Pat Moss-Carlsson: Muito antes de Michèle Mouton deslumbrar o mundo, Pat Moss-Carlsson foi a primeira grande referência entre as mulheres no mundo ‘machão’ dos ralis. Ser irmã de Stirling Moss ajudou mas esteve longe de ser tudo e os cinco títulos europeus femininos de ralis provam-no
Quando se liga as palavras ‘sucesso’, ‘feminino’ e ‘ralis’ , invariavelmente, um nome salta para a ribalta: Michele Mouton. A francesa é hoje unanimemente reconhecida como a mais bem sucedida piloto de ralis de todos os tempos. Mas, duas décadas antes, quando o Mundial de Ralis não era mais do que uma ilusão, outra mulher dava nas vistas: Pat Moss-Carlsson. Mesmo que se tenha aproveitado do facto de ser a irmã do mais conhecido piloto inglês de todos os tempos, Sir Stirling Moss, não restam dúvidas que a piloto tinha qualidades ao volante muito acima da média.
Antes, no entanto, de descobrir o seu talento para controlar e ser rápida nos automóveis, Moss foi, durante 15 anos, membro da seleção de equitação da Grã-Bretanha, mesmo se não gozava do estatuto de profissional. As suas primeiras experiências nas quatro rodas não foram sequer positivas pois como disse numa entrevista antes de falecer “detestei a primeira lição de condução do meu irmão Stirling, num Jeep Willys, quando tinha sete anos”. Mas quando nasceu, dois dias depois do Natal de 1934, o seu destino parecia ter já uma ligação forte com o mundo das corridas de automóveis, talvez sugestionado pela herança genética advinda do pai, irmão e mãe: “guiar fazia parte da vida porque o meu pai corria e a minha mãe fazia ralis e rampas e, claro, o Stirling, era doido por carros ao ponto de com sete anos guiar já um Austin 7 sem carroçaria e apenas com dois bancos!”, chegou a relembrar.
O seu primeiro contacto com o verdadeiro mundo das corridas acabou por ser, apesar de tudo, ‘apenas’ aos 17 anos quando Ken Gregory, o manager do Stirling e seu namorado da altura, pediu que a acompanhasse num rali. Estava dado o mote e pouco depois, em 1954, já Pat saltava para o volante. Primeiro com um Morris Minor 1000 e depois com um Triumph TR2, com o qual obteve bons resultados. Ainda não suficientes, no entanto, para que a Triumph lhe entregasse um volante oficial no Rally RAC de 1955. Era uma questão de tempo, até a marca inglesa se dar conta de ter cometido um enorme erro. Não só Pat não parava de evoluir, como o apelido ‘Moss’ a ajudava a espantar o mundo. Aos 22 anos, a sua carreira já tinha um forte caráter internacional marcante e simplesmente explodiu para o estrelato quando, três anos mais tarde, venceu uma das provas consideradas mais difíceis do mundo, o Rally Liège-Rome-Liège, ao volante de um Austin Healey 3000 e terminou em segundo o Coupe des Alpes, outra das clássicas dos ralis dos anos 60. Era nas provas longas e extenuantes que Pat mais sobressaía e isso ainda deixava os adversários ‘masculinos’ mais irritados. Por isso não foi uma total surpresa quando, em 1967, terminou o East African Safari Rally em terceiro num Saab 96. Por esse altura, o seu nome já discutia com os melhores pilotos consagrados os triunfos nos ralis europeus e a destemida piloto já tinha deixado registado no seu currículo uma soberba vitória no Rali da Tulipas, em 1962, naquela que ainda hoje é considerada como a primeira marca de relevo acerca da competitividade do BMC Mini Cooper, antes mesmo da equipa oficial dos três mosqueteiros (Rauno AAltonen, Timo Makinen e Paddy Hopkirk) começar a brilhar no pequeno carro de tração dianteira.
Casa mento de ‘conveniência’ O casamento com o campeão sueco Erik Carlsson, em julho de 1963, não podia ser mais conveniente. Num altura, em estava ligada à Ford, o gigante de Detroit tentou ‘roubar-lhe’ o marido mas, fiel às suas origens, Carlsson não largou a Saab e, num contra golpe, arrastou Pat para a marca escandinava, onde juntos, formaram uma dupla difícil de bater ao longo de 11 ralis internacionais. Com o Saab 96, a irreverente e sempre extrovertida Pat mostrava que a raça da palavra ‘Moss’ não era um exclusivo das pistas, como provavam o segundo lugar de Sanremo, o terceiro de Acrópole e, mais importante, o último lugar do pódio obtido de Monte Carlo, também em 1965. Mais do que uma esperança nos ralis, Moss-Carlsson era já uma certeza. E foi por isso que a Lancia lhe ‘piscou o olho’ e a puxou para as suas fileiras a partir de 1968 quando a Saab quebrou a sua assiduidade nos ralis europeus. Defendendo as cores italianas, a britânica perdeu, em 1968, o Rali de Sanremo, num Fulvia, para o Porsche 911 de Paul Toivonen mas ganhou o complexo Sestriere Rally e levou o mesmo Fulvia HF, um ano depois, ao sexto lugar do Monte Carlo. E foi precisamente na prova monegasca que deu por encerrada a sua carreira, em 1972, quando, aos 38 anos, ainda deu uma lição de condução no Alpine-Renault A110 que levou ao 10º lugar. Infelizmente, a vida pregou-lhe uma partida fora do universo dos automóveis quando faleceu em 2008, aos 73 anos, com um cancro. Mas antes ainda havia sempre tempo para ouvi-la dizer que o seu o seu último carro de estrada foi um Saab 9-3 Aero mas Pat dizia que nunca começava a guiar se o botão ‘S’ (de Sport) não estivesse carregado…”.
A ajuda de Stirling
Como não podia deixar de ser, muito do legado de experiência acumulado por Pat Moss-Carlsson deveu-se a ajuda de Stirling Moss, conhecido como o eterno segundo pois nunca chegou a transformar as suas extraordinárias virtudes ao volante num título de F1. Pat contou uma vez que “mesmo se o mundo das corridas é totalmente diferente do dos ralis, o meu irmão ajudou-me muito no início. Um dia, em 1955, levou-me a Silverstone para examinar o meu estilo de condução num MGA. Disse-me logo que travava demasiado cedo, mais precisamente 120 metros antes da zona de travagem. Então deu-me uma ideia exata dos pontos de travagem certos e de como travar, o que me permitiu evoluir rapidamente”. Com um professor assim, até parecia fácil…
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