O Rali de Monte-Carlo do ponto de vista do espectador…
Com o grande atrativo dos novos World Rally Car prometerem fazer-nos viajar no tempo até 1986, era difícil resistir ao desafio de um grupo de amigos de voltar a ver ao vivo o rali provavelmente mais mágico de todo o Mundial.
Depois da minha estreia em 2012, na altura com as emoções bem fortes, por podermos ver Armindo Araújo e Miguel Ramalho a representarem as nossas cores no meio dos melhores do mundo, e de ter regressado em 2016 para descobrir um novo rali à volta de Gap, o presente do último Natal foi poder marcar viagem para Marselha para voltar a viver o sonho. Gap era novamente o centro nevrálgico da prova e nada nos restou do que ter de fazer cerca de 200kms desde o Aeroporto de Marselha para entrar em modo rali. Os Alpes Marítimos e Alpes da Alta Provença fazem entrar-nos no imaginário dos troços da prova, com imponentes montanhas e cumes pintados de branco a ladearem estradas escritas num belo e nunca aborrecido estilo sinuoso, que fazem a condução de um monovolume parecer a de um puro desportivo. O primeiro troço do dia eram os 31 kms entre as montanhas de Lardier Et Valença – Oze, com início às 08:08. Levantar às 06:00 da manhã para fazer cerca de 50 kms de ligação por estrada nacional parecia apertado para uma prova do WRC, ainda para mais quando estamos habituados aos apertados esquemas de segurança do nosso Rali de Portugal. Mas ali não houve problemas, pudemos levar o monovolume até onde havia efetivamente estacionamento, o que foi a cerca de 500 metros da passagem do troço. Chegados à ZE, algumas poucas fitas a marcarem as zonas proibidas e liberdade total para nos podermos deslocar para as restantes zonas não perigosas, com meia dúzia de marshalls, simpáticos, mas atentos a controlar centenas de adeptos. Sim, isto é WRC e não estamos nos anos 90.
Novos WRCs impressionam
Monte-Carlo é mágico por concentrar um pouco de todo o tipo de condições, zonas a fundo, secções sinuosas, alternância de asfalto seco com molhado, presença de neve, gelo e lama, um autêntico casino para os pilotos jogarem as suas estratégias. Tivemos a sorte de poder estar numa zona que representava isso mesmo, primeiro uma sequência de contracurvas com muita neve e gelo que antecediam a entrada numa estrada de asfalto seca e rápida, com duas curvas de 90º pelo meio. O primeiro carro começa a escutar-se ao fundo entre as montanhas…nota-se a sonoridade mais elevada face aos WRCs de 2016…de repente aparece o Ford Fiesta “DMACK” de Evans e a exclamação do público é total! Seguiram-se Breen e Sordo antes de ver o carro que mais me fez arrepiar de todos, o Toyota Yaris WRC de Latvala. Sem nunca antes ter visto um único vídeo no Youtube destes novos WRCs, a passagem de Latvala transmitiu-me a sensação única que outros ícones do passado como o Delta Integrale de Biasion, o Escort Cosworth de Delecour ou o Impreza WRC de McRae já me tinham feito sentir: pura adrenalina! Seguiram-se os Ford Fiesta oficiais e depois de um Tanak bastante “limpo”, a ansiedade dos franceses começou-se a sentir no ar. As buzinas apitam, os adeptos sussurram, Ogier está já aí a aparecer…arrepiante, espetacular e nos limites…nenhum dos demais pilotos passou ali daquela maneira!
Mais perto da emoção
No intervalo para a segunda passagem, tempo para um crepe e café na única roulotte disponível para o efeito (contraste total com a animação de comes e bebes de que vivem as zonas espetáculo do nosso rali), e toca a estudar a melhor posição para ver nova passagem dos pilotos de outro ângulo. Antes disso, duas simpáticas promotoras da Toyota Gazoo Racing distribuíam pequenos adereços pelo público, incluindo subscrições de 3 meses do WRC+. No marketing, a Toyota já está a ganhar! Após a segunda passagem, tempo para um repasto já no centro de Gap, antes da visita ao animado parque de assistência. Aqui volta-se a sentir o regresso aos anos 90, os fans podem passear livremente por todo o parque, estando muito próximos dos carros e dos pilotos. O ACM apenas tem distribuídos alguns elementos junto das equipas da frente, para ajudarem a que o espaço se abra quando os concorrentes saem para fazer o trajeto até ao controlo de saída. O público respeita, aplaude e agradece, parece muita a confusão mas ninguém penaliza no final. Como a ligação da manhã tinha corrido bem, decidimos arriscar ainda mais no nosso plano e fazer 28 kms/1:00 hora para a única passagem da parte da tarde que se podia ver: os 25 kms de Bayons – Bréziers, fatídicos para Neuville. Mas desta feita não correu tão bem, a polícia apareceu a cortar o acesso a cerca de 7 kms da passagem do troço e já não havia tempo suficiente para a valente caminhada. Assim, foi hora de abandonar temporariamente a festa e fazer mais cerca de 300kms rumo a Breil-sur-Roya, o nosso parque fechado para aquela noite.
