Filipe ‘Fifé’ Fernandes: 45 anos de carreira… e a ‘contar’

Por a 24 Março 2020 10:40

Filipe ‘Fifé’ Fernandes completa esta temporada 45 anos de carreira, não falhando um único ano como ‘pendura’ desde… 1974. Podíamos escrever aqui muita coisa sobre ele, mas como isso seria mais do mesmo, vamos recordar algo diferente na sua longa carreira, o momento em que Filipe Fernandes tirou o capacete e concorreu ao Parlamento. O popular “Fifé”, lendário navegador de ralis passou a contar notas para os políticos nacionais e que melhor conselho do que aquele que dá aos pilotos mais impetuosos – “não te estiques!”

Filipe Fernandes concorreu a mais um cargo e ‘vestiu’ mais uma sigla. O auto-denominado P.G.L (Puto Giro de Lisboa), concorreu nas eleições legislativas de 2005 ao Parlamento pelo círculo eleitoral da Guarda nas listas do Partido da Nova Democracia, de Manuel Monteiro.

Apesar das suas possibilidades de ser eleito terem sido mais pequenas do que a bagageira de um Mini, Fifé não se coíbiu, na altura, de fazer um vasto rol de promessas eleitorais, especialmente se, como esperava, fosse convidado para Ministro do Desporto.

Politiquices à parte, onde o Fifé já conquistou uma maioria absoluta, que deixaria o Estaline a roer-se de inveja, é na popularidade que granjeou no desporto automóvel nacional. De acordo com todas as sondagens, Fifé é o mais antigo navegador de ralis no ativo com um total de 395 mil ralis (542 provas como navegador, 12 provas como piloto, 319 ralis, 111 ralis TT, 81 ralis de regularidade, 2 circuito/kart, 41 provas diversas) e mais de 10.000 pilotos “navegados” (159), entre os ralis e o TT. Mas 45 anos são pouco tempo, então vamos lá a contas, até nos perdermos…

Fifé está ligado à competição automóvel desde 1972 «Comecei por fazer fotografia no “Volante”, tinha então 16 anos. Fui para lá pela mão do Adriano Cerqueira, e integrado numa equipa de luxo.» Numa época em que a Foto Ávila era a única empresa que fazia fotografia de competição automóvel, Fifé foi um dos primeiros fotógrafos a tempo inteiro nos automóveis «Depois continuei a carreira e trabalhei em títulos como a “Turbo”, o “Motor” a “Máquina” e até em jornais de música como o “Musicalíssimo” que na altura era dirigido pelo Fernando Assis Pacheco, um autêntico senhor.»

A proximidade com o mundo da competição automóvel permitiu também a Filipe Fernandes levar a “objectiva” para o interior das corridas, uma paixão que iniciaria em 1974, data da sua estreia como navegador no Rali do Benfica: «Foi com o meu amigo José Alonso num Fiat 128, treinámos aquilo muito mal e acabámos perdidos por causa de um erro de percurso.» Estreia pouco auspiciosa, mas que meteu o “bichinho”.

Depois foi a vez do Fifé se agarrar à “rodela”, primeiro com uma passagem pelo karting em 1977 e 1978, e depois mais a sério nos iniciados, onde correu em quatro ralis. «O meu baptismo de fogo foi em 1979 no Rali de Beja, com um Escort, que era do Giovanni Salvi e navegado pelo Jaime Silvestre. A estreia também não foi muito auspiciosa, porque estava à frente e bati na última curva do último troço. Ainda fiz mais três ralis nos iniciados, onde tive como navegadores o Alberto Marques, o Mário Guerreiro e o Duarte Cancella de Abreu.

Andava sempre no grito e enquanto andava, andava na frente, mas os meus adversários já nem sequer contavam comigo, deixavam-me ir a abrir, porque já sabiam que antes daquilo acabar eu metia o macho ao pendurão.»

Assim a especialização e o doutoramento “honoris causa” foram tirados no banco do lado, porque lá diz a música, navegar é preciso. Aqui temos um navegador que é espectador privilegiado das competições de estrada ao longo de 45 anos, tendo esbracejado notas para três gerações pilotos, tanto no Nacional de Ralis como no TT, ao lado de nomes como Giovanni Salvi, Mário Silva, Joaquim Santos, “Tchine”, Ivo Cruz, Manuel Rolo (com quem mais ralis fez), Bento Amaral, Pedro Azeredo, Santinho Mendes, Carlos Barbosa (atual presidente do ACP), Horácio Franco, Gustavo Louro, entre muitos outros.

Parámos nos 99, e a questão inevitável é qual o preferido: «É muito difícil escolher o piloto com quem mais gostei de andar, mas não posso deixar de falar daqueles que mais me encantaram no estilo de condução. O Lamy Viçoso (pai), o Giovanni Salvi e o Carlos Carvalho, foram os pilotos que me encheram as medidas pela excelente relação humana e pela forma terrivelmente eficaz como pilotavam.»

