WEC, Carlos Tavares: “BoP não funciona. O caminho é o da F1 e Fórmula E”

Por a 9 Julho 2024 11:17

Carlos Tavares deixou um aviso sério ao Campeonato do Mundo de Endurance da FIA. O CEO da Stellantis está preocupado com o rumo da competição e pede mudanças para garantir o seu futuro.

Não há dúvidas que estamos num dos melhores períodos de sempre da resistência mundial. O WEC tem agora uma força como raramente se viu, com muitas marcas, muito interesse do público e um potencial que ainda não foi completamente explorado. Com 14 marcas representadas, nove na categoria principal, o WEC está numa posição privilegiada.

Uma era de ouro ainda pouco estável

A adoção da regulamentação Hypercar / LMDh atraiu muitas marcas, mas desde cedo se percebeu que o sucesso da competição dependia da forma como o Balance of Performance (BoP) fosse aplicado. Em 2021, ainda no início da era Hypercar / LMDh, Alex Wurz, embaixador da Toyota e uma das referências do mundo da resistência, referia a importância de um BoP justo para garantir o sucesso da competição:

“Tenho de falar com os responsáveis dos campeonatos para garantir que a convergência é feita de forma justa e exequível. Para que todos possamos aproveitar as corridas neste campeonato fantástico e na prova rainha que é Le Mans, assim como garantir que os campeonatos cresçam. Mas se falharmos na convergência e começarmos com lutas, levando a que as marcas possam dar um passo atrás, aí falhamos. Falhamos como diretores e como pessoas que trabalham em prol do desporto. Creio que vai ser difícil, muito difícil, mas tem de haver uma forma de o fazer” disse o austríaco ao AutoSport no Autódromo Internacional do Algarve.

O caso Peugeot

Quase três anos depois, o WEC está pujante, mas ainda sujeito a alguma instabilidade. O BoP continua a dar que falar e há marcas que poderão ficar cada vez mais descontentes e até ponderar a saída se o sentimento de injustiça se prolongar.

Uma dessas marcas é a Peugeot. O projeto da marca francesa começou com arrojo, com uma proposta completamente diferente, num protótipo sem asa traseira. Tanto a Peugeot como a Toyota (das primeiras a apresentarem Hypercars) enfrentaram alterações regulamentares durante o desenvolvimento dos seus protótipos, para acomodar a plataforma LMDh, crucial para uma grelha WEC saudável.

A FIA e a ACO impuseram restrições aos híbridos LMH com tração às quatro rodas, incluindo uma velocidade de ativação mínima para o motor elétrico, diferenciais abertos e barras estabilizadoras ajustáveis. Inicialmente, ambos os fabricantes utilizaram pneus com a mesma largura nos dois eixos (a pensar no aproveitamento do sistema de tração integral). Com a revisão regulamentar, a Toyota mudou para pneus estreitos à frente e largos atrás em 2022, uma alteração que a Peugeot não adotou devido à sua complexidade.

O 9X8 da Peugeot estreou-se com pneus do mesmo tamanho em Monza em 2022. Os Hypercars homologados após 2022, como o 499P da Ferrari, têm de utilizar pneus dianteiros e traseiros de dimensões diferentes. Em 2024, a Peugeot atualizou o 9X8, deslocando a distribuição do peso para trás e reduzindo a dependência aerodinâmica do fundo, com uma nova asa traseira e pneus traseiros mais largos para melhorar a tração e reduzir o desgaste.

O projeto francês não começou da melhor forma, com vários fatores externos a influenciarem os primeiros capítulos da história. As mudanças foram feitas para permitir à marca lutar e ser bem sucedida, como já aconteceu no passado.

O BoP pode matar o WEC?

Ainda assim, a Peugeot continua algo afastada dos lugares da frente e agora, segundo Carlos Tavares, o problema está no BoP. Segundo o chefe do grupo Stellantis, o BoP vai “rebentar” com o WEC se não forem tomadas medidas:

“O WEC é um grande sucesso. O Richard Mille e o Pierre Fillon fizeram um trabalho estupendo. Mas o BoP não funciona e tudo o que foi dito sobre colocar os carros na mesma janela de performance não está a ser respeitado. Basta olhar para os tempos das grelhas de partida. Eu já falei com eles nas 24 horas de Le Mans e avisei que o WEC podia rebentar outra vez. E não temos interesse em campeonato do mundo de advogados.

