F1: Ferrari, ou vai ou racha!
Por José Manuel Costa
A Ferrari foi a primeira equipa a revelar um carro para 2020, numa expressão de desafio onde o objetivo é fazer a Mercedes ajoelhar no último ano da primeira era híbrida da Fórmula 1 e ao mesmo tempo impedir que Toto Wolff roube mais um recorde à casa de Maranello. As coisas não têm andado fáceis em Barcelona, exceção feita ao dia de hoje, mas isso para já são apenas testes. A partir de Melbourne é que, ou vai ou então alguma coisa vai rachar!
A paixão dos adeptos da Ferrari pelos seus carros e pilotos não tem limites e aconteça o que acontecer, a casa de Maranello será sempre descontroladamente acarinhada pelo meio dos ‘calduços’ que leva sempre que em Monza ganha outro carro qualquer ou quando um piloto vestido de “rosso corsa” não consegue o título.
O que se passou em Monza o ano passado mostra bem como para os “tifosi” a Ferrari está ao nível do Vaticano, mais metro menos centímetro.
Ora, no ano em que a Ferrari vai celebrar a corrida 1000 – que será celebrada no GP de França no dia 28 de junho – e as 70 temporadas de competição ininterrupta na Fórmula 1, Mattia Binotto tem nos ombros a responsabilidade de acabar com um jejum de títulos que vem de 2007 no que toca a pilotos (quando Kimi Raikkonen foi campeão) e 2008 no que diz respeito aos construtores, juntando aos 16 ceptros de equipas mais uma taça que quebre a hegemonia da Mercedes e um 16ª título de pilotos que impeça Lewis Hamilton de apanhar o alemão que, ironicamente, ofereceu felicidade suprema aos “tifosi” entre 2000 e 2004.
Quer isto dizer que nos últimos anos, os “tifosi” tiveram de encontrar formas de renovar a paixão e a crença na Ferrari para encaixarem os anos de domínio da Mercedes.
Por isso, em 2020, a Ferrari tem uma missão e claramente “ou vai ou racha!” e Mattia Binotto sabe isso melhor que ninguém, até porque é a sua cadeira que está com dispositivo de ‘ejeção’.
Se a Mercedes bater a Ferrari pelo sétimo ano consecutivo, o “Harry Potter” vai voar para outras paragens…
SF1000 tem melhor aerodinâmica e motor forte
Os Ferrari vão deixar de ser tão velozes como em 2019! O motor continua excelente e poucas alterações tem face ao conjunto propulsor do ano passado, pelo que potência não vai faltar. Mas como era evidente, o Ferrari precisava de mais apoio aerodinâmico e Mattia Binotto disse, exatamente isso, quando apresentou o SF1000 – que deve o nome à homenagem ao GP 1000 da Ferrari – explicando que o desenvolvimento do carro foi direcionado para a produção de mais força descendente, em inglês “downforce”, lamenta do que isso tenha levado a que o carro produza mais arrasto, ou seja, resistência ao ar.
Por isso disse acima que os Ferrari não vão ser tão velozes como foram o ano passo em Monza, em Spa-Francorchamps e em outros circuitos onde as retas imperam.
Os problemas de 2019 eram simples: primeiro a frente não rimava com a traseira e para que isso acontecessem era necessário desequilibrar outras zonas do chassis. Depois, a traseira não gerava força descendente suficiente o que era um pesadelo para que os sensíveis pneus da Pirelli (com janelas de funcionamento estreitas). Finalmente, um carro com a traseira solta não é do agrado de Sebastian Vettel e foi uma das razões para os muitos erros de 2019.
O SF1000 é muito semelhante ao chassis de 2019, especialmente visto de frente, mas como alguém diz “o demónio está nos detalhes”. E nesse particular, o Ferrari SF1000 é uma tela carregada de cores.
Desde logo os pilares que suportam a asa dianteira são inclinados e maiores que anteriormente, com os rapazes da aerodinâmica a darem uma valente dor de cabeça aos engenheiros para conseguirem que a estrutura dianteira fosse capaz de passar os testes de colisão. Porém, o Ferrari passou à primeira sem problemas.
Depois estão os defletores sob o nariz do carro que se projetam para diante, com todo o nariz do carro a aparecer mais refinado que as versões apresentadas pela Ferrari em 2019. As bordas da asa dianteira e dos diversos apliques aerodinâmicos foram reforçados para permitir que seja gerada mais força descendente no eixo dianteiro.
A suspensão dianteira foi revista, com os triângulos ancorados mais abaixo no chassis e há também um novo desenho das jantes. O SF1000 mostra que a Ferrari alongou, mais uma vez, o carro para melhorar a arrumação de todas as peças da unidade de potência e, ao mesmo tempo, estreitar o mais possível a carroçaria na zona da “garrafa de Coca Cola”.
Os flancos receberam muito trabalho com os “bargeboards” a serem redesenhados, estando agora muito mais altos, mais ou menos a mesma coisa que a Red Bull fez o ano passado. Toda a cascata de asas e o caminho que o ar segue para a traseira, foi redesenhado com muito trabalho a ser feito nesta área. Os flancos mostram muito trabalho, não só na área que referimos, mas também nas zonas das entradas de ar e no interior.
Curiosamente, a maior diferença está na zona da entrada de ar para o motor, que surge com uma forma de triângulo e um par de asas em L colocados ao lado dessa mesma entrada de ar de admissão e à frente dos suportes das câmaras. Os suportes dos espelhos também são diferentes.
Mas há mais coisas novas: a traseira está cada vez mais fina. As entradas de ar nos flancos estão cada vez mais pequenas, e na zona das rodas, a “garrafa de Coca Cola” está mais estreita, mas com o fundo plano e receber um desenho novo e tortuoso, sendo agora maior e indo até ao limite das suspensões traseira, com a zona até aos semi-eixos fechada em redor das rodas traseiras.
E podemos ver que os flancos estão muito mais curtos se olharmos para a forma como símbolo da Shell se dobra muito mais que em 2019. A barbatana responde aos regulamentos de 2020 e é maior e alberga um número de dimensões generosas. Por outro lado, o capot motor é bem mais curto e está bem mais baixo. Percebem agora porque é que a distância entre eixos aumentou? É que é preciso arrumar tudo muito bem e de forma fiável para rebaixar o mais possível a carroçaria.
Cintas feitas, o Ferrari deverá ter mais arrasto, mas muito mais força descendente, o que vai ajudar Sebastian Vettel, obrigando Charles Leclerc a adaptar-se ao novo carro.
Outro problema da Ferrari foi a fiabilidade e Mattia Binotto veio a terreiro dizer que essa foi uma enorme preocupação da equipa, mas que são problemas resolvidos.
Resta esperar para ver o que nos devolve a época e para já a primeira semana de testes a Ferrari teve alguns problemas. Começou bem melhor a segunda semana, mas só mesmo em Melbourne, e para lá desse Grande Prémio, se perceberá que Ferrari temos este ano…