Pureza e a tradição europeia ou a festa americana para a F1?

Por a 26 Outubro 2017 18:08

No passado fim-de-semana tivemos um espetáculo tipicamente americano antes do GP dos EUA. A Liberty Media avisou que queria fazer de cada GP uma espécie de SuperBowl e em Austin puxou da experiência americana para dar um extra à festa. Como estamos a falar da F1, um desporto que vive de constante evolução, mas que curiosamente se sente mal quando algo muda, obviamente que as opiniões dividiram-se.

Pilotos como Vettel ou Raikkonen, que são já por si mais reservados e pouco dados ao ‘show-off’, não apreciaram o espetáculo, outros como Alonso acharam que foi apenas uma imitação do que realmente se faz nos ‘States’ e claro, Hamilton, que nem gosta nada deste tipo de entradas, aprovou a ideia e disse que foi bom ver a F1 mudar um protocolo que tem mais de 10 anos.

Helmut Marko, um homem cujo sorriso é tão frequente quanto um eclipse solar mostrou-se recetivo à ideia e disse que há lições que se devem tirar do que se fez para melhorar o produto, opinião partilhada por Horner que embora não tenha gostado, admitiu que há pormenores que devem ser tidos em conta.

Como seria de esperar algumas vozes se insurgiram contra este tipo de festa e os receios da americanização da F1 voltaram a pairar sobre os adeptos e alguns responsáveis. Serão esses medos justificados? Para já não e a F1 precisa de evoluir para atrair novos públicos que inevitavelmente gostam de coisas diferentes do público que via a F1 há 10 ou 20 anos atrás. Os americanos sabem como fazer uma grande festa e sabem organizar campeonatos que atraem muito público e equipas. Basta ver o exemplo do IMSA que está cada vez mais forte enquanto o WEC está numa encruzilhada.

Há coisas que no automobilismo americano não são bem vistas por cá e com razão. Na última edição de Petit Le Mans ficámos com a clara sensação que tivemos um ou dois ‘Full Corse Yellow’ a mais, e um deles foi claramente excessivo. Mas já se sabe que isso junta o pelotão, que os recomeços são sempre muito intensos e a corrida pode levar uma cambalhota… aumenta-se o espetáculo, como os americanos gostam.

Por cá, preferimos lutas renhidas e “alguns toques se necessário”, admiramos pilotos que conseguem ‘cavar’ o fosse de 5 ou 7 segundos para o adversário direto e não gostamos de ver o seu esforço diluído porque não é bom para o espetáculo. As corridas são mesmo isso, umas vezes temos ‘procissões’ outras vezes lutas desenfreadas. Adulterar a verdade do que se passa no asfalto em prol das ‘audiências’ é algo que provavelmente qualquer adepto no continente europeu repudia.

Mas os americanos têm muito a ensinar. Um dia falávamos com um piloto nacional que tinha ido a Sebring ver ao vivo a prova e confessou que ficou maravilhado com o que viu lá. Um circuito sem grandes condições mas que atraí milhares de pessoas. Por um motivo muito simples… a facilidade de chegar aos carros e aos pilotos. Na Europa o automobilismo é muito fechado, os pilotos são quase colocados em redomas de vidro e falam apenas à comunicação social, muitas vezes com cara de enfado, nem sequer querendo perceber que são esses que os tornam verdadeiramente conhecidos.

Nos States podemos ver miúdos a passear pelo paddock maravilhados por poder ver de perto as máquinas e por se cruzarem com os pilotos. Os pilotos admitem que o ambiente num paddock americano é mais descontraído do que num europeu e que existe um sentimento de partilha e entreajuda que nem sempre se vê (aliás, quase nunca) no Velho Continente. O próprio Alonso quando fez a Indy500 teve contacto direto com este tipo de realidade e pareceu até gostar da ideia, ele que foge dos microfones como o diabo da Cruz.

Os adeptos são parte fundamental do desporto e é preciso dar-lhes motivos para ir às pistas. É preciso fazer-lhes sentir o que é um carro de competição de perto e ter contacto com os pilotos que tanto admiram.

Vila Real, por exemplo, é um traçado especial por permitir muito essa proximidade. Quem tiver a oportunidade de ver ao vivo deve aproveitar a experiência e ver a quantidade de pessoas que se junta ao final de tarde/noite na zona do paddock para ver os carros. Mais de metade não percebe nada de corridas mas vão ver os carros porque são máquinas imponentes. É esse o verdadeiro espírito do automobilismo e são estes pequenos momentos que podem trazer mais adeptos. As pessoas gostam, e as equipas também pois os patrocinadores têm assim uma exposição extra e não há um piloto que não goste de ir à capital transmontana. Um sinal claro que este tipo de interação é saudável e desejada.

A F1 tem a oportunidade de poder ter o melhor de dois mundos… a pureza e a tradição da competição europeia, e a festa americana com a maior proximidade dos fãs com os pilotos e máquinas. É uma oportunidade que provavelmente deve aproveitar.

[soliloquy id=”338803″]

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Pity
Pity
6 anos atrás

Eu achei interessante a forma como apresentaram os pilotos, apesar da diferença de tratamento entre os pilotos das equipas topo e das outras.
E parabéns ao JLA pela metáfora do eclipse 🙂

jose-luis-abreu
Reply to  Pity
6 anos atrás

Agradeço, mas a metáfora é do Fábio 🙂 JLA

ze-do-pipo
ze-do-pipo
Reply to  Pity
6 anos atrás

Direi “nem tanto ao mar nem tanto à terra”… Gosto do ambiente nas corridas americanas bem mais ligeiro e aberto quer entre pilotos quer entre pilotos e público quer nas boxes em geral. A F1 anda muito sisuda, mas pessoalmente pouco faltou para chegar ao estilo “ready to rumble” como nos combates de boxes, com os pilotos a chegarem ao som de música escolhida por eles… Haverá pilotos que lhes agrada este momento de descontração outros haverá que preferem ficar concentrados e isto não ajuda nada. Na próxima tenho que olhar com cuidado para a cara do Kimi para ver… Ler mais »

ze-do-pipo
ze-do-pipo
Reply to  ze-do-pipo
6 anos atrás

Onde escrevi “combates nas boxes” queria escrever “combates de boxe”, e não sabia que o apresentador era da UFC… Agora na brincadeira, e após observação cuidada da foto tenho a notar:
1. Passadeira vermelha para as “estrelas”
2. Reparem no cuidado das “pon pon girls” terem cabelo de cor diferente de modo alternado…
3. Não esquecem o potencial mercado da cerveja, ao terem o cuidado de mostrar uma “barriguinha de cerveja”
4. Numa era politicamente correta, pergunto onde estão os “pon pon boys”; “pon pon LGBT”; “pon pon transgénero”; “pon pon sem género”; etc, etc…

asfalto
asfalto
6 anos atrás

Gostei de ver, acho que nesse aspecto os Americanos sabem preencher o tempo de quem espera pelas corridas. Também gostei de ver o apresentador do segundo desporto que mais gosto, desportos de combate, em particular UFC.

Génesis
Génesis
6 anos atrás

Em Roma sê Romano e está tudo dito

Não me chateies
Não me chateies
6 anos atrás

Faz este ano 10 anos que fui ver as wsr no estoril, durante 2 dias com acesso ao padock, com os pilotos a dar autógrafos, o mais procurado foi o nosso Álvaro. Tudo isto sem ter de pagar bilhetes, pena a Renault ter desistido de suportar o campeonato. Nos Estados Unidos deve ter o mesmo tipo de ambiente. Na f1 provavelmente só lá passam as elites.

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