F1: O que ‘disseram os testes de Barcelona: Equipa a equipa

Por a 6 Março 2020 17:01

Quando falta pouco mais de uma semana para o arranque do 70º Mundial de Fórmula 1, toda a caravana já está a caminho de Melbourne. Se o COVID-19 não pregar ainda mais surpresas a ninguém, tudo irá arrancar sem grandes problemas, mas para trás ficaram muitos quilómetros de testes. Vamos ficar a saber, equipa a equipa, como estão as coisas…

MERCEDES AMG PETRONAS MOTORSPORT

Os seis dias de testes correram bem melhor à Mercedes em 2020 que em 2019, com o W11 a mostrar uma performance impressionante, sublinhada pelo tempo feito por Valtteri Bottas: 1m15,732s, no terceiro dia de testes, uma vantagem superior a meio segundo para todos os outros. Porém, a Mercedes não vai para Melbourne totalmente descansada. Primeiro porque ainda não sabe bem se a Ferrari e a Red Bull andaram, ou não, a esconder o jogo, tendo receito de ser “apanhada” na mesma armadilha que estende aos outros. Depois, porque na aparentemente invencível couraça, o motor acabou por abrir uma frecha preocupante: Lewis Hamilton teve de trocar uma unidade de potência e sentiu algumas dificuldades ao longo dos seis dias. “Tivemos um inverno complicado com o motor” disse Hamilton no último dia de testes. O britânico referiu que “Não foram testes perfeitos, mas acho que correu bem. Conhecemos alguns problemas, mas acredito que sejam resolvidos rapidamente. Felizmente que foram descobertos nos testes e isso é sempre bom.” Hamiulton entende que “a performance é boa, cumprimos muitos quilómetros, mas não fazemos ideia como estamos face aos rivais. Provavelmente a equipa sabe.”

O carro de 2020 é uma evolução do W09 campeão em 2019, com algumas mudanças que o AUTOSPORT já lhe revelou, sendo a grande novidade destes testes o Dual Axis Steering (DAS). No final da segunda semana, Lewis Hamilton disse que “compreendo o carro, estou confortável nele e confiante que vou conseguir atacar mal entre em pista em Melbourne.” Estará o sétimo título a caminho?

SCUDERIA FERRARI

Conhecendo, agora, que a FIA penalizou a Ferrari pelas irregularidades encontradas na unidade de potencia italiana (ver texto à parte) e que a equipa de Maranello teve de fazer uma unidade totalmente nova de fio a pavio, percebe-se que os testes de Barcelona não foram fantásticos. Não porque a Ferrari estivesse preocupada com a fiabilidade do motor, mas porque este é bem menos capaz que o de 2019. O SF1000, o carro que celebra o milhar de provas feitas pela Ferrari na F1, foi desenhado para ter mais “downforce” e isso parece ter sido alcançado, pelo menos é o que se depreende das palavras de Charles Leclerc, mais satisfeito com a performance nas curvas lentas, especialmente na parte final do traçado de Barcelona. Boas noticias para a Ferrari, nesse aspeto. A velocidade de ponta é agora um problema, não só pelo motor, mas também pelo maior arrasto. Mattia Binotto dizia que não teria um carro para ganhar em Melbourne, mas pelo visto era apenas cautelas e caldos de galinha, depois de sair em fanfarra de Barcelona em 2019 e acabar o ano acabrunhado pelo peso da derrota serôdia. Porém, Binotto votou a dizer o mesmo: “posso confirmar o que disse a semana passada, não tivermos, definitivamente, o carro mais rápido em Barcelona e não seremos os melhores em Melbourne. Penso que os nossos rivais estão mais velozes. Porém, como salientei o ano passado, é apenas o início da temporada, termos tempo para resolver alguns problemas.” Mas fica o sinal de alerta: a Ferrari foi a única equipa presente em Barcelona que não rodou mais depressa que nos testes de 2019 ou no GP de Espanha do ano passado. Preocupante… ou talvez não! Pois muitos continuam a acreditar que a Ferrari andou a esconder o jogo. Pelo menos, Binotto, Leclerc e Vettel não pareciam muito preocupados, a não ser que estivessem a fazer “poker face” para a televisão.

