F1, Notas AutoSport: Liderar, mesmo contra as expectativas
2018 está a ser um ano particularmente diferente para a Mercedes, Desde 2014 que se habituaram a estar no topo da F1 e a preocuparem-se mais com as lutas internas do que com os adversários. O cenário é diferente, as lutas internas acabaram mas os adversários são agora mais fortes. Tão fortes que este ano a Mercedes teve de começar a admitir que já não são o carro mais forte da F1. No início de 2017 disseram o mesmo, mas as melhorais introduzidas a meio da época voltou a colocar os flechas de prata no topo (com a colaboração da Ferrari), mas este ano ainda não conseguiram isso. Nada que preocupe desmesuradamente os homens que vestem de prateado pois estão na liderança do campeonato e têm mostrado mais uma vez a resiliência típica de quem quer vencer e não está disposto a facilitar a vida à concorrência.
O filme até agora:
A primeira corrida do ano não terminou como a equipa desejaria. O fim de semana começou com a Mercedes a dominar, os treinos mostravam que o W09 era a máquina a ter em conta e em qualificação, Hamilton fez questão de mostrar o porquê de ter o recorde de poles com uma volta soberba. A Mercedes tinha o carro mais rápido e Hamilton apontava para uma vitória simples, mas as desgraças da Haas viraram a desgraça da Mercedes. Um erro no software que monitoriza o intervalo que os carros precisam para os adversários, de forma a poderem ir para as boxes em segurança em caso de um Safety Car ou Virtual Safety Car deu a informação errada à equipa. Hamilton não se chegou o suficiente a Vettel e quando chegou o VSC, a Ferrari teve a sorte da corrida, sem que a Mercedes conseguisse responder. Depois de ficar atrás de Vettel, seria sempre muito difícil a Hamilton passar o alemão. O erro do #44 a 10 voltas do fim, sentenciou o resultado, pois a distância passou a ser de mais de 2 segundos. Já Bottas hipotecou o seu fim de semana no sábado. O acidente que danificou a caixa de velocidade, implicou uma penalização de 5 lugares, largando de 15º. Numa pista como Albert Park é fatal, mas ainda assim esperava-se um pouco mais do finlandês nas primeiras voltas. O segundo stint correu-lhe melhor e beneficiou do VSC.
O Bahrein não foi um mau fim de semana para a Mercedes e dois pilotos no pódio foi um resultado bem positivo tendo em conta que um deles começou em nono. Mas ficou novamente a sensação que a Mercedes jogou mal as cartas e poderia ter vencido a corrida. Se Bottas tem aumentado mais o ritmo logo no início poderia ter tido mais que uma oportunidade para a atacar Vettel. Bottas apresentou o nível que se espera dele e esteve perto de vingar o erro de Melbourne com uma vitória, mas um segundo lugar não é nada mau. Já Hamilton fez uma recuperação notável no primeiro stint, depois da penalização por troca de caixa de velocidade, e conseguiu chegar ao pódio numa corrida muito bem conseguida por parte do britânico, que ainda teve de lidar com problemas de comunicação e escapou ao toque de Verstappen na primeira volta.
Na primeira corrida tiveram azar, na segunda deixaram a vitória escapar entre os dedos e na terceira, em Xangai, foi novamente um Safety Car a estragar as contas à equipa. Bottas tinha a liderança da corrida e estava lançado para ir até ao final com os pneus médios, mas o Safety Car saiu para a pista e a equipa não acreditou que valesse a pena arriscar nova paragem. Inicialmente pensou-se que a Mercedes não teve hipótese de trazer os carros para a box mas Wolff admitiu depois que foi uma opção da equipa que não rendeu. Bottas esteve melhor que Hamilton e fez o que pôde para defender a sua posição no final. No primeiro stint ficou a ideia que estava a deixar escapar Vettel mas depois da paragem fez uma grande primeira volta e conseguiu passar Vettel nas boxes. Hamilton classificou o fim de semana como “horrível”, sem andamento para mais e sem a motivação de outras corridas.
Lewis Hamilton, que nas ruas de Baku já teve a sua dose de azar, venceu o seu primeiro GP de 2018, depois da série mais longa sem vencer desde que se iniciou a era turbo-híbrida (6 corridas). O britânico conseguiu bater o seu colega de equipa na qualificação, mas na corrida não esteve ao nível que se espera dele. Os problemas com os pneus afectaram a corrida do campeão do mundo, com as borrachas a perderem muita temperatura durante a prova. Cometeu alguns erros, um dos quais poderia teoricamente custar-lhe a vitória, pois obrigou-o a parar mais cedo do que o previsto. Antes desse erros nunca foi capaz de diminuir o intervalo para Vettel. O azar de Bottas e a tentativa mal calculada de Vettel, escancararam-lhe as portas do primeiro lugar, mas a sua postura no final da prova dizia tudo… Hamilton sabia que o que fez em pista não era suficiente para a vitória. Já Bottas começou de forma discreta, com um ritmo abaixo dos homens da frente. Mas a jogada do finlandês era outra e o #77 fez render as borrachas o máximo possível e perto do final tinha tudo para vencer com relativa facilidade. Um pedaço de carbono provocou um furo nas últimas voltas e originou uma das maiores injustiças deste GP. Bottas executou a estratégia na perfeição e merecia ter levado esta vitória para casa.
