Principais equipas do CPR: Lutar contra o vírus, depois contra o seu impacto…

Por a 22 Março 2020 11:08

Por José Luís Abreu

FOTOS ZOOM Motorsport/António Silva; AIFA/Jorge Cunha

É indesmentível que a sociedade em geral e o desporto motorizado em particular passam por momentos muito difíceis, de grande indefinição, sendo neste momento impossível saber se, quando tudo isto terminar e voltarmos à vida ‘normal’, quão ‘normal’ ela estará. Seja como for, e com toda a humanidade a lutar contra um inimigo invisível por tempo para já indeterminado, fomos saber junto dos principais protagonistas do CPR como estão a reagir a todos estes acontecimentos.

Sports&You (José Pedro Fontes): “Esperar desenvolvimentos, mas sempre tendo a saúde como maior prioridade”

Sendo a Sports&You uma empresa de serviços totalmente dedicada ao desporto automóvel, que está envolvida em todas as principais disciplinas do Motorsport, distribuidora oficial Citroën Racing em Portugal e que dá ainda apoio organizativo e logístico à Peugeot Rally Cup Ibérica, tem neste momento pela frente desafios importantes tendo em conta a diversidade de situações que terá de resolver. Para já, e segundo nos disse José Pedro Fontes, piloto da Citroën Vodafone Team e também um dos sócios da Sports&You: “Neste momento temos a Sports&you encerrada, com as pessoas que podem trabalhar de casa a trabalhar, como a área de venda de peças, comercial, suporte técnico e administrativa. Tomámos essa decisão ainda a meio de março, com o objetivo de contribuir, dentro do que nos é possível, para ultrapassarmos juntos esta situação. Esperamos agora os desenvolvimentos dos próximos tempos para decidirmos como iremos fazer, mas sempre tendo a saúde como maior prioridade”.

“Estamos á espera das decisões governamentais para percebermos que atividade podemos fazer nas próximas semanas, caso seja nos permitido trabalhar mesmo que á porta fechada e depois de passar estas próximas semanas mais críticas, esperamos começar a montagem dos novos Peugeot 208 Rally 4, pois a atividade normal da equipa de corridas vai demorar mais tempo”, começou por nos dizer José Pedro Fontes que tem pela frente muito trabalho na construção dos novos Peugeot 208 Rally4 da Peugeot Rally Cup Ibérica, competição que para já não se sabe se pode arrancar no Rali de Portugal: “Precisamos de entregar 20 unidades para o primeiro rali”, disse Fontes.

Outra das questões importantes que há pela frente tem a ver com o momento em que será seguro reatar as provas. Neste momento ninguém sabe o que se irá passar, por exemplo se o CPR pode arrancar em junho (provavelmente na melhor das hipóteses, já que dizem que o pico do coronavírus deve ser em maio), Fontes mostra-se cauteloso: “Temos que esperar para perceber o que se vai alterar no calendário, mas poderemos que ter que ajustar o calendário para menos provas do que as atuais dez e caso sejam oito ou menos ser obrigatório a que todos façam o mesmo número de provas, precavendo a situação de se já se ter efetuado uma prova. É também muito importante assegurar-se que não vamos prejudicar o campeonato de 2021, como por exemplo deixarmos prolongar o campeonato de 2020 para início de 2021, essa situação seria muito difícil gerir com os patrocinadores e os seus orçamentos anuais”, explicou, alertando para um fator que faz todo o sentido e que é importante acautelar.

De resto, como se antevê, de alguma forma o CPR vai ser afetado, bem como o desporto automóvel em geral: “Teremos seguramente impacto no nosso desporto, é um desporto que precisa de investimento de patrocinadores e seguramente a economia vai ser afetada e consequentemente os respetivos orçamentos de marketing, mas acredito e espero que todos os intervenientes irão fazer tudo que esteja ao seu alcance para minimizar as consequências desta situação única, e tudo farão para continuar a apoiar todas as atividades”, concluiu.

