Ayrton Senna: Os anos McLaren (1988-1993) DA PAIXÃO AO DIVÓRCIO
Para Ayrton Senna a chegada à McLaren foi o culminar de um sonho: duma assentada passou a ter o melhor carro do plantel e aquele que era considerado o melhor piloto do Mundo como companheiro de equipa. Os objectivos eram claros: ganhar o Mundial o mais rapidamente possível e mostrar que era mais forte que Alain Prost, para ganhar o estatuto que o francês tinha granjeado nos últimos anos.
Para isso o piloto brasileiro forjou uma ligação muito íntima com a Honda, pois os japoneses tinham uma admiração reverencial pela sua ética de trabalho, pela sua sensibilidade técnica e pelas suas invulgares capacidades de pilotagem. Senna percebeu rapidamente que com toda a McLaren completamente convencida que Prost era mesmo o melhor piloto do Mundo e que teria de o bater doutra forma para os convencer e ganhar-lhes a mesma devoção que devotavam ao gaulês.
O ano de 1988 foi o da conquista da McLaren e o brasileiro conseguiu os seus objectivos de forma tão brilhante que quando o verniz estalou em Imola, no inicio do ano seguinte, a equipa dividiu-se, partiu-se mesmo ao meio e Prost, sentindo que tinha sido apeado do seu pedestal tomou a iniciativa incomum de anunciar no Paul Ricard, ainda antes do meio da temporada, que deixaria a equipa de Woking, acabando por rumar à Ferrari. Em apenas um ano e meio Senna conquistara o título, passara a ser considerado o melhor piloto do Mundo e ficara como reino e senhor da McLaren.
Como Gerhard Berger, que substituiu Prost entre 1990 e 1992, nunca foi uma ameaça para Senna, esses três anos foram de grande harmonia entre o brasileiro e a equipa, mas quando o V12 da Honda falhou os objectivos, no último ano de colaboração com a equipa inglesa, Senna zangou-se com os japoneses, teve mesmo uma reunião explosiva com os técnicos nipónicos em Budapeste, e a separação no final do ano não foi tão amistosa como se poderia esperar.
A Honda no centro da relação
Mas o fim da ligação McLaren-Honda também inquinou o relacionamento de Ayrton Senna com Ron Dennis e com a sua equipa. Percebendo que a Williams-Renault tinha muito melhor material, vetado por Prost no seio da equipa de Sir Frank, frustrado por a Ford se recusar a dar-lhe motores tão competitivos como os que entregava à Benetton, Senna vingou-se na McLaren, exigindo um salário de um milhão de dólares por Grande Prémio, causando um forte buraco no orçamento da escuderia de Woking.
Nem as cinco vitórias conseguidas com material inferior fizeram com que a separação no final da temporada fosse menos amarga, mesmo sem em Adelaide, na última corrida do ano, se percebeu que, pela primeira vez, Senna percebeu o que ia deixar para trás e mostrou-se bastante emotivo depois de sair do pódio.
Se como piloto Senna consolidou na McLaren as promessas que já tinha feito durante o ano em que esteve na Toleman e nas três temporadas completadas com a Lotus, foi como pessoa que mais mudou nos seis anos em que esteve em Woking. Os dois anos de guerra interna com Prost, sobretudo 1989, endureceram um carácter que já era bastante forte e Senna passou a ser ainda mais intolerante do que antes. Foi nessa altura que fomentou uma série de conflitos com diversas personalidades no paddock, passando a estar bastante mais isolado do que nos seus primeiros anos.
A convivência com Gerhard Berger fez um bem enorme a Ayrton Senna. O paulista começou por não perceber como funcionava o austríaco e pouca importância lhe deu porque este não era de facto uma ameaça ao seu domínio interno, ficando até estupefacto por alguém tão brincalhão e descontraído poder ser, ocasionalmente, tão veloz. A curiosidade acabou por levar a uma progressiva proximidade que acabou por se transformar na única verdadeira amizade entre pilotos – Gugelmin aparte – que Ayrton Senna teve nos seus dez anos e meio na F1.
A competitividade do brasileiro também se viu na forma como tentou bater Berger num jogo em que o austríaco era mestre, o de causar situações embaraçosas para os restantes. Não se pode dizer que o paulista tenha ganho esta “guerra”, porque Berger não conhecia limites, mas este relacionamento tornou Senna num homem mais descontraído, que aceitava que outros tivessem outra visão do mundo e das corridas, abrindo-se um pouco para o Mundo.
A ligação com Adriane Galisteu, 12 anos mais nova que Senna, também ajudou a humanizar o piloto brasileiro e teria sido fascinante ver como iria evoluir sem os trágicos acontecimentos de Imola. Mas o rapaz tímido e fechado que chegou a Woking no inicio de 1988 saiu de lá, seis anos mais tarde, mais desenvolto e aberto para outras realidades, crescendo como homem, ainda mais do que evoluiu como piloto.
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