Fórmula 1: Breve história, de Nino Farina a Max Verstappen


Quando se ouviram os motores no arranque do GP da China de Fórmula 1 de 2019, o Mundial da modalidade fez exatamente 1000 corridas. A 13 de maio de 2020, a competição comemorou os seus setenta anos de vida, depois de ter ‘nascido precisamente neste dia, em 1950, quando se realizou a primeira corrida da história da competição em Silverstone, Nino Farina e a Alfa Romeo terem inscrito o seu nome no livro de ouro da modalidade. Vamos recordar ‘telegraficamente’ a história…

Como em tudo na vida, há sempre um começo, e se o Mundial de Fórmula 1 foi ‘oficializado’ apenas em 1950, as ‘febre’ das corridas começou muito antes. Pouco depois da invenção doa automóvel, ainda os calendários não referiam o Séc. XIX já havia corridas nas ruas de Paris.

Menos de uma década depois, o primeiro Paris-Rouen, em 1895, o Paris – Bordeaux – Paris. Depois vieram os circuitos fechados, e o efeito multiplicador sentiu-se de imediato. O primeiro verdadeiro Grande Prémio foi em 1906, entre as duas guerras mundiais, as coisas melhoraram muito porque do esforço de guerra sobrou tecnologia. As potências dos carros cresceram, os circuitos diminuíram.

Naturalmente, com a interrupção da 2ª Guerra Mundial, não demorou muito a que o automobilismo recuperasse a sua força anterior e a incrementasse. Nasceram novas marcas, a Ferrari, por exemplo, os italianos surgiram após a 2ª guerra como a potência automobilística e na primeira década da F1 só a Mercedes se intrometeu entre a Alfa Romeo, Ferrari e Maserati.

Foi no dia 13 de maio de 1950 em Silverstone, Grã-Bretanha, que se deu o início ao Mundial de Fórmula 1, oficializando-se dessa forma uma competição que já levava alguns anos de ‘preparação’. Desta forma, já lá vão 65 anos de história duma modalidade que depressa se tornou no pináculo do desporto motorizado mundial. Há seis décadas e meia que os melhores pilotos comungam do mesmo objetivo, vencer corridas e campeonatos, num percurso cheio de pessoas e acontecimentos absolutamente marcantes. A história está cheia de rasgos de génio, quer dos homens do volante, quer dos que pensam e constroem os monolugares, tendo-se assistido a enormes progressos nos domínios técnico e tecnológico, e especialmente na segurança. Quem se recorda do que era a F1 nos seus primórdios, testemunhou a sua grande evolução nos anos 60 e 70, não pode deixar de destacar tudo o que foi feito desde aí. Muita coisa mudou para melhor, outras acompanharam o sabor dos tempos e os grandes heróis, os pilotos, são hoje em dia seres cada vez mais distantes e colocados no alto dos seus quase inacessíveis pedestais. Hoje em dia, contactar com um piloto de F1 está ao alcance de muito poucos.

Ainda assim, e mesmo com os seus responsáveis a não olharem com a atenção devida para a enorme legião de adeptos da modalidade – exceção feita à moda atual das redes sociais – a Fórmula 1 continua a ser um desporto extremamente espetacular, e o objetivo da quase totalidade dos jovens que um dia começa por levar o karting mais a sério.

Ao longo destes 65 anos, houve, marcas e figuras que deixaram e ainda deixam uma forte ‘pegada’ na modalidade. Marcas como a Ferrari, McLaren, a outro nível, a Williams, Renault e Lotus. Pilotos como Juan Manuel Fangio, Alberto Ascari, Jim Clark, Jack Brabham, Graham Hill, Niki Lauda, Emerson Fittipaldi, Jackie Stewart, Alain Prost, Nelson Piquet, Ayrton Senna, Michael Schumacher, Mika Hakkinen, Fernando Alonso ou Lewis Hamilton, entre tantos outros que de alguma forma preenchem o imaginário dos adeptos. Fora da pista, não podem ser esquecidos nomes como Colin Chapman, génio fundador da Lotus, ou Bernie Ecclestone, esse mal-amado, que, goste-se ou não, levou a F1 a um patamar que nem ele imaginaria na altura que iniciou o seu percurso.

