Fórmula 1: Stroll revela a estratégia da Aston Martin
Por Jorge Girão
Os tempos não são fáceis para a Aston Martin, tendo corrido o risco de ficar sem liquidez, mas Lawrence Stroll estabilizou a companhia e garante que estará presente na Fórmula 1 em 2021, uma vez que a categoria máxima do automobilismo é de importância central para a sobrevivência da marca.
A marca de Gaydon já não estava saudável financeiramente e com a pandemia da COVID-19 as perspectivas agravaram-se, com um relatório interno a apontar para que a companhia ficasse sem liquidez num espaço de um ano.
Em 2019 as baixas vendas – caíram mais de vinte porcento – e os elevados custos de pesquisa e desenvolvimento deixaram o construtor numa situação difícil, tendo sido necessário recorrer a novos investidores.
Foi aqui que apareceu Stroll, que encabeça o Yew Tree Consortium, investindo duzentos e dez milhões de euros no final de Janeiro contra 16,7% das acções da Aston Martin Lagonda.
Agora, face às dificuldades financeiras pelas quais passa a companhia, o canadiano e os seus associados investiram mais quase trezentos milhões de euros, ficando Stroll com o cargo de Presidente Executivo do grupo.
O canadiano fez fortuna no meio da moda, tendo trazido para a Europa a marca Ralph Laurent e, posteriormente, a Tommy Hilfiger.
Em 2003, adquiriu o controlo da Michael Kors por cento e trezes milhões de euros, vendendo o grupo que controlava, a Sportswear Holdings, em 2004, o que lhe permite hoje ter uma fortuna avaliada em 2,38 mil milhões de euros.
Paralelamente, Stroll sempre foi um apaixonado por automóveis e corridas, tendo investido parte do seu dinheiro em carros clássicos da Ferrari e chegado mesmo a assumir o papel de patrocinador de equipas de Fórmula 1, tendo a Lotus e a “Scuderia” exibido os logotipos da Tommy Hilfiger.
Nos últimos anos o seu envolvimento no desporto automóvel tem vindo a crescer, primeiro com o financiamento da carreira do seu filho – Lance Stroll – e, em 2018, com a compra da Force India, que se transformou em Racing Point.
O passo mais recente foi adquirir parte da Aston Martin, uma decisão alimentada pela sua paixão pelos automóveis e automobilismo, o que, no entanto, como é característico nos bilionários, não é um salvo-conduto para perder dinheiro. “O processo de investir nesta fantástica marca de automóveis exigiu toda a minha atenção e energia por um número de meses. houve algumas noites sem dormir. Paralelamente, foi um dos mais excitantes negócios em que alguma vez estive envolvido. Os carros são a minha paixão, uma grande parte da minha vida, e a Aston Martin sempre teve um lugar especial no meu coração. Estar aqui a anunciar que um acordo foi, finalmente, alcançado, é um privilégio enorme e um dos momentos de maior orgulho da minha carreira. Com todos os documentos finalizados, posso agora focar a minha atenção em implementar a estratégia para tornar esta extraordinária marca ainda mais bem-sucedida nos próximos anos”, afirmou o canadiano.
Desde que foi aventada a possibilidade de o investidor de sessenta anos adquirir parte da Aston Martin que foi apontado que a Racing Point seria rebaptizada com o nome do construtor de Gaydon e, paralelamente, este terminaria o seu contrato de patrocínio à Red Bull, que se conclui no final do presente ano.
Apesar das dificuldades financeiras pelas quais passa a Aston Martin, Stroll garante que o plano original é para manter, sublinhando que o mundo dos Grandes Prémios é o palco certo para o construtor. ”Uma marca com o pedigree e história da Aston Martin precisar de estar a competir ao mais alto nível do desporto automóvel. Penso que é a coisa mais excitante que aconteceu na Fórmula 1 recentemente e é incrivelmente excitante para todos os accionistas da categoria, sobretudo para os adeptos. Não consigo lembrar-me de um melhor nome para uma equipa de Fórmula 1”, enfatizou o canadiano.
