Sérgio Ribeiro (Hyundai Portugal): “Porto e Lisboa fora do CPR é uma coisa que me faz muita confusão”
Sérgio Ribeiro, CEO da Hyundai Portugal, marca que em 2018 chegou ao Campeonato de Portugal de Ralis com o Team Hyundai Portugal, e que desde aí se tem confirmado como uma das grandes players desta competição, há muito que luta para aproveitar o bom momento da competição para a elevar a outro nível, destacando os pontos em que entende serem primordiais mudar.
Quando com ele falámos no final do campeonato do ano passado e numa altura em que ainda não era certo darem sequência ao seu projeto nos ralis, Sérgio Ribeiro revelou-nos algumas das áreas em que entendia dever ser feito alguma coisa: “Depende muito do que a FPAK quer para os ralis. Acho que existem vários ângulos nesta equação, o ângulo dos clubes, que é muito importante manter-se esse desenvolvimento, esse trabalho em conjunto, mas também temos de ter em conta o âmbito das marcas. É preciso atrair as marcas para os ralis. É preciso atrair patrocinadores. E é preciso dar-se condições para o público poder assistir aos ralis de forma mais organizada, com mais conforto para que eles usufruam deste espetáculo.
Nós defendemos, há algum tempo, algumas alterações. Não são alterações profundas, mas pequenas coisas que poderiam tornar o campeonato mais competitivo, melhor, atraindo mais marcas, patrocinadores. É essencial atrair marcas, porque se não conseguimos retorno para as marcas, se não fazemos com que os patrocinadores se interessem por este desporto, não dá. Precisamos que invistam neste desporto para atrairmos ainda mais público. Se não for assim, não estamos a cultivar a excelência deste desporto, dos ralis. No meio disto tudo, o importante é pensarmos bem.
O primeiro aspeto, para além do trabalho com os clubes é ter um campeonato organizado, onde os melhores ralis sejam os verdadeiramente eleitos, pois tem de se conseguir, volto a repetir, atrair marcas, patrocinadores, para ter mais público.
Para tal, e já ando a dizer isto há algum tempo, precisamos de um promotor para o Campeonato de Portugal de Ralis, que faça a diferença, que consiga extrair deste desporto um verdadeiro espetáculo. Este é o primeiro ponto. O segundo ponto é conseguir que o próprio formato do campeonato o torne mais competitivo, ainda mais equilibrado. Existem pequenas coisas que para nós fazem sentido, já sugerimos, por exemplo, um campeonato de marcas. Quando se quer atrair as marcas e não há um campeonato onde elas possam competir, aí está uma lacuna.
Na vertente do público, acho que houve uma evolução muito grande na segurança. Foi uma área muito bem trabalhada, em conjunto com os clubes. Nota-se o esforço.
Por outro lado, precisamos de ter parques de assistência melhor localizados, com verdadeiras condições para que as pessoas possam usufruir do ambiente. As próprias zonas de espetáculo, que, por vezes, nem sanitários têm. A maior parte das pessoas vê duas passagens no mesmo sítio, passando duas a quatro horas nos locais e não têm condições para se alimentar ou até sanitários. São coisas simples. Não é ciência nuclear.
Investimos muito neste projeto. Dinheiro, tempo, trabalho, horas. Em todas as provas do campeonato tivemos clientes, convidados, concessionários, patrocinadores. Via-se nos ralis que a Hyundai estava sempre presente. Era muito importante que a Federação visse esta chama, para atrair mais marcas. Nós gostávamos de competir com mais marcas organizadas, mais equipas, desta forma, porque se fizermos todos isso, era bom para todos. Acho que falta isso. Da nossa parte, o trabalho está feito. Mas, sozinhos não conseguimos fazer tudo.
A nossa aposta há dois anos era numa perspetiva de trazer mais emoção para a imagem da marca, dá-la a conhecer a outros públicos, a um segmento mais desportivo do mercado, e isso, de facto, nós sentimos. Nesses segmentos nós crescemos muito nas vendas. Certamente que os ralis contribuíram para isso. Foram importantes para nós estes dois anos de projeto, mas era muito mais se o espetáculo fosse encarado de forma diferente”, disse na altura.
