Campeonato de Portugal de Ralis: Edição vintage

Por a 27 Fevereiro 2020 16:17

Por José Luis Abreu

FOTOS ZOOM Motorsport/António Silva

O Campeonato de Portugal de Ralis 2020 arranca como já é tradição, em Fafe. Como tem vindo ser habitual, mais um excelente plantel, numa época que se espera, mais uma vez, muito equilibrada.

Ano Vintage! A latina palavra refere-se a um vinho de qualidade excecional. Exatamente o que podemos dizer de mais esta edição do Campeonato de Portugal de Ralis 2020. O mais curioso é que também se denomina vintage os Vinhos do Porto mais especiais, que têm a capacidade de envelhecer dentro da garrafa. Ora bem, esta competição é como o Vinho do Porto. Quanto mais ‘velha’, melhor!

Há largos anos que o CPR é a “jóia da coroa” do automobilismo nacional. A competição arranca este fim-de-semana em Fafe, e são evidentes os sinais de otimismo. O primeiro redunda logo da fantástica lista de inscritos, que não espelha nada bem a realidade económica do país. Estivesse o país como estão os ralis. Se bem que nem tudo são rosas, e as dificuldades na base da pirâmide deste nosso desporto são bem maiores do que no topo. Aí há bons carros, grandes equipas e pilotos, mas a base é pobre, e é essa que tem de alimentar o futuro desta competição.

Ciclo de ouro

Foi a medida da FIA ao ‘inventar’ os RC2 (R5) que criou a base para o que de bom tem acontecido nos ralis nos últimos (largos) anos. Sendo verdade que o custo dos carros novos é muito alto – é para quem pode – a verdade é que com o passar dos anos o mercado de ‘usados’ permitiu a um enorme leque de pilotos ter nas mãos máquinas competitivas. Com elas, abrilhantam as competições, pois como bem sabemos o espetáculo não é só dado por quem luta por vitórias e títulos. Anda muito boa gente mais atrás que contribui com o seu quinhão para continuar a fazer desta disciplina o que ela tem sido nos últimos anos. É óbvio que as coisas continuam a ser complicadas para muita gente, que tem muita vontade, mas não consegue apoios. Contudo, na verdade, se olharmos para o país que somos, com tantas dificuldades em tantas áreas, não é nos ralis que nos podemos queixar muito. Querer sempre mais é bom. A paixão que se vive pelos ralis em Portugal justificava que mais empresas olhassem para esta modalidade com outros olhos, pois os ralis chegam mesmo ao ‘coração’ das populações, provavelmente como só o futebol consegue em Portugal.

Mais do mesmo?

Em termos desportivos e competitivamente, as perspetivas são as mais animadoras, pois há teoricamente um grande equilíbrio de forças no topo da pirâmide, onde se lutam pelos títulos.

Começando pelo Campeões em título, Ricardo Teodósio e José Teixeira têm novamente reunidas as condições que precisam para voltar a lutar pelo título. Novamente com o Skoda Fabia Evo R5 que os ajudou a vencer o ano passado, entram na temporada de 2020 sem handicaps e dispostos a manter na sua posse o que conquistaram o ano passado. Já sabem que a luta será cerrada, a concorrência é forte, mas já o é há algum tempo e a dupla algarvia tem sabido sempre ir à luta.

Bruno Magalhães volta com o Team Hyundai Portugal e conta com um i20 R5 mais evoluído, onde se espera terem sido corrigidos os aspetos menos bons do carro, mas essa é uma incógnita que só será desvendada a partir de Fafe. Pelo que se tem visto no WRC, o carro está competitivo, e o piloto, que terá desta feita Carlos Magalhães ao lado, vai ter um ritmo elevado devido ao facto de também irem disputar o Europeu de Ralis. Esse facto permite a Magalhães conhecer bastante melhor todos os segredos do i20 e isso pode ser importante nas lutas que se esperam no CPR.

Depois de um ano de 2019 acima do par, Armindo Araújo e Luís Ramalho surgem com um novo projeto, e vão correr agora com uma Skoda Fabia Evo R5, ligados à The Racing Factory, tendo por isso tudo o que precisam para lutar na frente. Claro que Armindo Araújo precisa de se ligar ao carro em prova, os testes quase nunca são suficientes, mas conhecendo a valia do piloto e do carro, não se espera menos do que lutar novamente pelo título.