ASTON MARTIN RED BULL RACING

A equipa de Milton Keynes andou cinco dias a esconder a performance do RB16, mas no derradeiro dia, deitando mão dos Pirelli C4 (o segundo mais mole atrás do C5) e com Max Verstappen ao volante, a Red Bull mostrou que está num bom momento de forma. Mesmo não batendo Bottas, foi o único que ficou a meio segundo do finlandês, o que deixa claras razões para regozijo nas hostes da equipa. A estratégia da Red Bull estava tão bem orquestrada que Verstappen falou pouco do carro, limitando-se a comentários vagos sem a fanfarronice habitual. Após o último dia, Christian Horner lá foi dizendo que “este foi um muito positivo teste de pré-temporada para nós. Fizemos muitos quilómetros, focamo-nos em desenvolver alguns conceitos e foi uma boa experiência para nós.” É verdade que a Red Bull tem saiu de Barcelona com alguns problemas de fiabilidade – o moto Honda resistiu bem, sendo mudado apenas por precaução – mas Verstappen pode ter uma palavra a dizer na luta pelo título com a Mercedes e começar o ano como o acabou, a “morder” os calcanhares à equipa de Toto Wolff.

McLAREN F1 TEAM

A equipa de Woking andou, acreditamos, demasiado ocupada com as cópias cor de rosa da Racing Point e preto e branca da Alpha Taurus, não confiando muito no seu próprio potencial. Lando Norris e Carlos Sainz tiveram duas semanas produtivas, com o espanhol a dizer que “estou feliz, parece-me que já compreendemos bem o carro e sabemos onde ele é bom e onde não é. Mas como sabemos exatamente que áreas trabalhar, estamos confiantes.” Já o britânico afina pelo mesmo diapasão, ao dizer que “estou muito contente com os progressos feitos de uma semana para a outra.” Porém, não está totalmente confiante “pois o vento acabou por ser uma dificuldade para o nosso carro.” Mas ambos os pilotos e os responsáveis da equipa mantiveram a preocupação com as cópias sublinhando o receio de não terem oportunidade de repetir a temporada de 2019.

RENAULT F1 TEAM

Olhando para a tabela de tempos, Daniel Ricciardo fez aquilo que sempre esperamos do australiano, foi veloz e com 1m16,272s, ficou encostado a Max Verstappen e a Valtteri Bottas no derradeiro dia de testes. E sim, Ricciardo estava ao volante do Renault RS20. Sinal que a Renault está perto dos melhores? Não! Foi uma espécie de grito que não teve sequência nas duas semanas de testes, até porque Esteban Ocon nem perto esteve da performance de Ricciardo. Pelo menos a Renault não sofreu dos mesmos problemas de 2019 com a unidade de potência, mostrando-se esta fiável e permitindo cumprir todo o programa de testes. O carro é bem diferente do anterior, é dos mais elegantes do plantel e para a Renault, o objetivo é recuperar o lugar de “melhor dos outros”, mas apostando tudo na primeira parte da temporada no que toca ao desenvolvimento, para canalizar esforços para 2021. “Estamos muito satisfeitos com a fiabilidade do motor, com apenas uma unidade utilizada por nós e pela McLaren, sem problemas, ao longo dos seis dias. Concentramo-nos em desenvolver o carro e o nosso nível de performance absoluta está ao nível das nossas expetativas, com sinais positivos da correlação entre os ensaios virtuais e o que experimentámos na pista” comentou no final Cyril Abitboul. Que não desarmou e continuou a insistir que estarão na luta não apenas pelo quarto lugar. Mesmo que os tempos digam outra coisa…

ALPHA TAURI F1 TEAM

Um dos carros que está no foco das outras equipas do meio do pelotão, acusado de ser uma cópia conforme do Red Bull RB16 – a espetacular pintura preto e branca “esconde” muitos detalhes, mas a cópia é evidente – é o AlphaTauri AT01. Um carro totalmente diferente, mas que mostrou poucas evoluções em termos de performance face ao que a Toro Rosso fez em 2019 em Barcelona. Para Franz Tost, o AT01 “é um carro razoável do ponto de vista mecânico e estou muito satisfeito com a parte aerodinâmica.” Porém, parece que ao fim de seis dias de testes, a equipa descobriu que “talvez tenhamos de encontrar uma solução para uma sobreviragem que não nos deixa.” Ainda assim, Franz Tost referiu que “numa maneira geral, o carro funciona como esperávamos.” Jody Egginton não deixa de sonhar alto ao dizer que “é muito cedo para dizer como mos posicionamos face às três melhores equipas, mas no meio do pelotão as coisas estão muito interessantes e tenho a certeza que temos condições para estar na luta pela liderança desse pelotão.”

