F1, Notas AutoSport: O carrossel da Red Bull
A Red Bull estabeleceu-se rapidamente como uma das equipas de topo da F1. Desde a sua entrada em cena em 2005 que a equipa austríaca, sediada em Milton Keynes, tem usado da melhor forma os recursos colocados à disposição. Desde 2009 que não terminam fora do top 3 (com excepção em 2015) o que mostra bem a força e a capacidade da estrutura.
A chegada da era turbo-híbrida relegou a Red Bull para um papel secundário. Sem motor para lutar pelo título, teve de se contentar com as migalhas da Mercedes e da Ferrari, enquanto reclamava dos motores Renault. Este ano tem sido mais do mesmo. Um chassis competitivo, como sempre, e um motor que dá para os serviços mínimos, mas que não tem um modo mágico que permita algo mais. A situação com a Renault chegou ao limite e a separação está confirmada assim como a entrada da Honda. Uma decisão discutível mas lógica, visto que a relação chegou a um novo ponto baixo, com os Bulls a acusarem a Renault de falta de competência e os franceses a responderem com a recusa da Red Bull em colocar as melhorias introduzidas. Em pista quem tem sofrido é Ricciardo e Verstappen que lutam com as suas armas e tentam o melhor possivel, mas não conseguem aproximar-se como quereriam dos homens da frente.
O filme até agora:
É uma tradição que já tem algum tempo, mas a Red Bull parece ter mesmo dificuldade em dar-se bem em Melbourne. Na sexta e no sábado vimos uma equipa ao nível que se esperava… perto da Mercedes e Ferrari, embora com a limitação do motor, que não permitia jogar o mesmo jogo que os adversários. Na qualificação tentaram agitar as águas e fizeram o melhor tempo da Q2 com os super-macios para tentar uma estratégia alternativa no domingo. Esperava-se que Max Verstappen conseguisse ameaçar o pódio, mas o holandês não esteve particularmente bem nesta corrida. Acumulou erros, um deles significativo, que o fez perder várias posições e mostrou um nervosismo pouco habitual. Já Ricciardo foi de faca nos dentes para a pista e conseguiu algumas manobras interessantes e esteve perto de chegar ao pódio. Uma boa corrida por parte do Australiano que provou que o domingo é o seu dia mais forte.
Seguiu-se um fim de semana frustrante para os Red Bull no Bahrein. No paddock circulava o rumor que os eram os mais rápidos em configuração de corrida, o que lhes poderia dar motivos para sorrir no domingo. Mas a qualificação não correu bem e a corrida durou apenas uma volta. Verstappen arriscou passar Hamilton de forma agressiva, mas deu-se mal com a manobra, que resultou num furo e mais tarde numa desistência com um problema no diferencial e Ricciardo viu a sua máquina morrer no meio da pista sem possibilidade de fazer o que quer que seja.
A Red Bull tem a saudável tendência de ressurgir mais forte depois de momentos mais negativos, uma característica que se vincou ainda mais nos primeiros tempos da era turbo-híbrida. Os primeiros indícios nos treinos na China eram positivos, mas a falha no turbo de Ricciardo trouxe de volta o fantasma da fiabilidade (ou falta dela). A equipa fez um trabalho espantoso e num curto espaço de tempo tratou de colocar o carro do australiano de volta à pista, 2 minutos antes do final da Q1. Um esforço louvável que teve o merecido prémio no domingo. Verstappen largou melhor e era o que estava em melhor posição em pista, enquanto Ricciardo estava atrás afastado dos lugares do pódio. O Safety Car caiu do céu para a Red Bull que numa decisão relâmpago, trouxe os carros para as boxes, “calçou” os macios e foi em busca dos primeiros lugares. A partir daí Verstappen borrou a pintura com precipitações e erros e Ricciardo brilhou. O #3 fez ultrapassagem de alto calibre, confirmando o seu estatuto de melhor “ultrapassador” do grid e conseguiu o primeiro lugar de forma espectacular. Uma vitória inteiramente merecida pelo esforço da equipa (duas duplas paragens orquestradas na perfeição) e pelo talento de Ricciardo.
