Antevisão do Mundial de Fórmula 1: Há adversários para a Mercedes?
Por Jorge Girão
FOTOS Philippe Nanchino e Oficiais
Arranca no próximo fim de semana em Melbourne a temporada que marca o 70º aniversário do Mundial de Fórmula 1. Estão previstas 22 corridas, mas o GP da China já foi adiado e o COVID-19 pode obrigar a mais alterações. Em termos desportivos, a Mercedes parece partir à frente, mas há ainda muita indefinição.
A Mercedes parte para mais uma temporada com um alvo nas costas, sendo novamente a favorita aos títulos, mas talvez 2020 seja o ano em que Lewis Hamilton sentirá mais dificuldades para revalidar o seu ceptro.
A formação do construtor de Estugarda tem vindo a dominar a Era Turbohíbrida desde que esta teve o seu início em 2014, vencendo todos os títulos em liça e este ano parte, como tem sido habitual, como a equipa a bater.
Os testes raramente são definitivamente conclusivos e basta olhar para o ano passado, quando a Ferrari foi apontada como a favorita para o início da época, para percebermos que os dados que se obtém na pré-temporada são, muitas vezes enganadores.
No entanto, a Mercedes voltou a mostrar o porquê de ter conquistado os últimos doze campeonatos em disputa.
O W11 mostra ser um carro tremendamente eficaz tanto nas mãos de Lewis Hamilton como nas de Valtteri Bottas e sem vícios, apresentando diversas inovações que ficaram na retina de todos os observadores e, sobretudo, na das suas rivais.
O DAS – o sistema que altera a convergência das rodas dianteiras através do movimento longitudinal da coluna de direcção – foi a novidade técnica que andou nas bocas do paddock, mas este sistema, muito embora evidenciando até aonde a Mercedes está empenhada em ir para manter a sua vantagem, poderá nem sequer ser a que mais importância terá na performance do mais recente monolugar de Brackley.
A suspensão traseira, por seu lado, está concebida de forma a que o ar da zona da “Garrafa de Coca Cola” possa circular de uma forma mais livre, aumentando a potência do extractor aerodinâmico e asa traseira, o que permite mais apoio aerodinâmico.
O W11 parece ter tudo para prosseguir a veia vencedora dos seus antecessores, mas nem tudo é um mar de rosas do lado dos “Flechas de Prata”.
A fiabilidade da unidade de potência da Mercedes deixou algumas questões, tendo a equipa do construtor alemão montado três V6 turbohíbridos para completar as duas semanas de testes, o mesmo número que terá para toda temporada de 2020, o que representa mais do dobro dos quilómetros que cobriu em Barcelona.
A Williams passou também por dificuldades, montando o mesmo número de unidades de potência, o que evidencia que os problemas sentidos não questões episódicas, sendo o sistema de lubrificação uma das questões dos V6 turbohíbridos da Mercedes.
Por muito que uma equipa se prepare, mostre ser capaz de inovar e seja competente, existem sempre deficiências e pontos fracos e a fiabilidade parece ser, neste momento, a maior debilidade da Mercedes, tendo a Red Bull e a Ferrari de aproveitar todas as oportunidades, se quiserem bater a equipa que já não é suplantada desde o longínquo ano de 2013.
Tanto a formação de Milton Keynes como a de Maranello abordaram os testes de Inverno com discrição e só no último dia deram uma ideia do seu potencial, muito embora no caso da Red Bull Max Verstappen tenha tentado esconder o verdadeiro potencial do RB16, travando energicamente antes de chegar à linha de meta na sua volta mais rápida, e existam ainda dúvidas quanto ao uso dos modos de motor mais potentes por parte da Ferrari.
No entanto, fora da pista, o comportamento das duas equipas foi diametralmente oposto – de um lado, a formação de licença austríaca mostrou-se confiante e mais empolgada desde que conquistou o seu último título; do outro, a “Scuderia” assegurou que não tinha qualquer possibilidade de vencer na Austrália, assumindo problemas em todas as áreas do SF1000.
Mattia Binotto apontou que, muito embora o novo carro de Maranello produza mais apoio aerodinâmico que o seu antecessor, o arrasto é muito maior, levando a que Charles Leclerc e Sebastian Vettel tenham velocidades de ponta modestas, situação que é ampliada por uma unidade de potência menos performante, comparativamente, que a sua antecessora.
Por outro lado, a tendência subviradora do SF90 parece manter-se este ano, levando que os pilotos não possam atacar o acelerador de uma forma tão incisiva como os seus adversários directos.
Ainda assim, Leclerc realizou uma boa simulação de corrida no último dia de testes do defeso, parecendo apontar que a Ferrari não estará tão distante da Mercedes como pretende pintar
A Red Bull, por seu lado, aparentemente, tem um carro com um nível de apoio aerodinâmico semelhante ao da Mercedes, mas talvez a sua consistência não seja tão elevada, levando a que os seus pilotos passem por dificuldades, sobretudo nas curvas de baixa, o que ficou exemplificado pelos diversos piões que Verstappen e Alex Albon cometeram ao longo das seis jornadas de testes.
Daqui depreende-se que a Mercedes, talvez e levando em conta que os testes não são fiáveis, parte à frente, mas nem a Red Bull nem a Ferrari estão muito longe e poderão estar em condições de a pressionar desde a corrida de Melbourne, podendo ser o ritmo de desenvolvimento ao longo da temporada o factor determinante para que uma delas se imponha no final de 2020.
Todos contra o “Mercedes Cor de Rosa”
O segundo pelotão parece estar mais junto que nunca, tendo a Williams se juntado a uma festa que terá como grande motivo de interesse vermos a batalha entre duas filosofias distintas.
De um dos lados temos a Racing Point que aproveitou toda a informação que reuniu para construir um clone do Mercedes W10. Do outro, a Renault e a McLaren que seguem a sua próprio projecto, tentando fazer a ponte entre o segundo pelotão e as três grandes.
O carro de Silverstone parece partir para época na frente, podendo até, segundo alguns, imiscuir-se entre a Ferrari e a Red Bull, mas a grande questão será verificar se a Racing Point terá um entendimento que de um conceito técnico que não é inteiramente seu e se afasta daquele que usou nos últimos anos, o que poderá criar complicações no desenvolvimento e na afinação a cada umas das pistas.
Cabe à McLaren e à Renault fazerem vingar os seus carros e desenvolvê-los de uma forma mais efectiva de modo a que ao longo do ano possam impor-se à Racing Point, que aparentemente arranca à frente.
AlphaTauri, Alfa Romeo e Haas serão factores a ter em conta na luta pela primazia no segundo pelotão, mas sem estar no nível competitivo das três equipas mencionadas anteriormente, ao passo que a Williams deu um passo significativo depois do desaire do ano passado estará este ano na luta da cauda do pelotão.