Em Espanha, foi um fim de semana típico para os flechas de prata. O carro apresentou-se mais competitivo e pelos vistos gostou dos pneus que a Pirelli trouxe para Barcelona. Corrida perfeita de Hamilton, que venceu e acabou com 20 segundos de vantagem sobre Bottas, que também fez uma boa corrida. Perdeu no arranque para Vettel e ainda agora deve piscar o olhos aos engenheiros da Ferrari que gizaram a estratégia do alemão, que permitiu-lhe subir ao segundo lugar no pódio.
Remediado. Se tivéssemos de usar apenas um adjectivo para descrever o fim de semana dos Flechas de Parta no Mónaco, provavelmente seria este o termo usado. Em qualificação, ficaram atrás dos adversários e em corrida contentaram-se com o resultado possível, sem arriscar mais. Se Hamilton tem usado uma estratégia de duas paragens, Ricciardo teria a vida ainda mais dificultada, mas com o terceiro posto assegurado e com a posição de pista a ser tão valiosa, a equipa não quis correr riscos desnecessários e impôs um ritmo quase letárgico ao campeão britânico, talvez olhando para Bottas que com uma estratégia ligeiramente superior, não conseguiu suplantar Raikkonen.
No Canadá, Bottas teve um bom fim de semana. Na qualificação foi por pouco que não ficava com a pole e na corrida conseguiu colocar um bom ritmo, embora não tenha conseguido chegar ao Ferrari de Vettel. Foi o melhor piloto da Mercedes, o que tendo em conta a concorrência no outro lado da box, não é feito que se deva ignorar. A Mercedes não se deu bem com os ares do Canadá, mas Bottas continua a subir ao pódio com regularidade. Hamilton foi quinto, com problemas no primeiro stint. O carro sobreaqueceu, o que levou a alguns cortes na potência.
Na França voltamos a ter o Hamilton do costume. Dominou o fim de semana e foi constantemente o mais rápido. Bottas continuava com o azar do seu lado. Cheirou de novo a pole, mas em corrida foi-lhe negada de novo a hipótese de marcar mais pontos e escorregou de novo no campeonato (toque de Vettel saiu caro).
Estava escrito que a Mercedes não iria vencer na Áustria, Tudo aconteceu para que tal não sucedesse, desde a falha hidráulica no carro de Bottas, à falha na estratégia que roubaria a vitória a Hamilton (grande atitude de James Vowles em assumir o erro publicamente) até a falha no carro do #44 (problemas na pressão do combustível no sistema). Um fim de semana negro para a equipa. Bottas continua com uma dose de azar enorme e depois de perder o primeiro lugar na largada (finalmente conseguiu ser o mais rápido, depois de ter ficado duas vezes muito perto), recuperou até ao segundo posto logo na primeira volta, mas não teve hipótese de fazer mais nada. Hamilton estava a controlar o tanto quanto podia a prova, mas os pneus não estavam a facilitar a vida. Não ter aproveitado o VSC para trocar de pneus foi um erro, que foi minimizado pela falha técnica, que levou ao duplo abandono, da Mercedes.
Esperava-se que a tarde de Hamilton em Silverstone fosse mais negra do que se verificou. Depois de fazer a sexta pole, ficar no último lugar logo no arranque (toque de Kimi) foi um golpe tremendo, mas soube recompor-se e lutar até regressar aos lugares do pódio. Foi uma tarde excelente do britânico que “apenas” pecou pelo mau arranque que o colocou numa posição difícil. Bottas fez o seu trabalho de forma muito competente. Ficou à frente da corrida quando a Mercedes optou novamente por ficar em pista (sem novos macios para colocar nos carros – talvez num erro na escolha das borrachas) e aguentou como pôde Vettel. Deu luz verde para Hamilton passar e continuar perto de Vettel na luta pelo titulo, Kimi não teve dificuldade em passar pelo compatriota e Ricciardo ainda tentou fazer das suas.