A Red Bull voltou a estar no centro das atenções em Baku e não pelos melhores motivos. Depois da brilhante vitória na China, fruto de uma estratégia bem medida, a Red Bull mostrou ter condições para estar na luta pelo pódio. No entanto, ritmo de corrida que mostraram no domingo , não pareceu permitir uma aproximação aos homens da frente, e a luta entre os dois pilotos parecia estar destinada a dar um dissabor. No geral foi uma luta dura (muito dura às vezes) mas leal e apenas quando Verstappen deu o toque em Ricciardo se ultrapassaram os limites do que seria desejável. No incidente que levou à desistência de ambos… é difícil atribuir as culpas apenas a um piloto. No final… zero pontos.
Foi preciso regressar à Europa para que Verstappen voltasse a sorrir. A pista de Barcelona, onde venceu pela primeira vez, voltou a ser hospitaleira. A distância de Max para Ricciardo na qualificação foi mínima (0.002 seg), mas fez toda a diferença na corrida. Verstappen, conseguiu subir à terceira posição, cortesia da Ferrari, e mesmo com a asa danificada devido a um toque com Stroll, conseguiu levar o carro ao lugar mais baixo do pódio. Já para Ricciardo foi uma corrida onde passou despercebido. Quanto à Red Bull… excelente carro, excelente estratégia, talvez tenha faltado um pouco de motor.
No Mónaco vimos uma das melhores prestações de sempre de Ricciardo. Ainda antes do meio da corrida, o MGU-K do seu RB14 resolveu deixar de colaborar, o que deixou Ricciardo com menos 160 Cv e ainda pior, praticamente sem travões no eixo traseiro. Ricciardo teve de cuidar do seu carro, cuidar dos travões, cuidar dos pneus, estar atento a Vettel que atacava, tudo isto com uma calma nórdica. Venceu uma corrida supostamente fácil, mas que se tornou muito difícil. Não havia dúvidas que Ricciardo é um dos melhores, mas depois do Mónaco, o seu valor de mercado aumentou e de que maneira! Já Verstappen podia ter sido também uma das estrelas do fim de semana, mas voltou a errar (6 erros em 6 corridas) e mais uma vez ficou apeado nas ruas do Mónaco, desta vez no TL3. Um incidente que o impediu de participar na qualificação e que por conseguinte arruinou o resto do fim de semana.
A pressão sobre Verstappen aumentava, mas chegou o Canadá e o jovem holandês começou o processo de recuperação. Ficou a pouco mais de 0.2 seg. da pole e na corrida, não foi muito incomodado na corrida. Na largada tentou passar por Bottas, mas soube medir o esforço e não entrou em exageros. No final, um terceiro lugar muito positivo para um jovem que estava a precisar de uma exibição assim. Riccardo foi discreto e não se deu muito por ele, embora tenha sido mais rápido que Hamilton e tenha conseguido passar o britânico nas boxes.
Na França foi mais do mesmo com Verstappen a regressar aos bons velhos tempos. Exibição sólida do jovem que foi fortemente criticado pelos seus erros no início do ano. Evitou os problemas na curva 1 e geriu a prova da melhor forma mesmo com vibrações no carro terminando em segundo lugar. Ricciardo não conseguiu ter o mesmo ritmo, com danos no seu Red Bull que o impediram de segurar Kimi, pelo terceiro lugar.
As primeiras impressões que chegaram da Áustria foram algo mornas, no que ao desempenho da Red Bull dizia respeito. À imagem de outros GP, os “Bull´s” mostraram que podiam ser ameaça em corrida, mas na qualificação voltaram a não ter argumentos. A desistência de Bottas e o erro estratégico da Mercedes abriu-lhe as portas da vitória e Max aproveitou com uma exibição de maturidade e calma. Talvez uma das prestações mais equilibradas do holandês, que conquistou a quarta vitória da carreira, mesmo tendo de gerir com pinças os pneus que ameaçavam degradar-se rapidamente. Ricciardo teve um fim de semana pouco exuberante com o bate boca na qualificação, uma paragem extra por ter ficado “sem pneus” durante a corrida e uma falha no escape do carro.