ARC Sport (Augusto Ramiro): “Não faz sentido correr riscos, é a saúde e a vida das pessoas que está em causa”

Ainda que em graus e escalas diferentes todo o mundo do Motorsport luso está a ser afetado por toda esta situação, e a ARC Sport não é exceção. Tendo a seu cargo vários dos principais protagonistas do Campeonato de Portugal de Ralis e também do Todo-o-Terreno, a ARC Sport, uma equipa que nasceu quase há vinte anos, em 2001, também teve que parar a sua atividade. De acordo com o que nos disse Augusto Ramiro, um dos fundadores e dono da equipa: “Após reflexão e análise do que está acontecer no nosso país e não só, decidimos que o mais sensato seria parar a atividade por completo, o que fizemos.

Colocámos em prática planos de contingência que minimizam o risco, sendo que na nossa área de negócio não faz sentido correr riscos, não podemos esquecer que é a saúde e a vida das pessoas que está em causa” começou por dizer Augusto Ramiro, que para já entende ser prematuro falar da questão do recomeço das provas, pois para já ninguém saber como vai evoluir toda a situação da COVID-19 em Portugal: “Acho muito cedo para se dar uma opinião em relação a isso, até porque isso depende de vários fatores”, disse.

Já quanto ao possível impacto que toda esta situação pode ter no desporto automóvel nacional: “Para começar já foram adiadas várias provas, e só isso já é negativo. Depois, a conjuntura que estamos a viver vai ter impacto negativo na economia e isso irá ter, naturalmente, reflexos no desporto automóvel”.

The Racing Factory (Aloísio Monteiro): “Focados no bem estar das pessoas, das suas famílias”

A The Racing Factory não nasceu há muito tempo e quis o destino que cedo se deparasse com este momento tão complicado, mas Aloísio Monteiro é um empresário muito experiente e está a responder a esta situação: “Para uma empresa jovem como a nossa não podemos dizer que esta seja uma situação ideal. Contudo, estamos confiantes que num prazo de 30 a 60 dias a situação regresse à normalidade. Tínhamos para este ano previsões muito animadoras que acreditamos que se possam manter, numa perspetiva de um calendário mais apertado mas completo, de maio em diante” começou por dizer Aloísio Monteiro que explicou como tudo se está a processar na fábrica: “Como qualquer empresa, depois de termos tido conhecimento desta pandemia tomámos as devidas medidas para reduzir riscos internos. A The Racing Factory, por agora, continua a laborar ainda que com equipas mais reduzidas.

Logo desde o início desta situação, os colaboradores que podem efetuar tele-trabalho estão a trabalhar a partir de casa. A equipa de mecânicos foi divida em pequenas equipas (dois a três elementos) para evitar grandes aglomerados. Estão proibidas as visitas às nossas instalações, bem como deslocações dos nossos colaboradores a outras empresas”, explicou.

Quanto ao possível calendário do CPR, e mesmo não sabendo o que se irá passar, por exemplo se a competição pode, por exemplo, arrancar em junho, Aloísio Monteiro entende que pode haver espaço para todas as provas, tudo dependendo, claro, do momento do recomeço: “A nossa opinião é que há espaço no calendário para realizar todas as provas. Logicamente, isso levará a um esforço redobrado das equipas e organizações mas pensamos que será o caminho a seguir” disse.

Por fim, e quando o questionámos sobre o possível impacto que pode haver no desporto automóvel nacional, Aloísio Monteiro relembra que o importante é a saúde e vida das pessoas: “A posição da The Racing Factory é que neste momento temos estar mais focados no bem estar das nossas pessoas, das suas famílias e dos nossos clientes, e ter sempre um pensamento positivo que toda a situação vai ser ultrapassada num curto espaço de tempo. Tudo voltará à normalidade rapidamente, minimizando os riscos e perdas que estamos todos a suportar nos dias que correm”.

Racing4You (Manuel Castro): “São tempos difíceis, mas o dever cívico fala mais alto”

Manuel Castro e a sua Racing4You já passaram por momentos muito difíceis nos últimos anos, por exemplo quando o seu Hyundai i20 R5 ardeu no Rali de Portugal de 2017, mas tudo tem conseguido ultrapassar e a sua equipa cresce a olhos vistos de ano para ano. Logicamente, como a todos os outros esta situação vem pressionar muito o dia a dia, mas há-de passar: “Pelo facto de ser uma equipa apenas dedicada a competição já é normal trabalhar com as portas fechadas, no entanto obviamente estás próximas três semanas estaremos encerrados para fazermos a segura quarentena” começou por dizer Manuel Castro, que curiosamente já tinha os carros prontos… para o Rali de Mortágua: “Os carros estão já prontos para ir para a estrada pois era essa a nossa intenção, de preparamos Mortágua da melhor maneira. Mas com as alterações previstas resta-nos aguardar pelos próximos desenvolvimentos para podermos redesenhar o calendário desportivo e fazer aquilo que mais gostamos.

