GP Hungria: como a Mercedes ganhou a corrida à Ferrari

Por a 30 Julho 2018 17:53

Vitória, sem espinhas, de Lewis Hamilton que foi extraordinário à chuva na qualificação e por via disso recebeu uma “pole position” impensável antes da chuva beijar o asfalto do Hungaroring. Voltou a estar a um nível muito elevado no arranque e, surpreendentemente, conseguiu gerir de forma perfeita os pneus. Hamilton não tinha, de todo, o melhor carro na Hungria, mas venceu e ganhou mais pontos na luta pelo título a Sebastien Vettel. Qual foi o segredo? Veio da Finlândia e dá pelo nome de Valtteri Bottas. Foi uma prova quase perfeita da Mercedes que contou com uma ajudazinha da Ferrari.

Fechar a primeira fila da grelha de partida foi algo que deixou Toto Wolff sem palavras. O austríaco estava a preparar-se para mais uma prova difícil onde a ferradura dourada teria de voltar a brilhar para que o seu primeiro piloto, perdão, para que Lewis Hamilton, não perdesse muitos pontos para Vettel e recebe uma primeira fila Mercedes.

A chuva deu uma ajuda preciosa e o talento de Hamilton fez o resto, dando Bottas excelentes sinais ao bater Kimi Raikkonen e Sebastien Vettel no piso encharcado do Hungaroring. Surpresa ou não, a verdade é que a Mercedes fechou a primeira fila da grelha de partida. E depois de ter oferecido em bandeja de prata a vitória em Hockenheim a Hamilton, aceitando não incomodar o primeiro piloto da Mercedes, perdão, o seu colega de equipa na luta pelo primeiro lugar, o finlandês poderia esperar que a sua hora de ganhar chegava na Hungria. E para isso, depois de ter ficado ao lado de Hamilton, desperdiçando o primeiro “match point” ao não ficar com a “pole”, tinha de arrancar melhor e ficar na frente do seu colega de equipa. E Toto Wolff deu a entender que haveria uma combinação entre os dois pilotos, ao referir que “foi uma pena ele não ter terminado a corrida no segundo posto, pois merecia o segundo lugar de onde saiu e onde estava no final da primeira volta.” Ou seja, quem ficasse na frente no final da primeira curva seria o cordeiro sacrificial que iria atrasar os Ferrari. Já voltaremos a Toto Wolff…

Falhando esses dois “match point”, Bottas não teve outro remédio que sentar-se na cadeira do sacrifício em prol do seu colega de equipa. E voltando a Toto Wolff “na corrida de hoje, saindo de segundo e ficando em segundo na primeira curva e no final da segunda volta, ele foi um perfeito ‘wing man’, mas no sentido de sacrificar-se em termos de corrida, pois na equipa não temos piloto número um e também não temos um número dois.” Pois claro…

Portanto, sem que haja qualquer favorecimento dentro da equipa Mercedes – situação que causou mau estar entre Bottas e Wolff, mas rapidamente resolvido com Bottas a “desculpar-se” depois de falar como patrão – e sabendo-se que havia esse pacto que foi ganho por Hamilton, a equipa alemã tinha de encontrar forma de parar os rapidíssimos Ferrari.

Cumprido o arranque e arrumada a questão de quem ficaria na frente, Bottas levantou o pé e facilitou a fuga de Hamilton. Quando o primeiro Ferrari parou nas botes (Raikkonen) já Hamilton tinha ganho 6,5 segundos, ou seja, ao abrigo de ser ultrapassado nas boxes. Com a enorme vantagem, para o W09 da Mercedes, que esteve sempre em ar limpo e sem desgastar os pneus.

A paragem da Ferrari tinha como objetivo destapar a estratégia da Mercedes e os estrategistas da casa alemã engoliram, parcialmente, o isco. E digo parcialmente, porque Bottas deveria ter ficado mais duas a três voltas em pista em ritmo mais elevado, pois a paragem de Raikkonen foi muito lenta (5,1 segundos) e logo ali ficou sem hipóteses de apanhar o seu compatriota. Se tivesse ficado mais um par de voltas em pista, teria ganho tempo precioso a Vettel. Mas a Mercedes teve receio dos pneus não suportarem e após ter feito a volta mais rápida da corrida, naquela ocasião, Bottas parou para trocar de pneus, passando de ultramacios para macios. A Ferrari tinha feito o seu papel: obrigou a Mercedes a parar o nº77 e com isso o finlandês teria de fazer 55 voltas com aqueles pneus. Impossível disseram alguns, mas o piloto da Mercedes esteve simplesmente impressionante, até ao momento em que perdeu o duelo com Vettel e depois com Ricciardo, caindo para quinto e sendo, ainda, penalizado.

