clarificação no horizonte, que nos permita tomar opções mais firmes.
De qualquer maneira, parecem claras uma ou duas realidades, de que não vamos poder fugir, começando pelo projeto Europeu. Continuamos com enormes incertezas, parece-me que será muito difícil compatibilizar o projeto ERC com o CPR, mas se tivermos que dar uma prioridade será ao CPR, isto está decidido da nossa parte porque achamos que é nossa responsabilidade enquanto organização de privilegiar o campeonato português. Pelos fãs, pelo público, pelo investimento que nós e os nossos concorrentes já fizeram nesta época, respeitar o nosso investimento mas também dos que correm contra nós ou ao nosso lado. Achamos que temos essa responsabilidade. Se for possível continuar a compatibilizar com o ERC tentaremos fazê-lo, mas se tivermos que fazer opções, também em termos de investimentos, por tudo o que já disse, teremos que fazê-lo”, disse Sérgio Ribeiro, que passou depois para outro tema… o futuro do CPR
Repensar a competição
Sérgio Ribeiro é de opinião, e não está sozinho nesta questão, que “se há altura em que devemos ponderar o que vamos fazer este ano, e nos próximos, é agora. É pública a minha opinião relativamente a algumas opções que têm vindo a ser tomadas relativamente ao CPR, a mais veemente é o facto de termos 10 provas das quais os pilotos escolhem oito para pontuar sete, acho que este é um ponto que deve ser eliminado definitivamente para o futuro, porque para além de serem provas a mais para a nossa realidade, permite a dispersão completa das inscrições dos pilotos e haverá ralis em que os principais candidatos ao titulo não correrão uns contra os outros e isso é péssimo. Mas mesmo péssimo para o campeonato. Já o disse várias vezes, portanto acho que é uma boa oportunidade para eliminar isto de vez”
“Para 2020, mal tenhamos uma visibilidade de quando é que podemos prosseguir com o campeonato, o meu ponto de vista é muito simples. Nós já fizemos o Rallye Serras de Fafe e Felgueiras, e acho que devemos acabar a época de ralis na mesma altura em que acabamos todos os anos, porque pior do que querermos recuperar do prejuízo é darmos cabo do campeonato de 2021. Isto, adaptado à realidade das empresas e das marcas, nós não podemos comprometer 2021. Isso empurra-nos para fazer três provas em terra e três em asfalto. Contando já com o Rali de Portugal.
Fazíamos seis provas, corríamos todos contra todos, era justo e não tínhamos um calendário, assim tão desocupado como isso, porque não vamos ter muitos meses para o fazer. Claro que para isso têm que ser tomadas opções e essas têm que ser tomadas agora.
Para 2021, eu aproveitava já para pensar também no calendário, que eu acho que não pode ter mais do que oito provas, se é deitado um resultado fora, desvalorizo um bocadinho, pois quanto a isso há argumentos a favor e contra.
Acho que o mais importante é que os mesmos concorrentes estejam nas mesmas provas a competir, porque isso é que dá competitividade.
Portanto este ano seis, e para o ano não mais do que oito” disse Sérgio Ribeiro, que também é de opinião que as provas internacionais terão sempre que fazer parte do campeonato: “Há provas para mim, que se pudesse escolher, teriam sempre de estar no figurino e depois teria de se escolher. Há uma coisa muito importante. É que há muitas pessoas, stakeholders, ligados a este campeonato, é a federação, os clubes, mas há outra parte muito importante que são os pilotos, as marcas e os patrocinadores, que raramente são ouvidos nesta matéria.
E que no fundo, são quem investe neste setor. Temos que ter noção que não podemos agradar a gregos e a troianos, o que é certo é que se no limite as marcas e os patrocinadores, não tiverem um formato de campeonato que permita investimento para ter retorno, tudo o resto é apenas filosofia. E filosofia não resolve o problema. Resolve outros, mão não resolve este do CPR.
Por exemplo, não me cabe na cabeça que nós continuemos a ter um CPR que nós queiramos que os OCS apoiem e acompanhem e que tenham muito público e muita adesão mas depois, Porto e Lisboa estão fora do calendário, como é que isto é possível? É uma coisa que me faz muita confusão. Não há racional nenhum económico e de promoção do setor e do campeonato que consiga responder a uma coisa destas.
Se há problemas em fazer ralis nestas zonas por questões de segurança, então que se regulamente isso, agora, nós temos que trazer mais público ao CPR nem que para isso se tenham que fundir provas. Há ralis em concelhos uns ao lado dos outros. Que façam super especiais nas grandes cidades, para atrair as pessoas, que se pense nisso e por fim que se invista a sério na promoção do campeoanto. Porque enquanto não se fizer um investimento a sério na promoção do CPR, não se vai colher no futuro. Temos que semear para colher.
