Fiat 124 Abarth no ‘Festival’ de Sanremo
Quarenta anos depois do surgimento dos Fiat 124 Abarth na cena dos ralis mundiais, os míticos carros vão ser ‘homenageados’ pelos organizadores do Rali de Sanremo. Nessa altura, a prova italiana fazia parte do WRC e hoje em dia faz parte, também do Troféu Abarth 124, e o plano passa por convidar antigos pilotos dos 124, por exemplo Markku Alen. Recordando a história, a Fiat bem tentou, mas nunca conseguiu impor-se à Lancia no seio do próprio grupo. O Fiat 124 Rallye foi uma orgulhosa tentativa de suplantar os seus rivais internos, mas não teve sucesso. Curiosamente, venceu duas vezes o Rali de Portugal. Reviva a história dos míticos ‘124’.
Numa altura em que se fala da possibilidade da Abarth voltar a ter o 124 Spider nos ralis, decidimos recordar os fantásticos carros da marca dos anos 70. Segundo rumores que circulam na imprensa internacional, a Fiat vai regressar ao WRC – mais propriamente à classe R-GT – com a nova versão do seu Fiat 124 Spider, o que está previsto para 2017, ano em que o novo carro italiano será posto à venda. A última vez em que a Fiat se envolveu seriamente nos ralis foi nos anos 70, início dos anos 80, vencendo o Mundial de Ralis três vezes com o icónico Fiat 131 Abarth, com Markku Alen e Walter Rohrl ao volante, mas foi com o 124 que foram dados os primeiros passos sérios do envolvimento da marca nos ralis.
Os carros da Fiat, Fabbrica Italiana Automobili Torino, no início dos anos 60, nem de perto tinham capacidade de incomodar os Lancia, Porsche, Alpine, etc, quer fosse o Fiat 125S ou o 124 Sport Coupe, mas os italianos estavam determinados a mudar o rumo das coisas, especialmente bater os Lancia, marca que compraram em 1969.
Na Lancia, o Fulvia Coupé portava-se bem e para os responsáveis da Fiat não era muito agradável verem um carro de uma marca que compraram por um milhão de liras, bater os seus próprios carros. Por isso avançaram, e o carro escolhido foi o Fiat 124 Sport Spyder, que saiu do cérebro de Aurelio Lampedri, que se tornou na eminência parda da Abarth. O Spyder foi lançado com 1438 cc, e foi com esse carro, com Fulvio Ruggieri venceu o Grupo 3 do Rali de Monte Carlo de 1970. Bons sinais. Em 1971 a Fiat homologou uma versão com 1608 cc, e logo se notou uma sensível melhoria nos resultados. Hakan Lindberg espantou toda a gente no Rali de Monte Carlo ao conseguir o melhr crono no Burzet, passando mesmo Jean Claude Andruet no Alpine A110 pelo meio, o que na altura era um feito para os homens da Fiat. Lindberg acabou por terminar o rali em sétimo, mas pelo menos o carro deu sinais de vida.
Durante o ano prosseguiu o desenvolvimento do carro, com a equipa a conseguir alguns resultados interessantes, como por exemplo uma vitória de Luciano Trombotto no Rali de Elba e Donatella Tominz, que venceu o campeonato italiano de Senhoras. No Salão de Génova, na primavera de 1972, Pininfaria exibiu um 124 Rallye, que todos pensaram ser apenas um mero exercício de estilo, mas depois no Salão de Turim, em novembro, a Fiat apresentou mesmo o novo Abarth 124 Rallye. Estava escolhida a arma para se bater mais ‘acima’ nos ralis. A equipa deu continuidade ao desenvolvimento do 124 Sport Spyder, com que venceu diversos grandes ralis, ficando em segundo lugar, logo atrás da Lancia, no International Rally Championship para Construtores. Com Rafaele Pinto, venceu o Europeu de Ralis.
Segunda vida
Depressa se seguiu o Abarth 124 Rallye, que com um motor maior, provou ser capaz de vencer, ainda que, também, depressa se tenha vergado ao Lancia Stratos. A fim ao cabo, a esta distância sabemos que todos os carros de ralis da altura se vergaram aquele carro. Durante o seu período, o 124 teve duas vidas, o primeiro 124 Abarth Rallye foi estreado no Rali de Monte Carlo de 1973, com um motor de 1756 cc e cerca de 170 cv, mas mesmo com este novo carro, a relação peso-potência continuava inferior à da concorrência, especialmente os Renault-Alpine que dominaram a época de estreia do Mundial de Ralis, em 1973.
No ano seguinte a Fiat reconheceu que continuava a precisar de mais potência e aumentou a cilindrada do motor para 1832 cc e 16-válvulas por cilindro, o que permitiu fazer passar a potência de 165 para 180 cv, isto num ano em que o Mundial de Ralis sofreu com a crise do petróleo, com várias provas canceladas. Rafaele Pinto foi mostrando que o 124 estava a melhorar, como se pode comprovar, por exemplo, pelos três carros que ocuparam o pódio do Rali de Portugal de 1974, naquele que foi o primeiro evento dessa época de ralis.