A modalidade já teve melhores dias, dizem uns, mas a verdade é que os grandes construtores sabem que continua a ser na F1 que mais facilmente atingem o patamar que preconizam, pois se é verdade que hoje em dia o investimento para ter uma equipa na modalidade é exorbitante, também o alcance é diretamente proporcional. Literalmente, o universo. Nas próximas páginas, vamos descobrir o que de mais importante aconteceu em cada década…

DÉCADA A DÉCADA

1950-1959: Os primórdios…

Giuseppe Farina ficou na história como o primeiro vencedor duma prova do Mundial de F1 e curiosamente também o primeiro campeão, batendo Juan Manual Fangio por três pontos, que ainda é hoje considerado um dos maiores pilotos de sempre. Da equipa de Nino Farina, a Alfa Romeo, faziam parte Fangio e Fagioli, e o seu grande adversário era a Ferrari de Alberto Ascari, que seria o vencedor em 1952 e 1953. Mas seria Fangio quem acabaria por marcar claramente esta primeira década do Mundial de F1 ao conquistar o título em 1951, e todos entre 1954 e 1957, o primeiro com a Maserati, depois com os famosos Mercedes-Benz/Flechas de Prata, em 1954 e 1955, em 1956 com o Lancia-Ferrari e, finalmente em 1957 com o Maserati 250 F. Em 1958, ano em que mais corridas se realizaram, onze, disputou-se o no circuito da Boavista o primeiro GP de Portugal válido para o Mundial de F1, que Stirling Moss venceu ao volante do Vanwall S4, triunfo reeditado em 1959 no circuito de Monsanto, desta vez no Cooper-Climax. Depois dos cinco títulos de Fangio, e dois de Alberto Ascari, Mike Hawthorn (1958) e Jack Brabham (59 e 60) completaram o lote. Curiosamente o número de GPs oscilou, entre 5 e 11, mas havia muitas corridas de F1 extra-campeonato, uma tradição que prosseguiu até 1983, quando estas deixaram de ser rentáveis.

1960-1969 Clark, Brabham e Hill

Os pilotos britânicos dominaram a década de 60. O Team Lotus de Colin Chapman elevou a fasquia da F1, Jim Clark levou o seu talento aos limites e fez história com o seu Lotus 33 sendo que a reintrodução de monolugares com motores centrais foi o grande desenvolvimento deste período, pelo que todas as equipas, em determinado ponto, fizeram a troca. Até meio da década assistiu-se a uma diminuição da cilindrada, de 2,5 para 1,5 litros. Jack Brabham assegurou em 1960 o seu segundo título mundial, e no ano seguinte foi a vez de Phill Hill, ao volante do belíssimo Ferrari Dino 156 a ficar com o lugar mais alto do pódio. Estava longe de ser novidade na F1, mas a morte do emblemático piloto Wolfgang Von Trips, piloto da Ferrari, num dramático acidente em Monza deixou marcas. No ano seguinte, Stirling Moss colocaria um ponto final na sua carreira após um violento acidente numa prova extra-campeonato em Goodwood, o mesmo ano em que a Porsche, com Dan Gurney venceu o seu primeiro GP, em Rouen, França.

Graham Hill conquistou o seu primeiro mundial tripulando o BRM P57, o mesmo acontecendo em 68, já com o Lotus-Ford. Em 63 Jim Clark arrecadaria o seu primeiro cetro mundial ao volante do Lotus 25-Climax, algo que viria a repetir dois anos mais tarde, até que, numa prova de F2 em Hockhenheim, acabaria por perder a vida. Em 1969 a associação Jackie Stewart/Ken Tyrrell deu os primeiros frutos com o piloto escocês a ganhar o primeiro de cinco títulos e único com a Matra.

1970-1979 Aparecimento da aerodinâmica

A década de 70 ficou marcada pelo sucesso comercial da F1, que cresceu fortemente e o crédito vai todo para Bernie Ecclestone. Nas pistas, o brasileiro Emerson Fittipaldi torna-se no mais jovem piloto de sempre a vencer um GP, mas é Jackie Stewart que se destaca mais, com títulos em 1971 e 1973, a juntar ao que já tinha obtido em 1969.