Estarmos-nos a queixar que os grandes OCS não apoiam, os grandes patrocinadores não se interessam pelos ralis, não adianta nada, temos que fazer é ao contrário, temos que promover o espetáculo maravilhoso, que é o que temos. Híper competitivo na realidade de hoje, com várias marcas e pilotos de grande talento a correr uns contra os outros, nos últimos três anos tivemos campeonatos que se decidem na ultima prova e quase na ultima especial, sempre, e que nós não consigamos promover de modo a que todos os atores deste palco consigam continuar a investir nisso, porque senão, vai haver um dia, em que as marcas, os patrocinadores, etc, vão abandonar de vez os ralis e ficamos nós sem poder usufruir do desporto que gostamos. É preciso olhar muito a sério e com muita urgência para isto”, disse Sérgio Ribeiro.
“Vão-se os anéis, que fiquem os dedos”
Por fim, Justino Reis, da The Racing Factory, mostra um forte alinhamento com o global que é dito pelos restantes ‘players’: “De momento e já após termos visto em diversos meios de comunicação especializados a exposição de opiniões, nomeadamente pilotos e representantes de marcas e equipas, o que podemos dizer é que a nossa posição se enquadra e alinha quase plenamente nas diversas opiniões transmitidas, onde acima de tudo estamos de acordo com uma ideia comum, não entrar em gastos descontrolados e sem sentido nas provas de 2020 que ainda se possam realizar e acima de tudo não hipotecar a realização e qualidade da temporada 2021.
Acima de tudo parece-nos que mais que nunca, e esperamos claramente que isso aconteça da parte da FPAK, as decisões em relação ao CPR 2020 sejam um claro exercício de democracia dos diversos intervenientes que devem ser ouvidos e as soluções encontradas devem ser o mais abrangentes possíveis para todos, e não olhar a recuperar apenas algo que está perdido, hipotecando o sucesso que ainda pode ser alcançado e mostrando a vitalidade deste desporto aos patrocinadores e pilotos que mais do que nunca no médio prazo vão ser extremamente seletivos no seu investimento.
Acima de tudo, as provas e o número das mesmas a realizar terá que ser algo muito ponderado e que salvaguarde a qualidade do campeonato para que o ‘produto’ continue a ser de grande nível, mas tem também que ser algo ajustado e sustentável para as limitações aos budgets que todos vão sofrer, em particular os projetos mais ‘pequenos’, pois nenhum campeonato vive só de grandes ‘players’, e os projetos de 2RM e outras categorias devem também ser respeitados e valorizados nesta equação.
Claramente temos que deixar algumas ideias, que, do que temos lido e ouvido estão mais ou menos em linha com outras opiniões já explanadas aqui no AutoSport. O que resta do campeonato 2020 deve ser ajustado em numero de provas, mas não poderá seguir a linha de obrigar á presença obrigatória em todos os eventos que estejam no calendário na sua data original e outros que venham a ser reagendados, ou seja, presumindo que as 3 provas internacionais previstas para Portugal e que estavam integradas no calendário do CPR se realizem, não será de todo coerente que se obrigue todos os pilotos a terem mesmo de marcar presença nas mesmas, pois essa situação certamente causará impactos nos budgets dos concorrentes e certamente colocará em causa a continuidade dos seus programas de 2020 e eventualmente de 2021.
Defendemos também que a temporada termine mais ou menos dentro dos períodos habituais e não haja lugar a uma expansão da mesma para Janeiro de 2021 pois se isso poderá ser algo exequível em circuitos, nos ralis afigura-se bastante mais complicado por diversos fatores, um dos quais, por exemplo a instabilidade meteorológica e poucas horas de sol em dezembro e janeiro, que colocaria fortemente em causa a qualidade dos eventos.
Existem claramente diversos fatores, comerciais, de Marketing, de comunicação, de gestão operacional das empresas e equipas e dos projetos desportivos que não se enquadrariam num eventual alargamento da temporada desportiva.
Por fim, e com as devidas reservas face ás indefinições do momento que ainda atravessamos, e porque sentimos que realmente possa ser possível ainda a realização de um campeonato digno e de bom nível em 2020, renovamos a opinião que este é o momento de chamar todos os intervenientes, sentir as suas opiniões e decidir o mais em sintonia possível, para que todos se revejam nas soluções encontradas e que se reforce a união de todos. Ninguém fica ou ficará imune a estava infeliz situação por que passamos, e sabemos que ela esta a ser sentida por Federação, Clubes, Equipas, Pilotos, Patrocinadores, Comunicação Social, etc…, mas há que pensar que esta é uma daquelas situações em que é melhor ‘perder alguns anéis mas ficarmos com os dedos’ e por isso importa que todos juntos mantenham e construam um CPR do qual nos continuemos a orgulhar.