Miguel Faísca: “O meu grande objectivo é tornar-me piloto profissional e conseguir viver disso”

Por a 5 Fevereiro 2014 15:25

Miguel Faísca fez história ao vencer a GT Academy 2013 e prepara-se agora para uma temporada ao volante de um Nissan GT-R Nismo num campeonato internacional de GT3. Depois da vitória nas 24 Horas do Dubai, fomos saber como se passou do sofá lá de casa para as pistas a ‘sério’

A primeira vez que viu a sua licença internacional de piloto foi já dentro do circuito Internacional do Dubai, mas Miguel Faísca, assim como os seus colegas da GT Academy, demonstrou que merece correr contra os melhores pilotos de GT do mundo, começando o ano com a sua primeira vitória. A sua carreira começou com algumas corridas de treino na club racing britânica, mas agora chegou a vez de Miguel Faísca dar uma grande passo para as corridas internacionais. E o piloto português entrou bem nesta nova fase, começando o ano com a sua primeira vitória, conquistando o triunfo na classe SP2 nas 24 Horas do Dubai.

Mas não foi fácil o percurso de Miguel Faísca até à sua vitória no GT Academy 2013, já que para aí chegar teve de superar cerca de 765 mil concorrentes europeus, dos quais 35 mil só de Portugal, todos com o mesmo objectivo: uma oportunidade de se tornarem pilotos profissionais. Este programa da Nissan e da PlayStation pretende descobrir novos talentos do volante, e tudo começa através do popular jogo Gran Turismo, recentemente lançado, que já vai na 6ª Edição. A final nacional entre os dez melhores ‘pilotos’ lusos foi no Estoril, onde foram apurados Miguel Faísca e Francisco Pereira para a final europeia. Aí, depois de muitas peripécias, Faísca tornou-se no primeiro português a vencer a GT Academy, e desde esse momento o piloto tem estado sob um programa intensivo de treino, que culminou com o seu primeiro grande ‘teste de fogo’ as 24 Horas do Dubai, prova

Autosport: Conta-nos como se passa do sofá e da Playstation para as pistas’reais’? Explica-nos todo este caminho.

MF: “Gosto imenso de carros e de conduzir, e sempre que havia a possibilidade de um evento deste género, participava sempre. Quando soube do GT Academy – uma oportunidade única, pois um lugar num campeonato GT3 custa cerca de 300 mil euros, que eu não posso gastar, tentei tudo para conseguir participar. Sempre que tinha tempo livre jogava para me qualificar, mas no online não consegui, pois não tinha muito tempo porque era época de exames. Mas no ‘Live Event’ do Vasco da Gama tive bastante sorte e fiquei num dos três primeiros, o que me levou à final nacional. Aí, nessa altura, não estava muito bem fisicamente, mas nessa semana treinei todos os dias, dei o máximo. Não era dos que estava melhor fisicamente, mas felizmente foi o suficiente para ficar nos dois primeiros em todos os testes e fui apurado. O resto é história…”

AS: Quantas horas achas que terás passado a jogar Playstation até te teres qualificado para o GT Academy?

MF: Curiosamente, eu arrisquei um bocado e não dediquei o tempo que devia, de tal maneira que só me consegui classificar no ‘Live Event’ do Vasco da Gama. Contudo, acho que isso depende de pessoa para pessoa. Umas horas por semana devem chegar.

AS: O que estarias a fazer caso não tivesses sido apurado e depois vencido?

MF: “Se não tivesse acontecido nada disso, a minha vida teria voltado por completo ao normal, o que significaria que teria ficado em casa a estudar. Ainda tenho cinco cadeiras para fazer, que vou continuar a tentar, mas para já há corridas para fazer e uma oportunidade para me tornar piloto profissional.”

AS: Ouvimos dizer que a tua primeira palavra foi trator? Conta lá como surgiu o teu gosto pelos automóveis.

MF: É verdade! Sinceramente não sei bem como é que surgiu, mas de tudo o que me lembro, desde pequenino que tenho uma grande paixão por automóveis ou quase tudo o que tenha motor e ande para a frente.

AS – No Race Camp de Silverstone, 42 jogadores reuniram-se mas só um poderia ganhar. Como foi essa semana?

MF: “Inicialmente não sabia muito bem o que esperar, porque todos os anos eles alteram os testes físicos e de condução. Mas como é lógico, antes de ir para lá vi muitos vídeos das edições anteriores. Depois… dureza extrema, vi muitos participantes a irem para o hospital com mazelas de vários tipos. Esses eram os momentos mais complicados, mas havia outros bons. A verdade é que pouca gente falava de mim, não me estava a destacar entre os 42 participantes. No último dia, na final, só restávamos sete concorrentes e aí libertei-me da pressão porque achava que não tinha hipóteses. Tentei simplesmente sentar-me e pilotar. As coisas correram bem, fiz o segundo melhor tempo dos sete. Na primeira corrida, arranquei em segundo mas venci e na segunda corrida, arranquei da pole, falhei um mudança no arranque e perdi a posição, mas ao fim de uma volta o piloto à minha frente despistou-se e consegui ficar em primeiro”.