Em termos tecnológicos, destaque para a introdução das monocoque de alumínio. O efeito de solo foi introduzido no final da década, uma inovação que aumentou muito a velocidade em curva. Outro aspeto que melhorou muito durante esta de´cada foi a segurança, com Jackie Stewart a ser o seu porta-estandarte, ‘farto’ que estava de ver amigos seus cair. Outro, foi a aerodinâmica, fruto do génio de Colin Chapman, que, como se sabe, marcou a história da F1.

O título de 1970 foi, ironicamente, atribuído a título póstumo, na sequência da morte de Jochen Rindt em Monza, depois de um problema mecânico no Lotus 49 C. Neste ano morreram, também, Bruce MClaren e Piers Courage. No ano seguinte o campeão de F1 falou português pela primeira vez, com Emerson Fittipaldi no Lotus 72-Ford a alcançar para o Brasil o primeiro título mundial.

Fittipaldi repetiu a ‘dose’ em 1974 com o McLaren-Ford M3 e em 1975 a Ferrari vence o título Mundial pela primeira vez desde 1964, com Niki Lauda a alcançar o título de pilotos. A primeira vitória de James Hunt no Mundial foi em 1976 (McLaren M23) ano que ficará sempre ligado ao terrível acidente de Niki Lauda em Nurburgring e à estreia do fabuloso Tyrrell P34 (seis rodas) em Jarama. No ano seguinte, após longa recuperação, Lauda venceu o Mundial para a Ferrari. O Lotus 78 marca entrada dos conceitos aerodinâmicos na F1 com Andretti campeão no ano seguinte. A estreia do Renault com o pequeno motor turbo de 1,5 litros, permitiu a Depailler vencer o GP de França de 79.

A década terminou com o triunfo de Jody Scheckter (Ferrari 312 T3).

1980-1989 Morte de Villeneuve, surge Senna!

A década de 80 foi das mais marcantes da história da modalidade, e é por muitos considerada ‘a’ década da F1. Potências acima dos 1000 cv e as lutas Alain Prost/Ayrton Senna. Provavelmente seria suficiente para convencer os mais céticos, mas a verdade é que houve muito mais. As ajudas eletrónicas começaram logo no início da década, a suspensão ativa foi desenvolvida, caixas semi automáticas e controlos de tração também. Nas pistas, a era foi dominada pelos ‘tri’ de Alain Prost e Nelson Piquet, pela McLaren e pela Williams, com quatro títulos de Construtores cada uma.

E as lutas entre Ayrton Senna e Alain Prost colocaram a modalidade nos píncaros da fama. Em 1982, desaparece um dos ícones da história da modalidade, Gilles Villeneuve, curiosamente para pouco depois surgir outro génio, Ayrton Senna. Em 1980, Alan Jones conquistou o primeiro título mundial da Williams e no ano seguinte a Brabham de Ecclestone alcançou o primeiro triunfo mundial graças a Nelson Piquet. Em 1982, Keke Rosberg venceu o Mundial ao volante do Williams FW07B com apenas uma vitória conquistada. Em 1983 Nelson Piquet voltou vencer o Mundial, um ano antes da F1 regressar a Portugal, derradeira prova do campeonato e onde foi possível assistir a um final emocionante, com o McLaren de Lauda a bater o McLaren de Prost por apenas meio ponto. Ayrton Senna que já tinha brilhado no Mónaco numa corrida marcada pela chuva e na qual o triunfo lhe foi ‘retirado’ pelo director de prova, Jacky Yckx, fez a sua estreia no autódromo do Estoril. Um ano depois, em 1985, debaixo de forte chuva, efetuou uma corrida de exceção que lhe valeu a primeira vitória na F1. No ano seguinte um regular Prost (McLaren MP4-2C) bateu os mais rápidos Williams-Honda.

Em 1988 assistiu-se às lutas mais fantásticas que já foi possível ver na F1, entre os dois pilotos da McLaren, Prost e Senna, que venceram 15 das 16 corridas e no último GP, no Japão, Senna vence e conquista o seu primeiro título.

No ano seguinte a cena repetiu-se, numa temporada marcada por nova rivalidade entre Senna e Prost. Um acidente em Suzuka entre os dois pilotos, julgado de forma considerada por muitos parcial, pelo presidente da FISA, Jean-Marie Balestre entregou o campeonato, numa bandeja, a Alain Prost deixando Senna muito mais do que indignado.