Voltámos a conversar em Fafe, no arranque do CPR 2020 e um dos pontos porque se sempre se bateu tem a ver com o sistema de pontuações, que entende dispersar os concorrentes: “Tive antes uma conversa com o Ni Amorim, presidente da FPAK, para nós é importante perceber o que vai ser o futuro, e houve coisas que evoluíram outras, não foi possível pois já estavam comprometidas para 2020, entre elas o facto de haver 10 provas, das quais se escolhem oito, donde se tira um resultado. Do meu ponto de vista isso é negativo. Esperemos que não seja para continuar, pois só promove a dispersão dos concorrentes. O ideal era termos oito provas em que todos corressem, evitando-se assim escolhas táticas que vão ter influência no campeonato. E não deveria ser assim”, disse-nos.
Agora, e na sequência do momento em que vivemos, Sérgio Ribeiro deu uma entrevista à Golo FM, superiormente conduzida pelo Amândio Santos, que com a devida vénia e autorização, reproduzimos aqui algumas palavras, que surgem na sequência do que Sérgio Ribeiro tem dito ao AutoSport: “Neste momento é tudo ainda muito incerto, ainda estamos à espera do que possa vir a acontecer, ninguém sabe muito bem como vai evoluir tudo isto, mas como é evidente vai ter os seus impactos. Não há que esconder, estamos a viver uma situação que terá efeitos económicos profundíssimos na industria automóvel” começou por dizer Sérgio Ribeiro, CEO da Hyundai Portugal, que estende a questão ao ‘motorsport’: “Não vai ser igual. Desde a F1, e em todas as outras categorias, mas falando dos ralis, que é o que nos interessa, há investimentos fortíssimos, nas últimas semanas temos vindo a ver que as marcas a nível internacional têm-se vindo a posicionar sobre isso, a alertar que os investimentos são enormes e tem que haver alguma adaptação aquilo que é a nova realidade, pois os próprios construtores vão ter limitações fortíssimas a nível dos próximos investimentos. O dinheiro não é elástico, vão ter que fazer opções e se não querem forçar as marcas a fazer essas opções e deixar o motorsport, como infelizmente muitas outras marcas já o fizeram no passado, o melhor é adaptar às realidades para que as marcas continuem a investir no motorsport. A nossa realidade a um nível mais micro, é um bocadinho a mesma.
Sendo verdade que estamos mais preparados do que estávamos há uns anos, acredito que os players do setor também reagirão com outra capacidade. Mas todos nós temos que cortar custos, mas iremos tentar fazê-lo da forma mais sustentável possível.
Neste momento, estamos a tentar adiar o máximo possível a tomada de decisões mais radicais, porque estamos comprometidos com este projeto e com os ralis, pois queremos ajudar a manter viva esta modalidade, em que investimos tanto. Portanto estamos a adiar decisões, para ver se há alguma clarificação no horizonte, que nos permita tomar opções mais firmes.
De qualquer maneira, parecem claras uma ou duas realidades, de que não vamos poder fugir, começando pelo projeto Europeu. Continuamos com enormes incertezas, parece-me que será muito difícil compatibilizar o projeto ERC com o CPR, mas se tivermos que dar uma prioridade será ao CPR, isto está decidido da nossa parte porque achamos que é nossa responsabilidade enquanto organização de privilegiar o campeonato português. Pelos fãs, pelo público, pelo investimento que nós e os nossos concorrentes já fizeram nesta época, respeitar o nosso investimento mas também dos que correm contra nós ou ao nosso lado. Achamos que temos essa responsabilidade. Se for possível continuar a compatibilizar com o ERC tentaremos fazê-lo, mas se tivermos que fazer opções, também em termos de investimentos, por tudo o que já disse, teremos que fazê-lo”, disse Sérgio Ribeiro, que passou depois para outro tema… o futuro do CPR
Repensar a competição
Sérgio Ribeiro é de opinião, e não está sozinho nesta questão, que “se há altura em que devemos ponderar o que vamos fazer este ano, e nos próximos, é agora. É pública a minha opinião relativamente a algumas opções que têm vindo a ser tomadas relativamente ao CPR, a mais veemente é o facto de termos 10 provas das quais os pilotos escolhem oito para pontuar sete, acho que este é um ponto que deve ser eliminado definitivamente para o futuro, porque para além de serem provas a mais para a nossa realidade, permite a dispersão completa das inscrições dos pilotos e haverá ralis em que os principais candidatos ao titulo não correrão uns contra os outros e isso é péssimo. Mas mesmo péssimo para o campeonato. Já o disse várias vezes, portanto acho que é uma boa oportunidade para eliminar isto de vez”
“Para 2020, mal tenhamos uma visibilidade de quando é que podemos prosseguir com o campeonato, o meu ponto de vista é muito simples. Nós já fizemos o Rallye Serras de Fafe e Felgueiras, e acho que devemos acabar a época de ralis na mesma altura em que acabamos todos os anos, porque pior do que querermos recuperar do prejuízo é darmos cabo do campeonato de 2021. Isto, adaptado à realidade das empresas e das marcas, nós não podemos comprometer 2021. Isso empurra-nos para fazer três provas em terra e três em asfalto. Contando já com o Rali de Portugal.