Com interesses na marca inglesa e na Racing Point, rebaptizar a estrutura de Silverstone com o nome do construtor britânico faz todo o sentido para Stroll, dado que com um nome tão forte, será mais fácil angariar novos patrocinadores para o projecto de Fórmula 1.
Mas a sua ambição vai muito além disso, pretendendo utilizar a categoria máxima do desporto automóvel como plataforma mundial para incrementar as vendas da Aston Martin. ”O nosso investimento estratégico coloca a Fórmula 1 como pilar central da estratégia de marketing global e faz todo o sentido rebaptizar a Racing Point com este propósito. A Aston Martin tem vindo a competir de forma muito bem-sucedida em diversas classes do automobilismo ao longo da sua história, mas agora temos a possibilidade de criar a sua equipa oficial na Fórmula 1. O destaque global da Fórmula 1 não tem paralelo e será preponderante para elevar o nome da Aston Martin nos nossos mercados-chave”, salientou o canadiano.
No entanto, a estratégia de Stroll não se fica por aqui.
Com um plano ambicioso para lançar novos carros – que passam por um SUV de luxo e uma gama de desportivos de motor central-traseiro – o canadiano pretende realizar com a sua equipa de Fórmula 1, o mesmo que a Aston Martin fazia com a Red Bull, com quem manteve uma parceria técnica nos últimos anos e de onde nasceu o super-desportivo Valkyrie. “Esta é outra importante parte da nossa estratégia. A Fórmula 1 não só eleva a marca, mas também abre a oportunidade de transferência de tecnologia. Estou muito entusiasmado por perceber que a tecnologia pode ser filtrada a partir do programa de corridas para os carros de estrada. Isto será particularmente relevante para os carros de motor central-traseiro que serão lançados no futuro. Haverá uma colaboração genuína para garantir que os nossos carros de estrada partilharão o ADN do nosso sucesso em pista”, avisou Stroll.
O canadiano, porém, sabe que, para tudo isto funcionar, os resultados em pista terão de aparecer para catalisar as vendas nos stands. A Racing Point tem vindo a ser alvo de um profundo plano de investimento, beneficiando de um alargamento da sua estrutura de Silverstone.
Stroll espera poder ver um salto competitivo da sua equipa já este ano – e os primeiros sinais são positivos, podendo estar à frente do segundo pelotão – mas vai abrir os cordões à bolsa de modo a que, quando se realizar a metamorfose que a transformará em Aston Martin, a Racing Point esteja pronta para fazer jus ao seu novo nome – o sexto da sua história desde que a estrutura se estreou na Fórmula 1 em 1991 como Jordan Grand Prix. “O grupo de homens e mulheres de Silverstone são verdadeiros competidores e sua determinação e espírito são das principais razões pelas quais investi na equipa. Depois de trinta anos, merecem esta oportunidade de representar uma marca lendária. Estamos a investir continuamente na equipa para dar a todos os recursos exigidos e veremos os benefícios desse esforço este ano, como Racing Point. Com o nome da Aston vem mais pressão e expectativas. Teremos de ser competitivos desde o início. Mas não tenho dúvidas de que a equipa de Silverstone assumirá o desafio e fará a Aston Martin orgulhosa”, concluiu Lawrence Stroll.
Os planos do canadiano são claros e o seu passado no mundo dos negócios dão a garantia de que o caminho do sucesso da Aston Martin – quer como construtor, quer como equipa de Fórmula 1 – pode ser mesmo este, mas hoje vivemos um mundo diferente e o regresso à normalidade parece estar ainda distante.
Vamos esperar que o bilionário e seus pares tenham o músculo para ultrapassar a tempestade actual e que o construtor de Gaydon possa singrar nas pistas e nos stands de vendas…