Pedro de Almeida: “E difícil fazer o Rali fora do Algarve e fica o desafio para quem quiser tentar desenhar uma prova a Norte que cumpra as exigências”
Perguntas dos leitores Autosport – via site e e-mail
1 – Passei por estradas de asfalto na zona de São Brás de Alportel muito boas para rali. Consideram a hipótese de podermos vir a ter um rali misto? MTT DAKAR, fórum Autosport
Pedro de Almeida: Num futuro próximo, não.
2 – Qual foi o feedback que recebeu dos membros da FIA depois do rali? MTT DAKAR, fórum Autosport
Pedro de Almeida: Entre muito positivo e entusiástico.
3 – Acha que realmente não é viável a realização do rally na zona norte do país?
Pedro de Almeida: De acordo com o actual caderno de encargos das provas do Mundial, parece-me muito difícil reunir no norte do país todas as condições necessárias para aí disputar o Rally de Portugal.
4 – Não teria sido possível este ano a realização do WRC no Algarve e do IRC no Norte?
Pedro de Almeida: Antes de mais, o grande obstáculo que se depara a um projecto desse tipo reside na disponibilidade de recursos financeiros para realizar anualmente em Portugal duas provas com essa envergadura.
5 – Está a organização isenta de responsabilidades nos dois acidentes graves que houveram (Bonato e Kuipers)?
Pedro de Almeida: Sim, está.
6 – Apesar de a serra algarvia ter um numero interminável de estradas, estradas boas para o Mundial são poucas, acha que num futuro próximo poderão ter alguma dificuldade em montar a prova apenas na zona central do Algarve, devido ao “diferendo” com Monchique que vem desde 2002 e ainda da não utilização do concelho de Tavira?
Pedro de Almeida: A zona em que a prova actualmente se disputa oferece todas as condições necessárias e os troços escolhidos mereceram uma aprovação entusiástica por parte dos pilotos e dos observadores da FIA. Não prevejo, por isso, qualquer tipo de dificuldade relativamente à continuidade do Rali de Portugal nesta região.
O Rali de Portugal realiza-se no Algarve e no Baixo Alentejo desde 2005, beneficia de um forte apoio das autarquias locais, conscientes do impacto muito positivo que a prova tem para a região, tanto em termos económicos como de notoriedade internacional (um aspecto fundamental para uma zona vocacionada para o turismo), e não tenho conhecimento da existência de qualquer “diferendo”.
7 – Qual foi a razão da não utilização do troço de Silves/Ourique, que foi o maior troço de 2007?
Pedro de Almeida: A razão principal residiu na procura de um maior equilíbrio entre os troços do rali, quer em extensão, quer em configuração e tipo de piso. Considero o troço de “Silves/Ourique” (ou a variante “Santana da Serra” que utilizámos em 2008) como uma excelente classificativa que poderá sempre regressar ao Rali de Portugal.
8 – Qual é a razão da não utilização do concelho de Tavira?
Pedro de Almeida: Uma evolução normal do percurso tendente a uma maior concentração da prova. Também o facto de uma parte significativa do troço “Serra de Tavira” ter sido asfaltada reduziu o interesse de a incluir num rali de terra.
9 – Como é trabalhar hoje com dia com uma equipa que já trabalha parcialmente junta desde os tempos da Volta a Portugal dos anos 80?
Pedro de Almeida: É um prazer e uma honra. Começámos a trabalhar juntos no Clube 100 à Hora em 1979 (provavelmente já ninguém se lembra, mas foi o Giovanni Salvi que nos juntou) e, embora alguns tenham seguido uma carreira noutras áreas, como é o caso do Luís de Freitas e do Pedro Cordeiro na FPAK ou do Alberto Gonçalves na ASO, temo-nos mantido unidos ao longo dos anos e dos acontecimentos.
Formados inicialmente por um homem muito rigoroso, o Francisco Romãozinho, temos uma visão semelhante sobre o que deve ser a organização de uma prova desportiva, comunicamos por sinais de fumo e, para nós, é irrelevante o papel que cabe a cada um. Eu próprio já fui Director Adjunto do Pedro Cordeiro, do Pedro Barbosa da Gama e do António Mocho. Fui Responsável de Segurança quando o António se tornou Director de Prova do Rali de Portugal, situação que se inverteu em 2005, quando eu assumi o comando da equipa.
Justo é dizer, no entanto, que este grupo foi, ao longo dos últimos anos, significativamente alargado, em termos quantitativos e sobretudo qualitativos, garantindo o futuro do Rali de Portugal e de todo o vasto conjunto de provas organizado pelo ACP Motorsport.
