Colin McRae deixou-nos há 10 anos
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Colin McRae morreu há dez anos, num estúpido acidente de helicóptero que o próprio pilotava, numa tragédia que abalou o mundo dos desportos motorizados. Ironicamente, e tal como Henri Toivonen, também Colin McRae passou toda a sua vida a fintar a morte, qualquer que fosse o carro, qualquer fosse o cenário, parecia guiar sempre como se fosse a sua última corrida. Dele diziam que era um sobredotado do volante.
O sucesso chegou bem cedo, logo aos 13 anos. Ainda estudante, sagrou-se campeão escocês de motocross, para aos 16 se notabilizar nas provas de slalom. Seguindo as pisadas do pai, Jimmy McRae, cinco vezes campeão britânico de ralis, (81, 82, 84, 87 e 88), o jovem Colin não tardou em redireccionou a sua carreira para os automóveis, disputando o seu primeiro rali aos 17 anos (1986), então ao volante de um Talbot Avenger. Aos 20, conquista o seu primeiro título escocês de ralis.
O estilo de condução espectacular rapidamente se tornou na sua imagem de marca, ao ponto de chegar mesmo a ser comparado a Ari Vatanen, o piloto que idolatrava e a quem dizia ir buscar inspiração. A primeira aparição no Campeonato do Mundo acontece em 1987, no Rali da Suécia, guiando um Vauxall Nova. Em 1991, junta-se à equipa Prodrive Subaru e bisa no campeonato britânico, dando provas do seu valor enquanto jovem piloto ao vencer todas as provas do calendário de 1992.
Em 1993, ao volante de um Subaru Legacy, assegura na Nova Zelândia a sua primeira de 25 vitórias no Mundial, ajudando a equipa a conquistar três títulos de construtores consecutivos (95, 96 e 97). O ano de 1995 é de glória, pois torna-se no primeiro britânico de sempre a garantir um título mundial de Pilotos. Mais tarde, assegura ainda três vice-campeonatos (96, 97 e 01), sendo terceiro em 1998, ano em que também venceu a Corrida dos Campeões.
Em 1999, muda-se para a equipa M-Sport e passa a guiar um Focus WRC, vencendo nessa temporada o Rali Safari e o Rali de Portugal, para em 2001 falhar por muito pouco aquele que seria o seu segundo título mundial. Em 2003, decide deixar a Ford e assina contrato com a promissora equipa da Citroen, mas sem contudo voltar a conhecer o sabor do sucesso. Quando a esperança de um regresso à Subaru se desfez – devido à entrada na equipa de Mikko Hirvonen -, decide voltar as costas aos ralis. Mas por pouco tempo…
Em 2004, regressa ao Rali de Gales/GB num Skoda Fabia WRC, sendo o sétimo classificado final. Depois, no Rali da Austrália, surpreende ao ser segundo. Falhado o regresso com a Skoda, é chamado em 2006 pela equipa Kronos Citroen para substituir o lesionado Sebastien Loeb no Rali da Turquia. Um problema no alternador deixa-o fora dos dez primeiros. Para Colin, terminavam ali as suas hipóteses de regressar em grande ao Mundial. Para trás ficavam 146 presenças em ralis do Campeonatos do Mundo, 42 subidas ao pódios e 25 vitórias, além de mais de 20 abandonos por acidente, o mais grave dos quais na Córsega, no ano de 2000.
Adepto do espectáculo
Privilegiando sempre a espectacularidade em detrimento de alguma eficácia, a popularidade de Colin McRae viria mesmo a inspirar um dos jogos de computador mais populares dos últimos anos, cuja primeira edição foi lançada na Grã-Bretanha em 1998.
