CPR, Manuel Castro (Racing4You): “O mais sensato será equacionar reduzir o campeonato”
Manuel Castro (Racing4You), é um dos casos em que existem duas visões do mesmo problema, já que para além de piloto, Manuel Castro lidera também a Racing4You, vendo, por isso, multiplicado o seu problema decorrente desta pandemia de coronavírus. Como se sabe e na sequência do trabalho que o AutoSport tem vindo a fazer nas últimas semanas relativamente ao passado, presente e futuro do CPR, o piloto/gestor respondeu-nos a diversas questões, relativas ao percurso recente do CPR, mas também relativamente ao que se espera ainda desta época de 2020 e do futuro.
O CPR tem vindo a crescer bastante nos últimos anos. Concordas? O que fazer para o consolidar?
“Nos últimos 5 anos foi notório um crescimento bastante positivo no CPR. No entanto é importante entender que é necessário capitalizar este investimento num maior retorno, vital para que as marcas continuem a apostar no CPR, e reforçar que o campeonato é uma aposta certa para os departamentos de marketing e comunicação das empresas. Este ano a FPAK apostou e bem na comunicação e divulgação ao conseguir negociar mais espaços em programas informativos com diversos canais de televisão que são sem dúvida importantes para que a mensagem de que os ralis e o seu principal campeonato são uma aposta válida para qualquer marca e produto, e que chegue a um número ainda mais elevado e generalista.
Mas penso ser necessário fazer um trabalho ainda mais profundo junto dos canais em sinal aberto, e conseguir uma melhor comunicação junto dos média generalistas que por norma muito pouco falam do CPR. Infelizmente e a atual situação que vivemos devido à pandemia mundial, vai sem dúvida deitar por terra um trabalho que estava a ser bem feito.
Não querendo entrar em campo de futurologia, mas a suspensão de atividade desportiva motorizada, e sem ‘produto’ para se vender não será possível durante o primeiro semestre medir este investimento feito pela federação.
No segundo semestre e dependendo de como a federação junto dos clubes e entidades competentes, e também principais dos intervenientes do campeonato (equipas e pilotos) conseguir reorganizar o calendário desportivo de 2020 deverá ser possível já colher frutos do investimento numa melhor comunicação e promoção que referi.”
Em que se baseou este crescimento? A FIA ter ‘criado’ os R5?
“Com a introdução das nova categoria R5 e com um compromisso de estabilidade por parte da FIA e das construtores em manter os regulamentos da categoria a longo prazo, foi notório um rápido crescendo de interesse nesta nova categoria, e consequentemente diversos pilotos e equipas investiram e colocaram no terreno projetos sustentados na nova categoria. Foi notória a evolução dos diversos campeonatos nacionais pelo mundo fora e Portugal não foi diferente. O coroar deste crescendo, foi notório com o reaparecimento de diversas empresas com forte ligação ao desporto motorizado que voltaram a olhar para o CPR como um excelente veículo promocional para os seus produtos e imagem. Com diversos fabricantes automóveis a optarem pelo desenvolvimento de viatura da categoria R5, também permitiu o regresso dos importadores nacionais das diferentes marcas ao apoiarem diversos projectos privados, pelo que foi sem dúvida uma aposta vitoriosa da FIA, e dos próprios departamentos de competição das marcas que investiram na categoria.”
Sendo os diversos carros competitivos e tendo andamentos muito parecidos, gera competitividade, será isso?
“Sem dúvida que a competitividade semelhante dos diversos carros existentes da categoria foram importantes para o sucesso, mas também não esquecer os factos de o valor de aquisição e manutenção ser mais acessível que a anterior categoria S2000 e o compromisso de estabilidade regulamentar muito contribuíram para o sucesso.”
O quê mais, no teu entender? Resume como se chegou aqui a diversos níveis e porquê?
“Não podemos também esquecer que pelo facto de nos últimos anos a economia estar em crescendo contribuiu para que existisse mais disponibilidade das empresas para investir em marketing, assim que essa conjuntura económica favorável ajudou ao regresso de um maior investimento no CPR, e aliado a nova categoria e a estabilidade regulamentar permitiu o sucesso dos últimos anos do CPR.”
O que se fez bem? O que não se fez tão bem?
