WRC, Rali do México: Sébastien Ogier estreia-se a vencer com a Toyota

Por a 15 Março 2020 01:58

Sébastien Ogier/Julien Ingrassia (Toyota Yaris WRC) estrearam-se a vencer com a Toyota, que se torna na quarta marca diferente com que o francês vence ralis. Estreou-se a vencer com a Citroën (2010), fê-lo depois com a Volkswagen (2013), Ford (2017) e agora Toyota (2020).

Um triunfo merecido, num rali que foi encurtado devido ao COVID-19, de modo a que as equipas, cujos elementos são maioritariamente europeus, possam regressar a casa sem problemas. Com mais de 75% do percurso realizado, foram atribuídos pontos totais.

Segundo lugar para Ott Tänak/Martin Järveoja (Hyundai i20 Coupe WRC), com Teemu Suninen/Jarmo Lehtinen (Ford Fiesta WRC) a completar o pódio.

Foi interessante o primeiro rali de terra do ano. Depois de um Monte Carlo sempre diferente e de uma Suécia atípica. Não houve grande luta na frente devido aos contratempos mecânicos e azares de alguns dos favoritos, mas houve luta por posições de destaque, naquela que foi a única prova motorizada de grande relevo que sobreviveu este fim de semana ao coronavírus… Ironicamente, a penúltima super especial chamava-se Rally Guanjuato… Corona!

A propósito do vírus, Sébastien Ogier disse no final que esta vitória não lhe sabe como as outras, porque esta prova não se devia ter realizado, e que espera não terem trazido problemas para os mexicanos, que ainda não foram atingidos pelo COVID-19 como sucede na Europa.

Ogier, o que quer, agora não é festejar, mas sim ir para casa tomar conta da família…

Ogier seguro

Sébastien Ogier venceu pela primeira vez com a Toyota, mas não lutou ainda taco a taco pelo triunfo até ao fim. Limitou-se a estar em bom nível e a aproveitar como só ele sabe os erros e azares dos ‘outros’. O francês chegou à liderança na PE4, o troço em que Ott Tanak deu um toque e perdeu 45.9s, convertendo nessa altura uma desvantagem de 10.9s para o estónio, num avanço de 5.3s para Teemu Suninen, que foi alargando facilmente, terminando o primeiro dia de prova 13.2s na frente do finlandês. Quando Thierry Neuville teve um problema mecânico na PE9, de repente o francês ficou com os seus mais fortes adversários, Ott Tanak e Elfyn Evans a mais de trinta segundos, podendo a partir daí não arriscar tanto.

Conseguiu manter uma margem confortável e mesmo que o rali não tivesse sido encurtado dificilmente teria perdido esta prova. Com este resultado, passa a comandar o Mundial de pilotos, quando estão completadas três provas. Com o Rali da Argentina cancelado, Portugal é a próxima prova, se o COVID-19 deixar…

Tanak começou bem, mas…

Segundo lugar para Ott Tänak/Martin Järveoja (Hyundai i20 Coupe WRC), que depois da mesma posição na Suécia, começa a dar mostras de boa adaptação ao Hyundai. Só que, ainda não está tão à vontade com o carro coreano como esteve com o Yaris WRC com que foi campeão.

O momento chave do rali deu-se no primeiro dia, sexta-feira, quando Sébastien Ogier/Julien Ingrassia (Toyota Yaris WRC) terminaram 13.2s na frente de Teemu Suninen/Jarmo Lehtinen (Ford Fiesta WRC) numa tirada em que Thierry Neuville/Nicolas Gilsoul (Hyundai i20 Coupe WRC), Dani Sordo/Carlos del Barrio (Hyundai i20 Coupe WRC) e Esapekka Lappi/Janne Ferm (Ford Fiesta WRC) abandonaram, enquanto Ott Tänak/Martin Järveoja (Hyundai i20 Coupe WRC), deram um toque e perderam 45.9s. Foi aí que Ogier viu o caminho aberto para a vitória…

Ott Tänak liderava o rali quando deu um toque na PE4, depois de ter ‘despachado’ Ogier com 10s em apenas um troço, mas abusou na especial seguinte e perdeu aí a grande maioria das hipóteses que tinha para lutar pela vitória no rali. Venceu a primeira especial da manhã e com isso chegou à liderança, mas tudo se precipitou na PE4 quando saiu largo numa curva, deu um toque e danificou a suspensão traseira do seu Hyundai i20 WRC, perdendo 35 segundos e caindo para a oitava posição.

Terminou o dia em quarto depois duma parte da tarde bem diferente em que venceu todos os troços ‘grandes’. Com isso subiu para o quarto lugar, depois de ter passado pelo terceiro, aproveitando, claro, os abandonos à sua frente. O segundo lugar a que chegou foi mesmo um mal menor. Seja como for, Tanak está bem mais adaptado ao carro, e começa a fazer jogo igual com Neuville e Ogier.

Pódio para Suninen

Teemu Suninen/Jarmo Lehtinen (Ford Fiesta WRC) terminaram o Rali do México no pódio, o que já não conseguiam desde o Rali da Sardenha de 2019, em que foram segundos classificados. O finlandês aproveitou bem a sua posição na estrada, começou bem o rali, mas nota-se que continua sem andamento para manter um ritmo forte toda a prova. A espaços, anda bem, mas para lutar com os melhores, precisa andar sempre nos seus limites, e aí os erros aparecem. Desta feita, fez uma boa prova, mas sempre se percebeu que não iria aguentar o segundo lugar que levou da PE2 até à PE17.