O mesmo se pode dizer de José Pedro Fontes e Inês Ponte, que com um Citroën C3 R5 melhorado, querem ir para lá das duas vitórias por ano que conseguiram nas duas últimas épocas. Tendo em conta o equilíbrio que se tem vivido no CPR, qualquer pormenor conta e por isso Fontes quer entrar forte na terra, pois no asfalto já se sabe que é o principal ‘alvo a abater’.

Ao lote das equipas que, em teoria vão lutar pelos lugares da frente estão Pedro Meireles e Mário Castro, que depois duma época de estreia difícil com o Volkswagen Polo R5, esperam este ano espantar os azares, e tirar o máximo partido do bom carro que têm nas mãos. Tendo em conta o que se tem visto nos últimos anos, conseguirão bons resultados quando mostrarem, por exemplo o tipo de andamento que tiveram no Rali de Mortágua do ano passado.

Aqui fazemos um parêntesis para referir que Ricardo Moura e António Costa, que no seu Skoda Fabia R5 devem cumprir as duas primeiras provas, Fafe e Açores, desconhecendo-se para já se podem continuar (pouco provável, mas não impossível). Se o fizerem, serão certamente candidatos aos primeiros lugares.

Bons ‘Outsiders’

Miguel Correia e Pedro Alves arrancam o ano com o Skoda Fabia R5, carro que escolheram depois do ‘desaparecimento’ do Ford. O pressuposto é o mesmo de 2019. Aprender e evoluir. E já agora subir novamente a fasquia do melhor resultado.

Manuel Castro e Ricardo Cunha vão este ano correr com um Skoda Fabia R5, mas para já não é um carro novo, oriundo da Skoda MotorSport, mas sim uma solução provisória. Com ele esperam subir de nível face ao que têm feito nos últimos anos.

Gil Antunes e Diogo Correia têm este ano um novo e interessante projeto, o Dacia Sandero R4, do qual não existem referências a nível nacional e essa incógnita joga a seu favor. Começam o CPR só nos Açores. Paulo Neto e Vítor Hugo decidiram este ano mudar-se para os 4X4 e a escolha recaiu no Skoda Fabia R5 , que lhes deve permitir bons resultados bem depressa. Contudo, há um mundo novo para explorar em 2020.

Do segundo pelotão do CPR falamos mais à frente, mas para já deixamos só uma questão curiosa: Nos três últimos anos de CPR bem equilibrados, Armindo Araújo foi o piloto mais vitorioso, com seis triunfos. Seguem-se um lote grande de pilotos com três vitórias: Bruno Magalhães, Carlos Vieira, Pedro Meireles, Ricardo Moura e Ricardo Teodósio. Como estaremos daqui a um ano?

Já sabe, apesar do referirmos lá mais para a frente, não esqueça que o Rali Serras de Fafe e Felgueiras tem muitos motivos de interesse, dois WRC para Dani Sordo e Ott Tanak, vários pilotos estrangeiros com R5, Nikolai Gryazin (Hyundai i20 R5), Pedro Heller (VW Polo GTI R5), Alberto Heller (Ford Fiesta MKII R5), Alex Villanueva (Skoda Fabia R5) e Gustavo Sosa (Skoda Fabia R5), portanto, não ‘falhe’ Fafe…

Bom segundo pelotão

Já apresentámos os principais protagonistas do CPR 2020, mas a verdade é que a lista é bem mais extensa, sendo que a questão ainda encerra algumas dúvidas. Muitas, para sermos mais exatos. Como tem vindo a ser habitual, em Fafe todos querem estar presentes, mas daí para a frente a lista pode diminuir um pouco. Há, como se percebe, muitas indefinições. Mas temos um conjunto importante de protagonistas para falar, começando logo pelos ilhéus, se bem que neste caso, um problema de última hora levou a que Ricardo Moura regresasse a casa e não vá correr em Fafe.

