Até o São Pedro ajudou, escreveu o AutoSport na altura – apesar de as coisas estarem a decorrer em território ‘inimigo’, precisamente onde, não há muitos meses, o Santo António fez encher o palco de eleição que é a Avenida da Liberdade. Uma diferença: o chique não era muito visível, embora se passeasse
muita gente bonita. Mas a festa era popular – para a multidão que, talvez não a mesma que celebrou o Santo António com cheirinho a sardinha assada e a manjerico, vibrou com as passagens dos dois Renault Mégane Trophy, dois pequenos e irrequietos Car Toons e, principalmente, do Renault R27 pilotado
por Lucas di Grassi, o terceiro piloto da equipa de F1.
Pelo meio, alguns “cromos da bola”, que até sabiam «que o piloto do Futebol Clube do Porto não ganhou no Estoril. Vamos a ver se este ganha!» O quê, não sabiam, de todo; sabiam, isso sim, que nestas coisas das corridas, há sempre alguém a ganhar. Nem que esteja a correr sozinho. Famílias completas tios e tias muito dignos, alcandorados nas grades a gritar mimos para os carros que passavam. Enfim, todos comungando do mesmo desejo: ver «o Fórmula 1 a subir a avenida. Vai subir, não vai?» Subiu sim, mas só no domingo Vai subir, sim senhor. E não, não são corridas – a única semelhança esteve no cheiro a borracha queimada, que subiu ao ar feito em (muito) fumo, de mistura com as copas dos plátanos, os aplausos das mais de 80 mil pessoas e, finalmente, de mistura com outro cheiro, tão tradicional do ambiente lisboeta como o das sardinhas: o das castanhas assadas.
Bem, lá subiu – mas só no domingo. Sempre com Lucas di Grassi ao volante. Primeiro, timidamente, como que a apalpar as rugas da velha avenida, acenando ao público de permeio; e, em estreia nestas coisas dos “road shows”, escoltado pelos dois Mégane Trophy, pilotados alegremente por Julien Piguet, campeão
francês de Fórmula Renault 2.0 este ano, e por Nicolas Navarro. O público, espantado pela inédita imagem, que substituiu com vantagem os autocarros da Carris e os táxis, fez “Ohhh!!!”, bateu algumas palmas e ficou à espera. Lá emcima, no Marquês de Pombal, as coisas começaram a aquecer, ao sabor dos “donuts” executados pelo piloto brasileiro, antes de descer rumo aos Restauradores.
Não, não chegou aos 300 km/h prometidos – nem por sombras; nem, sequer, aos 200 km/h em 4,5 segundos, como anuncia a ficha técnica do R27. Isso, ficou lá mais para o final do “show”. Nessa altura, o público já estava de papo cheio dos Laguna Coupé, “Novo Mégane” em estreia dinâmica mundial, subidas e descidas dos Mégane de Troféu e das acrobacias dementes e divertidas dos dois “Car Toons”, pilotados por Piquet e pelo recordista mundial de “G-Turn”, Terry Grant.
Ainda não começava a debandar, mas já estava impaciente, cheio de sol, cerveja, refrescos afins, gelados e adrenalina em estado puro. Por isso, quando Di Grassi regressou à pista e desatou a acelerar avenida acima, ergueram-se as vozes, ergueram-se as mãos empunhando telemóveis, câmaras de filmar e de fotografar e zás! Ficou ganhoum bom dia de corridas na Avenida. Um bom dia, ainda por cima, cheio de sol – faltaram os pombos, afugentados para o Bairro Alto e a Mouraria pelo roncar dos cavalos metálicos, à solta na fita de asfalto que, por 1200 metros, liga as duas praças mais nobres da “mui nobre cidade de Lisboa”: Marquês de Pombal e Restauradores. Outro dia, no futuro, talvez haja mais.
Foi há 10 anos…
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