O estranho caso de Jenson Button

Jenson Button pode resolver a questão do título já hoje no Brasil, mas depois de ter avisado que ia jogar à defesa em Interlagos, a estranha qualificação de ontem veio baralhar as contas a toda a gente, e a partir da 14ª posição da grelha, com o seu principal adversário e colega de equipa na pole-position, as coisas não sorriem a Jenson Button. O mal menor é que, na pior das hipóteses, irá para Abu Dhabi com uma vantagem de quatro pontos. Curioso o caso deste piloto que parece ter medo de ser Campeão.

Que se passa com Jenson Button? Em evidente crise de confiança desde o GP da Grã-Bretanha, quando as modificações introduzidas no BGP001 não deram os resultados esperados e tornaram o carro que dominou a primeira parte do Mundial mais difícil de pilotar, Jenson Button parece temer o sucesso.

Por isso, tem vindo a jogar cada vez mais à defesa, tanto nas pistas como no relacionamento com os restantes elementos do ‘paddock’, onde sempre foi muito popular e amistoso.

Tirando o GP da Hungria, em que Barrichello correu fortemente afectado pelo acidente do seu amigo Massa, no dia anterior, de que foi o causador involuntário, Button não tem tido andamento para o brasileiro desde que ganhou na Turquia.

É verdade que terminou imediatamente à frente de Barrichello na Alemanha e em Singapura, mas em ambos os casos ficou a sensação evidente de ter sido favorecido pela equipa a nível estratégico, pois o paulista foi bastante mais veloz até aos reabastecimentos, antes do seu carro conhecer súbitas perda de velocidade.

Medo do sucesso

Mas como pode um piloto que venceu seis das sete primeiras corridas do ano perder subitamente a sua rapidez e auto-confiança. Segundo o Dr. Riccardo Ceccarelli, especialista em medicina desportiva e ligado a várias equipas de F1, “é muito fácil para um piloto que já não ganha há muito tempo perder a auto-confiança depois de um período de sucesso.

Um Schumacher, um Alonso ou um Raikkonen nunca têm dúvidas acerca do seu talento, porque venceram em todas as categorias e sempre que tiveram carros minimamente decentes na F1 foram vencedores. Para além disso só raramente estiveram atrás dos companheiros de equipa o que lhes deu um capital de auto-confiança que os torna quase inabaláveis, mesmo quando passam por momentos de forma menos bons, como foi o caso do Raikkonen de metade de 2008 até metade deste ano.

O Jenson já não estava habituado a ganhar, nunca se assumiu como um vencedor na F1 mas quando teve o melhor carro ganhou. Só que quando o deixou de ter e o Barrichello passou a andar à sua frente, perdeu a auto-confiança. Existe ainda o fenómeno do atleta que bloqueia quando está perto do sucesso, pois a pressão sufoca-o, e é isso que parece estar a acontecer com ele.”

O fantasma de Hamilton

Tentando libertar-se da pressão mediática, Button quase só tem falado com a imprensa inglesa nos últimos meses, mas foram os seus compatriotas que agitaram o fantasma de Hamilton, que esteve em situação semelhante no Mundial de 2007 e acabou por o perder por um ponto, ao marcar apenas dois pontos nas duas últimas corridas do ano, contra os 20 de Raikkonen.

Sem o sorriso habitual, fechado no seio do seu cada vez mais restrito clã, que inclui o pai John, a namorada Jessica e um ou dois amigos de longa data, Button parece incapaz de reger a pressão de estar a apenas seis pontos do título, não mostrando ter a fibra dos grandes campeões. Mas nem por isso deixará de ser um merecido Campeão do Mundo deste ano, se nada de anormal acontecer, pois o seu desempenho até ao GP da Turquia foi verdadeiramente sensacional.

Resta a Button provar mais logo que todas estas teorias são erradas e realizar, como o próprio já admitiu “a corrida da sua vida” e ser já Campeão no Brasil. A corrida inicia-se às 17h de Lisboa…