AS: Depois surgiu a parte que te soube melhor…

MF: “Apesar de eu ter ganho as corridas todas, não queria dizer que eu fosse escolhido pois tudo o que se passa durante a semana conta. Depois de duas horas de espera quando estava no palco, um dos meus mentores (ndr – Lucas Ordoñez e Gonçalo Gomes) indicou-me que eu não era o vencedor. Fiquei muito desanimado, pois tinha ganho as duas corridas. Quando anunciaram o vencedor, nem ouvi à primeira, mas depois foi uma sensação muito boa. Nestes dois meses em Inglaterra diverti-me e aprendi imenso”.

AS: Antes do Dubai, qual tinha sido a corrida mais a sério que já tinhas feito? O que sentiste na altura?

MF: Foi em Donington com o Nissan 370Z GT4 à noite, e foi um bocado assustador, pois foi a minha primeira corrida noturna, numa pista sem iluminação, numa noite muito escura, sem lua, a correr contra carros mais potentes que o meu e ainda por cima num carro que estava a conduzir pela primeira vez. Mas apesar das condições complicadas foi muito divertido e no final queria ainda mais. Foi um excelente treino para as corridas de 24 Horas…

AS: Qual é a sensação que pilotar um carro de corrida? Explica as diferenças entre virtual e real e o que se leva do virtual para o real. Ou não tem absolutamente nada a ver?

MF: Em primeiro lugar, na Playstation jogamos por diversão e na ‘vida real’ temos de pilotar bem, se não, podemos magoar-nos. Num carro de corrida estamos completamente presos ao banco e mal nos conseguimos mexer, não conseguimos ver quase nada para fora do carro, está imenso calor e temos que usar um fato que ainda faz mais calor. Estamos sujeitos a forças G, em alguns carros temos de fazer uma força de 80/100kg no pedal do travão para ele conseguir travar a 100% (GT4/GT3). Apesar disto ser impossível de reproduzir em casa para o jogo ser realista há muitas coisas que no GT6 transmitem bem a realidade, como por exemplo o pormenor das pistas, que para mim é exactamente igual, as trajectórias, zonas de travagens e comportamento do carro.

AS: O medo ou o receio de bater deve ser muito diferente sentado no sofá ou numa pista com um carro potente nas mãos? Já tens histórias giras para contar a esse nível?

MF: Até ao Dubai, já tinha tido algumas saídas de pista, mas nada de grave (risos), mas a sensação dentro do carro quando cometemos um erro, saímos de pista e vamos aos ‘saltinhos’ na relva nada tem a ver com a de estar sentado no sofá em frente à televisão. Mas tudo isso faz parte da aprendizagem, pois para andar nos limites é preciso arriscar, e aí os erros surgem e podem resultar em acidentes. No Dubai, nada de especial, dei um toque num adversário e levei outros, mas nada de muito significativo…

AS: Quais são as principais dificuldades com que te deparaste ao longo deste processo?

MF: Curiosamente, para mim a parte mais difícil foi qualificar-me na Playstation, isto porque sabia que não tinha treinado horas suficientes e passei mesmo com muita sorte. A parte dos desafios físicos e de condução também eram bastantes difíceis, mas acabaram por ser divertidos de fazer. Dos desafios físicos mais difíceis que tive foi um do género militar em que tive de rastejar na lama e passar por zonas em que apanhávamos choques eléctricos. Relativamente à pilotagem, o maior problema foi passarem-nos os carros para a mão, sem treino quase nenhum, e tínhamos que realizar uma volta cronometrada. Quase sempre cometia exageros em pista.

AS: Como te adaptaste a conduzir à noite. Que desafios isso te coloca?

MF: Conduzir à noite é muito difícil, mas até me adaptei bem. Curiosamente, como já tinha feito muitas viagens à noite para a minha terra, acabaram por servir de treino (risos). Mais a sério, para além de não se conseguir ver para onde se está a curvar quando se tem um carro atrás com os máximos ligados (o que toda a gente faz) só se vêem os espelhos a brilhar e quase não se vê nada para a frente.

AS: Qual foi a parte que achas mais complicada nas 24 Horas do Dubai?

As dobragens, pois às vezes é preciso arriscar, se não ficamos presos atrás de um grupo de seis carros e perdemos muito tempo. Quando soube que tinha feito uma volta em 2m25s, perguntei-me como era possível…

AS: Onde achas que este caminho te pode levar?

MF: Eu sei que só tenho garantido um ano com a Nissan, mas espero conseguir portar-me bem este ano, e com isso conseguir manter-me a trabalhar com eles por muitos mais anos. Em termos de corridas não sei bem ainda o que vou fazer, mas o que fiz até agora já é muito bom e é mais do aquilo que eu algum dia pensava ser possível. Tudo aquilo que conseguir daqui para a frente é bónus.

AS: Quais são os teus objetivos futuros?

MF: O meu grande objectivo é tornar-me piloto profissional e conseguir viver disso, mas se conseguir chegar a correr em LMP, já ficaria muito contente. A ver vamos!

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