Festa na catedral
Quem gosta de ralis, levanta-se cedo e por isso o despertador tocou desta feita às 05:30 da madrugada para a ansiada subida até ao Col du Turini… e que subida! O acesso que passa por Sospel e Moulinet é parte da versão clássica do troço, são mais de 20 kms de um asfalto “vintage”, ladeado pelos típicos muros e onde não se descansa ao volante. Gancho para a direita, gancho para a esquerda, curvas de 90º a não faltarem, sempre em subida, numa estrada de montanha que deixa à vista paisagens magníficas. De km a km vai aparecendo uma placa indicativa da distância que falta até ao Col e da altitude já atingida, que lá em cima perfaz cerca de 1614 metros. Conseguimos estacionar pouco depois de passar a placa dos 4 kms, o que já não foi mau pela antecedência que ainda tínhamos até ao início da especial. Pouca polícia, muitas caravanas, algum gelo e uma caravana húngara já a fazer negócio com venda de merchandise. Chegados lá cima, começa-se a entender pouco a pouco o porquê de ser tão mítico e especial: ali respira-se a história do Mundial de Ralis. Sem gelo nem neve na estrada, claramente que é uma zona muito menos espetacular que o nosso Confurco ou o popular gancho catalão de El Priorat, mas toda a envolvência e ambiente tornam-no um autêntico museu vivo dos ralis. E que museu se descobre quando se entra no bar/restaurante do Hotel Les Trois Vallées, recheado de fotografias, quadros, cartazes, postais, a maioria autografados, além de podermos visualizar tanta outra memorabilia dedicada ao Col du Turini e ao Rali de Monte-Carlo. Apesar dos milhares de espectadores presentes a polícia e os marshalls dão bastante liberdade na escolha do lugar, mas a verdade é que o comportamento do público não deixou de ser responsável. Após vermos a primeira passagem numa esquerda apertada já na parte final da subida que se iniciava em La Bollène-Vésubie, era tempo de paragem obrigatória no Le Ranch du Col du Turini para provar o tradicional vin chaud, um vinho quente que sempre ajuda a afastar o frio dos Alpes. Seguia-se a power stage e a neve caía intensamente, o verdadeiro espírito do Monte-Carlo estava presente. Após o recital de condução de Bruno Saby com o Renault Mégane Sport de segurança, os primeiros ruídos do motor do Toyota Yaris WRC de Juho Hanninen que entoa ao longe disparam ainda mais os níveis de ansiedade. Muito espetáculo, muitos aplausos e após a passagem do finlandês, a confraternização e a festa estavam a entrar no auge: fogueiras, very lights, buzinas, cânticos, hinos e palmas intermináveis que aparecem com o apogeu da passagem dos heróis, levando ao rubro todo o público presente. Ali podíamos encontrar outros adeptos portugueses, bem como franceses, espanhóis, italianos, irlandeses e até loucos japoneses em tronco nu, a mostrarem todo o apoio nas passagens dos Toyota. De facto, uma autêntica ONU dos ralis onde não faltavam também muitos nórdicos e suiços. Depois do Turini, era tempo de mais uma ligação agora para o Aeroporto, estava terminado o Rali de Monte Carlo 2017 e a vontade de regressar já se começava a sentir….
Duarte Mesquita
WRC / Gastos por pessoa
Voos 69,00 EUR
Alojamentos 63,40 EUR
Refeições 100,70 EUR
Aluguer Monovolume 13,10 EUR
Gasóleo 19,20 EUR
TOTAL 265,40 EUR
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