Ainda assim, um bom resultado, pois um pódio no WRC não é para qualquer um…

Abrir a estrada ‘tramou’ Evans

Elfyn Evans/Scott Martin (Toyota Yaris WRC) não demoraram muito a perceber que abrir a estrada no México é ‘fatal’ para um bom resultado. No fim do primeiro troço do primeiro dia, El Chocolate, com 31.45 Km, já era sétimo e tinha perdido 25.5s para Tanak. Ainda assim aproveitou o erro de Tanak para subir ao terceiro lugar, mas com Tanak por perto não conseguiu manter a posição. Ainda chegou a pensar-se que podia ficar no pódio, mas o segundo dia não lhe correu nada bem, pois teve problemas com os travões. Apesar da melhor posição na estrada, começou o dia a 20.0s de Suninen e terminou bem mais longe, pelo que foi mesmo um dia mau ainda que Evans tenha terminado a prova contente com a forma como pilotou.

Difícil, mas a um nível elevado

Kalle Rovanperä/Jonne Halttunen (Toyota Yaris WRC) tinham no México uma prova difícil, já que era a primeira vez que corriam no WRC em terra, e o furo lento que sofreram cedo não ajudou nada, pois condicionou-lhes os troços a seguir, já que poderiam ficar sem rodas para se manterem em prova e tiveram de ter cuidado para não furar outra vez. No segundo dia o jovem finlandês ainda fez alguns brilharetes, como o segundo lugar em Las Minas, mas no segundo dia depressa percebeu que não teria andamento para fazer melhor que o quinto lugar, repetindo a posição de Monte Carlo. Na Suécia, foi terceiro.

Longo caminho pela frente

Gus Greensmith/Elliott Edmondson (Ford Fiesta WRC) completaram o top 6 na sua estreia no Rali do México, num World Rally Car. Especialmente no segundo dia de prova o piloto inglês teve muitas dificuldades com a aderência. A sua falta de experiência a este nível é notória sendo também verdade que teve problemas com o acelerador do Ford Fiesta WRC, que justifica alguma coisa, não justifica tudo. Veja-se o que fez Suninen com o mesmo carro, e o finlandês não é um sobredotado. Greensmith tem muito para evoluir. Rovanpera tem menos provas com um WRC e faz muito melhor.

Neuville novamente azarado

Thierry Neuville/Nicolas Gilsoul (Hyundai i20 Coupe WRC) começaram bem o WRC 2020 com o triunfo em Monte Carlo, fizeram um mau resultado na Suécia e ainda pior no México. O belga até começou bem, terminou a primeira manhã em terceiro a 10.3s da frente. Depois fez uma escolha diferente de pneus pensando que pudesse valer a pena no final do dia, mas na nona especial, a segunda que se realizou de tarde (PE 8 foi anulada), um problema elétrico no Hyundai i20 Coupe WRC levou-o ao abandono. Antes, um pequeno toque em que danificou a asa traseira do Hyundai atrasou-o um pouco. Voltou no último dia, andou bem, mas já não valia de nada. Dois maus resultados em três ralis não é bom para as suas aspirações, mas há – espera-se – muito WRC pela frente…

Lappi azarado

Esapekka Lappi/Janne Ferm (Ford Fiesta WRC) foram um dos grandes azarados deste Rali do México, ao desistirem após a PE7 quando eram quartos da geral a 23.9s da frente do rali. Lappi tinha completado a segunda passagem pela especial El Chocolate, quando deflagrou um princípio de incêndio, que acabou por consumir o carro todo. Mas os problemas não foram só para a M-Sport, pois a Hyundai também levou para contar.

Andrea Adamo já tinha antes visto Dani Sordo parar em plena PE7 com problemas de motor no Hyundai, que parece não se ter dado muito bem com o calor do México. Depois de na parte da manhã ter parado para recolocar um tubo do radiador que se tinha solto, o espanhol ficou-se pela sétima especial. Dani Sordo até tinha começado bem a prova, mas os 5m20s que perdeu com o tudo do radiador soltou atiraram-no para a 18ª posição. Recuperou até 13º mas voltou a parar no troço com um problema de motor, desta vez definitivamente.

Ken Block, no seu potente Ford Escort Cosworth ‘híbrido’, com chassis dos anos 90, mas muita peças dos Século XXI, teve um rali terrível. Problemas com o motor logo de início, numa das Street Stage de Guanajuato, sendo que o seu carro parou no primeiro dia com problemas mecânicos. E já não voltou.

Agora, devido ao Coronavírus vamos ter um hiato de, pelo menos, dois meses e meio até ao Rali de Portugal, que se esperava ser realizado. Contudo, a esta distância e com a pandemia do Coronvírus a afetar fortemente a Europa, a esta distância é totalmente impossível prever o que se vai passar nas próximas semanas. Em Portugal, resta lutarmos para ultrapassar o vírus, e regressar depois à normalidade.

Esperemos que a próxima prova do WRC seja o Rali de Portugal, mas certezas nesta altura, ninguém tem…

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