Em Silverstone nunca mostraram capacidade para incomodar os homens da frente. Num circuito que exigia tanto do chassis como dos motores, os Bull´s não tiveram tantos argumentos, uma vez que perdiam quase 1 segundo nas rectas do traçado britânico. Verstappen foi claramente o homem em destaque, com mais ritmo que Ricciardo, rodando mais perto dos homens da frente. Um problema no sistema de travagem acabou com a corrida do holandês, que claramente estava em modo de limitação de danos, mas com um ritmo interessante. Ricciardo esteve mais discreto, tal como tem acontecido nas últimas corridas, mas beneficiou da desistência de Max para marcar mais 10 pontos.
A Red Bull bem tentou incomodar os homens da frente na Alemanha, mas não sobraram vagas no pódio para Verstappen. Max é um dos favoritos quando a chuva cai do céu, mas desta vez não o favoreceu. A aposta da equipa nos intermédios terá sido feita cedo demais e a chuva não caiu com a consistência que o jovem da Red Bull precisava. Regressou às boxes para nova troca de pneus, sem problemas, pois a distância para o quinto era considerável e resignou-se com o positivo quarto lugar. Já Ricciardo, tinha antecipado um fim de semana complicado, mas nada deste género. Largou do fim da grelha devido a trocas nos componentes do motor, que resolveu boicotar a sua recuperação a meio da prova.
Ricciardo estava a perder fulgor, mas acabou a primeira parte da época em grande. A corrida de Verstappen acabou cedo demais (na volta 6), e o holandês poderia ter animado ainda mais a prova. Ricciardo aguentou o toque (violento) de Ericsson, caiu para 16º, recuperou até ao quarto, e pelo meio ainda levou mais um “chega pra lá” de Bottas. Fez uma excelente corrida, com boas ultrapassagens e acabou a primeira metade da época a sorrir com um saboroso quarto lugar.
A Red Bull não sabe trabalhar mal e tem feito os possíveis para se intrometer na luta pelo título sem sucesso. São no total 7 desistências por parte da equipa (4 para Ricciardo, 3 para Max) algo que não ajuda a tarefa. A Red Bull tem feito o que se esperava e já roubou pontos às equipas da frente, mas uma equipa com tanto potencial tem de lutar por mais e entende-se a frustração embora a forma como a situação está a ser gerida talvez não seja a melhor. Mas é até agora a época possivel, com muitos altos e baixos.
Ricciardo Vs Verstappen
Mais uma das lutas equilibradas do grid. Verstappen começou muito mal e acumulou erros por vezes estranhos enquanto Ricciardo fazia o que lhe competia. O australiano foi sempre em crescendo até ao Mónaco mas curiosamente a partir dai começou a cair e quem se mostrou foi Verstappen que foi melhorando até a vitória na Áustria… E desde aí perdeu algum terreno com duas desistências em três provas. Pelos vistos as vitórias fazem mal à malta da Red Bull. Em qualificação Verstappen lidera 9-3 e em corrida o holandês também leva a melhor 7-5. Não fossem os erros, especialmente nas quatro primeiras corridas do ano e Verstappen poderia estar acima de Ricciardo, mas as duas vitórias do australiano permitem que esteja na frente do campeonato interno da Red Bull. Dois excelentes pilotos que tem mostrado o seu talento e recuperado de situações menos fáceis.
O que esperar da segunda metade da época?
É provável que nas pistas mais sinuosas consigam estar na luta por vitórias. Singapura será uma das pistas mais acolhedoras para os Bull´s e ainda têm hipótese de tentar alguns pódios. A luta interna deverá continuar saudável até porque não há títulos em jogo e a convivência entre ambos é boa. O terceiro lugar está garantido e dificilmente chegarão aos lugares da frente por isso a equipa poderá começar a focar-se mais em 2019 perto do final do ano.
Notas meio da época
Daniel Ricciardo: Nota 8
Max Verstappen: Nota 8
Red Bull: Nota 8
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