Há dez anos, a Subaru enchia de tristeza a comunidade dos ralis, ao anunciar a sua saída do WRC. Nessa altura, há dez anos, portanto, o AutoSport publicou um texto em que explicava o que era preciso fazer para ‘atenuar’ esse ‘desgosto’. Portanto, se sempre sonhou ser o proprietário de uma peça de arte chamada ‘WRC’, guiando o carro numa classificativa com o nome de Petter Solberg colado nos vidros, leia o texto pois os sonhos podiam tornar-se realidade na altura, e podem tornar-se realidade, agora, ou quase… é uma questão de preço!
Sendo pelo menos até 2010 os expoentes máximos do Campeonato do Mundo de Ralis, os actuais World Rally Cars estão ao alcance de qualquer um. Qualquer piloto, coleccionador ou sonhador pode comprar, por exemplo, um Subaru Impreza WRC saído directamente das oficinas da Prodrive e pronto
para participar num rali por cerca um milhão de dólares, qualquer coisa como 787 mil euros, mais coisa, menos coisa. As boas notícias são que a maior parte das peças do Impreza tem uma garantia de 1000 quilómetros numa utilização intensiva em competição e isso inclui uma revisão após essa quilometragem e o contrato prolongado para mais 1000 quilómetros.
Aliás, incluído no preço estão também os 30 dias de serviço de assistência prestados (em teste ou num rali) por um engenheiro da Prodrive e isto sem qualquer descriminação de o piloto que irá usar o carro ser bom, mau ou ter mais jeito para… arrumar a casa! Em resumo, o único factor que pode ditar a venda do Impreza é o “factor cheque”. As más notícias (há sempre más notícias!) é que o carro será sempre em segunda mão e se por acaso conseguir convencer a Prodrive a construir um Impreza totalmente novo, provavelmente o seu preço será… o dobro!
Só anda em primeira! Por norma, a Prodrive só está interessada em vender carros em segunda mão. Os acordos de aluguer estão reservados para equipas privadas que já tenham adquirido os carros ou para clientes especiais como Valentino Rossi ou Xavier Pons. Mas hoje em dia, mesmo um milhão de dólares
não compra todo o carro! Desde que, em 2004, a versão “S9” (o modelo usado pela equipa oficial em 2003 quando Petter Solberg foi Campeão do Mundo) começou a ser comercializada, há sempre 10 por cento do carro que fica na posse da Prodrive.
Graham Prew,um dos principais responsáveis pelo processo de venda de carros na Prodrive, dá conta que «há cinco anos começamos a vender “peças de arte”,em vez de modelos com as últimas especificações anuais. É uma questão de protecção própria. No fundo, é como se tivéssemos a propriedade intelectual do carro e vendêssemos apenas os seus direitos.Na prática, isto implica, que em cada prova, a presença de um engenheiro da “casa” seja obrigatória.
Quando o carro é entregue ao comprador, é-o com as configurações bloqueadas em “modo normal”. Isto protege a nossa tecnologia, ajuda nos procedimentos das reclamações de garantia e preserva a própria integridade do carro em termos de segurança para o seu dono».
Na verdade, paga-se então um milhão de euros e o carro não mete marcha-atrás e nem passa de primeira velocidade! Pelo menos até chegar o engenheiro da Prodrive. Mas julgam que não há clientes satisfeitos?
Perguntem a Mads Ostberg um dos mais acérrimos defensores do sistema e que actualmente utiliza o Impreza nalgumas provas do Mundial de Ralis o que ele pensa. Ou se calhar aquilo que pensava até lhe roubarem o carro em Gotemburgo antes do Rali da Noruega do ano passado e depois deste ter aparecido, sem qualquer dano, alguns dias depois, claramente sem que alguém o tivesse conseguido guiar. Os ladrões devem ter pensado que tinham enlouquecido!
Ex-WRC de “fábrica” têm-se tornado cada vez mais escassos nos últimos anos devido às imposições da FIA que cada vez coloca mais restrições à quantidade carros que um construtor pode produzir durante o ano (em 2008, nesse número já tem que estar contabilizados também os carros de testes).
Atualmente, só há dois construtores cujos carros “ex-fábrica” poderão ser comprados: a Subaru, através da Prodrive e a Ford por intermédio da M-Sport porque já passaram os tempos em que cada um destes construtores tinha a sua própria “linha de produção” de unidades para privados. Segundo Prew, «tanto a M-Sport como a Prodrive sabem que há um limite para o que as pessoas podem pagar. Temos que oferecer serviços que os clientes possam suportar».
Hoje, na Prodrive, o modelo comercializado é o “12B” que apresenta um custo aproximado de 617 mil euros (mais IVA), valor que a que será preciso juntar mais 36 300 euros (mais IVA) se, como extra, o piloto quiser ter o seu carro com volante à direita.
Antes de 1997, nos dias dos “velhos” Grupo A, os números apontam para que tenham sido vendidos um total de 63 Imprezas para pilotos privados. Mas, nos últimos 10 anos, as versões WRC do Impreza produzidas pela SWRT (Subaru World Rally Team) encontraram 159 compradores, a que se juntaram mais 135 se quiseremos fazer a análise do número total de WRC que foram vendidos para privados na última década. O que, na prática, significa que pelo menos 294 pessoas passaram do sonho à realidade…
Cada Impreza tem um DNA
A VERDADE é que os condutores gostam de saber para onde vai o seu dinheiro ou aquilo que, efectivamente, vão comprar. Por isso, «conservamos muitos dos detalhes de cada carro. Cada um dos seus elementos mecânicos tem um tempo útil de vida que está registado, em todos os carros, desde o modelo “S6” de 2000, na altura em que estes eram os carros oficiais. Assim, os clientes que correram ou correm com estes carros sabem exactamente que uso e por onde passaram a maior parte dos componentes do seu carro », relembra Graham Prew.
Com a introdução em 1997 dos WRC na cena do Mundial de Ralis, a Prodrive iniciou de imediato o seu projecto para clientes privados de que a equipa Allstar foi percursora. Com este programa, pilotos como Rui Madeira, Gregoire de Mévius e Frederic Dor tiveram oportunidade de guiar carros muito competitivos, com um tipo especificações que um normal piloto de ralis nunca teria tido acesso.
Nota: Texto publicado no Autosport em 2008