10 – O que é mais complicado, ser director de uma Volta a Portugal dos anos 80 em que a prova era dispersa pelo país e os meios de comunicação nem sempre eram os melhores, ou ser director do Rali de Portugal 2009, onde apesar de se ter tudo à “mão de semear” temos de ter atenção a todos e mais alguns detalhes que a FIA exige? João Costa, fórum Autosport
Pedro de Almeida: A grande dificuldade de organizar um rali como a Volta a Portugal nos anos 80 passava pela falta dos meios técnicos e financeiros que agora estão muito mais disponíveis. A prova era gerida a partir do carro do Director de Prova e as decisões eram baseadas em informações colhidas in loco ou recebidas através de emissores-receptores que só funcionavam quando os dois móveis se encontravam em linha de vista. Era o tempo da baliza às costas e do improviso…
Em contrapartida, o grande desafio actual reside no elevadíssimo nível de exigência que rege as provas do Mundial de Ralis e na enorme competição entre os ralis que o integram.
11 – Imagine que não era o director de prova do Rali de Portugal e que, como antigo navegador e conhecedor dos troços portugueses, tinha de eleger o melhor de todos. Qual preferia e porquê? Makkinen, fórum Autosport
Pedro de Almeida: Sinceramente, não saberia responder. Cada região tem as suas características e cada troço tem o seu encanto próprio. Por princípio, quer como praticante, quer como organizador, prefiro os troços “naturais”, rápidos e com bom piso. Vale isto por dizer que nunca gostei de classificativas resultantes de “bricolage” (como, por exemplo, Felgueiras) ou demolidoras (como a Senhora da Graça na década de 70 ou a Cabreira nos anos maus).
12 – Depois das edições no Algarve, é possível que o Rali regresse a zonas tradicionais no Norte e no Centro do país? Alberto Soares, via e-mail
Pedro de Almeida: Pelas razões que já avancei, parece-me no mínimo difícil. Entre as condições impostas pela FIA e aquelas que resultam de factores de ordem prática, saliento as seguintes:
– existência nas imediações da base da prova de um aeroporto internacional e de instalações hoteleiras com grande capacidade
– disponibilidade de 170/180 km de troços repartidos por um máximo de 9 classificativas (feitas por duas vezes), geograficamente próximas, de modo a permitir um percurso total que não exceda os 1100 km
– parque de assistência de grandes dimensões capaz de acolher todo o “circo” de um evento desta dimensão.
Aqui fica o desafio bem intencionado aos leitores do Autosport: quem se atreve a desenhar o projecto de um Rally de Portugal no Norte do país que cumpra, no mínimo, estas exigências?
13 – Quais as diferenças entre dirigir o Rali de Portugal e uma prova como o Transibérico? Pedro Silva Moita, via-mail
Pedro de Almeida: São duas realidades completamente distintas. Embora o Transibérico tenha um percurso muito maior e mais disperso que o Rali de Portugal, obrigando a um árduo trabalho de marcação e controlo do percurso, as minhas tarefas são simplificadas pela própria filosofia da prova e por todo o trabalho que é realizado por uma equipa muito rodada e competente, liderada pelo Orlando Romana e pelo Jaime Santos.
O Rali de Portugal apresenta problemas técnicos mais complexos, exige um planeamento cuidado até ao mais ínfimo pormenor e obriga a procedimentos muito rigorosos. Não existe qualquer margem para improvisos e a presença e a intervenção permanente de 6 ou 7 observadores da FIA, que investigam cada detalhe da sua área de actuação, eleva os níveis de stress para valores dificilmente imagináveis.
14 – Portugal poderá ficar permanentemente no Mundial ou só regressará em 2011? Rui Tenreiro, via e-mail
Pedro de Almeida: De acordo com o calendário divulgado pela FIA em 2008, as provas do Mundial de 2010 serão todas diferentes daquelas que integram o campeonato deste ano. Continua em aberto a possibilidade de este calendário vir a sofrer alterações, mas tudo depende, sobretudo, das decisões que vierem a ser tomadas pela FIA relativamente ao futuro do Campeonato do Mundo de Ralis.
Curiosidade:
Autosport: Sabemos que gosta bastante gostar de andar de moto. Usa-a para reconhecer as provas? Costuma viajar muito? Por que sítios ou países?
Pedro de Almeida: A par das viagens, a moto é o meu hobby favorito. Trata-se de uma paixão tardia, já que a minha iniciação aconteceu apenas aos 37 anos!
Sempre que posso, reúno o meu grupo de amigos e avançamos para uma qualquer serra do país para um dia ou um fim-de-semana de divertimento… responsável.
Em cada ano consagro pelo menos um fim-de-semana à zona onde decorre o rali, não tanto para percorrer os troços, que já conheço de cor, mas para descobrir todos os pequenos trilhos que a eles acedem. Para o meu grupo, o ponto alto do ano, aquele que aguardamos com ansiedade durante 11 meses, corresponde a um raid “privado” em Marrocos, durante o qual percorremos mais de 1200 kms de trilhos nas montanhas do Atlas e no deserto em total autonomia.
Por razões de agenda, este privilégio acontece normalmente entre o Rali de Portugal e o Transibérico, o que significa que está aí à porta!
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