Colin “McRei” da Escócia

«Ele era um homem de carácter no mundo dos ralis e fará muita falta». As palavras, simples e sentidas, foram ditas por Colin McRae aquando do falecimento do seu colega e compatriota Richard Burns.

As mesmíssimas palavras, simples e sentidas, podem agora ser referidas sobre quem as proferiu. O escocês, cujo o estilo de pilotagem foi comparado a Ari Vatanen, deixou-nos inesperadamente e sem aviso, colocando de luto o mundo do desporto automóvel. A devida homenagem à pessoa que foi e à sua magnífica carreira já aqui foi prestada, mas outra forma de o recordar, passa por trazer a emoção com que algumas das nossas reportagens o descreveram.

O escocês voador

Dos bons e altos momentos que podemos reviver de McRae, escolhemos dois que marcaram a sua carreira e simultaneamente a história mundial dos ralis. Por serem únicos da forma deste piloto estar na vida e na competição automóvel. Um deles transporta-nos para o ano de 1995, quando o jovem escocês de 27 anos se debatia perante um outro piloto memorável, pela conquista do campeonato. No Rali da Catalunha, penúltima ronda desse ano, Juha Kankkunen desiste e Carlos Sainz fica na liderança. David Richards, então chefe da Subaru, estabelece ordens de equipa: o espanhol deve vencer.

McRae faz “ouvidos de marcador” e só perante os insistentes pedidos do seu pai e da equipa, aceitou penalizar no último controlo e entregar a vitória ao espanhol. As contas do campeonato colocaram os dois companheiros de equipa na liderança ex-aequo com 70 pontos, adiando a decisão para o Rali britânico. O que aconteceu foi história e lia-se no AutoSport da altura: «Verdadeiramente fantástico, Colin McRae fez “magia” no Rali RAC, graças a uma exibição irresistível que o levou à conquista do título mundial de pilotos, sem deixar margem para dúvidas, no despique directo com Carlos Sainz. Em paralelo ao facto histórico de um piloto britânico ser consagrado campeão, a Subaru festejava também, o ceptro de construtores».

Outro momento histórico leva-nos ao ano de 1998. McRae voltou a debater-se com o seu adversário de sempre: Carlos Sainz. O palco preferencial? A 32ª edição do TAP Rali de Portugal. O escocês e o espanhol demonstraram as razões porque eram considerados então, os melhores do mundo: «Uma edição histórica, a fixar a mais curta vantagem de um vencedor de uma prova do Mundial, até à altura, e um recorde que permaneceu inalterado até há poucas semanas atrás no Rali da Nova Zelândia.

Uma decisão desportiva encontrada apenas na última classificativa. Que mais se poderia exigir?». A margem mínima foi de 2,1 segundos, alcançada por McRae sobre o Toyota Corolla WRC de Carlos Sainz. Difícil o triunfo, como se escreveu então: «Mais uma classificativa e poderia ter sido o fim do piloto escocês, que chegou à assistência final na Senhora da Hora sem uma pinga de óleo no motor do Subaru».

Muito mais poderia aqui ser contado, como por exemplo as histórias inerentes aos múltiplos acidentes que o piloto escocês teve na sua carreira, ou o dia em que mandou uma traseirada num espectador na Selada das Eiras, em Arganil, projectando-o quase para a aldeia do Salgueiro. Ou quando veio testar com a Subaru a Arganil, e na primeira curva após o início do teste mandou com o carro por um precípicio, ou…ficávamos aqui o dia todo…