Baja Arábia Saudita interdita a mulheres
Parece brincadeira, mas não é. Apesar de integrar este ano – e pela primeira vez – o calendário da Taça Internacional FIA de Bajas, abrindo inclusivamente esta competição, entre os dias 11 a 14 de Fevereiro próximo, a verdade é que os organizadores da Hail Baja Arábia Saudita 2008 estão a recusar a inscrição de concorrentes femininas na sua prova, simplesmente porque naquele país, onde se encontram os mais radicais seguidores dos costumes islâmicos, as mulheres ainda são proibidas de conduzir, de acordo com uma lei que vigora já desde 1932 – e que só este ano promete ser extinguida.
Os próprias turistas ocidentais continuam a ser fortemente desaconselhados a viajarem para aquele país, um dos maiores produtores de petróleo do mundo. Na condição de o fazerem, as embaixadas, incluindo a portuguesa, recomendam o respeito escrupuloso pelas regras e costumes locais, nomeadamente as que dizem respeito à indumentária.
Organizadores intransigentes
Madalena Antas foi a primeira a confrontar-se com esta insólita situação, após desenvolver os primeiros contactos com a organização local: «Nem queria acreditar. Era a primeira prova que tinha planeado disputar este ano… Embora tenha o maior respeito pelos costumes de cada país, deparei-me com uma situação altamente injusta e lesiva para quem tinha como objectivo disputar toda a competição (que inclui ainda as bajas de Itália, Espanha, Hungria, Gales e Portalegre, ndr). Se a prova está incluída no calendário FIA, não vejo com que argumentos puderam impedir a minha inscrição», lamentou.
José Megre ainda chegou a servir de intermediário nas negociações, aproveitando uma visita que efectuou àquele país: «Estive lá pessoalmente e conheci os organizadores, mas logo percebi que seria dificílimo contornar as ideias deles, nem com pedidos especiais. Não deram a menor hipótese, recusando-se determinante a aceitar a inscrição dela, por mais que insistisse», testemunhou. «Mesmo que esta fosse aceite, o maior problema seria sempre com o visto de entrada, que se já é quase impossível de obter por um ocidental, então pelas mulheres é dramático».
De qualquer modo, ameniza o mesmo responsável, «é preciso também ver as coisas por outra perspectiva. Por exemplo, perceber que já começam a ser dados alguns sinais de abertura, como a própria realização desta baja o sugere. É, aliás, a primeira prova internacional a realizar-se naquele país, berço do islamismo e onde todos os muçulmanos ambicionam ir pelo menos uma vez na vida», pormenorizou.
Navegadora só de cara tapada
Também Joana Sotto-Mayor, navegadora de Bernardo Moniz da Maia, foi informada pelo Team Dessoude que, para alinhar na baja saudita, teria que respeitar escrupulosamente os costumes locais, ou seja, andar sempre de cara tapada até entrar no carro e colocar o capacete: «De início, pensei que era uma brincadeira. Mas depois, explicaram-me que era mesmo assim: tinha que andar encabeçada, vestida tal como as mulheres locais. Ou era assim, ou não podia inscrever-me! Respeito a cultura e os costumes deles, mas nessas condições obviamente que recusei ir», justificou a navegadora portuense.
Mesmo sem nunca ter planeado disputar esta baja, também Elisabete Jacinto se mostrou surpreendida com esta atitude discriminatória por parte dos organizadores: «É verdade que cada país tem direito à sua cultura, seja esta boa ou má. Agora não é correcto que a FIA proporcione e aprove corridas que limitam a sua participação a mulheres».
Certo mesmo é que a debutante prova saudita, cujas inscrições encerraram na passada terça-feira (29 de Janeiro), vai mesmo ter lugar, tendo no árabe Nasser Al-Attyah (X-Raid) e no russo Boris Gadasin (Overdrive), actual detentor do título, as suas duas principais figuras de cartaz.
A cerimónia de partida está marcada para 12 de Fevereiro, no centro da cidade de Hail, seguida de uma curta Super Especial (3 km), a meio da tarde. O percurso competitivo será totalmente disputado no deserto, estando previstos dois sectores selectivos com 265 e 200 quilómetros, respectivamente.
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