O campeão programado
As comparações com Tiger Woods são mais que muitas, mas se é evidente que existem imensas semelhanças entre os dois jovens campeões, também há que ressalvar as diferenças, pois o golfe sempre foi muito mais elitista que o automobilismo e Hamilton nunca teve de enfrentar atitudes discriminatórias por parte dos seus adversários, como foi o caso de Woods nos seus primeiros dois anos no circuito profissional de golfe.
O que é certo é que Lewis Hamilton juntou mais um elemento ao sonho anunciado de Bernie Ecclestone já lá vão 15 anos, quando disse que tudo o que necessitava para fazer da Fórmula 1 o desporto mais popular do mundo era dum alemão rápido, dum piloto negro e dum chinês. Michael Schumacher tratou do primeiro desejo, Hamilton do segundo e, agora, falta um chinês para que Ecclestone possa retirar-se com todos os seus desejos cumpridos!
Um talento excepcional
Desde muito cedo que se viu que Lewis Hamilton era dotado dum talento muito acima do normal. A sua coordenação motora ficou à vista quando com apenas seis anos ganhou o campeonato britânico de carros telecomandados, face a concorrência de adultos com décadas de experiência e daí para o karting foi um salto. Os resultados foram imediatamente excepcionais e como se tratava do primeiro piloto negro a dar nas vistas no Reino Unido, Hamilton passou imediatamente a celebridade do seu pais, o que o ajudou a angariar patrocínios para continuar a progredir.
Mas sem a intervenção de Ron Dennis, da McLaren e da Mercedes, é certo que a progressão de Hamilton teria sido bastante mais complicada e lenta, pois a partir dos 13 anos teve sempre material do melhor nas mãos, mas também tratou de fazer o melhor uoso desse privilégio, ganhando quase tudo no karting, antes de passar para os automóveis com apenas 16 anos.
Os dois primeiros anos não foram fáceis, porque Hamilton tinha imensa pressa de vencer e parecia incapaz de aceitar outro resultado que não a vitória, mentalidade que lhe deu brilhantes resultados mas também esteve na origem de espectaculares e violentos acidentes tanto na Fórmula Renault como na Fórmula 3. A passagem para carros mais potentes, na GP2, foi bastante mais suave e nos últimos três anos os erros graves têm sido poucos, mais a mais se considerarmos que estamos a falar dum jovem com apenas 23 anos.
Nessa idade Ayrton Senna estava a chegar à Formula 1, Michael Schumacher efectuava a sua primeira temporada completa na categoria e Alain Prost ainda estava na sua primeira temporada de Fórmula 3. Por isso, quando se analisam as performances de Lewis Hamilton, há que também ter em consideração a sua enorme juventude e o facto de ter completado no domingo passado apenas a sua segunda temporada completa na Fórmula 1.
Mais erros que em 2007
Talvez por isso, Lewis Hamilton acabou por se sagrar Campeão do Mundo num ano em que cometeu mais erros do que em 2007, na sua temporada de estreia. Sem um ponto de referencia como companheiro de equipa, pois Heikki Kovalainen não vale Fernando Alonso, com todo o peso da responsabilidade de ser o líder da McLaren nos ombros, determinado a vingar a cruel e inesperada derrota no Mundial do ano passado, precisamente na última corrida da temporada, Hamilton lidou menos bem com toda essa pressão do que em 2007, mas acabou por fazer o suficiente para bater Felipe Massa por um ponto, com uma ultrapassagem decisiva a Glock n a última travagem do campeonato!
Nunca na história da Fórmula 1 um piloto de 23 anos se tinha encontrado na posição de líder duma das melhores equipas do plantel e com a enorme pressão exercida pela exigente media britânica Hamilton foi sujeito a um tratamento de choque para o qual não estava preparado. Daí resultaram erros pouco habituais no Bahrein, no Canadá e no Japão, que lhe custaram pontos preciosos e algumas penalizações.
Aliás, a sua forma de estar em pista, extremamente agressiva, causou-lhe diversos dissabores ao longo do ano, pois foi penalizado por diversas vezes e viu o plantel virar-se todo contra si, sobretudo depois do Grande Prémio de Itália duma forma que nem com Michael Schumacher tínhamos visto. Isso podia ter-lhe custado muito caro, pois ninguém lhe deu nem um milímetro na última corrida do ano, ao contrario do que é habitual com que está a discutir o título.
No final do ano, falando com boa parte dos outros pilotos de Fórmula 1, todos nos deram conta do enorme respeito que têm pelo seu talento natural e pela sua velocidade, mas foram poucos os que não criticaram a sua postura nos duelos directos, ficando-nos a ideia de que o inglês vai continuar a ter vida difícil no meio do pelotão no próximo ano. Mas tem talento para superar todas essas adversidades, o que nos faz prever mais alguns momentos de excepcional emotividade para as próximas temporadas.
O céu é o limite
Campeão do Mundo aos 23 anos, com mais quatro anos de contrato com a McLaren e mais de uma década de Fórmula 1 à sua frente, Lewis Hamilton tem tudo para bater todos os recordes da categoria. Michael Schumacher já admitiu que poderá perder o recorde de títulos para o jovem inglês, mas Hamilton, para já, nem quer pensar nisso: “Para se ganhar oito Campeonatos do Mundo é necessário ficar muito tempo na Fórmula 1 e ter sempre carros ganhadores nas mãos. Não acredito que possa chegar aos números do Michael Schumacher, mas fico feliz por ele considerar que os poderei bater, pois ele foi a referencia para todos os pilotos durante mais de uma década. O meu objectivo é ganhar três Mundiais e é nisso que me vou concentrar nos próximos anos. Depois veremos o que vou fazer com a minha carreira, mas não me vejo a correr por outra equipa que não a McLaren, que é a minha casa e onde todos fazem um trabalho verdadeiramente excepcional.”
O futuro dirá até onde poderá e quererá chegar Lewis Hamilton. Para já, bem se pode dizer que o Céu é o seu limite, pois não se antevêem entraves para uma carreira que se adivinha extraordinária.
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