BWT RACING POINT F1 TEAM

Uns dizem que Andy Green, o projetista da Racing Point, mudou de conceito e ao invés de seguir a doutrina de Adrian Newey, com nariz do carro alto e um grande ângulo de “rake” (a elevação da traseira para menor arrasto), optou por seguir a doutrina de James Allison. Outros dizem que a equipa B da Mercedes fez uma cópia perfeita do W09 de 2019. Os tempos foram bons e recusando as acusações de “copy paste” do Mercedes campeão e 2019, Andy Green mostrou-se feliz com o carro. “Estaria a mentir se dissesse que não estava feliz com o que fizemos. O nível de performance é aquilo que esperávamos e os pilotos estão muito felizes.” Apesar deste cenário idílico, o responsável técnico da Racing Point coloca alguma água na fervura lembrando Andy Green que “ainda não estamos totalmente seguros sobre se seremos capaz de transferir das simulações para a pista tudo aquilo que desenvolvemos e o que os dados nos dizem. Para já, tudo indica que sim, os dados de um lado são iguais aos do outro, mas só em Melbourne vamos perceber melhor. E o maior elogio vem dos rivais da McLaren, com Carlos Sainz a dizer que “o Racing Point entraram facilmente no melhor ritmo e acredito que eles vão ser rápidos.” Veremos se a cópia do carro vencedor no ano passado – que terá tido colaboração da Mercedes, sem dúvida nenhuma, pois copiar em foto é diferente de copiar o conceito – será ou não uma dor de cabeça no meio do pelotão.

ALFA ROMEO ORLEN RACING

Se Kimi Raikkonen deu nas vistas pelo que não disse sobre o carro e sobre os testes, pois preferia brincar com a filha e estar com a esposa e os amigos, desmarcando os compromissos com a imprensa, e pelo melhor tempo rubricado no segundo dia de testes, a estrela foi Robert Kubica, piloto de testes. Fez o melhor tempo no primeiro dia da segunda semana de testes, que ficou como o melhor registo da equipa nos seis dias de testes em Barcelona. O resto dos testes da Alfa Romeo não foi tão risonho. Apesar de muita fiabilidade (o que espanta sendo uma equipa que não tem simulador!) acabou por ver Antonio Giovinazzi bater forte. Contas feitas, a equipa suíça – igualmente acusada de ter um carro que é cópia do Ferrari – terminou na cauda do pelotão (o mesmo que aconteceu com a Haas) o que vem adensar a suspeita que o motor Ferrari perdeu muito da sua capacidade e em carros menos competitivos isso é mais evidente.

HAAS F1 TEAM

Guenther Steiner é um grande “maluco”, mas tem experiência suficiente para saber que “cautela e caldos de galinha” são precisos depois de uma temporada que começou com fogo de artificio e acabou com murros na mesa e muita desilusão por parte de Gene Haas, o patrão da equipa. Por isso, os testes do VF19 focaram-se, sobretudo, na forma como o carro trata os pneus e evitar o descalabro de 2019. “É complicado comparar as coisas, pois este carro é diferente” disse cautelosamente Steiner, acrescentando que “pelo menos parece muito mais maleável e a gerir melhor os pneus. Temos de olhar para os dados recolhidos e perceber porque começámos lentos.” Kevin Magnussen adiciona às palavras de Steiner a sensação “que o carro ainda tem alguma coisa para aprendermos, mas é um bom sinal que tudo esteja a ser diferente de 2019.” A Haas não pode repetir o que sucedeu em 2019, sob pena de Gene Haas se cansar de vez…

ROKIT WILLIAMS RACING

É a maior sensação destes testes de pré-epoca. Primeiro porque dando bofetada de luva branca naqueles que espalharam o boato que a Williams iria perder o primeiro dia de testes como em 2019, George Russell foi o primeiro em pista nos testes de 2020. Depois, olhando aos tempos dos seis dias de testes, a Williams foi a sétima equipa mais rápida do pelotão. O que quer dizer que a Williams vai deixar de se arrastar no fundo do pelotão. É verdade que as coisas não correram muito bem em termos de fiabilidade com o motor Mercedes (tiveram de o mudar duas vezes), deixando Claire Williams bem claro que isso “foram problemas completamente fora do nosso controlo”. Mas a grande novidade é a qualidade de construção do carro – a anos luz do de 2019 – e a forma como conseguiram encontrar “downforce” no chassis. Os pilotos não estavam tão confiantes, mas a verdade é que George Russell e Nicholas Latifi não vão voltar a fazer corridas sozinhos e como diz Claire Williams “foi bonito ver um carro em tão boa forma a sair das boxes com uma qualidade que nos deve orgulhar dentro da Williams.” Tudo fruto das muitas alterações que a filha de Sir Frank Williams fez e que, finamente, estão a dar frutos. A Williams pode, mesmo, ser a grande surpresa de 2020.

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