“A estabilidade regulamentar ajudou sem dúvida, o equilíbrio das provas terra e asfalto, era na minha opinião importante, no entanto era necessário conseguir uma maior garantia dos clubes e da própria Fpak que se as equipas e os projetos existentes são hoje encarados com grande profissionalismo, é necessário que os restantes ‘players’ acompanhassem esta evolução, e infelizmente isso não aconteceu, aqui e ali foram melhorando mas no cômputo geral acho que ainda devem evoluir mais”.
O que se pode fazer para consolidar?
“Infelizmente com o estado de emergência em vigor e que provavelmente será prolongado até maio como acima referi deita por terra o trabalho realizado e o prometedor arranque de campeonato, comprovado em Fafe, fica bastante complicado saber o que fazer, quando não sabemos sequer quando podermos regressar à normalidade? Como será a normalidade no pós pandemia?! Mas o caminho numa dita ‘normalidade’ seria de continuar com a estabilidade regulamentar, profissionalizar os serviços prestados pela Federação e pelos clubes nas provas que organizam, uma maior aposta na profissionalização do marketing e comunicação do CPR, onde nos últimos anos foi notório uma trabalho mais competente dos Pilotos e algumas equipas na promoção e divulgação das provas e da modalidade do que o realizado pela entidades competentes. E também urgente olhar para o futuro, e neste campo era importante um compromisso não só com um troféu, esse troféu é sem dúvida importante mas é necessário uma fórmula de iniciação que os jovens possam conseguir participar e conhecer melhor o lado de dentro da modalidade e mostrar a sua competitividade. Penso que essa fórmula podia bem ser conseguida com os Kia como foi possível verificar pelo sucesso obtido na velocidade, mas também nos ralis que participaram, um carro com baixos custos de manutenção, competitivo e que me parece poder ser a escola importante e uma importante porta de entrada para o CPR. Faz falta um troféu que faça provas de terra e asfalto num patamar abaixo dos 208 Rally 4 e dos 208 R2.
Outros temas que aches relevantes?
“Acho que o desporto automóvel está bastante afastado dos mais jovens e é necessário fomentar a educação nos ralis também, que sendo um desporto caro não é fácil ao comum dos jovens poder desenvolver essa paixão e a prática, acho que se poderia fazer um trabalho construtivo e a pensar no futuro junto dos mais jovens, um programa/escola para os mais jovens, um trabalho que se vê por toda a Europa onde as federações conseguem identificar e ajudar a formação de novos jovens talentos, mas um programa sério, competente e profissional. A profissionalização dos serviços prestados pela Federação e pelos clubes é também muito importante para uma consolidação do CPR.
Por fim, o tema do momento, o que deverá ser feito em termos de calendário em 2020?
“Pelo facto de estarmos perante uma situação nova, o mais sensato será equacionar reduzir o campeonato para o número de provas que sejam possíveis após o levantamento das limitações impostas pelo governo e pela DGS, e tentar manter o equilíbrio da tipologia de piso. O presidente da FPAK já revelou que as prioridades serão as provas internacionais. Não será fácil sem dúvida encontrar um equilíbrio, mas deviam fazer por isso. Uma prova de terra já está realizada, portanto quando for possível realizar eventos desportivos, e se os clubes que têm provas no calendário conseguirem ainda manter os apoios das autarquias e outros parceiros, a FPAK deve consultar também os pilotos e equipas inscritas no campeonato.
Seja como for, na minha opinião, tentar realizar mais três ou cinco provas por forma a manter o equilíbrio. Obviamente que um campeonato com quatro ou seis provas é bastante diferente do que apresentámos aos nossos parceiros, mas tendo em conta a situação atual acho que todos devem entender que se for possível viabilizar um campeonato com quatro ou seis provas num panorama adverso como este, já será bastante positivo.
Logicamente que será mais fácil as provas internacionais fazerem parte desse leque pois serão a forma mais fácil de se manter o equilíbrio entre o número de provas em piso de terra e asfalto, mas como referi, sendo provas mais dispendiosas, também temos mais retorno e visibilidade, e compensaria de alguma forma o facto de termos menos provas este ano no calendário. O formato do campeonato e a sua pontuação também deve ser revista por forma a ser mais justa, e pensar no futuro pois acho que o campeonato tem provas a mais. Olhando para o futuro seria importante já trabalhar com essa perspetiva, um campeonato que seja ajustado à realidade dos tempos que se avizinham, difíceis, para a modalidade”.