1990-1999 Morte de Senna e Lamy na F1

Ayrton Senna não esqueceu o que lhe fizeram em 1989 e no ano seguinte resolveu vingar-se. Novamente em Suzuka, depois de polémica com o local da ‘pole’, partiu pior que Prost, mas não lhe permitiu passar da primeira curva, colocando-se e ele e ao francês fora de prova assegurando o seu segundo título mundial.

no ano seguinte, repetiu o feito, mas sem as polémicas dos anos anteriores. Nessa altura um jovem alemão, de nome Michael Schumacher, foi chamado para substituir o piloto da Jordan, Bertrand Gachot, preso devido a uma tentativa de agressão a um taxista inglês.

Nigel Mansell triunfou facilmente com a Williams em 1992, com Schumacher a assegurar a sua primeira vitória da carreira, na Bélgica, ao volante do Benetton 191 B. Se a passagem de Pedro Matos Chaves na F1 com a Coloni em 1991 foi fraca, Portugal voltou a ter dois anos depois a oportunidade de ter um piloto na F1 já que Pedro Lamy se estreou no GP de Itália de F1, aos comandos de um Lotus-Ford, alcançando bons resultados. Com a Williams, Alain Prost venceu facilmente em 1993. No ano seguinte, Ayrton Senna foi para a Williams, mas a temporada não lhe corre de feição, até que no GP de San Marino em Imola, Ayrton Senna sofre um acidente e perde a vida quando liderava a corrida. Na partida, um acidente entre Pedro Lamy e JJ Letho provocou a entrada do safety-car em pista, permanecendo à frente do pelotão durante algumas voltas. Quando a corrida recomeçou Ayrton, na situação de líder, forçou o andamento até que não conseguiu evitar o despiste na rápida curva de Tamburello, acabando por não resistir aos ferimentos. Depois da morte de Roland Ratzenberger nos treinos, o GP de San Marino assistia à morte de um dos emblemáticos pilotos de sempre na F1. O ano terminou também com polémica, já que Michael Schumacher chegou ao seu primeiro título na F1, mas depois duma manobra duvidosa sobre Damon Hil em Adelaide.

Em 95 Schumacher e a Benetton voltaram a vencer, num ano em que existiram muitas dúvidas sobre a legalidade do monolugar, mas a verdade é que Schumacher obteve nove triunfos contra quatro de Damon Hill. No ano seguinte, o alemão foi para a Ferrari, e na sua primeira temporada em Maranello não teve hipóteses de se bater com os Williams, que venceram por doze vezes, contra três do alemão na Ferrari.

Michael Schumacher voltou a ficar ligado a uma decisão de Mundial polémica, com Jacques Villeneuve, mas desta feita quem levou a melhor foi o piloto da Williams, pois a manobra musculada que Schumacher fez sobre o canadiano correu-lhe mal e foi ele que lá ‘ficou’. E ficou também sem os pontos, já que foi castigado, e perdeu os pontos do Mundial.

Depois de alguns anos de alternância de títulos entre a Benetton e a Williams, em 1998 foi a vez da McLaren-Mercedes vencer, com Mika Hakkinen a superiorizar-se na fase final da temporada e a chegar ao título. No ano seguinte, o finlandês voltou a vencer, com grande oposição de Eddie Irvine, e beneficiou do

grave acidente de Michael Schumacher no GP da Grã-Bretanha que o afastou das pistas vários meses.

2001-2010 Pódio português

Depois do mito Senna, nos anos 90, a passagem de século ficou marcada pela ascensão definitiva ao estrelato de Michael Schumacher, que com a Ferrari, venceu cinco campeonatos de pilotos e seis de construtores, numa série de triunfos sem precedentes na história da modalidade. Contudo, em 2005, o piloto da Renault,

Fernando Alonso terminou com a série de Schumacher, no final de 2005. Um feito extraordinário, mas estranhamente o hepta-campeão mundial abandonou a F1 no final de 2006. Esta década ficou igualmente marcada por situações à margem da esfera desportiva, mas que representaram uma forte mácula para a modalidade. Por exemplo, o duplo depósito de combustível da BAR-Honda, o caso de espionagem, ‘Stepneygate’, o polémico ano de 2007 na McLaren,

entre Alonso, Ron Dennis e Lewis Hamilton, as ‘fraquezas sexuais’ do ex-presidente da FIA, Max Mosley, e a pior de todas as situações, o acidente deliberadamente provocado Piquet Jr. no GP de Singapura em 2008 para que Alonso, seu colega de equipa, tivesse oportunidade de vencer. E logo na primeira vez que a F1 realizou uma corrida noturna. Curiosamente, do ponto de vista português, a década foi interessante, com a estreia de Tiago Monteiro na F1 em 2005 e logo com um pódio, seguida da boa exibição no GP da Bélgica.

