Fórmula 1 contra GP1

O claro avanço das negociações entre a FOTA e Bernie Ecclestone, com vista à rápida assinatura do novo Pacto da Concórdia, fez as duas partes entenderem que podem continuar a trabalhar juntas, coisa que há poucos meses parecia improvável.

O inglês foi o primeiro alvo declarado de Montezemolo aquando da criação da associação de equipas, mas os dois homens entenderam-se rapidamente, com Briatore a servir de ponte entre as partes e planeando assinar o novo Pacto da Concórdia durante o GP do Mónaco, já estão a pensar ir mais além.

Ecclestone não está nada satisfeito com as exigências da CVC Capital Partners, que pode estar a perder centenas de milhões de euros noutros investimentos e lhe exige receitas cada vez mais elevadas, numa altura em que a crise da economia mundial faz com que a publicidade nos circuitos e as vendas de bilhetes para o Paddock Club estejam muito abaixo do visto nos anos anteriores.

Para além disso, o empresário inglês não vê com bons olhos as sucessivas investidas de Mosley contra os construtores e, por isso, fez uma aproximação à FOTA, colocando-se do seu lado no caso da cisão com a FIA. A vontade de Mosley impor um tecto orçamental muito baixo – 33 milhões de euros – e estar agora a falar constantemente do motor único para todas as competições – uma loucura pegada – causa desconforto a Ecclestone, que prefere estar com as equipas, mesmo que nem sempre seja fácil lidar com as exigências de elementos mais difíceis, como Briatore, Montezemolo ou até de Adam Parr.

A facilidade de negociação com Montezemolo parece ter convencido Ecclestone que se for o italiano a gerir a parte desportiva da categoria tudo se passará de forma mais lógica e linear do que com Mosley, pois este nos últimos anos perdeu todo o senso da realidade e dispara em todas as direcções de forma imprevisível, que é exactamente aquilo de que a F1 não necessita no actual clima de instabilidade da economia mundial.

F1 contra GP1

Foi para se preparar para todas as eventualidades que Ecclestone registou há alguns anos os nomes GP1, GP2 e GP3. Por isso se o inglês e a FOTA decidirem não trabalhar mais com Mosley e a FIA, a nova competição, com os cinco construtores actualmente envolvidos a fornecerem motores a duas ou três equipas cada – pois o objectivo é fazer crescer o plantel para 24 carros – terá o nome de GP1 e terá provas de GP2 no seu programa. A criação da GP3, para competir com a F3, não seria um problema, deixando três competições da FIA – F1, F2 e F3 – em competição com as suas congéneres da aliança FOTA-Ecclestone.

Numa altura em que a principal preocupação da FOTA é o de conter o conflito aberto entre Briatore e Ross Brawn, também será importante ver como se desenrolará o Conselho Mundial Extraordinário da FIA de amanhã, no que respeita à discussão do tecto orçamental já para 2010 e da data limite que Mosley quer impôr para fechar as inscrições para o próximo ano, pois quer que todos se inscrevem até ao final deste mês!

Duas questões que podem levar a um conflito aberto entre Mosley e Montezemolo, que fará a sua primeira aparição num Conselho Mundial e poderão abrir a porta a uma cisão com efeitos imediatos. Daí que a expectativa seja enorme, pois joga-se mesmo o futuro da F1 nos próximos dias.

Luís Vasconcelos