WRC: A oportunidade perfeita para o regresso do Rali de Portugal misto?

Por a 19 Setembro 2024 19:46

Entre as muitas mudanças que se esperam para o WRC, Mundial de Ralis num futuro próximo, está uma que estaria na nossa lista de duas prioridades, se tivéssemos alguma palavra a dizer no que deve voltar a ser o WRC: diversidade nos ralis.

A outra é bem mais difícil, porque, implica muito mais marcas. Mas a essa já lá vamos.

Por agora, vamos concentrarmo-nos na estrutura e o tipo de ralis.

Já pensaram, por exemplo, do porquê do regresso do Rali Safari, a prova africana se ter tornado muito rapidamente numa das mais interessantes do ano?

Maioritariamente pela sua variedade, dureza e imprevisibilidade.

É óbvio que os pilotos e as equipas atuais, estão ‘formatadas’ e ‘formatados’ para o habitual, se queixam disto e daquilo. É óbvio que para os pilotos e as equipas é desagradável estar perto de um bom resultado e de repente o carro ‘parte’. Claro que é chato.

Mas para quem está a seguir de fora, seja de perto ou ao longe, não há nada melhor do que estarem sempre a acontecer coisas, que dão emoção à prova, imprevisibilidade. Querem uma prova?

Rali Safari 2024 – 43 notícias, Rali da Croácia 2024 – 27 notícias, Rali da Polónia – 31 notícias, no nosso site. Não acontece por acaso.

A probabilidade de ser assim todos os anos com o Rali Safari, é grande, pelo simples facto que o Safari é um evento mais propício a ‘acontecimentos’ e esses acontecimentos despertam a curiosidade dos adeptos, e isso reflete-se nos números.

Outro exemplo de um evento que ciclicamente desperta atenção dos adeptos é o Rali de Monte Carlo, mas esse tem dois fatores únicos: é o primeiro do ano, e é o ‘Monte’, o mítico ‘Monte’. É histórico.

Não refiro propositadamente o Rali de Portugal porque esse é, e bem de longe, o que mais atenção tem dos adeptos portugueses. Muito naturalmente, nem é preciso explicar porquê…

E onde quero chegar?

Quando no fim do Século XX e começo do Século XXI, foi decidido pela FIA e pelo Promotor da altura acabar com os ralis em linha, tudo por causa dos custos, e da ‘normalização’ das provas, blá, blá, blá, tudo isso foi compreendido na altura, não se sabia era que iria ter os efeitos que teve.

Há obviamente coisas positivas, para os organizadores, centralizar a prova, ter um parque de assistência, fazer ralis em trevo. Portugal até tem a sorte de ter zonas e troços mais do que suficientes para ter bons ralis, zona de Ponte de Lima/Viana do Castelo; Fafe/Vieira do Minho/Cabreira, Amarante/Marão/Baião, mas ainda assim teve a necessidade de ‘esticar a corda’ à FIA para ir à Zona Centro.

E estamos bem com a diversidade da nossa prova.

Mas a maioria dos ralis do Mundial não têm a mesma sorte.

O Monte Carlo tem estradas para fazer 5 bons ralis ao mesmo tempo, e ainda sobravam troços…

A Suécia, desde que haja muita neve, tanto faz, um pouco mais rápido ou não, vai dar ao mesmo.

A Finlândia é a Finlândia, intocável, é um rali fantástico, mas seria sempre melhor se não houve tanto espartilho de quilómetros e se pudessem escolher troços por serem bons e não por serem perto.

A Acrópole, a mesma coisa. Estão balizados pelos troços que ficam perto da base.

O ponto está exatamente aqui.

Polónia, Letónia, Estónia são ralis diferentes? Sim. Quantos adeptos os identificam de imediato ao verem imagens? Posso apostar que isso sucede no Rali de Portugal. Polónia, Letónia, Estónia? Duvido.

Para mim, quanto maior diversidade os ralis tiverem, muito mais a ganhar tem o WRC.

Há uns tempos, encontrei estes textos do AutoSport, de 2005: “Marko Martin prefere ralis mais curtos”;

“é preferível fazer ralis mais curtos, com menos 80 ou 100 quilómetros de extensão, o que permitiria reduzir um dia de prova”.