Entre 2000 e 2004, Michael Schumacher venceu cinco títulos consecutivos, quase acabando com o interesse da Fórmula 1. Mas se o interesse diminuiu, a verdade é que se estava a assitir ao evoluir de um piloto que se tornaria um mito na F1. A excelência da pilotagem de Schumacher, aliada aos fabulosos carros que a Ferrari lhe construiu levou a anos sem que os adversários tivessem a mínima hipótese. Em 2001 e 2002, Schumacher ficou perto ou dobrou mesmo a pontuação dos seus adversários, David Coulthard e Rubens Barrichello, mas em 2003 o Mundial foi equilibrado até à última corrida, com o alemão a bater Raikkonen por dois pontos. 2004 foi um novo ano sem adversários para a Ferrari. O reinado de Schumi terminaria em 2005 com a vitória de Fernando Alonso, com uma competitiva Renault, com o binómio espano-francês a repetir o feito em 2006. O ano de 2007 foi dos mais interessantes com quatro pilotos na luta pelo título, e a terminar com três pilotos separados por um ponto. A McLaren teve o Mundial na mão, mas tudo lhe correu mal no Brasil e a Ferrari venceu por intermédio de Kimi Raikkonen.

No ano seguinte, outro final de Mundial impróprio para cardíacos, e depois da chuva assolar Interlagos, quando já se festejava na boxe da Ferrari o título de Felipe Massa, momentos antes, Timo Glock sofria com a pista molhada e era ultrapassado por Vettel e Hamilton, com o inglês da McLaren a assegurar o quinto lugar, o que precisava para ser campeão.

O ano de 2009 ficou marcado por novidades técnicas, principalmente na área aerodinâmica, que não deixarem de causar alguma controvérsia e, também pelo abandono da Toyota e Honda. Contudo, Ross Brawn ‘agarrou’ na equipa, chamou-lhe Brawn GP, levou Jenson Button consigo e possibilitou-lhe a conquista do seu primeiro título mundial. A Brawn foi a equipa que melhor leu o regulamento técnico e até os adversários conseguirem reagir, ganhou a vantagem que precisava para assegurar os dois títulos.

2010 foi o ano que marcou o fim dos reabastecimentos na F1. Fernando Alonso foi para a Ferrari, a Mercedes regressa à F1, Michael Schumacher regressa com a equipa alemã, que herda uma estrutura, Brackley, ganhadora. Mas as grandes ‘vedetas’ são a Red Bull e Sebastian Vettel, que se tornou num Campeão improvável, trocando as voltas aos seus rivais na corrida decisiva em Abu Dhabi, num dia em que Alonso e Webber terminaram longe dos lugares habituais, com o alemão a sagrar-se o mais jovem Campeão do Mundo da história da F1. Sem nunca liderar o Mundial até ali, o jovem alemão guardou o melhor para o final e não poderia ter escolhido com mais acerto o dia em que passou pela primeira vez na sua carreira, para a frente do Campeonato do Mundo de Pilotos: o dia em que acabou o Mundial de 2010.

2011-2015 Vettel e Mercedes

2011 ficou marcado por novo aumento de calendário, passando para 20 0 número de corridas. A novidade, o primeiro GP da Índia. Curiosamente, devido a protestos políticos no Bahrein, o GP foi adiado e depois cancelado. Em termos desportivos, Sebastian Vettel dominou por completo e temporada, venceu seis das primeiras oito corridas e no fim do ano somou triunfos em 11 Grandes Prémios, mais do que todos os restantes pilotos que venceram corridas, juntos. A quatro corridas do final do ano, assegurou o bicampeonato.