Os nossos engenheiros fazem cálculos, o nosso poderio de engenharia é superior ao da FIA e estamos em constante desacordo com eles. Nós queremos que o WEC funcione, mas não podemos criar um cancro dentro de um grupo de amigos que querem que o campeonato tenha sucesso. E o cancro é a negociação permanente sobre o BoP”.

Solução para o WEC? Seguir os passos da F1 e da Fórmula E

As discussões sobre o BoP são, infelizmente, já uma norma nas competições do WEC. E essa discussão distrai os fãs do que realmente interessa: os carros e os pilotos. Não podemos ter os fãs a questionarem as vitórias, porque o sistema que foi pensado para que todos estejam ao mesmo nível é constantemente questionado. Para Carlos Tavares, a solução é simples e já é usada no mundo dos monolugares. Um Limite Orçamental:

” Há uma solução muito simples. Temos de tomar o caminho da F1 e da Fórmula E e implementar um Limite Orçamental. É a única forma de salvar o campeonato. Com o ‘Cost Cap’, todos têm o mesmo dinheiro e quem utilizar o dinheiro de forma mais inteligente ganha. Antes que aquilo rebente, acho que devem tomar este caminho e foi o que lhes disse em Le Mans”.

Foto: Joao Filipe / DPPI

BoP não retira da Peugeot da competição… ainda!

O compromisso da Peugeot no WEC parece sólido e para durar. No entanto, as palavras de Tavares podem indicar que este compromisso pode ir enfraquecendo, se não forem tomadas medidas:

“Este ano, em Le Mans, tivemos nove carros na mesma volta! E sempre em ritmo de sprint. É estupendo! Não me lembro de tal na minha vida de desportista. Os nossos carros tiveram zero problemas, andaram sempre a fundo. Tivemos dois ou três erros com trocas de pneus, nada de mais. Mas os nossos mecânicos e engenheiros vão acabar por ficar desiludidos com esta situação. Aliás, quando se anda pelo paddock, nota-se que a mente das pessoas está poluída pela questão do BoP. Quando os engenheiros pensam que não vale a pena fazer mais nada, pois o BoP vai acabar por matar o desenvolvimento feito, o esforço deixa de existir”.

Oiça as declarações de Carlos Tavares:

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4 Comentários
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Scirocco
Scirocco
24 dias atrás

Sem duvida. O BoP é algo que vai estar sempre envolvido em Polémica. São muitas vezes decisões arbitrárias, e em que um carro que teve uma excelente performance numa corrida poderá ser prejudicado na próxima devido a uma decisão por parte da FIA. Não faz sentido e prejudica-se muitas vezes aqueles que conseguiram desenvolver melhor os carros .

MC
MC
Reply to  Scirocco
24 dias atrás

Sem dúvida! A meu cer o BoP faz sentido numa classe como as dos GT em que os carros em competição têm bases diferentes (cilindrada, distância entre eixos, pesos, etc.). Ter BoP em classes cujos carros são feitos tendo um regulamento bem definido só vai ajudar quem fez um carro menos competitivo. É como beneficiar o infrator…

canam
canam
24 dias atrás

Este campeonato está ótimo. Agora que as coisas não funcionem para o lado da Peugeot mesmo com 3 anos em cima, é problema deles. Defende a sua firma.
Mas em termos gerais estes novos hipercarros são muito bons e a presença de tantos construtores, nomeadamente o regresso duma Ferrari impõem logo um selo de qualidade.
Agora não podem ganhar todos como em todo o desporto, e quem não ganha sempre se queixa. Sempre assim foi.

manuel moita
manuel moita
23 dias atrás

O Bop é uma, Treta tal e qual na, Fi1 Abrir a, Aza para ultrapassar são artifícios estúpidos como a troca de pneus e só Circo para, quem paga Bilhete Vip Enfrente as, Boxes a Verdadeira F1 era no tempo meter Gazolina, Pneus para toda, a corrida no WEC é o Mesmo só devia de Existir 1 Regulamento Motor Peso Dimensões e depois, quem tivesse Unhas Tocava Viola

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