Grandes Prémios que passaram à história: GP de Portugal (1958-60/1984-1996)
O Grande Prémio de Portugal é dos que mais motivos de interesse teve, ao longo de todas as primeiras 16 edições, as de Lisboa, Porto e Estoril. Não sejamos modestos, mas esta (foi…) é a realidade. O regresso a Portugal para mais duas edições deu-se recentemente no Algarve, mas isso fica para recordar aqui a uns anos, pois talvez Portugal possa voltar a regressar…
Recordando o passado distante, comecemos por 1958, a primeira edição. O palco foi o circuito da Boavista, no Porto, com as suas linhas de elétrico, o seu piso em paralelo, o Castelo do Queijo. Venceu Stirling Moss, num Vanawal e a prova ficou marcada pelo incidente com Mike Hawthorn. Desclassificado por ter feito marcha atrás na pista, após se despistar, Moss veio em seu auxílio, testemunhando que isso não sucedeu, porque vinha atrás dele e, com isso, permitiu não apenas a Hawthorn recuperar os sete pontos que lhe tinham retirado, como, mais tarde, vencer o Campeonato do Mundo!
Em 1959, Moss repetiu o triunfo, desta feita no circuito de Monsanto, em Lisboa. Ao volante de um Cooper T51 da equipa privada de Rob Walker, terminou com uma volta de avanço sobre Masten Gregory, noutro Cooper. Mas a sensação da prova foi a estreia de Nicha Cabral, que se tornou no primeiro piloto português a participar num GP de F1: acabou em 10º e último, com um Cooper-Maserati da Scuderia Centro Sud. Foi a única vez que acabou uma prova e, claro, o seu melhor resultado na F1.
1960 representou o último GP de Portugal desta fase inicial. De novo na Boavista, Brabham não somente venceu a prova como aproveitou para garantir o seu segundo título de Campeão do Mundo consecutivo na cidade do Porto. E pronto: depois desta, passar-se-iam 24 anos até à próxima prova de F1 em solo português. Nessa altura, ainda não existiam pistas permanentes em Portugal mas quando, em 1984, o GP de Portugal de F1 regressou, como a derradeira prova do campeonato do Mundo, o Autódromo do Estoril, inaugurado em 1972, estava pronto para isso. E, uma vez mais, foi decisivo para o desfecho das suas contas, que estavam pendentes entre os dois pilotos da McLaren, Alain Prost e Niki Lauda. O francês, para ser campeão, estava obrigado a vencer – mas Lauda tinha que ser terceiro ou menos. No final, Prost ganhou mesmo, mas o austríaco garantiu o título por meio ponto, depois de terminar a prova em 2º lugar.
Depois do de 1984, veio o GP de Portugal de 1985… e a primeira vitória em GP de Ayrton Senna, sob uma chuva torrencial de abril, a primeira e única vez que a prova portuguesa naquele mês. Um momento inesquecível, todos a escorregarem na água da pista, como Prost fez em plena reta da meta e, com trajetórias incríveis e nunca vistas, o jovem brasileiro a levar o Lotus na ponta das unhas até ao final da prova, passando incólume a sustos que se revelaram fatais para muitos outros pilotos. Foi o início da magia Senna.
Recordemos ainda (ou também…) outros momentos. Como a colisão múltipla na partida, em 1987, iniciada por Piquet e Alboreto e que envolveu ainda Warwick, Nakajima, Brundle, Danner, Alliot, Arnoux e Campos. O vencedor foi Prost que, ao saborear o seu 28º triunfo, ultrapassou Jackie Stewart e se tornou, então, no piloto mais vitorioso na F1! Ou 1988, o ano do famoso ‘chega para lá’ de Senna a Prost, na partida, contra o muro das boxes, a mais de 280 km/h: o francês não se intimidou e não levantou o pé, ficando na frente do brasileiro na primeira travagem, ganhando a corrida, mas as relações entre ambos nunca mais foram as mesmas.
1989 foi o ano da famosa colisão, na Curva 1, entre Senna e Mansell, numa altura em que o britânico já tinha sido desqualificado com bandeira preta, que ignorou, após ter feito marcha-atrás nas boxes. Prost, que terminou em 2º, garantiu assim virtualmente o terceiro título de campeão do Mundo.
Bom, podíamos passar a memória ainda pelo empurrão deliberado de Mansell a Alliot contra um muro, porque o francês, mais lento com o Ligier, o estava a atrapalhar no seu caminho para a vitória, em 1990; pela roda perdida por Mansell nas boxes e que lhe custou o triunfo, em 1991; pelo acidente entre Berger e Patrese, que acertou na traseira do McLaren, quando este abrandou de repente para entrar nas boxes e o Williams fez um ‘looping’ completo, quase acertando na passadeira superior de publicidade, em 1992; pela corrida de 1993, que coroou outra vez Prost, mas que ficou lembrada pelo acidente de Berger, que cruzou a pista na frente de Warwick, quando saía das boxes, embatendo de frente nos ‘rails’, do outro lado.
Em 1995, Ukyo Katayama teve sorte de sair indemne de um monumental ‘looping’ durante a partida, mesmo em frente às boxes, E até a última edição do GP de Portugal, em 1996 – a prova esteve ainda no calendário de 1997, mas acabou cancelada, porque os trabalhos de renovação da pista não ficaram terminados a tempo! – ficará lembrada para sempre pela espantosa ultrapassagem de um tal Jacques Villeneuve, estreante na pista e na F1, por fora na Parabólica, a Michael Schumacher… que nem queria acreditar no que os seus olhos estavam a ver! E está completa esta curta viagem pelos tempos em que os nossos ‘Estoril’ e ‘Grande Prémio’ eram sinónimos de grandes espetáculos. Hoje, isso já só faz parte do… AutoSport Histórico!
PALMARÉS
1958 – Stirling Moss (Vanwall)
1959 – Stirling Moss (Cooper/Climax)
1960 – Jack Brabham (Cooper/Climax)
1984 – Alain Prost (McLaren/TAG Porsche)
1985 – Ayrton Senna (Lotus/Renault)
1986 – Nigel Mansell (Williams/Honda)
1987 – Alain Prost (McLaren/TAG Porsche)
1988 – Alain Prost (McLaren/Honda)
1989 – Gerhard Berger (Ferrari)
1990 – Nigel Mansell (Ferrari)
1991 – Riccardo Patrese (Williams/Renault)
1992 – Nigel Mansell (Williams/Renault)
1993 – Michael Schumacher (Benetton/Ford)
1994 – Damon Hill (Williams/Renault)
1995 – David Coulthard (Williams/Renault)
1996 – Jacques Villeneuve (Williams/Renault)