Em Hockenhiem, durante os treinos livres, os Mercedes não foram particularmente impressionantes e na qualificação ficou confirmado que a sua supremacia chegou ao fim e que a Ferrari tem um carro mais rápido. Um problema hidráulico acabou prematuramente com o esforço de Hamilton, que tinha o 14º posto como o melhor lugar para largar, caso não tivesse de trocar de componentes, o que não foi necessário. Bottas fez tudo para contrariar sozinho o favoritismo vermelho, mas mesmo com uma volta canhão, não conseguiu impedir a pole de Vettel. O domingo iria ser difícil, mas a Mercedes fez tudo bem a nível estratégico. Colocou Hamilton com os pneus macios e deu-lhe a missão de subir o máximo de lugares possível até a troca de pneus. Todos estavam à espera da chuva mas a Mercedes, vendo Hamilton a começar a perder tempo, arriscou nos ultrasoft, que seriam a escolha ideal se a chuva não fosse abundante. Resultou na perfeição e James Vowles, redimiu-se do erro na Áustria. Teve ainda assim de voltar a pedir desculpa, desta vez a Bottas, que estava com vontade de roubar o primeiro lugar a Hamilton. A Mercedes deixou cair a autorização para competirem (como tanto falaram no passado) e usou ordens de equipa para garantir o resultado final. Hamilton esteve muito forte e a forma como geriu o primeiro stint foi de campeão. O segundo stint já teve mais dedo da equipa mas ainda assim uma das melhores performances do britânico este ano. Bottas esteve sempre à distância ideal para atacar o líder, quase este “escorregasse” e quando Vettel saiu de pista, parecia que a vitória finalmente lhe ia sorrir. Tal não aconteceu e Bottas, mais uma vez, jogou para a equipa.
Para Hamilton a tarde na Hungria foi “descansada”. O britânico aproveitou a pole conquistada, largou bem e cedo impôs um ritmo que lhe daria um intervalo suficiente para começar a gerir a prova. Esticou os ultra-macios até a volta 25, e foi aí que perdeu temporariamente a liderança para Vettel que tinha ainda de parar. A estratégia da Mercedes para Hamilton foi a ideal e o britânico capitalizou a improvável pole de sábado depois das dores de cabeça na procura do melhor set up. Já Bottas teve uma tarde difícil. A Ferrari fez parar Kimi mais cedo (estratégia de duas paragens) e Bottas foi obrigado a responder na volta 15, colocando os macios. Foi com esses pneus que foi até ao final e tentou segurar Vettel e Raikkonen, sem sucesso. Um toque no Ferrari danificou-lhe a asa dianteira e depois disso ficou sem frente para se defender de Ricciardo. Bottas fez uma boa corrida, conseguiu gerir bem os pneus e segurou Vettel que assim ficou sem hipótese de colocar pressão em Hamilton.
Tem sido um ano atípico para a Mercedes, tendo em conta o historial das últimas cinco época. Os erros na estratégia tem aparecido com uma frequência nunca vista e nos pormenores onde a Mercedes era imbatível tem sido agora apanhada de surpresa. Talvez a pressão extra da Ferrari esteja a resultar. Mas a Mercedes é uma equipa lutadora e só assim se entende como podem estar na liderança, mesmo estando em desvantagem. Os flechas de prata não vão desistir da luta e vão com certeza encontrar soluções para dar a volta.
Hamilton vs Bottas
Talvez este seja o ano menos conseguido de Hamilton desde 2014. As primeiras corridas deram-nos um Hamilton mais apático e menos capaz de responder às dificuldades. Mas tem crescido de corrida para corrida e chega à pausa de verão líder contra os prognósticos de muitos. Mesmo em baixo de forma é capaz de estar na luta pelo titulo o que mostra a capacidade do britânico. Bottas começou muito mal o ano, mas recuperou logo e tem apresentado um nível incomparavelmente superior ao do início do ano passado. É um excelente piloto, traído pela sua postura afável, colocando sempre os interesses da equipa em primeiro. O azar também tem sido um companheiro de viagem e nalgumas provas podia e devia ter ficado melhor classificado. Já tem contrato assinado para 2019, algo inteiramente justo. É ainda subvalorizado por muitos. Hamilton lidera a luta interna 7-5 nas qualificações e em corrida o resultado está em 8-4 a favor do britânico. O tetra-campeão volta a liderar a luta interna mas Bottas está mais forte.
O que esperar da segunda metade da época?
Mais do mesmo. Uma Mercedes forte, decidida a lutar até ao fim e a melhorar. Tem de o fazer para igualar a Ferrari e nunca os germânicos desiludiram nesse aspecto. Sempre encontraram soluções e inovações que puderam melhorar a performance do carro. A experiência e a qualidade da equipa é também um factor essencial. A luta Hamilton vs Vettel irá durar até ao final e o #44 tem tendência a melhorar quando a pressão aumenta. Bottas terá de se contentar com o papel de “aguadeiro” mas a posição final no campeonato por equipas dependerá dele. Está em forma e se conseguir ser mais irreverente, talvez consiga ainda vencer este ano.
Notas meio da época
Lewis Hamilton: Nota 9
Valtteri Bottas: Nota 8
Mercedes: Nota 8
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