No lado da Ferrari, alguém deitou fora a ferradura dourada. Tinham o melhor carro e quer Vettel quer Raikkonen deixaram claro que iriam bloquear a primeira fila da grelha. Veio a chuva e lavou todos as estratégias e ideias para vencer e recuperar muitos pontos a Hamilton e à Mercedes. Vettel ficou mesmo atrás de Raikkonen, mas como já se percebeu que aceitar ordens de equipa é coisa que não incomoda o quase quarentão Raikkonen, isso resolver-se-ia.

O arranque não deu possibilidades a Vettel de colocar um grão de areia na engrenagem da estratégia da Mercedes, mas a troca de pneus colocou-o na frente aproveitando a excelente gestão dos pneus do SF71H. Depois foi a paragem de Raikkonen à volta 14 que correu mal, devido a restos de borracha que estavam na proteção do disco de travão. Pior foi o que aconteceu a Vettel. A estratégia era clara: se surgisse um “safety car” Vettel pararia e ficaria na frente da corrida, já que atrasou até á insanidade a troca de pneus. O “safety car” não apareceu – o que fez respirar fundo os homens da Mercedes, já que se ele aparecesse sabiam que “Vettel iria ganhar a corrida quase de certeza” – e para piorar as coisas, o alemão perdeu demasiado tempo atrás de pilotos atrasados (na altura uma batalha entre Carlos Sainz, Romain Grosjean e Sergio Perez) e a Mercedes, ao ver Vettel atrapalhado, deu ordens para Bottas colocar toda a carne no assador.

Vettel entrou nas boxes já no limite de ser passado por Bottas e o pior aconteceu: uma hesitação na troca de um pneu deteve o alemão 4,2 segundos parado e, quando saiu das boxes, os dois segundos mais do que o habitual, colocaram-no atrás de Valteri Bottas. Exultação na Mercedes, satisfação e a crença que a corrida estava “no papo”.

A partir daqui foi possível assistir a uma recuperação impressionante de Raikkonen – que deixou evidente que os Ferrari eram, mesmo, os melhores no Hungaroring – e ao desespero de Vettel, “preso” atrás de um Bottas que esteve imperial a manter atrás de si o alemão sem nunca ter estado em luta direta. Andou, apenas, o suficiente para importunar a aerodinâmica do Ferrari dando aqui e ali uma estocada para desmoralizar mais o alemão. Foram 25 voltas assim, com o SF71H com pneus ultramacios e mais rápido a não conseguir passar pelo Mercedes, mais lento e com pneus em péssimo estado.

E Valteri Bottas só cedeu quando os Pirelli já estavam completamente destruídos e, sobretudo, Hamilton estava a mais de 12 segundos de Vettel. O alemão forçou, passou e ao travar na zona suja da pista, Bottas ainda tocou no Ferrari, felizmente sem danos para o SF71H e sem levar Vettel ao pião. Partiu a asa da frente, não quis mudar a asa, foi passado por Ricciardo e ainda deu um toque no RedBull do australiano, que lhe valeu uma penalização e um pobre quinto lugar.

A grande pergunta que fica é: teria Vettel ganho a corrida se tivesse passado logo por Bottas. Julgo que não. Apanhá-lo-ia rapidamente, mas teria os mesmos problemas que conheceu face a Bottas e contra um Mercedes que, mesmo com os pneus já muito desgastados, estava melhor que o de Bottas. Portanto, o segundo lugar era o máximo que Vettel poderia almejar.

Enfim, foi uma excelente corrida que foi disputada quase como um duelo de xadrez entre a Mercedes e a Ferrari, com a RedBull, inesperadamente, fora da luta. Primeiro por culpa própria, ao ser surpreendida pela chuva na qualificação, perdendo Ricciardo na Q2. Depois, na corrida, Verstappen nunca teve carro para acompanhar os homens da frente e o motor Renault entregou a alma ao criador, provocando mais uma troca de galhardetes entre a RedBull e a Renault.

“Pagamos milhões por um produto e percebemos que não é bom e nem sequer é fiável. É frustrante, mas é o que é e vamos deixar que o Cyril venha agora com as desculpas habituais” disparou Christian Horner. A resposta da Renault chegou no final da corrida por Cyril Abitboul. “Os responsáveis pela equipa deixaram de ler, desde 2015, o que diz Christian Horner. Fica claro que não queremos ter mais conversas com eles. É mais que evidente! Eles vão ter um novo fornecedor que lhes vai pagar uma pipa de massa para terem o seu produto. Desejo-lhes a maior sorte. Não tenho mais nada a dizer.” Mas depois, mais tarde voltou a falar no assunto referindo que “mudámos no Mónaco para um MGU-K melhor que a RedBull não quer usar por ser diferente e prejudicar a instalação do carro. Porém, com o novo MGU-K, conseguimos controlar muito melgor as temperaturas e não temos tido problemas nos nossos carros. Não os podemos obrigar a usar as peças que fazemos. É uma decisão deles.” Lindo…

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