Nessa altura, Max Mosley, presidente da FIA preparava uma“revolução” no Mundial de Ralis, em especial nas regras dos parques de assistência. “Criar um equilíbrio entre os custos e o aumento da cobertura mediática do Mundial de Ralis”, dizia. Argumento lícito, mas…

Compreendo a necessidade, mas a medida foi boa para as finanças, mas má para uma coisa que os ralis tinham de sobra no passado. Sendo provas de endurance, era certo que iria sempre acontecer muita coisa quase a toda a gente. E os ralis passaram a ser sprint, muito espetaculares, emotivos, mas perderam o ‘efeito’ aventura.

Quer outro exemplo?

No passado, no Rali de Portugal, havia quem só fizesse essa prova durante o ano. Era uma aventura, dizia-se que o Rali de Portugal valia pelo resto do ano todo, exatamente na mesma medida que as 24 Horas de Le Mans valem muito mais sozinhas que todo o WEC-Mundial de Endurance junto – passe o exagero e fique a ideia, porque o WEC todo junto tem lá ’dentro’ as 24h de Le Mans.

O Dakar vale por si só. Veja-se o Mundial de TT que nasceu há uns anos o que ‘vale’ face ao Dakar.

No passado, não havia piloto que não quisesse fazer o Rali de Portugal e passam dezenas de anos desses tempos e as histórias continuam a ser contadas.

Hoje em dia, é quase um martírio para os concorrentes mais atrás do CPR “andamos atrás dos outros todos, os troços estão todos destruídos” É verdade. No passado alguém se preocupava com troços duros?

Era um rali para ‘sobreviventes’ e terminar para todos era uma vitória.

Eram tantas e tão boas as histórias que havia para contar…

Hoje? Muro das lamentações…

Eu compreendo, os tempos são outros, mas como ouvi o Zé Pedro Borges dizer um dia “quando ouço um piloto atual falar dos pisos duros do Rali de Portugal, só me dá vontade de rir…”

Nos ralis sprint do WRC deste século anda-se muito mais depressa, a maioria dos ralis são muito emotivos, ver passar os carros é fantástico, mas é assim em todo lado, com a exceção do Monte Carlo, Safari, Portugal, Finlândia e muito menos que estes, Grécia.

Falta aos outros todos o que o Safari tem de sobra. Aventura. Para mim, a aventura faz muita falta aos ralis. Vejam o sucesso em que se baseia o Dakar: aventura!

Tudo isto para dizer que o WRC está-se a preparar para ter uma variedade de formatos nas suas provas em 2025. Eu duvido que se vá muito longe, deverá ser difícil para a grande maioria dos organizadores por causa dos custos, mas a ideia base, acrescentar mais variedade às provas que compõem o calendário, é de grande importância, e é pena que na sua história o WRC tenha precisado de desvirtuar as provas devido aos custos.

O Rali de Itália Sardenha testou este ano um conceito em que a prova coube toda em 48 horas.

Do meu ponto de vista, aquela prova não precisa de mais. As saudades que tenho do antigo Rali Sanremo com a primeira etapa em asfalto e as outras a descer para a Toscana. Era outra coisa.

As saudades que tenho da Córsega com mais de 30 troços e 1.000 Km cronometrados.

O Rali RAC na lama, a beleza dos troços da Nova Zelândia, o público e a dureza da Argentina, o bailado nos lagos gelados da Suécia, que giro seria hoje com os drones.

O trabalho e o prazer que daria cobrir ralis assim…

A FIA quer que os organizadores tenham mais flexibilidade nos itinerários das suas provas, em vez de estarem sujeitos a um formato definido. Touché. Excelente medida.

Segundo fonte do Promotor não querem WRC Sprint nem WRC Endurance, mas lá que gostava que muitos ralis voltassem ao que se fazia no passado.

O rali mais longo da história do WRC é a Nova Zelândia de 1977 com 2.211 km de troços. Talvez isso seja um exagero hoje em dia, mas não me importava mesmo nada que em breve o Rali de Portugal fosse semelhante ao de 1994, precisamente há 30 anos: 36 troços, quatro dias, 571.82 km de troços, 1.642 Km de ligações, distância total de 2.214 km,1ª etapa em alcatrão, começava e terminava no Estoril. Claro que isto é apenas um exemplo. O ponto importante é as provas do WRC diversificarem-se o mais possível. Claro que uma medida destas vai ser implementada com cautela, mas o simples facto da FIA e do Promotor estarem já abertos à ideia, é muito bem.

Vamos ver como tudo evolui…

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