Em 2012, nova estreia, desta feita o GP de Austin (Texas, EUA), com Sebastian Vettel a tornar-se no mais jovem tricampeão da história da F1. Contudo, desta feita o título não foi fácil. Sete vencedores diferentes nas sete primeiras corridas foi o cartão de visita desta temporada, com o piloto da Ferrari, Fernando Alonso, a ser o primeiro repetente. Depois de altos e baixos dos dois candidatos, Vettel e Alonso, chegam à última corrida em Abu Dhabi separados por 13 pontos, com vantagem para o homem da Red Bull. Contudo Vettel foi excluído da qualificação em Abu Dhabi, teve que partir do fim da grelha e Alonso teve a sua oportunidade. Só que a corrida foi atribulada, e Vettel logrou terminá-la em sexto, o suficiente para ser campeão.

2013, outra vez Vettel, o tetracampeonato, e outra época perfeitamente dominadora, com o alemão da Red Bull a vencer 13 vezes, o dobro de todos os restantes pilotos juntos. O ano fica igualmente marcado pelo desaparecimento da HRT, que faliu no final de 2012, sendo este o último ano dos motores V8. Alonso não deixou fugir muito Vettel até ao meio da temporada, mas a partir daí o alemão da Red Bull venceu dez em onze corridas, terminando com a emoção em pista.

2014 marcou uma mudança drástica nos regulamentos da F1, com a adoção de novos motores turbo V6 de 1.6 litros, num conjunto de unidade motriz híbrida que passou a ter seis componentes, o motor de combustão, turbo, motor gerador de energia cinética (MGU-K), que colhe energia das travagens, motor gerador de calor (MGU-H), que recolhe energia do escape, a bateria (ES) onde se acumula toda a energia recolhida e a unidade de controlo eletrónico (CE) que gere toda a unidade motriz.

Esta enorme mudança permitiu à Mercedes um grande salto competitivo, pois trabalhou bem melhor que os adversários na sua UM, e a sua equipa ganhou uma vantagem que os adversários não conseguiram acompanhar. Ferrari, Renault ficaram bem atrás dos alemães, e por isso o Mundial foi uma ‘conversa’ a dois entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg, com o inglês oriundo da McLaren a vencer 11 Grandes Prémios, contra cinco de Rosberg, com o título a resolver-se apenas em Abu Dhabi devido à ‘invenção’ dos pontos a dobrar.

Daniel Ricciardo e a Red Bull aproveitaram bem as sobras da Mercedes, com o australiano a vencer três GPs em que a Mercedes não esteve tão bem. O ano ficaria ainda marcado pelo grave acidente de Jules Bianchi no GP do Japão, que o deixaria em coma, vindo o jovem da Marussia a perder a vida já em 2015.

Em 2015, as coisas mudaram um pouco, mas não relativamente à Mercedes. Os seus dois pilotos continuaram a ‘chocar’ muito em pista, depois duma fase inicial favorável a Hamilton, Rosberg reagiu, mas a partir do GP da Bélgica o inglês entrou numa fase quase avassaladora, resolvendo a questão bem cedo. Contudo, Rosberg reagiu nos GP finais de 2015, e por isso havia a curiosidade de ver se o alemão dá mais luta. Em 2014 foi a Red Bull, mas em 2015 foi a Ferrari que cresceu de produção e aproximou-se um pouco da Mercedes, com Sebastian Vettel, que rumou a Maranello, a vencer três Grandes Prémios e a levar a luta pelo título até ao último terço do campeonato.

2016-2019: Mais equilíbrio

Da decisão do título na última jornada à retirada do eventual campeão, 2016 foi um ano repleto de motivos de interesse no meio de novo domínio da Mercedes. Finda a época é tempo de fazer o balanço da prestação dos pilotos e das equipas.

Começou com um arranque fenomenal de Nico Rosberg. Teve a primeira polémica no GP de Espanha, ganho pelo surpreendente Max Verstappen, e a primeira reviravolta antes da pausa do verão, quando, após o GP da Alemanha, Lewis Hamilton recuperou de um défice de 43 pontos para assumir o comando do campeonato. A segunda surgiu logo a seguir, depois de Nico Rosberg encabeçar nova senda de triunfos nas visitas à Bélgica, Itália e Singapura.