A dupla da Play/Auto Açoreana Racing, Diogo Gago e Victor Calado, vão correr no Rali Serras de Fafe/Felgueiras com o Citroen C3 R5. O rali serve para o algarvio adquirir experiência em pisos de terra com uma viatura R5, dado que em 2019 apenas correu em provas de asfalto no Campeonato dos Açores de Ralis, devido ao cancelamento do Lotus Rallye.

Diogo Gago é um dos pilotos que faz falta a ‘este’ CPR, e apesar de só ter no programa o Campeonato dos Açores de Ralis, ficava-lhe mesmo bem este C3 R5 no CPR. Talvez no futuro…

Depois de assegurar os títulos nacionais de duas rodas motrizes, Gil Antunes e Diogo Correia quiseram este ano passar para os 4X4 e depois de terem corrido com o Hyundai i20 R5 no Rali das Camélias, o futuro vai passar pelos 4X4, com o Dacia Sandero R4, tendo a Domingos Sport como estrutura de apoio. O projeto não arranca já em Fafe, mas sim, somente nos Açores onde Gil Antunes correrá ainda com um Sandero R4 alugado. O seu carro só chegará depois da prova açoriana, que servirá de adaptação rápida à nova máquina. Um caso muito interessante a seguir, para ver a competitividade deste R4 face aos R5 mais antigos. Recorde-se que este KIT R4 FIA, desenvolvido pela Oreca, foi concebido para poder ser aplicado numa maior diversidade de marcas, e ao mesmo tempo as equipas usufruírem de uma viatura competitiva com uma manutenção mais económica, quando comparado com um R5.

João Correia, com Ricardo Barreto como navegador, regressam ao CPR, agora com um Hyundai i20 R5. A dupla não terá um programa completo no CPR, mas será uma das equipas à partida do Rali Serras de Fafe e Felgueiras e do Rali de Mortágua.

Paulo Meireles e Marcos Gonçalves têm vindo a fazer, nos últimos dois anos, programas de três ou quatro provas e este ano não deve ser exceção.

O mesmo se aplica a Diogo Salvi, que deverá voltar a cumprir um programa de provas em Portugal e Espanha com o Skoda Fabia R5, podendo repetir o Rali da Turquia. Paulo Caldeira e Ana Gonçalves têm feito apenas provas de asfalto no CPR, mas este ano vão começar em Fafe. Nuno Madeira também já revelou que vai fazer um ou outro rali com o Ford Fiesta R5. Provavelmente, Mortágua. Jose Rocha e Rui Raimundo vão correr em Fafe com o bonito Ford Fiesta MKII R5 com que já correram no Rali Rota da Lampantana.

Duas rodas motrizes

O Campeonato de duas rodas motrizes perde dois importantes protagonistas, Gil Antunes e Paulo Neto, mas ganha muitos outros. O principal passa pelo regresso de Daniel Nunes, que já não corre no ‘Nacional’ desde o Rali de Castelo Branco do ano passado. Um retorno que se saúda, novamente com o Peugeot 208 R2 da Inside Motor. Pelo que já se viu anteriormente, vem para vencer. Um duelo que se antevê interessante deverá ser com Pedro Almeida, que agora com Hugo Magalhães ao lado, dá um passo atrás na carreira, para as duas rodas motrizes, mas com uma intenção clara. Deixa o Skoda R5 e vai guiar o Peugeot 208 R2 de modo a consolidar melhor a aprendizagem que tem vindo a fazer nos ralis. A ideia passa por disputar a Peugeot Rally Cup Ibérica, o ERC e também o CPR 2 e CPR Junior, num extenso calendário de 16 ralis que estão para já programados. O objetivo passa por “acumular quilómetros, testar limites e novas experiências, que no futuro nos vão dar consistência” disse. De resto a competição pode contar ainda com outros nomes, por exemplo como José Silva e Sérgio Brás, entre outros, e até é bem possível que surjam mais porque os pilotos que correrem de Peugeot 208 R2 podem inserir-se na nova competição, o Challenge R2&You, que agrupa os ‘leões’ numa competição específica.