As próximas provas foram já oficialmente adiadas. Infelizmente o Rali de Portugal será também cancelado ou adiado, mas esta última parece me ser difícil pela disponibilidade das datas. Como tal e espero que se regresse minimamente à normalidade apenas para Amarante ou Castelo Branco” disse o piloto/Chefe de Equipa que sabe que tudo isto terá impacto no desporto automóvel nacional: “É um momento bastante complicado para as entidades competentes, mas também para todos os envolvidos, profissionais da área, pilotos, sejam profissionais ou amadores, para os clubes e todas as empresas que estão envolvidas nos diversos projetos.

Não será fácil este ano de 2020, e espero que de facto se todos cumprirmos com o nosso dever, seja possível um regresso a ‘normalidade’ por altura do verão, pelo menos assim se vê nos diversos apelos das entidades responsáveis da sociedade. Serão certamente tempos difíceis, sem podermos voltar ao terreno, mas o dever cívico fala mais alto e o importante é todos termos consciência que esta pandemia e consequentes crises que possam chegar em seguida afetam-nos a todos. Mas se remarmos todos para o mesmo lado, mais depressa podemos tentar voltar ao nosso quotidiano…”

Pedro Meireles: “Foco e preocupação está na saúde dos meus e de todos os meus colaboradores”

Pedro Meireles, para além de piloto é um empresário do ramo automóvel, e por isso tem outra visão quanto aos problemas que poderá ter pela frente e está, naturalmente preocupado com o impacto que tudo isto terá na vida das pessoas: “Algo deste género já há muito que era anunciado. Nós nunca achamos que vai acontecer e se acontecer achamos que não nos tocará, mas aconteceu. Resta-nos ser conscientes e fazermos tudo aquilo que pudermos. Muitas vidas já se perderam, e vão perder, o que é uma tragédia. Temos que saber tirar ilações disto, e que tudo isto nos faça refletir naquilo que realmente é importante na vida, porque muitas vezes esquecemos-nos disso na turbulência do dia a dia”, começou por nos dizer Pedro Meireles, que quanto à possiblidade de recomeçarem as provas, relembra que o importante é a vida das pessoas: “Quanto ao calendário do CPR, parece-me a mim que nem em junho poderemos realizar ralis. Antes de mais, acho que os ralis, como tudo, devem passar para segundo plano. A vida das pessoas é o mais importante, portanto só quando estiverem reunidas as condições de segurança necessárias se devem realizar. Se já com o ano completo disponivel é difícil fazer um calendário, ainda por cima este ano com 10 provas, que fará assim. Acho que vai ter que haver uma reestruturação das regras de provas a pontuar, porque não se vão realizar todas de certeza, é imperativo que isso se faça” disse Pedro Meireles que explicou o seu ponto de vista quanto ao impacto que tudo isto pode ter no desporto automóvel nacional: “O impacto no desporto automóvel vai ser logicamente negativo, as equipas profissionais que vivem do desporto automóvel vão ficar sem ‘trabalho’, embora não haja muitos, mas os pilotos profissionais também vão sofrer. Os clubes que também tem os seus custos fixos se não realizarem provas também vão ser penalizados, é mau para todos”.

Como se sabe, Pedro Meireles é empresário do ramo automóvel, sendo um dos administradores do Grupo M&Costas, S.A, que representa há mais de 50 anos as marcas Volkswagen, Skoda e Audi, e mais recentemente, a SEAT e Hyundai, nos distritos de Braga e Viana do Castelo, não sabe, para já o imapcto que tudo isto pode ter: “O impacto nas minhas empresas vai ser, com certeza, negativo. A dimensão desse impacto é que ainda não sabemos, vai depender de quanto tempo demoraremos a voltar à ‘normalidade’ e às medidas económicas que serão tomadas para que o consumo volte a ser o que era. Claramente que o meu foco e preocupação está na saúde dos meus e de todos, e nas empresas do Grupo e nos meus colaboradores, mas tenho a certeza que vamos ultrapassar isto”.

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