Quatro vitórias do colega de equipa nas últimas quatro provas do ano traduziram-se depois num final de temporada de cortar a respiração, com Rosberg a reclamar o primeiro (e último) título mundial da carreira por apenas cinco pontos, com menos vitórias (9 contra 10) do que Hamilton, e após uma estratégia arriscada do rival, que abrandou propositadamente o ritmo da corrida que teve lugar em Abu Dhabi. Houve drama, tensão, polémica. Mas no final houve mais do mesmo: pelo terceiro ano consecutivo, a Mercedes levou todos os títulos em disputa para casa, vencendo 19 das 21 etapas do campeonato mais extenso da história da Fórmula 1.

Mesmo que os livros dos recordes tendam a olhar apenas para as estatísticas, o que facilmente descartaria 2016 como um ano memorável na modalidade dado o domínio dos ‘flechas prateadas’, a verdade é que esta temporada libertou algumas estrelas, confirmou outras, relegou para segundo plano antigos membros da constelação dos eleitos e provou que existem outros que, por mais anos que estejam no ativo, continuarão a brilhar sempre, com carro ou sem ele.

Foi o caso de Max Verstappen, cuja promoção à equipa principal da Red Bull foi mais do que merecida, traduzindo-se numa espetacular vitória logo na sua prova de estreia com a equipa, embora beneficiando do contacto da primeira volta entre os dois Mercedes. E igualmente de Daniel Ricciardo, que fez tudo para manter o seu estatuto em Milton Keynes, apesar da ameaça do holandês. É também a situação de Stoffel Vandoorne, que conseguiu terminar nos pontos na primeira corrida que fez com a McLaren após o incrível acidente de Fernando Alonso no GP da Austrália, de Pascal Wehrlein, que deu um pontinho à Manor, ou de Esteban Ocon, que chegou a meio do ano para superiorizar o colega de equipa e garantir a promoção à Force India em quatro meses de Fórmula 1.

Mas também de Daniil Kvyat, devolvido à Toro Rosso e de ‘cabeça perdida’ durante grande parte da época.

Ou então de Fernando Alonso, que continuou a fazer ‘milagres’ ao volante de um monolugar pouco competitivo. Adiante. 2016 foi igualmente o ano em que a ‘velha guarda’ saiu de cena (Felipe Massa, Jenson Button, Ron Dennis e por fim Nico Rosberg) para abrir caminho para uma nova geração de pilotos e dirigentes. Em que uma equipa norte-americana voltou a fazer parte da Fórmula 1, tal como a Renault, que voltou a recomprar Enstone.

Em que a Sauber provou que as equipas de menor dimensão têm cada vez mais dificuldades em sobreviver na Fórmula 1, e em se manterem no ativo sem o apoio de pilotos pagantes.

O ano de 2017 na F1 foi mesmo um ano vintage. Se olharmos apenas para os resultados da temporada de 2017 do Campeonato do Mundo de F1, podemos ser levados a pensar que foi mais do mesmo, com títulos e domínio da Mercedes. Mas a equipa de Brackley teve que se aplicar a fundo para bater a ressurgida Ferrari que chegou a ser a força competitiva em pista.

A época era aguardada com grande expetativa, uma vez que a introdução de um novo pacote regulamentar para os chassis e para a aerodinâmica prometiam os carros mais rápidos de sempre, para além de monolugares mais apelativos esteticamente.

Os objetivos foram amplamente alcançados, com a esmagadora maioria dos recordes batidos e com os Fórmula 1 – mais largos, pneus maiores, asas mais baixas e largas – a evidenciarem uma agressividade e sensualidade que já não eram vistas desde o longínquo ano de 1997.

É evidente que nem tudo é positivo e, apesar da maior largura dos pneus, a aderência aerodinâmica ganhou maior preponderância, o que causou maiores dificuldades na realização de ultrapassagens.

No entanto, nem sempre isso foi um problema evidente, tendo sido possível assistir a ultrapassagens extraordinárias ao longo do ano, verdadeiramente conquistadas e não oferecidas pelo DRS, o que acabou por ser positivo. Mas em Abu Dhabi o problema agravou-se num traçado em que ultrapassar sempre foi quase uma impossibilidade – que o diga Fernando Alonso que perdeu um título em 2010 por não ter conseguido ultrapassar Vitaly Petrov.