Mesmo sem nunca ter anunciado oficialmente a sua retirada da competição, foi com alguma surpresa que se estreou nas 24 Horas de Le Mans e também no Dakar (2004 e 2005) ao serviço da equipa oficial da Nissan. Numa e noutra ocasião, foi obrigado a desistir prematuramente, ainda que depois de chegar a liderar e vencer quatro especiais. O ano de 2007 viu-o regressar uma vez mais ao todo-o-terreno. A convite de Grégoire de Mévius, veio a Portugal disputar o Rali Vodafone Transibérico numa Nissan Pick Up. Mesmo desistindo, a sua prestação convenceu Sven Quandt, não demorando a assinar um contrato com a X-Raid. A sua primeira aparição ao volante do BMW X3 aconteceu na Baja de Espanha, em Julho de 2007. Preparava-se para disputar o seu terceiro Dakar, quando a morte o levou.
O que pensavam sobre Colin
As palavras de muitas das personalidades que conviveram de perto com ele, perduram no tempo como acontece com a memória deste irreverente piloto. São esses testemunhos que vale a pena recuperar…
David Richards (Diretor da Prodrive)
“O Colin tinha um espírito competitivo como nunca encontrei em ninguém e podia dizer ‘Eu posso fazer tudo!’. Podia-se pôr-se-lhe nas mãos qualquer carro, qualquer fórmula mecânica que ele dominava-a. Lembro-me de o colocar dentro do F1, em Silverstone, e ele foi excelente. Pô-lo num carro de turismo ou num GT e também estava à vontade, tal como no Paris Dakar. É pouco usual chamar alguém de ‘lenda’, mas para o Colin esse era um nome muito apropriado. Ele dava sempre o máximo, acontecesse, o que acontecesse. Na Finlândia, capotou três vezes no mesmo rali. De cada vez nós pensávamos que era o final do rali para ele, mas ele punha-nos sempre a ‘bater os dentes’ novamente. Era especial em tudo o que fazia. Voei com ele de helicóptero e até nisso ele era muito competente. Quando nos deixou, já o conhecia há muitos anos e acompanhei as suas mudanças. Lembro-me do desafio que era gerir o seu comportamento quando ele batia todas as semanas e não podia pagar as contas. Mas amadureceu, ao longo dos anos e tornou-se um grande amigo”.
Malcolm Wilson (Diretor da M-Sport)
“Fomos uns privilegiados em tê-lo na nossa equipa naquela altura da sua carreira. Muitas das suas prestações eram tão incríveis como marcantes. A forma como ganhou o Rali Safari de 1999 (apenas no terceiro rali que fazia com o Focus) mostrou que o seu talento não se resumia à rapidez, mas que também lhe permitia encarar os ralis duros com à vontade. Teve uma influência importante no desenvolvimento do Focus e até as suas habilidades mecânicos punham à prova os melhores mecânicos da nossa equipa. Mas Colin também era especialmente divertido. Foi algumas vezes a minha casa e lembro-me que demos uma festa de praia onde ele fazia questão de mostrar o rabo só para mostrar que estava moreno!”.
Nicky Grist (navegador de Colin McRae)
“Era alguém por quem ‘escorria’ talento abaixo e alguém que confiava nas suas aptidões. Toda a gente o temia quando tinha que estar com ele, frente a frente, num troço. Ele podia sempre tirar aqueles segundos extra para ganhar um troço e destacar-se por isso e os seus adversários sabiam-no. Na vida pessoal, vivi-a de forma completa. Também a levava ao limite, como também era a sua forma de estar nos ralis. Muita gente não o conheceu bem porque ele era, apesar de tudo, uma pessoa privada. Podia parecer fechado porque era tímido, mas, depois de se conhecer, era uma companhia encantadora. Apareci no seu caminho quando já era conhecido por ‘McRash’ porque o David Richards achava que eu seria uma influência calmante para ele. Mas quando me juntei a ele não me pareceu que ele precisasse disso. Desde o início, tudo funcionou e ganhámos ralis. Ganhar o Safari provou que também podia guiar com o cérebro”.
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