Casamento a bordo

A relação entre um piloto e um navegador é quase como um casamento, defende Filipe Fernandes «porque temos que nos conhecer muito bem. Eu recordo-me que com o Mário Silva e o Manuel Rolo, haviam trocas de olhares dentro do carro que diziam tudo. É muito importante o entrosamento. Não há bons nem maus navegadores, há apenas entrosamento Posso ser um bom navegador para um piloto e mau para outro.»

Além do talento natural, há outra qualidade que Fifé admira nos “seus” pilotos – o trabalho: «Pilotos trabalhadores tive vários, nomeadamente o Miguel Campos, o Bica, o Miguel Cristóvão, que era até a exaustão, isto só para falar dos mais antigos, já que depois desses há mais 15 anos de nevegação….

Mas havia um piloto há muitos anos que foi o pioneiro da pilotagem de reconhecimento, que era o António Diegues, que acampava nos troços e que já na época fazia vinte ou trinta passagens pelos troços.»

Fifé conquistou há 16 anos, em 2004, o seu primeiro título, quando já tinha sido por diversas vezes vice-campeão, ajudando vários pilotos a conquistar os respectivos títulos, tanto em Ralis como no TT. «Não fazia as épocas inteiras, porque tinha outros compromissos, nomeadamente no tempo em que trabalhei na equipa do Pêquêpê, mas os títulos nunca foram o mais importante, porque sempre fiz isto por gozo.» Em 2015, na companhia do seu amigo Fernando Peres, ganhou a Taça FPAK de Ralis de Terra.

Fifé-com-Tchine-no-Rali-de-Portugal

O desmaio no 240Z

Além do grave acidente no Rali de Portugal de 1983, Fifé recorda um susto que deu direito a desmaio: «Uma vez num rali em Espanha, com o Mário Figueiredo no Datsun 240 Z, apanhei um grande cagaço. O Jorge Mira Amaral que era o navegador dele adoeceu, e eu que estava lá a fazer a reportagem, fui convocado em cima da hora. Tinha muito pouca experiência de ralis. Uma noite fomos para o troço tirar notas e de repente caíu um daqueles nevoeiros cerradíssimos, e passámos a tirar notas pelo Halda. Na segunda passagem já bem depressa iniciámos uma parte que nunca mais me esqueço – 500 metros, lomba frente fundo, mais 400 com gancho à direita – na recta antes do gancho estava a ver que o gajo nunca mais travava, então dei-lhe um toque no capacete e depois desmaiei e só acordei no fim do troço. Era um piloto brilhante, um dos nossos melhores, e só tive pena de não ter feito mais ralis com ele.»

Fifé foi piloto nos Iniciados em 1979

BI

Nome: Filipe Manuel Vaz Fernandes (Fifé)

Data de Nascimento: 27 de Fevereiro de 1957 (Signo Peixes)

Inicio da carreira desportiva como navegador: Rali do Benfica 1974

Primeiro carro de competição: Fiat 128

Primeira vitória: Rali Rota do Sol 1996 com Fernando Silva (Porsche 911 Carrera RS)

Primeira prova como piloto: Rali do Benfica 1979 (Ford Escort RS 2000) com Jaime Silvestre

Títulos: 1x Campeão Nacional (Clássicos 2004), 1x Taça FPAK Ralis de Terra, 9x Vice-Campeão e 4x Terceiro Classificado.

Fifé Ao lado de Santinho Mendes no Seat Toledo Marathon

Marcos da carreira do Fifé

1974 – Estreia no Rali do Benfica com José Alonso (Fiat 128)

1978 – Primeiro Rali de Portugal com Pais da Silva (Opel 1904 SR)

1979 – Estreia como piloto no Rali de Beja (Ford Escort RS 2000)

1983 – Grave acidente no Rali de Portugal

1987 – Ajuda Manuel Rolo a conquistar o Nacional de Grupo N (Renault 11 Turbo) *

1993 – Estreia numa equipa oficial com João Bica (Júnior Team da Peugeot)

1996 – Ajuda António Jorge a conquistar o Nacional de Grupo N *

1996 – Primeira vitória à geral com Fernando Silva no Rota do Sol (Porsche 911)

1997- Ajuda Miguel Campos a conquistar o Nacional de Grupo N *

1998 – Primeira vitória à geral no Rali TT da Guarda com Santinho Mendes (Seat Toledo Marathon)

2002 – Campeão regional do Açores com Gustavo Louro **

2004 – Campeão Nacional de Clássicos Ralis com Fernando Silva (Porsche 911)

2015 – Taça FPAK Ralis de Terra, com Fernando Peres (Mitsubishi Lancer)

* Não cumpriu todo o campeonato

** O título de navegadores não lhe foi atribuído por não ser residente

Fife A alegria de andar ao lado de Quim Alberto

CURIOSIDADES

Três irmãos – Navegou, Carlos, Paulo e o João Carvalho

Pais e filhos – Navegou pais e filhos como Augusto Magalhães e o Bruno Magalhães; José Fino no TT e Frederico Fino; o Santinho Mendes e os filhos

dele (José e Vítor Mendes).

A estreia foi com José Alonso em 1974

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