Organizado pela Sports & You e apoiado pela FPAK o Challenge R2 & You 2020 é uma excelente novidade para o CPR e Campeonato Portugal Júnior de Ralis, numa competição aberta a todos os pilotos e co-pilotos que corram com os Peugeot 208 R2, do Grupo RC4. Aproveitando o grande número destes carros, e de um grande apoio organizacional e logístico, os participantes podem contar com bons prémios por prova, que serão atribuídos às equipas posicionadas nos cinco primeiros lugares, 1.500€ aos vencedores, 1.000€ aos segundos classificados, 750€ aos terceiros, 500€ aos quartoss e 300€ aos quintos, numa divisão de 50/50 em prémios monetários e vales de compra, a utilizar na Peugeot Sport Racing Shop. Acresce a categoria de ‘Piloto Júnior’, reservada a condutores que nasceram a ou após 1 de Janeiro de 1994, atribuindo-se ao vencedor de cada rali um prémio de 500€.

A competição conta com seis provas pontuáveis, donde serão extraídos os cinco melhores resultados. Para a copa de Equipas contarão todos os resultados.

“Esperamos que esta iniciativa da Sports & You atraia mais pilotos e público aos ralis nacionais, ao mesmo tempo que permitimos que os muitos Peugeot 208 R2 existentes em Portugal possam continuar a competir, nas mãos de jovens pilotos, futuras esperanças dos ralis nacionais”, disse José Pedro Fontes.

Já Ni Amorim, presidente da FPAK: “Entendemos que esta competição será uma mais valia para os ralis nacionais. Precisamos de atrair para o CPR jovens pilotos e o programa que o Challenge R2 & You apresenta assenta bem nos nossos propósitos. É por isso com satisfação que nos associamos a esta iniciativa”, referiu.

Calendário Challenge R2 & You

27 a 29 fevereiro Rallye Serras de Fafe e Felgueiras (terra)

17 a 19 abril Rally de Mortágua (terra)

12 a 14 junho Rali Terras D’aboboreira (terra)

3 a 5 julho Rali de Castelo Branco (asfalto)

4 a 6 setembro Rali Alto Tâmega (asfalto)

2 a 4 outubro Rallye Vidreiro Centro de Portugal Marinha Grande (asfalto)

CALENDÁRIO COM NOVIDADES

São grandes as novidades do CPR 2020. Regressa o Rali do Alto Tâmega, após quase 30 anos, a competição passa a ter 10 provas, cinco em cada tipo de piso, terra e asfalto. O Rali Alto Tâmega já não se realizava desde 1991 (em 1992 denominou-se Estrela e Vigorosa), e depois do CAMI a ter realizado no CRN, chega agora ao CPR. Já a prova do Clube Automóvel de Amarante, que se denominou Terras D’Aboboreira em 2019, passa a pisos de terra.

Apesar do aumento para 10 provas, os concorrentes do CPR vão continuar a nomear oito provas para pontuar no campeonato, continuando também a contar os sete melhores resultados.

A época no próximo fim de semana em Fafe, prova que é pontuável para o Troféu Europeu de Rails, Troféu Ibérico de Ralis e Campeonato de Ralis Norte. Segue-se o ‘Europeu’ Rali dos Açores, com o Rali de Mortágua mais de um mês antes do Rali de Portugal. Três semanas depois, o Rali Terras D’ Aboboreira, que encerra a fase de terra do campeonato.

Três semanas depois inicia-se a fase de asfalto da competição, com o Rali de Castelo Branco. Quase um mês depois, o Rali Vinho Madeira, e no início de setembro o novo Rali do Alto Tâmega, com a competição a definir-se novamente com o Rallye Vidreiro Centro de Portugal/Marinha Grande em outubro e o Rallye Casinos do Algarve a meio de novembro.

Calendário CPR 2020

29/01 Março Rallye Serras de Fafe

28/29 Março Azores Rallye

18/19 Abril Rali de Mortágua

23/24 Maio Vodafone Rally De Portugal

13/14 Junho Rali Terras D’ Aboboreira

4/5 Julho Rali De Castelo Branco

1/2 Agosto Rali Vinho da Madeira

5/6 Setembro Rali do Alto Tâmega

10/11 Outubro Rallye Vidreiro Centro de Portugal/Marinha Grande

14/15 Novembro Rallye Casinos do Algarve

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