Fazíamos seis provas, corríamos todos contra todos, era justo e não tínhamos um calendário, assim tão desocupado como isso, porque não vamos ter muitos meses para o fazer. Claro que para isso têm que ser tomadas opções e essas têm que ser tomadas agora.
Para 2021, eu aproveitava já para pensar também no calendário, que eu acho que não pode ter mais do que oito provas, se é deitado um resultado fora, desvalorizo um bocadinho, pois quanto a isso há argumentos a favor e contra.
Acho que o mais importante é que os mesmos concorrentes estejam nas mesmas provas a competir, porque isso é que dá competitividade.
Portanto este ano seis, e para o ano não mais do que oito” disse Sérgio Ribeiro, que também é de opinião que as provas internacionais terão sempre que fazer parte do campeonato: “Há provas para mim, que se pudesse escolher, teriam sempre de estar no figurino e depois teria de se escolher. Há uma coisa muito importante. É que há muitas pessoas, stakeholders, ligados a este campeonato, é a federação, os clubes, mas há outra parte muito importante que são os pilotos, as marcas e os patrocinadores, que raramente são ouvidos nesta matéria.
E que no fundo, são quem investe neste setor. Temos que ter noção que não podemos agradar a gregos e a troianos, o que é certo é que se no limite as marcas e os patrocinadores, não tiverem um formato de campeonato que permita investimento para ter retorno, tudo o resto é apenas filosofia. E filosofia não resolve o problema. Resolve outros, mão não resolve este do CPR.
Por exemplo, não me cabe na cabeça que nós continuemos a ter um CPR que nós queiramos que os OCS apoiem e acompanhem e que tenham muito público e muita adesão mas depois, Porto e Lisboa estão fora do calendário, como é que isto é possível? É uma coisa que me faz muita confusão. Não há racional nenhum económico e de promoção do setor e do campeonato que consiga responder a uma coisa destas.
Se há problemas em fazer ralis nestas zonas por questões de segurança, então que se regulamente isso, agora, nós temos que trazer mais público ao CPR nem que para isso se tenham que fundir provas. Há ralis em concelhos uns ao lado dos outros. Que façam super especiais nas grandes cidades, para atrair as pessoas, que se pense nisso e por fim que se invista a sério na promoção do campeoanto. Porque enquanto não se fizer um investimento a sério na promoção do CPR, não se vai colher no futuro. Temos que semear para colher.
Estarmos-nos a queixar que os grandes OCS não apoiam, os grandes patrocinadores não se interessam pelos ralis, não adianta nada, temos que fazer é ao contrário, temos que promover o espetáculo maravilhoso, que é o que temos. Híper competitivo na realidade de hoje, com várias marcas e pilotos de grande talento a correr uns contra os outros, nos últimos três anos tivemos campeonatos que se decidem na ultima prova e quase na ultima especial, sempre, e que nós não consigamos promover de modo a que todos os atores deste palco consigam continuar a investir nisso, porque senão, vai haver um dia, em que as marcas, os patrocinadores, etc, vão abandonar de vez os ralis e ficamos nós sem poder usufruir do desporto que gostamos. É preciso olhar muito a sério e com muita urgência para isto”, disse Sérgio Ribeiro.