Mas o problema do carro continuava a ser o peso, pois tanto o motor como a caixa de velocidades eram bastante pesados, e isso condicionava o carro perante a concorrência que há muito tinha carros com motores de dois litros. Em alguns eventos, o carro podia ser aligeirado para 960 Kg, mas mesmo assim e com o Lancia Stratos por perto, nem isso era suficiente para dar ao carro a vantagem que este precisava para vencer. E num carro deste tipo, havia ainda outra desvantagem, pois o habitáculo era muito exíguo, e também não havia muito espaço para arrefecer o motor. Boa era a suspensão, mas ainda assim, nem sempre fácil de ajustar pelos mecânicos. A caixa de velocidades da Colotti, sim, era pouco menos que perfeita para os ralis, com relações de caixa muito curtas. Mas nada disso era suficiente, pois por exemplo o Renault-Alpine tinha potência semelhante mas era 200 kg mais leve e a Lancia tinha um carro mais pesado mas com 240 cv.
Epílogo
A versão final do Fiat 124 surgiu no Rali de Sanremo de 1975, agora equipado com injeção de combustível e 201 cv. As coisas melhoraram mas a Lancia continuava a ter um carro melhor, o Stratos, que e isso acabou por forçar a Fiat a esquecer definitivamente o 124 e pensar noutro novo carro em 1976, depois dos homens da Fiat terem visto o Lancia Stratos assegurar o seu terceiro título de ralis sucessivo. A Fiat lançou-se então num programa de ralis mais modesto, enquanto ao mesmo tempo desenvolvia o que seria a sua nova arma para a modalidade, o 131 Abarth. Esse sim, bem nascido, e com ‘armas’ bem apontadas à concorrência.
Feitas as contas, e só para falar da ‘era’ do Mundial de Ralis, Achim Warmbold venceu o Rali da Polónia de 1973, Raffaele Pinto venceu Portugal 1974 e Markku Alen, Portugal 1975. Três vitórias para a história, 14 pódios entre 91 participações de Fiat 124, pós 1973. Repare-se que a Fiat nunca encaixou bem ser a Lancia a marca de destaque do grupo, nos ralis, mas estes tinham um carro super especializado para os ralis, o Stratos. O trabalho com o 131 foi bem melhor, o seu grande ‘objetivo’ era o Ford Escort, e a verdade é que entre 1976 e 1981 o Fiat 131 venceu 18 ralis do Mundial. Só no fim do projeto 131 a Fiat mudou a sua atitude por completo, passando definitivamente para a Lancia, com o 037 as ‘despesas’ de ser bem sucedido nos ralis. Apesar da Lancia se ter afastado dos ralis em 1992, ainda hoje é recordada com saudade pelos adeptos. Portanto, não é por acaso que a Fiat pode estar a pensar colocar o 124 Spider a correr no grupo R-GT do WRC. José Luis Abreu
As vitórias do 124 no Rali de Portugal
O Rali de Portugal esteve para não se realizar em virtude da crise petrolífera, mas César Torres convenceu o governo português a autorizar o rali e a Fiat monopolizou o pódio. Raffaele Pinto liderou com à vontade, perseguido por Alcide Paganelli e um terceiro 124 Spyder conduzido por um jovem, Markku Alen de seu nome. A Opel teve pouca sorte, já que Walter Röhrl e Achim Warmbold conheceram problemas e o outro Ascona, inscrito pela equipa portuguesa VIP Racing Team e pilotado por Tony Fall, também não terminou. Ove Andersson, em Toyota Corolla foi quarto, à frente do Datsun 240Z de Harry Kalstrom. Terminando em oitavo lugar, Francisco Romãozinho, num Citroën GS 1220 oficial, foi o melhor português.
No ano seguinte, 1975, Markku Alen alcança a primeira de cinco vitórias no nosso país. A prova não passou ao lado dos acontecimentos políticos vividos após o 25 de Abril de 74, a TAP deixou de ser o principal patrocinador, surgindo, no seu lugar, o Instituto do Vinho do Porto. O evento passou a ser organizado pelo ACP, e o rali foi disputado em julho, em pleno ‘Verão Quente’. Contando com a oposição da Opel, Toyota e do BMW de Warmbold, a Fiat veio disposta a repetir o triunfo, com os finlandeses Alen e Mikkola a darem início a uma série de duelos que viriam a ter outros capítulos ao longo da história. O calor e o pó não impediram Alen de obter a sua primeira vitória em provas do Mundial. Pedro Cortez e Mário Figueiredo, em Datsun, foram os melhores concorrentes nacionais e Jorge Ortigão levou o Mazda 818 à vitória no grupo 1.
Palmarés ‘Mundial’
Ano Rali Piloto
1972 Rali da Acrópole Håkan Lindberg
1972 Rali da Áustria Håkan Lindberg
1973 Rali da Polónia Achim Warmbold
1974 Rali de Portugal Raffaele Pinto
1975 Rali de Portugal Markku Alen
(*) Considerados os resultados de 1970-1972 quando o Mundial de Ralis era só de Construtores.
Martin Holmes
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