Foi um bom ano para a Fórmula 1, na generalidade, assistimos a grandes batalhas em pista com protagonistas que são a fina flor do automobilismo mundial – Lewis Hamilton, Sebastian Vettel, Max Verstappen, Daniel Ricciardo, Fernando Alonso – ao volante dos carros mais rápidos do mundo e não raras as vezes foi possível ver a olho nu o elevado nível a que qualquer um opera – a forma como o holandês realizava os esses do Circuit Hermanos Rodríguez é um exemplo avassalador.

Tivemos heróis e vilões como é preciso em qualquer desporto – a Vettel assentou na perfeição o segundo papel com a sua atitude de Baku, ao passo que Verstappen se assume cada vez mais como o herói da juventude, Hamilton o herói dos adeptos e o Alonso “Homem que nunca desiste”.

No final, os resultados refletem justamente quem foi melhor ao longo do ano – Hamilton foi mais forte que Vettel, que errou em demasia com profundo impacto na sua campanha, e a Mercedes, muito embora não tenha tido sempre o melhor carro, maximizou o material que tinha à sua disposição e, principalmente, demonstrou fiabilidade, aspeto em que a Ferrari falhou nos momentos decisivos.

Politicamente, viveu-se um ano de acalmia e, fora das pistas, o grande tema da temporada foi perceber se a McLaren aguentava a Honda por mais um ano ou não, que acabou em divórcio.

Foi a primeira época sob a égide da nova FOM, liderada pelos homens da Liberty, vivendo-se um período de “lua de mel”, com novas iniciativas na promoção da categoria e uma maior abertura da Fórmula 1 aos fãs e às redes sociais.

Em 2018, o Campeonato Mundial de F1 conheceu um ano intenso onde a luta Lewis Hamilton versus Sebastian Vettel fez lembrar duelos de antanho.

Naquela que terá sido, provavelmente, a temporada de Fórmula 1 mais interessante dos últimos anos, Lewis Hamilton ascendeu ao olimpo onde moram Juan Manuel Fangio e Michael Schumacher. Não foi uma época perfeita, mas o agora cinco vezes campeão do mundo mostrou maturidade, resiliência e compromisso que justificam entregar-lhe o cetro de sucessor de Michael Schumacher.

O quinto título alcançado que coloca Hamilton a pairar por cima dos restantes junto de um grupo de eleitos onde só cabem Juan Manuel Fangio e Michael Schumacher, terá sido o mais difícil, mas, ao mesmo tempo, o mais saboroso. Foi difícil porque a Mercedes não esperava uma Ferrari tão forte logo no tiro de partida e uma Red Bull tão irreverente, obrigando a equipa alemã sediada em Inglaterra a puxar dos galões e a trabalhar bem mais que em temporadas anteriores.

2020-2022: Mudança de paradigma

Em 2020, Hamilton e a Mercedes continuaram a sua forma dominante, com Hamilton a vencer o seu sétimo campeonato mundial, empatando com o recorde de Michael Schumacher. Valtteri Bottas voltou a terminar em segundo lugar no campeonato, enquanto Verstappen terminou em terceiro mais uma vez.

A temporada 2021 viu uma luta mais equilibrada pelo campeonato, com Max Verstappen e a sua equipa, Red Bull Racing, a emergir como os principais adversários da Mercedes. Verstappen liderou o campeonato durante grande parte da época, mas Hamilton conseguiu fechar a lacuna e assumir a liderança do campeonato rumo à corrida final da época.

Mas aí, quem vencesse era campeão e no final mais dramático da história da F1, em Abu Dhabi, Max Verstappen venceu. Não faltou polémica devido às decisões do Diretor de Corrida, Michael Masi, mas o neerlandês foi um campeão merecido, tal como teria sido Hamilton. Desta forma, Max Verstappen tornou-se no primeiro piloto campeão para lá de Lewis Hamilton ou Sebastian Vettel desde 2013.

A temporada de 2022 fica marcada por a maior mudança de regulamentos de sempre na F1, e também com a introdução de um limite de custos com o objetivo de nivelar o plantel, mas a Red Bull dominou por completo a época com Max Verstappen e a Red Bull Racing a vencerem os campeonatos.

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